sábado, 31 de dezembro de 2011

M - 401 DIES IRAE, DIES ILLA

Dies iræ, dies illa!

Dedicado a todos os camaradas,
humilhados,
esquecidos,
abandonados,
ostracizados,
emigrados,
exilados,
que um dia subiram o portaló
dos Niassa, dos Uíge, dos Ana Mafalda,


a caminho da Guiné,
aquela terra verde e vermelha
que a todos nos marcou,
a ferro e fogo...


sem esquecer os que simplesmente viajaram nos TAM!


Que o ano de 2012,
mesmo de raiva,
seja de coragem e de esperança!


Como os anos que passámos na Guiné!




Cavalgam caudalosos os rios
Pela terra adentro,
Enquanto fluem ruidosos
Os dias da guerra.



Rios que não são rios
Mas rias,
Entranhas ubérrimas
Fustigadas pelo vento,
Rias baixas pela manhã,
Pedaços, braços de mar,
Restos de tsunamis,
Pontas de fuzis,
Palavras acérrimas,
Imprecações ao Grande Irã,
Picadas minadas
De ir e não mais voltar.


Dias que não são dias,
Circadianos,
Mas fragmentos,
Ora ledos ora amargos enganos,
Estilhaços de tempo,
Riscos nas paredes sujas dos bunkers,
Repentinas emboscadas,
Breves finais de tarde,
Instantes,
Flagelações,
Balas tracejantes
Sob o céu verde e vermelho
Enquanto o capim arde.


Narciso, revejo-me ao espelho,
Quebrado,
Vou nu,
De camuflado,
De azul,
Celestial,
Ao encontro do anjo da morte
Em Jugudul.


E não há estrelas
À noite,
Mas a bússola indica o norte,
Sideral,
Nunca o sul,
Nunca o nascer nem o morrer.


Dies irae, dies illa,
Dia de ira, aquele,
Em que subiste o cadafalso do Niassa,
Ou do Uíge ou do Ana Mafalda,
Dias de ira, aqueles,
Os da guerra!


Calai-vos,
Rápidos do Saltinho,
Rápidos de Cussilinta,
Vós que mais não sois
Do que canoas loucas,
Desenfreadas,
Levadas pelo macaréu da nossa raiva,
Entre o Geba e o Corubal.


Braços que não são braços,
Amputados,
Mas apenas tatuagens,
Traços,
Letras de fado pungentes,
Pontes que são miragens,
Tentáculos, serpentes,
Lianas, cortadas pela catana,
A eito,
Pela floresta-galeria,
Inferno tropical,
Túneis, tarrafo,
Bolanhas, lalas, bissilões,
Curvas da morte do Cacheu ao Cumbijã,
Apocalípticos palmeirais,
Pontas de punhais
Cravadas no peito,
Irãs acocorados
No alto dos poilões.



E depois o silêncio.


Impossível.


O silêncio das partituras,
Das mapas dos argonautas,
Partículas,
Pausas,
Pautas,
Cartas de tiro
Com claves de sol,
Desidratação,
A ogiva do obus,
O medo da avestruz,
O roncar do helicanhão,
Gritos do djambé,
E do macaco-cão,
Gemidos de kora,
Espasmos de balafon,
Rajadas de kalash
Ecos do bombolom,
Bombas de fragmentação
Que correm no dorso dos cavalos
Desde o Futa Djalon.


Não vou poder ouvir o silêncio do Cantanhez,
Nem quero ouvir o grito da morte
Outra vez.




LUÍS GRAÇA,Editor do blog "Luis Graça&Camaradas da Guiné.

Terras do Demo, 27-29 de Dezembro de 2011; Madalena, Vila Nova de Gaia, 30-31 de Dezembro de 2011










M - 400 AS MELHORES DE 2011 PARA ACTUALIZAR EM 2012


 AS MELHORES DE 2011 PARA ACTUALIZAR EM 2012
O sorriso da Ritinha


 A beleza infinita do Mosteiro
Onde não mora o Natal...

A liberdade de voar

Inverno em São Martinho do Porto


Para familiares, amigos, conhecidos, desconhecidos e outros
Feliz Ano Novo
Com solidariedade
Compreensão
Boa vontade
Paciência
Saúde
Tempo para viver
E algum dinheiro para gastos.
Votos Amigos do JERO



M - 399 “QUE SSE NOM FAÇA DANOS NOS SOUERAES...”

O sobreiro passou a símbolo Nacional de Portugal

Portugal ganhou mais um símbolo nacional para além da bandeira e do hino.
O sobreiro é desde 22 de Dezembro de 2011 a 'Árvore Nacional de Portugal', depois de aprovado por unanimidade um projecto de resolução na Assembleia da República, decorrente de uma petição pública com 2291 assinaturas.
Nessa Petição Pública “Sobreiro – Árvore Nacional de Portugal”, levada a efeito por iniciativa das Associações Transumância e Natureza e Árvores de Portugal, apelava-se aos cidadãos para:

«Num País de grande riqueza e diversidade florestal, e sem desprimor para outras espécies que assumem papel relevante na floresta portuguesa, existe um largo consenso nacional de que é o Sobreiro (Quercus suber L.), a árvore que melhor poderá assumir o simbolismo de “Árvore Nacional de Portugal”.»


O que cerca de 700 antes já alguém, com particulares responsabilidades, fazia notar:

REI D.DINIS

“Que sse nom faça danos nos soueraes...”, declarou El-Rei D. Dinis, na Carta de 13 de Julho de 1310.

Ainda hoje, o sobreiro goza de protecção legal em Portugal - é espécie protegida pela legislação portuguesa desde 2001 -reconhecendo-se nos “montados de sobro” alguns dos biótopos importantes em termos de conservação da natureza. Também ecologicamente, os sobreiros desempenham uma importante função na conservação do solo, na regularização do ciclo hidrológico e na qualidade da água.
Mas …a Lei que protecção do sobreiro está constantemente a criar situações de excepção para empreendimentos que permitem o abate de árvores.
Apesar dessas conhecidas e frequentes “mal feitorias” o sobreiro, que ocupa uma área de cerca de 737.000 hectares dos mais de 3,45 milhões de hectares de floresta em Portugal(dados de 2006), ainda hoje é responsável por 10% das exportações nacionais.


“Nenhuma outra árvore dá mais exigindo tão pouco”, escreveu o engenheiro silvicultor Joaquim Vieira Natividade em 1950.


“Abater um sobreiro é abater um símbolo nacional” .


Nesta fase difícil em que vivemos o sobreiro poderá ser a metáfora do povo português: exige pouco, dá muito. Vivendo em difíceis condições como o sobreiro, é um povo generoso.
A partir de agora, abater um sobreiro não será apenas abater uma árvore protegida, mas sim, um símbolo Nacional do nosso País.
Os governos e as circunstâncias ou as circunstâncias e os governos exigem do povo português, que continue a dar, a dar tudo e mais alguma coisa.
Mas …lembrem-se do sobreiro e não «abatam» o povo português, que é uma “espécie” que também merece ser protegida.


Em jeito de preito ao ilustre alcobacense Joaquim Vieira Natividade, (1899-1968), aqui fica uma despretensiosa homenagem ao seu enorme saber e ,também, o desejo de que é preciso ganhar confiança para o futuro.
Que 2012 não seja o ano de todos os castigos!
E que haja algum espaço para a esperança.
O futuro começa amanhã.
 E ainda há plantados 737.000 hectares de sobreiros …


(respigado da Wikipédia, jornal “Público” e Semanário “Expresso”)


JERO





















quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

M - 398 UMA MEMORÁVEL CAPICUA D 'O ALCOA

O ALCOA” COMPLETOU 66 ANOS

RECORDANDO O Nº. 1 DE 27 DE DEZEMBRO DE 1945
Ontem, dia 27 de Dezembro, o Jornal “ O ALCOA” completou 66 anos de existência. Acompanhámos o longo dia da execução do seu nº. 2274, que vai amanhã chegar aos seus assinantes. E também às bancas.
Quando às 6 da madrugada saímos da redacção a caminho de casa muitas memórias nos assaltaram. Uma escritas, que damos à estampa seguidamente, e outras em forma de "filme" que nos ficaram na mente – num arquivo mental – que sentimos ali,na almofada, antes de conseguirmos adormecer.
Memórias escritas

No seu número 1 do ANO I o Director João Maria de Sousa e Brito escrevia “uma carta de intenções” que tinha como título “Romper da Marcha…” .
Entre vários considerandos referia O Engº.João Brito que “…Rompemos a marcha animados dessa esperança compreensiva que alenta os bem intencionados, proporcionando à nossa região um órgão informativo de segura utilidade, para o seu progressivo desenvolvimento.
…No nosso jornal hão há lugares para ressentimentos ou más vontades, trabalhamos por Alcobaça…
…As nossas colunas não suportam questões pessoais, fora do interesse regional mas, são suficientemente fortes para acolherem todas as iniciativas construtivas que promovam o desenvolvimento da nossa terra e abram novos horizontes e novos rumos”.
Ao longo de sessenta e seis anos “O ALCOA”manteve esses princípios que sempre nortearam os seus responsáveis.
Do seu primeiro número em 27 de Dezembro de 1945 até ao jornal de amanhã - 29 de Dezembro de 2011 - “O ALCOA” já teve seis Directores, que foram responsáveis por 2.274 números.
O jornal arrancou com edições de 300 exemplares semanais com 4 páginas. “O ALCOA” era impresso na Tipografia de “O Almonda”, em Torres Novas. E manteve-se como “semanário” até inícios de 1972.
Em 26 de Fevereiro de 1972 passou a quinzenário sobre a Direcção do Dr. Mário Vazão, que desempenhou essas funções até meados do ano em curso ( mais de 39 anos).
Estabeleceu um recorde difícil de igualar.
Os seus antecessores foram o já referido Engº. João Brito (16 anos e 7 meses), o Padre Luís da Costa(1 ano e meio), Tarcísio Trindade(6 anos e 9 meses) e Adélio Maranhão(10 meses).
A partir de Março do ano em curso assumiu as funções de Directora a Drª. Ana Maria Caldeira, sendo Coordenador Geral o Padre Carlos Jorge Vicente.
Quanto a “cabeçalhos” já houve nove diferentes até hoje.
Nos seus 16 anos de direcção o Engº. João Brito alterou 4 vezes o cabeçalho e Mário Vazão duas. Tarcísio Trindade e Adélio Maranhão mudaram uma vez cada. Na actual direcção já se registou uma mudança de imagem.
Os colaboradores “residentes” e os correspondentes contam-se por dezenas ao longo da vida do jornal. Os assinantes que vivem no estrangeiro “devoram” cada linha que é escrita pelo correspondente da sua terra.
Os trabalhadores da redacção foram sempre (e são) a face solícita e afectuosa do jornal no contacto com os seus assinantes.
Muitas pessoas edificaram (e consolidaram) O ALCOA durante todos estes anos.
Nos primeiros tempos do Jornal o Padre Manuel Vitorino foi,na sombra, o homem forte que consolidou as frágeis “paredes” de um semanário com um frágil orçamento.
Sem ele talvez “O Alcoa” não tivesse chegado aos nossos dias.
Na década de setenta o Padre Alexandre Siopa foi também pedra fundamental na recuperação do jornal, então a viver com muitas dificuldades financeiras.
E depois as tipografias (melhor dizendo os seus responsáveis) e os tipógrafos que também vestiram a camisola do jornal.

Outras Memórias
Num arquivo mental, em forma de imagens, recordo especialmente os primeiros tempos em que visitava timidamente a residência do Padre Vitorino na Rua David da Fonseca, à Fonte Nova, para entregar os meus primeiros artigos. Residência que era também a “redacção” do jornal. Tinha 18 anos e a minha colaboração dizia respeito a artigos sobre desporto e passado algum tempo tive a honra de ter a meu cargo a “Página Desportiva”.O meu primeiro artigo, por lapso da tipografia, saiu assinado por “GERO”.Depois durante cerca de 2 anos, até ingressar na vida militar, o JERO fez crónicas desportivas inspiradas nos mestres do jornal “A Bola”.
Depois vieram outros tempos e outras responsabilidades.
Do tempo das malas, com notícias às 3ªs. e às 5ªs. feiras, enviadas pelas carreiras da Rodoviária Nacional para Rio Maior até à actualidade. Em que o jornal é feito na Redacção, no nº. 8 da Rua Miguel Bombarda, em Alcobaça, e enviado em “Pdf’s” para a tipografia .Onde é impresso durante a noite e enviado de volta para o “mundo” d’ O ALCOA...no dia seguinte.


O balanço do desempenho dos responsáveis pelo jornal é feito (será sempre feito) pelos leitores.


Sessenta e seis anos depois do artigo de abertura do Engº. João Maria de Sousa Brito o meu agradecimento como alcobacense aos que CONTINUAM A MARCHA…


E seguem-se algumas fotos da noite memorável de 27 de Dezembro de 2011.


JERO

As jornalistas Sara Susano e Sara Vieira


Revisor Afonso Luís











Paula Malojo e sua sobrinha Mariana(Revisoras)

Coordenador-Geral P.Carlos Jorge

A paginadora Andreia Silvano
Finalmente o fecho.Ana Caldeira, Sara Vieira,J. Eduardo Oliveira e Andreia Silvano.Foto de Sara Susano.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

M - 397 RECORDANDO ÁUREA DA MATA

Recordando Áurea da Mata
Quer se quer não n'esta época do ano a memória dos que nos deixaram e deixaram saudade surge mais viva no mais fundo de nós.
Áurea da Mata foi uma dessa pessoas especiais.
Que não esquecemos.
 Nós e todos que ,ao longo da vida, tiveram o privilégio de a conhecer.
Em sua memória respigámos de "O ALCOA" uma LENDA contada à sua maneira.Com paixão.
JERO

"Lenda dos Dois Rios de Alcobaça"


Eu vou contar uma lenda
Com um pouco de verdade
A do Rio Alcoa e Baça
Que passam por Alcobaça
Bem no centro da cidade


Há muitos anos atrás
Dois namorados se amavam
Um amor profundo e forte
Separá-los! Só por morte
Um e outro namoravam


Eram os dois "pobrezitos"
Sem vintém para gastar
Ele era ganancioso
E muito ambicioso
Vivia p´ra trabalhar


Por ali passou um homem
A procurar trabalhadores
Ao rapaz ofereceu dinheiro
P´ra trabalhar o dia inteiro
Não esquecendo seus amores



Mas os homens são assim
E ela sentiu-se abandonada
Chorou tanto, tanto, tanto
Sempre lavadinha em pranto
Mas não valia de nada


As lágrimas eram tantas
Mesmo no tempo de estio
Que chorava noite e dia
"Tristinha" e com arrelia
Acabou formando um rio



Mais tarde o rapaz voltou
E a chorar foi para ela
"Que me perdoes te peço
Mas eu sei que não mereço
Ó minha linda donzela"


Como ela o amava muito
E mulher é mesmo assim
Ela lhe disse a chorar
"Contigo quero casar
Não te separes de mim"


E os dois tanto choraram
Num abraço longo e sentido
Que dois rios se formaram
Das lágrimas que brotaram
P´ra lembrar o sucedido



No baptismo desses rios
Ouve dois nomes com graça
Venha aí quem me desdiga
Que o rapaz e a rapariga
Se chamavam Alcoa e Baça


Histórias que não esquecem
P´ra contar a quem lá passa
Que estes dois rios deram
Logo assim que nasceram
O nome a Alcobaça

 E "quem passa por Alcobaça
Não passa sem lá voltar"
Foi por isso que o Alcoa
Saiu p´ra ganhar "coroa"
Mas um dia quis voltar



Se uma lenda tem verdade
O afirmo de coração
Talvez seja bem por isso
Não quebrando o feitiço
Ainda é "Terra de Paixão"



Áurea da Mata (05/01/2010)

in jornal O ALCOA nº 2228 de 25 de Fevereiro de 2010 pág. 15



Fotos JERO

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

M - 396 EM TEMPO DE NATAL RUI RASQUILHO PÕE ORDEM NA TRADIÇÃO ORAL

Equívocos e precisões (2)

Continuamos hoje a referir como a tradição oral e a falta de crítica histórica leva a que alguns erros perdurem relativamente ao Mosteiro de Alcobaça.
Em 1702 no triénio de Frei Pedro de Alencastre, no reinado de D.Pedro II, inicia-se a construção da actual fachada da Igreja do Mosteiro que se concluirá vinte e três depois em pleno reinado de D.João V, no tempo em que se sabe estar projectado um edifício para a Livraria Nova do Mosteiro.
Há quem refira ter sido Frei João Turreano, monge de S.Bento, que desenhou e acompanhou as obras. Ora o arquitecto morreu em 1679 com 69 anos, e embora se saiba que fez obras em Alcobaça, não parece dever-lhe ser atribuído o projecto. Resta saber quem dirigiu as obras e lhe fez o risco..

Sala dos Túmulos
Séc.XVIII
Panteão real neogótico, cujo projeto é atribuído ao arquiteto Guilherme Elsden, e onde se encontram os túmulos de D. Urraca, mulher de D. Afonso II, de D. Beatriz, mulher de D. Afonso III e dos infantes, D. Fernando, D. Vicente e D. Sancho.




Em 1774 no mesmo ano em que Elsden coloca o globo e o resplendor no altar-mor na Igreja do Mosteiro ter-se-á iniciada a construção do enorme edifício da Biblioteca, onde viriam a ser alojadas as livrarias e cartório que há séculos estavam num espaço próprio na nave poente do antigo dormitório medieval.A Rainha D. Maria visitou o cartório e a livraria aí instalados em 1786.
Em 1798 Heinrich Link visita o Mosteiro e refere «está a ser arranjada uma nova e magnífica sala para a biblioteca». Ou seja o piso sobre o cartório deveria estar em trabalho final e o edifício exterior concluído. Todavia tudo indica que só após as Invasões Francesas estariam no seu novo local.
Por estas referências nem o terramoto de 1755 nem a cheia de 1788 afectaram o edifício por este não existir, mas afectaram por certo o terreno que terá ficado instável.
Em 1904 cai uma parte importante do tecto (30 m. x 1,50 m.) “devido ao peso exercido pelo barrotado da cobertura”.
Hoje, com o apoio do QREN e por um milhão de euros o edifício tem um novo telhado e as fachadas foram alindadas. Espera-se a degradação nos próximos 25 anos, se não houver conservação preventiva ou conservação integrada com instalação de um hotel.
As quatro estátuas mitológicas que ornam o parapeito da balustrada do jardim do Claustro do Cardeal estavam inicialmente na borda do lago do Obelisco, oferecendo particular beleza ao antigo jardim por onde passa a levada, agora seca, e que por enquanto tem três fontes de traça barroca. Uma delas em ruínas por estar fora da cerca junto ao desvio da levada para servir a que foi a única serração do Mosteiro.
O Rossio de Alcobaça é frequentado pelos cidadãos da Vila que se dirigiam à igreja do mosteiro desde o séc.XV.Mais tarde a Igreja, devido às disposições tridentinas (1562) é aberta à frequência dos fiéis sem restrições.

A existência do pelourinho em gravura do Sec. XVIII prova que a administração municipal se exerce no espaço do Rossio, sendo a Cerca de Dentro a própria fachada poente do Mosteiro.


Rui Rasquilho





segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

M - 395 NESTE NATAL QUERO VOAR

Quero voar....

Neste Natal quero voar
e como não sei versejar
mas apenas fotografar
prometo não voltar

...
JERO
...
«nunca mais voltar»...


Elas voam as aves...Voam no lindo aul do céu
Elas vão e vêem,aqui,além,acolá
Onde chegarão?Onde irão?Talvez...
Talvez...quem sabe se lhes pedisse
me levariam...




Mas como lhes pedir?Como falar com elas?
Não me entenderiam...
Quero ser uma uma ave
Voar para além do infinito
Fazer meu ninho,no refúgio
de meu coração e...
Voar até às estrelas voar para a liberdade!!!
E ai ficar,nunca mais voltar...


efeneto



sábado, 17 de dezembro de 2011

M - 394 FOI HÁ PRECISAMENTE CINQUENTA ANOS

A invasão da Índia Portuguesa foi em 18 de Dezembro de 1961

1. Respigado de postagem do Blog LUIS GRAÇA & CAMARADAS DAGUINÉ da autoria de José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70).
Este brilhante trabalho de pesquisa reporta-se à invasão da Índia Portuguesa em Dezembro de 1961, há precisamente 50 anos:

A QUEDA DA ÍNDIA
18 de Dezembro de 1961
Há quem atribua a queda da Índia, como marca do início da queda do Império Português. Mas, não. Tal não é verdade.
Em 22 de Agosto de 1415, com a expedição portuguesa e a consequente conquista de Ceuta, dá-se inicio expansão de Portugal rumo ao desconhecido, mas foram necessárias mais de quatro décadas, para que Ceuta consolidasse a sua posição, após a tomada em 1458 da praça de Alcácer Seguer e em 1471 de Arzila e Tânger.
Quando a Índia caiu, Alcácer Seguer, Arzila e Tanger já não faziam parte do Império, assim como o Brasil, que foi descoberto e anexado à Coroa Portuguesa depois da Índia. Também não podemos esquecer que muitas “possessões” que Portugal detinha, ao longo das costas de África e na Ásia, se foram esfumando, umas atrás das outras, independentemente do seu tamanho e/ou importância.
A “perda” de possessões nem sempre se ficou devendo à “sorte das armas”. Por exemplo, na Índia, Bombaim foi cedida ao Reino Unido, em 1661, incluída no dote de D. Catarina de Bragança, na altura do seu casamento com Carlos II de Inglaterra.
Voltemos à Índia, onde a maioria dos Portugueses nunca estiveram. Melhor, voltemos ao princípio da descoberta do caminho marítimo para a Índia, ao Século XV, que quer dizer ao meio da história deste nosso país.
Coube ao Almirante-Mor Vasco da Gama (n. Sines entre 1460 e 1469 † Cochim em 1524), filho ilegítimo de Estêvão da Gama, Cavaleiro da Casa de D. Fernando de Portugal, Duque de Viseu e Alcaide-Mor de Sines, casado com Dona Isabel Sodré, filha de João Sodré (também conhecido como João de Resende), que era de ascendência inglesa e tinha ligações à Casa do Príncipe Diogo, Duque de Viseu e Governador da Ordem Militar de Cristo.
A viagem, para a Índia começa no dia 8 de Julho de 1497 com a saída da barra do Tejo da frota constituída pelas embarcações São Gabriel, São Rafael, Bérrio e São Miguel, com cerca de cento e setenta homens a bordo entre soldados, marinheiros e religiosos.
O objectivo, a Índia, é atingido em 20 de Maio do ano seguinte, tendo Vasco da Gama que enfrentar a hostilidade do Samorim de Calecut.
 De regresso, a Armada atinge Lisboa, em fins de Agosto de 1499, tendo sido recebida em triunfo. Vasco da Gama realiza ainda mais duas viagens à Índia, sendo a última já com o título de Conde da Vidigueira e na qualidade de Vice-Rei, acabando por falecer em Cochim a 25 de Dezembro de 1524.


O Estado Português da Índia, Estado da Índia ou simplesmente Índia Portuguesa, foi um governo com a função de administrar todas as possessões portuguesas localizadas na zona do Oceano Indico, desde a África Oriental até à Ásia, que viu reduzida a sua área de governo em 1752 com a atribuição de governo próprio a Moçambique, situação que se verificou em relação a Macau, Solor e Timor em 1884, ficando, assim, restringido aos territórios de Goa, Damão, Diu, Ilha de Angediva, Dadrá, Nagar-Haveli, Simbor e Gogolá.

Com a independência obtida, da Coroa Britânica, em 15 de Agosto de 1947, a União Indiana, começou a reivindicar a posse dos territórios portugueses na zona, que foram sendo absorvidos pouco a pouco, até que, com a constituição de uma republica parlamentar, o Primeiro Ministro Pandit Jawaharlal Nehru recupera a declaração feita por Mahatma Gandhi [Mohandas Karamchand Gandhi (n. em Porbandar em 2 de Outubro de 1869 † Nova Déli em 30 de Janeiro de 1948), mais conhecido popularmente por Mahatma Gandhi (do sânscrito "Mahatma", "A Grande Alma") foi o idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha (princípio da não-agressão, forma não-violenta de protesto) como um meio de revolução (in Wikipédia)], de que “Goa não podia ficar separada”, pelo que resolve reivindicar, formalmente, a abertura de negociações com Portugal, tendente à anexação dos territórios na Índia.

Com o Império Português “em ordem”, depois das “escaramuças” havidas em África, aquando da dobragem do século XIX para o século XX, apesar de se ter prolongado muito para além do regresso das tropas que estiveram em França, e mesmo depois do regresso dos expedicionários aos Açores e Cabo Verde, durante a 2.ª Guerra Mundial, só a Índia, a Jóia da Coroa (mesmo na República), estava a causar alguma perturbação.


Durante o período que este antecede, também na Índia houve situações que, dado os acontecimentos que ocorreram no país, desde a Conferência de Berlim até ao final da Grande Guerra, ao territórios da Índia tiveram de fazer face a uma rebelião dos soldados marathas do Batalhão de Infantaria da Índia. Esta rebelião teve origem na ordem de deslocação, para Moçambique, de duas Companhias. Desenvolveram-se, então, as operações militares em Satary, entre 1895 e 1897.


Para conter esta insurreição, foi enviado à Índia um Corpo Expedicionário do Reino, ainda estávamos no regime monárquico, sob o comando de Sua Alteza real o Senhor D. Afonso, Duque do Porto. Constituíam este corpo expedicionário, as seguintes forças: Comando e Estado-maior (1 oficial e 6 praças); uma Secção de Artilharia de Montanha (1 oficial e 40 praças); uma Companhia de Cavalaria 3 (4 oficiais e 70 praças); duas Companhias de Infantaria 3 (11 oficiais e 444 praças); Serviço de Saúde (4 praças); Serviços Administrativos (1 oficial e 3 praças); num total de 22 oficiais e 567 praças. Convém lembrar que, à época, os sargentos eram considerados praças. Também faziam parte do corpo expedicionário, um contingente de marinheiros do cruzador “Vasco da Gama”, não quantificados na fonte consultado.

Na sequência das perturbações havidas, houve novas Operações de Polícia em 1901 e 1902, dirigidas pelo Governador-geral da Índia Coronel Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo.


Em 1912 foram efectuadas novas operações em Satary, sendo necessário recorrer ao reforço da guarnição da Índia, pelo envio de três Companhias de Moçambique.

Só uma preocupação se colocava ao poder de então, no início dos anos 50 do século passado: Guarnecer os territórios naquele estado com o maior número possível de militares.


Sem negociações, a União Indiana acaba por anexar os territórios de Dadrá e Nagar-Haveli e impede o reforço daqueles territórios, mas Portugal envia mais tropas para a Índia, tendo chegado a cerca de 12.000 homens e três navios de guerra.


No inicio de 1961, o Coronel Francisco da Costa Gomes, na sua qualidade de Subsecretário de Estado do Exército (56.º Ministério, cargo que ocupou de 14 de Agosto de 1958 a 13 de Abril de 1961), sugeriu a redução dos efectivos naquelas paragens para cerca de 3.500 homens, em virtude de se ter constatado que aquele território seria indefensável, perante uma, mais que provável, invasão. Esses efectivos foram deslocados para África, onde se tinham iniciados os conflitos que se prolongariam por cerca de treze anos, e que se propagou a três frentes de combate.


Com uma guarnição de pequena dimensão, mal armada e pouco municiada, dá inicio a alguns combates esporádicos, com forças da União Indiana, em 17 de Dezembro de 1961. Porém, no dia 18, uma força de cerca de 45.000 homens, mantendo na retaguarda como reserva cerca de mais 25.000, dá inicio à invasão simultânea dos três territórios ainda em poder efectivo de Portugal.


Socorro-me, agora, dum trabalho que venho efectuando ao longo dos últimos anos, talvez 10, que intitulei, genericamente de “AD UNUM”, que significa “ATÉ AO ÚLTIMO” e é o lema da Escola Prática de Infantaria, a Casa-Mãe daquela Arma:

17 de Novembro de 1961 – Num incidente na ilha de Angediva, ao sul de Goa, a guarnição abre fogo sobre o navio de passageiros “Sabamati”, sendo transformado no pretexto para uma intervenção militar tendente a libertar os territórios pela força.


12 de Dezembro de 1961 – Na Índia, dá-se a evacuação das mulheres e crianças. A operação é desaconselhada por Lisboa, por contrária ao interesse nacional, mas o General Vassalo e Silva, governador do Estado Português da Índia, não abdica de pôr a salvo os familiares dos seus homens. Com capacidade para cento e cinco passageiros, o navio Índia larga de Mormugão com seiscentos e cinquenta.

14 de Dezembro de 1961 – Na Índia é decretado o estado de emergência, ao mesmo tempo que é recebida a mensagem rádio, enviada pelo Dr. Oliveira Salazar, presidente do Conselho e Ministro da Defesa: “Recomendo e espero a sacrifício total, única forma de nos mantermos à altura das nossa tradições e prestarmos o maior serviço ao futuro da Nação. Não prevejo possibilidades de tréguas, nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos".


17 de Dezembro de 1961 – Os territórios de Goa, Damão e Diu são cercados por efectivos das forças armadas da União Indiana, num total de quarenta e cinco mil homens e mais vinte e cinco mil de reserva, utilizando carros de combate do último modelo, artilharia, tropas aerotransportadas, unidades anfíbias, engenharia, aviação moderna. Do lado português cerca de três mil e quinhentos militares deficientemente armados e municiados – há quem não tivesse melhor que uma espingarda Kropatcheq, anterior à Primeira Guerra Mundial, espingardas Lee-Enfield, britânicas, modelo de 1917 e metralhadoras ligeiras Lewis -, sem blindados e sem armas anticarro, sem aviação e praticamente sem artilharia.

17 de Dezembro de 1961 – Ao principio da noite aterra no aeroporto de Dabolim um avião da TAP, vindo de Carachi. Prevê-se que traga uma encomenda urgente das desejadas granadas “Instalaza”, destinadas a reforçar a depauperada artilharia anticarro. Os caixotes são abertos com ansiedade, mas ninguém quer acreditar no que vê: em vez de granadas, chouriços, enviados por Lisboa no âmbito da campanha do “Natal do Soldado”.


18 de Dezembro de 1961 – Invasão, pela União Indiana, do Estado Português da Índia. Mal armados e em número reduzido, cerca de três mil e quinhentos efectivos, perante as forças indianas invasoras, cerca de cinquenta mil militares do exército, marinha e força aérea, resistir significava uma cruel e inútil auto-imolação para os efectivos militares portugueses.


19 de Dezembro de 1961 – O contingente português acabou por se render, tendo o governador, general Vassalo e Silva, ordenado a “suspensão de fogo” às suas tropas. Mais de três mil militares portugueses foram feitos prisioneiros, entre eles o próprio Comandante. O Presidente do Conselho, Dr. Oliveira Salazar que queria “Só soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”, puniu e perseguiu alguns dos oficiais em serviço na Índia, o que abriu dolorosa ferida nas Forças Armadas Portuguesas e foi uma das raízes do derrube do regime Salazar, doze anos depois da queda de Goa, Damão e Diu.


19 de Dezembro de 1961 - Foram feitos prisioneiros em Goa (3412), Damão (853) e Diu (403), entre civis e militares, metropolitanos, africanos e indianos. Os 4668 prisioneiros foram enviados para os campos de concentração de Goa localizados em Nevelim, Praça da Aguada, Pondá e Alparceiros.


20 de Dezembro de 1961 – O General Chaudhury, das Forças Armadas Indianas, dirige-se ao campo de Alparqueiros, para uma visita ao já ex-Governador, no seu quarto-cela. O General Vassalo e Silva quis levantar-se para cumprimentar o indiano, mas este, pousando-lhe a mão no ombro, não deixou, puxando de seguida uma cadeira, sentou-se. O General português recusa a oferta de tratamento preferencial enquanto o indiano louva os militares portugueses, pelo seu comportamento nos combates travados em Mapuçá, Bicolim, Damão e Diu. O general indiano, no final, apertou a mão ao general português, colocando-se à disposição do vencido para o que fosse necessário.


27 de Dezembro de 1961 – Jawahalal Nehru, primeiro ministro indiano, manifesta-se contra os ataques internacionais de que foi alvo por ter invadido os territórios portugueses de Goa, Damão e Diu.


3 de Janeiro de 1962 – Estabelecimento, em Lisboa, de um governo do Estado da Índia.


12 de Janeiro de 1962 – O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Dr. Franco Nogueira, entrega ao Presidente do Conselho de Ministros, Dr. Oliveira Salazar, um documento intitulado “Notas sobre a Política Externa Portuguesa”. Neste documento, de dezoito páginas, era preconizada a entrega de Macau à China e Timor à Indonésia, enquanto à Guiné e São Tomé e Príncipe seria dada a autonomia e independência. Os territórios de Angola, Moçambique e Cabo Verde seriam mantidos como colónias essenciais.

27 de Janeiro de 1962 – Acordo entre Portugal e a União Indiana para o repatriamento de mais de três mil prisioneiros.


Maio de 1962 – Começa a repatriação dos prisioneiros, com o estabelecimento de uma ponte aérea até Carachi no Paquistão, sendo, a partir daí, a viagem efectuada por mar nos navios enviados pelo Governo de Lisboa:


• Vera Cruz – Sai no dia 8 e chega a Lisboa a 22, com 2968 pessoas a bordo;


• Pátria - Sai no dia 12 e chega a Lisboa a 26, com 1265 pessoas a bordo;


• Moçambique - Sai no dia 15 e chega a Lisboa a 30, com 1382 pessoas a bordo. Foram transportadas mais de 5600 pessoas, entre militares e civis.


Quando chegam a Lisboa os navios que transportam os ex-prisioneiros de guerra da Índia, os militares repatriados só saíram a coberto da noite, debaixo de forte dispositivo de segurança militar, sendo esta atitude justificada “pela necessidade de os proteger da população, que os queria linchar pela cobardia demonstrada”.


No cais apenas alguns familiares e amigos dos regressados.


Em memória dos camaradas de armas tombados em nome de Portugal, deixamos o registo dos seus nomes, para que a História e os Homens, os não esqueçam, e não se tornem em SOLDADOS ESQUECIDOS:

Militares tombados em Defesa da Índia Portuguesa

Abel Araújo Bastos – Soldado
Abel dos Santos Rito Ribeiro – Alferes Miliciano de Infantaria
Alberto Santiago de Carvalho – Tenente Infantaria
Aníbal dos Santos Fernandes Jardino – Marinheiro
António Baptista Xavier - 1.º Cabo
António Crispim de Oliveira Godinho - 1.º Cabo
António Duarte Santa Rita - 1.º Sargento da Armada
António Fernando Ferreira da Silva - 1.º Cabo
António Ferreira – Marinheiro
António José Abreu Abrantes – Alferes Miliciano Infantaria
António Lopes Gonçalves Pereira – Alferes Miliciano Engenharia
Cândido Tavares Dias da Silva - 1.º Cabo
Damuno Vassu Canencar – Soldado
Fernando José das Neves Moura Costa - Soldado
Jacinto João Guerreiro – Soldado
João Paulo de Noronha - Guarda 2.ª classe
Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo - 2º Tenente Armada
José A. Ramiro da Fonseca - Furriel Miliciano
José Manuel Rosário da Piedade - 1.º Grumete Armada
Joviano Fonseca - Guarda-Auxiliar
Lino Gonçalves Fernandes - 1.º Cabo
Manuel Sardinha Mexia – Soldado
Mário Bernardino dos Santos – Soldado
Paulo Pedro do Rosário - Guarda Rural
Tiburcio Machado - Guarda-Rural


OBS: Esta lista pode estar incompleta


Os Soldados da Índia só foram “reabilitados” do ostracismo a que foram votados, após o 25 de Abril.
Todos os prisioneiros de guerra, foram condecorados com a Medalha de Reconhecimento (*) em 03 de Maio de 2003, pelo então Ministro de Estado e da Defesa Nacional Dr. Paulo Portas.


(a)José Marcelino Martins
de quem tenho o privilégio de ser amigo vive em Odivelas e é "figura de proa" de um dos blogs mais importantes da actualidade portuguesa- Luís Graça & Camaradasda Guiné - , que em 6 anos de existência já ultrapassou 3 milhões de visistantes.
JERO





segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

M - 393 UMA HISTÓRIA DE VIDA

Uma mão rodada

A cena passou-se na tarde de hoje na barbearia dos irmãos Oliveira da Rua Miguel Bombarda, em Alcobaça.
Um jovem pai passou o filho ao Tó, um dos irmãos barbeiros, e passou-lhe também a responsabilidade do “corte”.
«Fica à tua, meu. Põe a trabalhar a tua sensibilidade. Faz um corte moderno.»
Achei piada ao estilo do pai com quem meti conversa.
Era um pai orgulhoso. O seu filho de 6 anos era um aluno brilhante.
Um dia, de manhã, estava adoentado e pediu para ficar na cama. O pai lembrou-lhe que era uma pena ele não se sentir bem…Iam dar nesse dia o “8”. O miúdo quando percebeu que ia perder o “8” arrebitou e disse que queria ir à escola.
E foi. Aprendeu até ao “10” num foguete e quando chegou ao “199” perguntou ao pai qual o número que se seguia.
Quando soube que era “200” disse logo ao pai que o seguinte era o “201” e que já sabia como era até ao 299…Quanto às vogais já as sabe todas.
O miúdo, na cadeira do Tó, olhava para o pai embevecido.
Percebia-se que o pai jogava “em casa” – era nitidamente “intimo” dos irmãos António e Paulo Jorge -e falava “por tudo quanto era sítio”.
Quando disse com bravata que estava a frequentar o 2º. Ano da Universidade pensei que brincava pois conhecia-o dos tempos em que tinha sido “securita” da Câmara de Alcobaça.
Perguntei que curso estava a frequentar. Respondeu de imediato que andava em Rio Maior num curso superior de ginástica.
E como a prática era mais importante que o estudo propriamente dito acrescentava, sem falsas humildades, que… estava “na maior”. Os professores até “abriam os olhos” com certas coisas que era capaz de fazer.
Perguntei-lhe se, em argolas, fazia o “Cristo”.
Faço pois. “Na maior”.
Um dos irmãos, o Paulo Jorge, provocou-o e o Hugo Matos - assim se chamava o pai do miúdo a quem cortavam o cabelo com “sensibilidade” e também com a tesoura – afirmou que era também capaz de apanhar uma maçã do chão com uma “mão rodada”.
Perguntei como era o tal exercício e o Hugo respondeu que apanhava com a “esquerda” ,enquanto rodava com o corpo sem tocar com a outra mão no chão.
Fui a minha vez de ser rápido. Tirei a minha máquina fotográfica da pasta e mandei a bolsa da “Lumix” para o chão.
Pus-me em posição de fotografar e desafiei-o: Então exemplifique lá como é?
Os irmãos gozaram e…o Hugo aceitou o desafio.
E fez o salto “de mão rodada” por duas vezes!!!
Fotografei o que fui capaz e voltámos a conversar.



A partir dali passei “a jogar com a bola mais baixa” e fiquei a saber que o Hugo já tinha abandonado os “securitas” há algum tempo. Tinha-se dedicado à Educação Física e nesta fase da vida era formador na Direcção Geral da P.S.P..
Contava dentro de um ano e pouco acabar o seu curso e ingressar no ensino.
A conversa continuou com outros temas, nomeadamente sobre o ingresso de um seu amigo na “Legião Estrangeira” que me deixou estupefacto. Mas essa história ficará para uma próxima oportunidade.
Quando cheguei a casa fui à Internet ver o que encontrava sobre o exercício que o Hugo tinha feito na barbearia.
Encontrei a seguinte definição de “rondada”.


Rondada ou rodante: é como uma estrela, mas tem fase de voo (um momento em que nenhuma parte do corpo toca o chão) e termina com as duas pernas juntas. Serve para dar impulsão antes de elementos que começam.
Não sei se foi exactamente “isto” que o estudante do 2º.Ano de “Rio Maior” fez mas ...naquele espaço o que eu apreciei mais foi o Hugo a falar do seu filho.
Que deixou de estar “doente” de um momento para o outro …para não perder na sua escola o dia do “8”!
Está ali uma “estrela” em formação…
Quanto ao pai já é.
Não sei bem se estrela ou cometa mas…para já é um jovem pai com "auto-estima" bastante em alta.
O que lhe fica bem.
Digo eu.


JERO