domingo, 29 de novembro de 2009

M124-SONHANDO COM CAPITÉIS E FOLHAS DE ACANTO



FOI QUASE ASSIM…
Lourenço muniu-se do escopro soprou-lhe para lhe retirar a poeira que lhe ficara presa após o haver limpo às calças grossas iguais às dos outros mestres de canteiro que afagavam por todo o estaleiro as pedra trazidas da serra.
O sol estava quase a pino, num céu sem nuvens, os aguadeiros tinham acabado de passar dirigindo-se agora tocando ao de leve uma sineta , escura pelo uso, para o estaleiro dos carpinteiros que ultimavam a roda de um guindaste, manejando habilmente formões e puas.
Lourenço batia levemente com o martelo no cinzel desenhando sobre o molde folhas de acanto no capitel da última coluna soltando pequenas lascas de pedra rude mas macia que lhe chegara esta manhã pela estrada de Chiqueda no carro de bois de mestre Teodósio.
Canteiros e carpinteiros manobravam as duas oficinas mais importantes da obra, em espaços muito próximos do Baça, o rio que vinha de Valbom para ir mais além juntar-se ao Alcoa mais caudaloso e útil para o futuro do Mosteiro.
O carpinteiro Rodrigo abandonou o trabalho por algum tempo para ir ao encontro do mestre ferreiro que lhe preparava um novo trado essencial para melhor unir os andaimes, nem sempre bem firmes com os laços das cordas, quando as sucessivas idas e vindas do monta carga os fazia oscilar.
Ao fim do dia os monges que fiscalizavam a obra regressavam a Chiqueda onde estavam as instalações provisórias do Mosteiro, pernoitando no Castelo apenas o monge escultor que preferia ter autonomia para poder criar novas ideias que passaria à pedra respeitando naturalmente as indicações da carta de caridade apesar do Mosteiro se insinuar de grandes dimensões.
S.Bernardo morrera há mais de vinte anos mas as suas rigorosas decisões ainda influenciavam a arquitectura.
À hora da ceia Lourenço recolheu-se à sua barraca na Quinta da Gafa e dormiu a sono solto até ao nascer do sol, sonhando com capitéis e folhas de acanto.
Rui Rasquilho

Nota:Desenho de Jorge Delmar publicado em “ALCOBAÇA em Banda Desenhada”, edição da CMA, Pelouro Ambiente, com direcção de ADEPA
(Janeiro de 2002)

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