terça-feira, 24 de novembro de 2009

M118-HISTÓRIAS CURTAS



CENSURAS
No final de Novembro último falei na Biblioteca Municipal sobre o livro de Fleming de Oliveira “No tempo de Salazar, Caetano e Outros” recentemente publicado.
No seu capítulo I o autor refere-se à censura nas suas mais variadas metamorfoses, o que pressupõe ser apenas uma fórmula embora com variados rostos.
Fleming classifica-a em preventiva, punitiva e indirecta, esta última reflecte a sua forma requintada por ser sublimar.
Tenho-me encontrado algumas vezes com esta modalidade censória relativamente intolerante e medíocre.
Sempre que a imobilidade tranquila das pessoas é presumivelmente afectada o desejo de reprimir a palavra vem à tona , às vezes apenas por falta de ponderação ou outras por via de princípios religiosos.
A violência muçulmana por exemplo advém, no meu ponto de vista, de uma opção errada na interpretação dos princípios enunciados no Corão.
O Tribunal do Santo Ofício teve o seu tempo, a seu tempo, e foi um flagrante desvio da doutrina cristã.
«Confundiu-se o essencial com o acessório, esqueceu-se que a liberdade tem consequências, que a crítica das instituições é legítima, mas que não obstante a concordância formal com este princípio, por parte de uns tantos, na prática só é hipotética ou tolerada porque necessária.»
Embora estas observações de Fleming de Oliveira estejam contextualizadas numa referência à publicação das caricaturas sobre Maomé por jornais ocidentais elas ajustam-se a muitas situações onde a liberdade de expressão sempre que fundamentada não deve ser amordaçada.
Mais adiante o autor afirma: « (…) na democracia (…) há condescendência crescente apenas para ver, ouvir e ler, o que for politicamente correcto.»
Infelizmente ou não, as instituições são o reflexo de quem as dirige por isso se deve exigir responsabilidade e não tiques autoritários. Por isso se deve pedir transparência a todos os níveis.
Eleitos e nomeados devem ser sempre escrutinados à qualidade com que exercem o seu munus seja na política, na administração, na sociedade ou na religião.
A nossa democracia só melhorará quando houver mais instrução, mais conhecimento, mais espírito crítico. Mas para isso é necessário terminar com «certos hábitos perversos».
«A vaidade e a incompetência» trazem o lápis azul da censura a alguns cidadãos, que ainda não se libertaram da influência dos desaparecidos regimes totalitários, em que às vezes nem viveram.
Há muitas razões para ler Fleming de Oliveira mas bastava este 1º. Capítulo para justificar a compra da obra.
O nosso mal é haver gente intolerante, inculta e apolítica em lugares de responsabilidade.

Rui Rasquilho

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