quarta-feira, 30 de junho de 2010

M 271 TESOUROS DE ALCOBAÇA


Recuperação do Arquivo Histórico da Misericórdia de Alcobaça
Uma entrevista com o Professor Gérard Leroux
A entrevista que reproduzimos seguidamente foi publicada em O ALCOA
em 24 de Maio de 2007.
Passaram um pouco mais de 3 anos e a sua importância é tão actual
que resolvemos incluí-la no nosso blog.

Para uma leitura mais fácil fizémos alguns "cortes!
-Quem é o nosso entrevistado?O Prof. Gérard Leroux nasceu em Roubaix (França) em 13 de Outubro de 1946, tendo portanto actualmente 60 anos de idade.

Formou-se em Filosofia, Teologia e Línguas Antigas na Universidade de Estrasburgo, tendo sido Assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Dedica-se ao estudo da Ordem de Cister em Portugal desde o início dos anos 80
É considerado um dos melhores especialistas da Ordem de Cister em Portugal, tendo já publicado várias dezenas de trabalhos eruditos e proferido inúmeras conferências nas mais diversas instituições.
No que respeita a Alcobaça tem actualmente dois trabalhos em preparação:
- Uma História do Real Colégio de Nossa Senhora da Conceição de Alcobaça, fundação cisterciense do século XVII; e
- Um Catálogo do Arquivo Histórico da Misericórdia de Alcobaça, instituição que o contratou para esse efeito em Junho de 2006.

Vive presentemente em Alcobaça.
Senhor Professor, em que fase está o trabalho da recuperação do Arquivo Histórico da Misericórdia de Alcobaça ?
Em bom caminho. A catalogação dos livros já está muito adiantada. Alguns, até, que se encontravam em mau estado de conservação, já foram restaurados, sob a minha orientação, por um encadernador de Alcobaça, o Sr. Eusébio da Silva, que trabalha muito bem, com métodos e materiais tradicionais.
Para termos uma ideia mais precisa do conteúdo deste Arquivo, importava-se de nos dizer com mais particularidade em que consiste ?
O fundo do Arquivo reflete a estrutura, as funções e as actividades da Misericórdia ao longo de perto de 500 anos de existência. Há, portanto, toda a documentação relativa à constituição e regulamentação da instituição, às actividades dos órgãos governativos (Assembleia Geral, Mesa Administrativa), à gestão dos recursos financeiros, patrimoniais e humanos, e ainda às actividades da Santa Casa no âmbito da assistência social e no domínio da saúde, exercidas através do seu hospital até ao ano de 1976. São, como já foi referido em artigo anterior, centenas de livros e cadernos, e alguns milhares de documentos avulsos… Destacam-se compromissos, livros de eleições, acórdãos e actas da Mesa, copiadores de correspondência expedida, livros de receita e despesa, tombos de títulos e escrituras, etc. E no que diz respeito à gestão hospitalar, registos do movimento dos doentes, receituários médicos e cirúrgicos, carreiras de passageiros, documentação referente ao movimento de doentes militares (por exemplo os feridos nos violentos combates da Nazaré, durante a primeira invasão francesa, em Julho de 1808).
A este acervo, próprio da Misericórdia de Alcobaça, há que acrescentar os das misericórdias que lhe foram unidas compulsivamente, por decisão do Marquês de Pombal, em 1775 : Alvorninha, Cela, Cós, Évora, Maiorga, Santa Catarina e Turquel — uma centena de livros ao todo, não contando, aí também, os documentos avulsos, alguns dos quais remontam ao século XV, antes, portanto, da instituição das misericórdias…
Quando é que pensa chegar a estes documentos avulsos ?
Não sei ainda. Tudo isto é muito moroso. Há normas a respeitar, princípios arquivísticos definidos a nível nacional e internacional. Cada peça é objecto de uma análise detalhada ; faz-se uma ficha. Não é coisa para brincar.
Sr. Professor, vejo, na sua mesa de trabalho, livros encadernados com pergaminhos que parecem muito antigos… Fico surpreendido, porque, desde sempre, ouvi falar no saque de 1834, do « mata-frade », dos documentos que, nessa época de balbúrdia, sairam do Mosteiro e teriam sido utilizados em fins menos dignificantes… Será que alguns destes pergaminhos serviram para encadernar livros da Misericórdia ?
Não, tudo leva a crer que estes livros foram encadernados antes da expulsão dos monges, na oficina de encadernação do Mosteiro. De resto, há livros assim encadernados em todas as bibliotecas e arquivos do País. Na Biblioteca de Alcobaça, no Arquivo de Leiria, na Biblioteca Nacional, na Torre do Tombo, em toda parte. Era prática corrente…
Os monges não davam valor a estes pergaminhos ?
Davam… Ou não davam… Mas o que é que quer ?… Os livros, mesmo os livros escritos em pergaminho, acabam por estragar-se com o tempo. É particularmente o caso dos livros de coro, muito manuseados durante dezenas de anos. Sempre chegava uma hora em que os livros sujos ou rotos, indignos de continuar a servir, eram postos de lado e finalmente inutilizados. Por outro lado, em todos os escritórios monásticos havia um stock de pergaminhos, de folhas ensaiadas, de obras começadas e abandonadas, que não serviam para nada, ou de escrituras públicas desactualizadas. Os encadernadores recuperavam este material para fazer capas… Como os antiquários de hoje fazem abat-jour !…
Entre estes pergaminhos alguns devem ter mais valor, ou mais interesse, do que outros ?
Sem dúvida. Aliás, o Padre Avelino de Jesus da Costa, que foi um grande mestre de diplomática da Universidade de Coimbra, chamava a atenção para o interesse destes « pergaminhos de reemprego », de que fez um inventário sistemático em todas as bibliotecas do País. Não passou, no entanto, por Alcobaça, por ignorar, certamente, a existência deste arquivo ou por lhe ser, na altura, inacessível. Mas eu próprio fiz algumas descobertas interessantes, que conto em breve divulgar…
Sendo as misericordias de protecção real, deve haver, na Misericórdia de Alcobaça, documentos assinados pelos nossos reis.
Há, efectivamente, no Arquivo Histórico da Misericórdia de Alcobaça, documentos assinados por D. Catarina, viúva de D. João III, por D. Sebastião, pelo Cardeal D. Henrique, por Filipe III de Espanha, por D. João IV, etc.
Sr. Professor, peço-lhe um esclarecimento que julgo importante para quem nos lê. Depois de inventariado e organizado, o Arquivo será acessível ao público ?
Julgo que sim, mas esta decisão não depende de mim, porque implica a instalação de uma estrutura de apoio, com funcionamento regular, que, segundo julgo saber, não foi ainda definida. Mas é natural que sim. Não basta conservar e catalogar, é preciso abrir um dia este arquivo aos estudiosos. Para já, o meu objectivo, e a missão que me foi confiada, é elaborar um catálogo geral que sirva de instrumento de pesquisa para futuros investigadores. O resto não me pertence.
Estas irmandades que referiu, essas misericórdias, têm a ver com o conceito actual de misericórdia ? É que para muita gente de Alcobaça, a « Misericórdia » está associada ao Hospital de Alcobaça. É correcta essa associação ?
Sim, em parte. O Hospital de Alcobaça, como sabe, já não é da Misericórdia, mas é a continuação, de algum modo, do hospital fundado pela Misericórdia, numa escala ainda muito modesta, no início do século XVII, na actual Rua do Castelo, e que se transportou mais tarde, em finais do século XIX, para o Campo da Roda. Aquele hospital (o da Rua do Castelo) era, por sua vez, herdeiro de um hospício anterior — anterior à fundação da Misericórdia — e que dependia de uma irmandade do Espírito Santo. No local onde se ergue a actual igreja da Misericórdia existiu, até ao início do século XVI, uma ermida dedicada ao Espírito Santo, onde se dava assistência espiritual a quem passava pelo hospício construído ao lado, como acontecia também, por exemplo, em Aljubarrota ou na Maiorga, e noutras vilas dos Coutos.
Portanto, os hospícios não tinham uma função apenas, digamos, sanitária ?
Sanitária no sentido lato : saúde do corpo e da alma. Para os antigos, estas duas realidades (o corpo e a alma) andavam sempre ligadas. Mas os hospícios eram também albergues onde os viajantes, os peregrinos podiam pernoitar e ser assistidos e curados em caso de necessidade. Viajava-se muito, na Idade Média… Peregrinava-se muito…
E as populações locais, eram também atendidas ?
Claro. E não só os doentes como todos os necessitados : por exemplo, os presos, aqui, no castelo, a quem se levava comida ; ou os chamados « pobres envergonhados », pessoas desamparadas que, por uma razão ou outra, caíam na miséria…
Com a inevitável distância, pode-se considerar as misericórdias um serviço nacional de saúde, de utentes ?
Nacional, não, embora existisse solidariedade entre as misericórdias ; mas não existia estrutura centralizada, não havia ainda ministério da Saúde ! Agora, local, certamente. De resto, é o desenvolvimento das povoações que pede, que exige que se passe do simples hospício para uma instituição exclusivamente centrada no atendimento médico das populações.
No caso de Alcobaça, a Misericórdia tinha que dar contas ao Mosteiro ?
De modo algum, e isto tem que ser realçado. Desde o início — a primeira misericórdia, a de Lisboa, foi fundada em 1495 —, as misericórdias são instituições perfeitamente autónomas, que se regem pelos seus próprios estatutos, o chamado « Compromisso ». Estão sob protecção do rei (ou da rainha), a quem podem a todo o momento recorrer. Elegem os seus corpos dirigentes livremente, sem qualquer intromissão de fora. Congregam por cooptação, para fins caritativos, o que se pode considerar a elite da população local, escolhida entre a aristocracia (os « irmãos nobres » ; há nobres a viver em todas as vilas dos Coutos), e os profissionais (os « irmãos mecânicos » : artesões, comerciantes, camponeses abastecidos, etc.). Ao Mosteiro, a Misericórdia paga uma renda anual simbólica (dois alqueires e meio de trigo e duas galinhas), pelo terreno que ocupa e de que não é proprietária, e compra à sua botica, com desconto, os medicamentos que distribui. A isso se limita, o relacionamento da Misericórdia com o Mosteiro.
São, portanto, duas entidades independentes.
Completamente. Há no entanto um certo relacionamento por virtude do culto, das procissões, mas que — insisto — exclui toda a dependência… Como sabe, entre as quatorze obras de misericórdia, sete são espirituais, e, entre estas, uma, muito importante, é a de « ensinar os que não sabem » ; trata-se, obviamente, do ensino da doutrina cristã. Daí que todos os anos, por altura da Quaresma, a Misericórdia, muito embora tivesse os seus próprios capelães, costumava pedir a padres de fora — pagando-lhes uma esmola — para virem pregar na sua igreja. Estas pregações eram sempre muito concorridas. Por várias razões : constituíam um acto de piedade, e a piedade do povo, naquele tempo, era fervorosa ; mas constituíam também uma agradável diversão em relação ao dia-a-dia ; viam-se figuras novas, algumas delas, por vezes, muito conceituadas. Além disso, os portugueses, como todos os povos de cultura latina, sempre foram muito sensíveis ao talento oratório… E havia, de facto, grandes pregadores. Estou a pensar em Frei António das Chagas, franciscano, antigo oficial de infantaria, que tinha enorme fama como pregador, sempre a missionar aqui e acolá… De modo que juntava-se assim o proveitoso (em termos espirituais) e o agradável…
E de onde vinham estes pregadores ?
Muitas vezes do próprio Mosteiro, e sempre a convite da Mesa e do Provedor ; mas podiam vir do Convento da Madalena, em Évora de Alcobaça (franciscanos), ou do Convento da Batalha (dominicanos), ou do Convento do Bom Jesus de Porto de Mós (agostinhos)… Não havia obrigatoriedade ou exclusividade.
...
Para nós, estes monges como Frei Fortunato são coisa do passado…
Para mim, não, e nunca foram. Descobri o Padre Cocheril tardiamente, mas conheci monges cistercienses desde a minha tenra infância. A primeira vez, foi pela mão do meu pai, que tinha um amigo religioso na Abadia de Mont-des-Cats, no norte da França. Naquele tempo, nos anos 50, antes do Concílio de Vaticano II, os monges em França ainda viviam como se vivia aqui em Alcobaça há duzentos anos atrás : cabeça rapada, grandes barbas (os conversos), mesmos usos, mesmo hábito, mesma liturgia… Para os alcobacenses de hoje, o monge é um ser do passado, uma figura quase mitológica, em torno da qual a imaginação pode fantasiar ou, até, disparatar conforme a ideologia de cada um ; mas, para mim, nunca foi assim. Até porque sempre tive muitos amigos monges (beneditinos, cistercienses, cartuxos), que, no fundo, não eram, e não são, estou convencido disso, muito diferentes daqueles que conviviam em Claraval com São Bernardo… Era tão bom vê-los de volta a Alcobaça ! Porquê é que não se estuda esta hipótese ? O Mosteiro está vazio…
...
Muito mais haveria para dizer mas… foi o próprio Professor Leroux a refrear um pouco o nosso entusiasmo pois… há ainda muito que fazer.
Reconhecemos, obviamente, que… o tempo é ainda de trabalho, mas foi nossa principal intenção dar a conhecer o que se está a fazer pela recuperação do Arquivo Histórico da Misericórdia de Alcobaça, realçando mais uma vez o que é (e o que foi…) preciso para salvaguardar este valioso Património que, repetimos, chegou aos nossos dias (quase) intacto graças à dedicação de alguns dedicados alcobacenses.
E… são testemunhos de mais de 500 anos da nossa história!

JERO

domingo, 27 de junho de 2010

M 270 - ESCOLAS VAZIAS...


É tempo de férias …

Acabaram as aulas


Quer se queira quer não as aulas tem a ver com escolas e escolas têm a ver com alunos e professores.
E (quase) todos nós temos filhos e netos como alunos e proximidade com professores. Professores que podem ser nossos familiares ou simplesmente amigos, ou amigos de alguns dos nossos amigos.
E chegados aqui há que dizer que as férias já começaram para os alunos mas não ainda para os professores, que têm ainda algumas longas semanas de trabalho e dores de cabeça até chegarem as (suas) férias…


E quando chegarem as férias os problemas que existem no ensino ficarão apenas atenuados…por algum tempo.
Porque há muitos problemas nesta área de que (quase) todos estamos próximos.


Quer se queira quer não…


E a partir daqui confessamos a nossa inquietação pelo que nos chega…ao virar da esquina …sem ter que ir muito longe…
Porque o ensino está “doente” devido às constantes reformas, sem estudos prévios e sem escutar os actores que trabalham no terreno, ou seja os professores.


É só ler os jornais nacionais e ouvir as televisões…


Sente-se que cada ministério quer deixar "obra" e faz nascer …a cada dia que passa… enxurradas constante de ideias peregrinas…


Diz-nos um professor amigo que é o "eduquês" …e as pedagogias manhosas…
Que é trabalhar para as estatísticas, para o sucesso inventado…
Que é a perda de qualidade das aprendizagens e o facilitismo…
Que é a burocracia crescente que não deixa tempo para o essencial, que é preparar aulas e dar aulas…
Que é o centralismo absurdo e a imposição de regras asfixiantes por parte da tutela…
Que são as Novas Oportunidades e outros disparates à pressão…
Que é o assumir que não vale a pena o esforço e a dedicação…
E no final de mais um ano lectivo a amargura de continuar o descrédito dos professores na opinião pública!


Que futuro para a escola do futuro?


É a interrogação que deixamos para o tempo de férias…fazendo notar que a FNE defende que «… os desafios que se põem a Portugal no campo da educação exigem políticas coerentes e estáveis … que resultem de um alargado consenso na sociedade. »


Votos de boas férias.


JERO







sábado, 26 de junho de 2010

M 269 - POSTAIS COM HISTÓRIA

OFICINA DANADA



Ano 2001, fim de tarde de um dia quente de Maio...


Dois homens de cabelos brancos passeiam lentamente aproveitando o fresco da noite que se avizinha mas que só deverá chegar dentro de uma hora !...

O mais velho fala, gesticula e de olhos brilhantes aponta para um edifício amarelo, degradado, com muitos anos de tempo, de memórias, de sons de martelos e de bigornas...



O interlocutor do vigoroso octogenário ,cerca de vinte anos mais novo, toma notas e de vez em quando interrompe com perguntas.

“Oficina danada”!...

Espera aí, José Coelho. Vamos falar desses nossos antepassados com mais calma e pormenor.

E com a magia de que os mais velhos são capazes aproveita-se a esquina mais próxima para se entrar na” máquina do tempo” e viajar 50, 100 anos para trás. Na casa amarela, ou seria branca, vamos encontrar uma família de hábeis serralheiros, representantes de uma das mais velhas e numerosas famílias de Alcobaça: -“OS COELHOS”.

Quatro irmãos (o Joaquim, o Zé “Preto”, o Júlio e o António “Russo” ),  serralheiros experientes, com oficina na Rua Frei Estevão Martins, frente à actual Pensão Mosteiro, viveram intensamente os tempos conturbados do assalto ao Quartel de Janeiro de 1919.

A página 137, do livro de Bernardo e Silvino Villa Nova, “Breve História de Alcobaça” é referido que em 11 de Janeiro de 1919, civis armados, auxiliados por oficiais revoltosos de Regimento de Artilharia 1, aquartelado em Alcobaça, tomaram posse do quartel, prenderam o Comandante e alguns oficiais e seguiram para Santarém, principal núcleo do movimento revoltoso.

No dia 13 seguinte, encontrando-se Alcobaça desguarnecida, entrou nela tropa de Infantaria 7, fiel ao governo, tendo-se seguido a prisão de largas dezenas de pessoas... e até 24 do mesmo mês viveu-se um regime de terror, com violação de domicílios e atropelos vários.

Pois também os quatro irmãos da nossa história e a sua oficina estiveram na mira das forças da ordem de então por terem sido denunciados por inimigos políticos. Eram acusados do fabrico de bombas para a revolução.

Foi um elemento da GNR, que no final da busca, certamente cansado, enfarruscado e desiludido por nada ter encontrado que proferiu a frase que veio a tornar conhecida a oficina dos 4 irmãos:- Que oficina danada!...

Quanto às bombas elas estavam lá perto, dentro de um cesto que, preso por um arame, estava mergulhado nas águas escuras do Rio Baça que passava nas traseiras da oficina.

Se têm aberto a janela enferrujada das traseiras e puxado o arame estes nossos parentes teriam ido mesmo presos.

Parafraseando a histórica expressão do soldado da GNR tiveram uma sorte danada!...

JERO

Nota: - O postal reproduzido é da Colecção Armazém das Artes (Rusga à Oficina Danada) e é da autoria de Rogério Ribeiro
2007
Tinta da China sobre papel


terça-feira, 22 de junho de 2010

M 268 - PORTUGUESES NA ÁFRICA DO SUL

“A INSEGURANÇA É GENERALIZADA”

O mundo do futebol é feito de contrastes , com paixão e exageros que têm ,por vezes, a vantagem de ajudarem comunidades de emigrantes a afirmarem-se e …graças às televisões e jornais… dizerem que existem “e estão lá”…
E “estar lá” ,ou seja, viver nos últimos anos na África do Sul tem sido muito difícil, adjectivo muito “delicado” para classificar o que a comunidade portuguesa tem sofrido na pele, na carne e nos ossos nos últimos anos.
Sem o futebol a dimensão trágica desta epopeia ,que se viveu na última década, não nos teria chegado com a força brutal que os números seguintes transmitem:
399 portugueses mortos na África do Sul em quatro anos
Um memorial aos portugueses mortos foi inaugurado a 3 de Junho, no Brentwood Park de Benoni, por iniciativa da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, dirigida pelo padre Carlos Gabriel, o principal impulsionador da "marcha contra o crime"no ano 2.000, manifestação que englobou 15.000 portugueses e que “dividiu” a nossa comunidade e provocou a indignação do governo sul-africano do Presidente Thabo Mbeki, que a conotou com grupos minoritários pró-apartheid.
O monumento, que recentemente foi descerrado no âmbito das comemorações do Dia de Portugal, incluía então a fotografia dos 388 portugueses mortos nos últimos quatro anos na África do Sul. Infelizmente este número em poucos dias, já subiu para 399 mortos.
Apesar da dureza das estatísticas, não confirmadas oficialmente, figuras destacadas da comunidade portuguesa ressalvam que a comunidade portuguesa não tem sido discriminada nem é vítima de qualquer sentimento racista.
"A insegurança é generalizada", reconhecem.
Estimada em 450 mil indivíduos, na sua maioria provenientes da ilha da Madeira, a comunidade portuguesa dedica-se sobretudo ao comércio. E devido à localização dos seus estabelecimentos em zonas mais isoladas e difíceis de controlar, estes emigrantes têm ficado mais expostos aos delinquentes que, concentrados nesses bairros habitados exclusivamente por negros de menores recursos económicos, se envolvem em violentas actividades ,tendo o furto como objectivo principal.
A onda de violência tem provocado o êxodo sobretudo de muitos jovens luso descendentes que "procuram um futuro mais seguro" na Inglaterra, Canadá e Austrália, deixando os seus progenitores ainda mais apreensivos com a continuidade dos seus negócios,de cada vez mais difícil transacção.
As novas gerações "não acreditam na África do Sul" e, com deficiente domínio do idioma de Camões, "não querem ir para a Madeira porque a terra natal de seus pais não lhes proporciona melhores condições", lamentam dirigentes associativos da comunidade.
Estas notícias chegaram-nos agora – com esta crueza e clareza -graças aos jornalistas portugueses que foram à África do Sul cobrir os jogos da Selecção Nacional, nomeadamente numa reportagem de Vitor Serpa, do jornal “A Bola”, na sua edição de 20 de Junho de 2010.
E não consigo evitar algum mal estar quando recordo imagens televisivas que mostraram nossos compatriotas, que aguardaram horas para verem passar “os nossos heróis da bola”, que por vezes nem se dignavam cumprimentar, quanto mais agradecer, o seu apoio e entusiasmo…
Terminamos como começámos: o tal “mundo cão” da bola que é feito de contrastes , com paixão e exageros que tem ,por vezes, a vantagem de dar a conhecer os graves problemas das comunidades de emigrantes . Que existem “e estão lá”…rodeados de cônsules e diplomatas que não os defendem como devem…
Fez mais o padre Carlos Gabriel, o principal impulsionador da tal "marcha contra o crime",do que uma dúzia de membros da nossa Embaixada, que assobiou para o lado enquanto não apareceu o actual Presidente da República Jacob Zuma…que melhorou mas não erradicou a violência..
Pois se algum mérito teve – e está a ter – o Campeonato do Mundo do Futebol na África do Sul foi o de nos dar a conhecer como custa a ganhar aos nossos emigrantes o pão que o Diabo amassou…
JERO



segunda-feira, 21 de junho de 2010

M 267 - BANDEIRA... SÓ DEPOIS DO JOGO !

BANDEIRA ...SÓ DEPOIS DO JOGO !
O meu vizinho Fernando Norte, que já passou com distinção a barreira dos 80 (oitenta anos), só hasteou a bandeira de Portugal depois dos 7(sete a zero) pois já cá anda há muito tempo e alinha com aquele ex-jogador do norte que dizia que ...prognósticos só no fim.
Portanto... bandeira só depois das 15H00...


Maior goleada de sempre em fases finais

Para memória futura aqui fica o registo.
A selecção portuguesa de futebol construiu hoje a sua maior goleada de sempre em fases finais do Mundial, ao golear a Coreia do Norte por 7-0, na Cidade do Cabo, na África do Sul.


Raul Meireles, Simão, Hugo Almeida, Tiago (dois golos), Liedson e Cristiano Ronaldo marcaram para a formação portuguesa, que tinha como melhor registo os 4-0 à Polónia, no segundo encontro no Mundial de 2002.


No seu 21.º encontro em fases finais, Portugal repetiu o mesmo número de golos dos sete encontros realizados no Mundial 2006, que terminou na quarta posição, batendo também os registos de 1986 (dois golos) e 2002 (seis).


Tiago, que “bisou” (60 e 89 minutos) tornou-se apenas o quarto jogar luso a marcar mais do que um golo num jogo da fase final, depois de Eusébio (duas vezes em 1966, uma com quatro golos), José Augusto (1966) e Pauleta (2002).


Por seu lado, Simão e Cristiano Ronaldo, que haviam marcado no Mundial de 2006, repetiram a proeza de Pauleta, melhor marcador da história da selecção lusa (47 golos), que era, até hoje, o único jogador que havia marcado em diferentes fases finais (2002 e 2006).

Num dia de chuva ...para a Coreia do Norte a cidade do Cabo foi..."o cabo dos trabalhos"...E não se livraram de uma chuva de golos...
Os seleccionados coreanos não vão vão ter a vida fácil no seu regresso a casa...
Contudo esse problema não é nosso e...Viva Portugal!

JERO




sábado, 19 de junho de 2010

M 266 - SESSENTA ANOS É MUITO TEMPO

ALCOBAÇA DE ONTEM E…ALCOBAÇA DE HOJE
Do alcobacense António Francisco Rodrigues Leitão Farracho, que vive há muitos anos na região de Tomar, recebemos uma carta cheia de saudades e de memórias da sua juventude. Dentro do envelope vinha também uma fotografia, que reproduzimos, e que foi tirada em 1950.




Escreve o António Francisco:
«…Junto lhe deixo uma fotografia minha, tirada em Fevereiro de 1950.
Estava acompanhado pelo meu cão “Lord” e pode ver na esquerda, a Praça de Touros e a azinhaga que levava às traseiras do cinema e à Tasca do “Cuco”.
Lá vivia a Tia Joaquina dita dos “Três Cus”.
Se assim o entender poderá obviamente publicá-la. Melhores cumprimentos.
a)Francisco Farracho.
PS-Recordo com muita saudade a queima do Judas.
Esta evocação do Francisco Farracho trouxe-nos de imediato à memória (já que somos um “rapaz” da mesma geração mas nascido em 40…) José Pereira da Silva, que era o “organizador” da queima do Judas na nossa Rua, a Afonso de Albuquerque, que se vê ao fundo da fotografia do Francisco. Com efeito as duas casas de rés do chão (de que se vêem duas portas e três janelas) eram já da Rua Afonso de Albuquerque. Um pouco mais acima ficava o estabelecimento do saudoso José Pereira da Silva.
Recordamos a propósito um pequeno texto que, anos atrás, fizemos em sua memória e também como reconhecimento do muito que fez pela Alcobaça do seu tempo.
«Chamava-se José Pereira da Silva.
Deixou o mundo dos vivos em 21 de Novembro de 1976 . Contava 73 anos de idade, que tinha completado em 17 do mesmo mês.(1903-1976).
Foi uma força da natureza – alegre, bem disposto, de palavra fácil e um organizador nato – que enquanto a saúde lhe permitiu viveu intensamente as coisas da sua terra.
Albardeiro e correeiro de profissão o José “Toucinho”,alcunha por que era conhecido e que lhe vinha dos seus tempos de escola , foi figura de proa em Alcobaça durante décadas, quase se podendo dizer que, em termos de Carnaval, “Enterros do Bacalhau”e/ou “Serrações da Velha” tudo se fazia sob a sua direcção e empenhada colaboração.
Quando despia as roupas de trabalho e descia com o seu passo rápido e vigoroso a Rua Afonso de Albuquerque trajado a preceito
( de fato inteiro, gravata, chapéu e pasta debaixo do braço) já se sabia que estava na forja Carnaval ou baile da “Banda”.
Foi Presidente da Junta de Freguesia de Alcobaça, Presidente da Banda, membro destacado da Mesa Administrativa do Hospital de Alcobaça e ainda da Direcção dos Bombeiros.
Usava da palavra com frequência nas Associações a que pertenceu, demonstrando vezes sem conta o seu amor e bairrismo pela terra que lhe serviu de berço.
Recordam os seus familiares que embora tivesse apenas a 4ª.classe lia muito, tendo particular apreço pela História de Portugal e por tudo que dissesse respeito ao Mosteiro de Alcobaça.
Muitos dos alcobacenses, maiores de sessenta ou lá perto, se lembrarão ainda do seu estabelecimento na Rua Afonso de Albuquerque onde “estacionavam” frequentemente cavalos e jumentos para”reparação”dos seus arreios e das suas albardas. A “ cabeça de cavalo”, que servia de reclame à casa, tem hoje mais de cem anos e vinha dos tempos do seu pai,( também ele albardeiro com estabelecimento junto à antiga Central Eléctrica da rua do “Quartel”). Esta peça de “marketing” do século passado ainda hoje é guardada em casa de sua filha Dª Maria Elsa.

Pessoa simples e de excelente trato deixou uma saudosa recordação a quem com ele lidou de perto.
Estão passadas seis décadas!!!
A Rua que o Francisco Farracho evoca na sua fotografia de Fevereiro de 1950 está hoje (em Junho de 2010) assim:


Sessenta anos é de facto muito tempo…


JERO





sexta-feira, 18 de junho de 2010

M 265- O PASSADO VOLTA A ALJUBARROTA

O melhor do mundo são as crianças ...que estiveram presentes no" regresso ao passado em Aljubarrota" no dia 15 de Junho de 2010.


Foi numa manhã de um dia cheio para muitos jovens que brincaram, riram a aprenderam coisas novas.

A Professora Vanda Furtado Marques contou (com sentimento e saber)a história de D.Nuno Álvares Pereira ,valente guerreiro que veio a ser Santo, numa Igreja em que na manhã da batalha em 14 de Agosto de 1385 o Condestável rezou, pedindo forças e ajuda a Deus para salvar Portugal.

Séculos mais tarde alguém gravou na pedra que naquele local "resou", um erro ortográfico que esperemos nós os meninos não repitam quando voltarem às suas escolas.
"Resemos" um Padre Nosso por Portugal !

Pois rezemos que Portugal bem precisa nesta fase da sua história por preces e por bons (e competentes) governantes...que não dêem (mais)erros!

JERO

Notas sobre a Batalha de Aljubarrota
«...os Castelhanos contariam talvez 5.000 lanças (cavalaria pesada), 1.500 ou 2.000 ginetes
(cavalaria ligeira),mas não haveria mais de 5.000 besteiros (em parte montados) e 6.000 ou 7.000 peões...
Os Portugueses teriam menos de 2.000 lanças, cerca de 1.000 besteiros e um número de archeiros ingleses que atingiria, quanto muito, 700; os peões andariam por 4.000.
Ambos os exércitos compreendiam muitos não combatentes, porque a cada lança correspondiam, em princípio, três cavalos... e era considerável o número de homens empregados nas colunas de munições e de bagagens,(carreiros, condutores de muares, etc)».
DICIONÁRIO DA HISTÓRIA DE PORTUGAL
Direcção de Joel Serrão
Teriam estado portanto no terreno de batalha cerca de 30.000 homens, o que é de facto um número impressionante que demonstra ,à distância no tempo, a importância do 14 de Agosto de 1385 na História de Portugal.
JERO



M 264 -FIGURAS ALCOBACENSES



José Emílio Raposo de Magalhães (1883-1974)


Nasce em Alcobaça a 14 de Julho de 1883. É filho de José Eduardo Raposo de Magalhães e de Maria Virgínia de Carvalho Remígio.


A sua actividade abrange a lavoura e a pecuária, a indústria vidreira, de conservas de frutas e peixe, de curtumes, resineira, o sector comercial e bancário. Na esteira do seu pai, abraça a ideologia republicana, integrando a comissão Municipal do PRP, entre 1909 e 1911, exerce ainda funções como vereador no executivo camarário em 1909 e 1919.


Estabelece, em 1922, uma sociedade por quotas com os seus irmãos com o capital de 500 contos, denominada "José Emílio Raposo de Magalhães, Lda.", sociedade que tem como finalidade a exploração das terras da antiga Cerca de Fora do Mosteiro, "assim como outras propriedades que obtenha por compra, arrendamento ou emprazamento e o preparo e venda de géneros agrícolas nelas produzidos". Perpetuou a exploração das vinhas, produção e comercialização de vinhos, onde José Eduardo Raposo de Magalhães se tinha notabilizado, lançando no mercado a célebre aguardente de marca JEM. Associado ao sector agro-pecuário, integra o conselho fiscal da "Caixa de Seguro Mútuo Pecuário de Alcobaça", mútua constituída a 14 de Outubro de 1919, é fundador da "Cooperativa de Consumo da Região Agrícola de Alcobaça" e assume os cargos de Presidente da Direcção do "Sindicato Agrícola de Alcobaça" (constituído em 7 de Junho de 1911) e de Presidente do Conselho Geral do "Grémio da Lavoura". Pertenceu ainda à comissão que organizou o 2º Congresso de Nacional de Pomologia em Alcobaça no ano de 1926.


A sua actividade comercial e o dinamismo pessoal faz com que o elejam Presidente da "Associação Comercial e Industrial de Alcobaça" (cuja sede é adquirida a 21 Maio de 1926), participa também como sócio, no ano 1927, da "Empresa Camiões de Alcobaça", sociedade fundada em 29 de Julho de 1921.


A indústria concentra os seus principais afazeres. Em 1917, entra na firma "Carlos Campeão Lda." Esta empresa, fundada em 1915, transforma-se numa sociedade por quotas com o capital social de 5.100$00. O valor das quotas dos sócios Carlos Pereira Campeão e Elias de Matos Branco são representados por máquinas, utensílios, móveis, frascos, marcas registadas e produtos manufacturados, entrando o sócio José Emílio Raposo de Magalhães com o capital de 1.700$00. A 26 de Junho de 1931 esta sociedade deu origem à "Alimentícia Lda.", firma que se dedica a fabricar farinhas lácteas, conservas e compotas de frutas, entre outros artigos. Funda, a 2 de Maio de 1938, com João Oliva Monteiro, entre outros, a "Sociedade de Conservas Aldite, Lda.", empresa de conservas de peixe, com sede em Alcobaça e estabelecimento industrial em Lagos. Torna-se, igualmente, sócio, a 25 Fevereiro 1920, da "Empresa de Curtumes de Alcobaça", sociedade constituída em 29 Setembro 1916 e é um dos membros constituintes da "Resinagem Nacional, Lda.", sociedade fundada a 22 de Abril 1936, que tem a sede em Alcobaça e o capital social de 500 contos.


Mas é a indústria vidreira que reclama mais a sua atenção. Adquire sociedade na "Vicris" – Sociedade de Vidros e Cristais da Marinha Grande, a 11Outubro de 1934. A "Magalhães & Companhia Lda." que possui a Fábrica de Vidros – Marquês de Pombal – na Marinha Grande, arrenda-a à Vicris e o mesmo sucede com a fábrica Lusitana (antiga Sociedade Vidreira Lusitana, fundada a 17 de Outubro de 1934). Possui ainda sociedade no "Centro Vidreiro do Norte de Portugal" (1936), empresa sedeada em Oliveira de Azeméis. Em 1944, na companhia de João Oliva Monteiro, Joaquim Augusto Carvalho e outros, funda a "Crisal".


A actividade bancária inicia-se com a aquisição da casa bancária de António do Couto e Silva que, no ano de 1942, tomou a designação de Banco Raposo de Magalhães.


Nota: Esta série biográfica é, em parte, devedora da obra Figuras de Alcobaça e sua Região de Bernardo Villa Nova.




António Valério Maduro







sexta-feira, 11 de junho de 2010

M 263 - TERTÚLIA DE POESIA


BENEDITA
19 DE JUNHO PELAS 21H30


3.ª Tertúlia de Poesia agora na Escola Frei António Brandão
Vai acontecer mais uma “Tertúlia de Poesia” numa organização e apresentação de Áurea da Mata e Pedro Mateus no dia 19 de Junho (sábado) desta vez na Benedita na Escola Preparatória Frei António Brandão pelas 21h30m.

Se gosta de poesia, apareça e poderá ouvir declamar e quem sabe, declamar também algum poema...

A iniciativa é aberta a todos! Vamos a isso?!
Acácio Ribeiro



Apareçam, que eu estou

Nesta organização

Gostava que os amigos

Que para mim, são queridos

Estivessem, de coração!!


Várias pessoas amigas

Irão ler e declamar

O espaço é agradável

O encontro sociável


E penso, que vão gostar

Porque a vida, meus amigos!

Não é só de correria...

Vamos parar um tempinho

É à noite, um “bocadinho”

Vamos ouvir poesia!!
Áurea da Mata
Se Deus me der vida e saúde ...eu vou lá estar.
JERO

quinta-feira, 10 de junho de 2010

M 262 - 10 DE JUNHO / DIA DE PORTUGAL


ANTÓNIO BARRETO CRITICOU HOJE O ESTADO E POVO PORTUGUÊS POR NÃO TRATAR BEM OS ANTIGOS COMBATENTES

O presidente da Comissão das Comemorações do Dia de Portugal, António Barreto, criticou hoje o Estado e o povo português por não tratar bem os antigos combatentes e pediu a eliminação das diferenças entre bons e maus soldados.
Na alocução que fez durante a sessão solene das cerimónias do Dia de Portugal, António Barreto afirmou que
"Portugal não trata bem os seus antigos combatentes, sobreviventes, feridos ou mortos", referindo que em termos gerais o "esquecimento" e a "indiferença" são superiores, sobretudo "por omissão do Estado".
Faro, 10 Junho 2010 (Lusa)

Para quem como nós cumprimos serviço militar durante 4 anos , com “direito” a uma passagem pelo Vietnam português (a Guiné) nos longínquos anos de 1964-66 ,estas palavras, embora tardias, sabem sempre bem .E vindas de um “grande senhor” com António Barreto têm um redobrado significado.
Cumprir serviço militar durante 4 anos alterava profundamente a vida de qualquer pessoa e de facto os ex-combatentes tiveram mais tarde que lidar durante muitos anos com o esquecimento, indiferença e também com a hostilidade surda de alguns “democratas” da nova vaga, que não nos perdoaram ter lutado nas ex-colónias.

Houve até uma altura que o que “estava a dar” era mesmo ter sido desertor…
Mas os anos passaram e os ex-combatentes organizaram-se e mesmo “contando” com a omissão do Estado (como hoje recordou António Barreto) conseguiram conquistar o respeito a que têm direito.

Este sentimento ,que hoje é extravasado diariamente nos nossos blogues , está particularmente à vista na publicação de numerosos livros da autoria de ex-combatentes que além de legarem testemunhos ... fazem pela vida exorcizando os seus fantasmas.
O desfile de 100 antigos combatentes nas cerimónias de hoje, em Faro, teve obviamente um significado importante, descontando eventualmente alguma exagero na exuberância do “marchar” de alguns dos presentes ,que quiseram aproveitar a oportunidade para se fazer notar. Mas... cada qual é como cada um …e mais do que esses pormenores ...o que interessa salientar é que no Dia de Portugal “eles” tiveram direito a estar lá.

Aliás desde há uns anos a esta parte que os ex-combatentes têm festejado o Dia de Portugal no Mosteiro dos Jerónimos e junto ao Forte do Bom Sucesso , à parte e à distância da "Cerimónia Oficial" que é presidida pelo Presidente da República. Esta separação de locais não é do agrado dos antigos combatentes que vêem nesta “separação” uma dificuldade acrescida para fazer chegar as suas vozes a quem detem o poder.

As cerimónias de hoje fizeram-me recuar no tempo e recordar imagens antigas, que guardei num recanto recôndito da minha memória.

Recordei eu e todos os ex-combatentes e suas famílias ,que viveram mais de perto com a guerra e com as suas funestas consequências.

Estou a recordar-me das condecorações a título póstumo que então eram entregues às famílias de militares mortos em combate nas cerimónias do Dia da Raça.

Eram imagens dramáticas que nos marcaram para toda a vida.
O tempo passou mas quem perdeu um filho viverá sempre de maneira diferente este dia... dito de Portugal.
O dia 10 de Junho.
Antigamente o dia da Raça, hoje o dia de Portugal.
Amanhã…o que será?
Dia de trabalho!!!
Que os feriados terão tendência a acabar.
Por a situação do País ser insustentável...

Quem o disse foi o Chefe do Estado.

Ao estado a que chegámos !!!


JERO

domingo, 6 de junho de 2010

M 261 - TESOUROS DE ALCOBAÇA


Edifício da Biblioteca da Ordem de Cister
O edifício da Biblioteca da Ordem de Cister ,concluído entre as Invasões Francesas e a Guerra Civil, estava ao serviço do Cenóbio em Agosto de 1830 quando o Rei Absoluto D.Miguel fez uma importante visita de “Estado” à região do Oeste.
«Demorou-se na Livraria e no Cartório do Convento mostrando particular interesse pelos Manuscritos, Bíblias e Pergaminhos das Doações».
Em 1786, no mês de Outubro,D. Maria I ainda visita a Biblioteca instalada no antigo Dormitório Medieval.
No início do sec. XIX, nos anos 20, o Marquês de Fronteira e Alorna refere-se à “grandeza do edifício” da Biblioteca.
Nestas circunstâncias o edifício terá sido erguido entre 1813 e 1820 no período brasileiro de D.João VI.
Hoje, 750 mil euros vão suster a degradação do edifício e das suas coberturas esperando-se que nessa sequência de encontre finalmente uma solução no âmbito da conservação integrada.
Há cem anos o estuque do tecto da grande sala da Livraria começou a cair e do seu esplendor só existem hoje os florões dos cantos que “sobraram” do arranjo feito pelo Lar Residencial nos anos 60.
A correspondência da época testemunha o desinteresse da capital pelo socorro possível ao interior do edifício, situação que agora foi revertida graças ao dinheiro do QREN e aos relatórios elaborados há cinco anos, que provocaram sucessivas preocupações à Direcção do IGESPAR e às suas equipas técnicas.

Em Março de 1984 publiquei na Revista “HISTÓRIA” do mês de Outubro um artigo “Livraria de Alcobaça e as suas andanças”, de onde respiguei alguns parágrafos que me pareceram interessantes como informação histórica.
Há uma descrição de 1589 feita por Hieronimo Roman, monge Agostinho espanhol que relata o seguinte:
Ao longo do antigo dormitório, do lado esquerdo, encontra-se uma sala grande espaçosa onde está a biblioteca(…) dos poucos livros que aí se encontram pode-se concluir que foi uma grande biblioteca.
Encontram-se aí unicamente manuscritos e alguns livros impressos.
Mais de duzentos anos depois, Frei Manoel dos Santos descreve o mesmo mosteiro, e fala-nos: acerca da Livraria que havia na casa do fogo, ou calefatório(…) Essa casa de fogo era aonde agora está a casa da livraria. Tudo indica que onde hoje se ergue a cozinha setecentista, o mosteiro de Alcobaça alojou a livraria de Alcobaça o calefatório (local onde na idade média trabalharam os copistas do mosteiro) o primeiro lugar que albergou a biblioteca da ordem.
Estava esta livraria em huma casa pública, e comua, que ainda, conserva o nome de livraria velha o que foi ocasião de se desencaminharem muitos volumes dos mais perciosos(…) mudaram a livraria no ano de 1702 para esta casa onde agora está (…) Tem quinhentos e tantos corpos, ou volumes; (…) O arquivo Real do mosteiro de Alcobaça huma casa grande repartida em três salas. Está situada no primeiro lanço dos dormitórios da parte esquerda.
A livraria terá nascido e crescido no calafatório, mantendo-se aí até ao século XVI, altura em que se transfere para o dormitório medieval provisoriamente dividido; no século XVII volta ao calafetório para que se possam fazer obras definitivas no antigo dormitório, finalmente no início do século XVIII três novas salas albergam o arquivo, a livraria manuscrita e a livraria comum, dando-se a última mudança «deste Património Cultural de inegável riqueza» depois de 1755.
Ainda hoje é possível apreciar, este notável edifício, cuja dimensão cultural se perdeu a partir de 1834 quando da extinção das ordens.
Efectuou-se então o empacotamento de todo o espólio e o seu envio para a Vila de S.Martinho do Porto e posteriormente embarque para Lisboa, num veleiro da marinha real com destino ao arquivo nacional da Torre do Tombo e à Biblioteca Nacional.
Felizmente um documento fotográfico do século passado permite avaliar, ainda que palidamente, o que foi o tecto do do salão da biblioteca, em baixo relevo.
Ao centro , um enorme medalhão oval representando S.Bernardo emoldurado por uma banda geométrica e folhas estilizadas. Flores, folhas, traços geométricos molduras preenchiam completamente o resto da decoração que vinha morrer ao nível dos óculos de iluminação.

Rui Rasquilho

sábado, 5 de junho de 2010

M 260 - OS MISTÉRIOS DE UMA URNA VAZIA

OS MISTÉRIOS DE UMA URNA VAZIA
O "Expresso" de 5 de Junho de 2010 volta ao assunto que tratámos na nossa postagem M-257(Só areia e pedras em urna de ex-militar).
O jornalista Ricardo Marques refere o depoimento de um camarada de Tertuliano Henriques ,morto num acidente em Angola em 1967. Ernesto Ferreira ,camarada no pelotão de canhões de recuo 1197, afirma que viu o corpo de Tertuliano, que contava 22 anos, na morgue de Luanda, no final de Junho de 1967.Contou ao "Expresso" que «...vestimo-lo com farda de combate, prestámos honras militares e selámos o caixão.Fui eu que coloquei a placa.»O caixão seguiu para Portugal duas semanas depois.
A partir daí...passaram 43 anos e...quando a viuva do Tertuliano Henriques morreu abriram a campa para o seu funeral e...encontraram uma urna vazia com areia e pedras.
Prometem-se agora investigações para apurar a verdade.
Admito que ...com alguma descrença da minha parte ...me lembrei logo das comissões que investigaram o desastre de Camararate com os resultados que são conhecidos...
O que pensam alguns militares!?
O Presidente da Liga dos Combatentes, General Chito Rodrigues, diz que é um caso estranho mas que deve ser totalmente esclarecido. José Arruda, da Associação de Deficientes das Forças Armadas afirma que«...o Estado não pode ficar indiferente nem permitir que haja qualquer suspeita».José Nunes, da Associação Combatentes Ultramar Português considera o caso «...capaz de abrir feridas desnecessárias».
Reproduzo um comentário que foi feito à mimha postagem M-257(Só areia e pedras em urna de ex-militar).

Alfredo disse...
Até certo ponto concordo com o Joaquim, embora neste caso concreto, em que havia corpo, segundo testemunhos, seja dificil encontrar explicações.Vou resumir um caso que poderá tornar algo semelhante em explicável:Nos paiois de uma unidade estão de sentinela e guarda dois soldados e um cabo, noite, de repente desaba sobre a zona um temporal daqueles que só se vêm em África. Um raio atinge em cheio o paiol, enorme explosão e o paiol volatiza-se e tudo o que estava dentro e em redor desaparece.
Os corpos dos três militares são enviados para a Metrópole, em caixões devidamente selados e etiquetados... mas quais corpos?
Caso veridico.
Um abraço
A. Justiça
3 de Junho de 2010 00:16

José Eduardo Oliveira disse...
Caros Alfredo e Joaquim
Agradeço os vossos comentários.
A história do Alfredo é dramática e dá que pensar.Tive hoje mais uma achega à questão que ...pode ser "lenda" ou talvez não...Em determinada altura,em Angola, acabaram-se os caixões e...não havia câmaras frigoríficas para conservar corpos.O que se fazia? Enterravam-se provisoriamente no cemitério mais próximo.Quando havia caixões e ordens para a transladação ia-se desenterrar o corpo e...se não se encontrava à primeira ...enchia-se o caixão com areia e pedras.São memórias dos anos 60 e 70!!!
Um abraço camaradas e temos que carregar com o passado...
Quer se queira quer não.
JERO
3 de Junho de 2010 10:39

Prometemos voltar ao assunto.
5 de Junho de 2010.
JERO

PS-Foto do "Correio da Manhã" no Cemitério de Bufarda, em Peniche, em finais de Maio de 2010.

M 259 - CÃOVÍVIO COM GOLFINHO/A FOTO DO ANO


CÃOVIVIO COM GOLFINHO
É bom que saibam, que esta foto que já correu o mundo, foi tirada em Portugal .
It's nice to let you know that this picture, that made the tour of the whole world, was taken in Portugal...
Photo of the year - Arrábida ( Portugal )

Os golfinhos ou delfins são animais cetáceos pertencentes à família Delphinidae. São perfeitamente adaptados para viver no ambiente aquático, sendo que existem 37 espécies conhecidas de golfinhos dentre os de água salgada e água doce. A espécie mais comum é a Delphinus delphis.
São nadadores privilegiados, às vezes, saltam até cinco metros acima da água, podem nadar a uma velocidade de até 40 km/h e mergulhar a grandes profundidades. Sua
alimentação consiste basicamente de peixes e lulas. Podem viver de 25 a 30 anos e dão à luz um filhote de cada vez. Vivem em grupos, são animais sociáveis, tanto entre eles, como com outros animais e humanos.
Sua excelente
inteligência é motivo de muitos estudos por parte dos cientistas. Em cativeiro é possível treiná-los para executarem grande variedade de tarefas, algumas de grande complexidade. São extremamente brincalhões, pois nenhum animal, exceto o homem, tem uma variedade tão grande de comportamentos que não estejam diretamente ligados às atividades biológicas básicas, como alimentação e reprodução. Possuem o extraordinário sentido de ecolocalização ou biossonar ou ainda orientação por ecos, que utilizam para nadar por entre obstáculos ou para caçar suas presas.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre
PS-Um agradecimento especial ao meu amigo António Filipe que me enviou a foto.
JERO

quarta-feira, 2 de junho de 2010

M 258-APRENDIZES DA VIDA DURA

A Aprendizagem dos ofícios na Alcobaça do século XIX
O atraso histórico português em matéria industrial favoreceu a longevidade dos ofícios mecânicos, assim como consentiu que as condições de acesso à profissão pouco ou nada se alterassem com o fluir do tempo.
De facto, as dezasseis escrituras de aprendizagem levantadas entre 1821 e 1879 nos notariais alcobacenses replicam na íntegra os actos realizados no período medieval e moderno, sem que a extinção do instituto corporativo por decreto de 7 de Maio de 1834 tenha interferido no clausulado contratual.

A aprendizagem de um ofício podia começar de tenra idade, quando a força, a destreza e o raciocínio consentiam ingressar no mundo do trabalho de sol a sol, mas em cerca de metade dos registos compulsados os aprendizes já tinha alcançado a maioridade.
A precocidade da aprendizagem verifica-se no ofício de sapateiro e funileiro, enquanto os futuros oficiais de carpinteiro, ferreiro, serralheiro e pedreiro só procuram alcançar uma profissão em idade maior. Esta adesão tardia pode explicar-se como resultado da emancipação do poder paternal e de uma tentativa de fuga ao trabalho de jornaleiro na lavoura.
A duração da aprendizagem variava consoante o grau de exigência da iniciação e formação profissional, sendo, porventura, tida em consideração a idade do aprendiz, a perfeição esperada no mester, e a própria capacidade de negociação do contrato entre o próprio ou representantes e o mestre. No ofício de sapateiro a temporalidade do aprendizado estava compreendida entre os dois anos e os três anos e meio, no de carpinteiro (quatro a cinco anos), de funileiro (quatro a cinco anos), de ferreiro (quatro anos), de pedreiro (quatro anos) e de serralheiro (quatro anos).
No final dos anos estipulados o mestre tinha de dar o aprendiz como pronto e capaz de exercer o respectivo ofício. Mas os contratos envolviam garantias e responsabilidades mútuas. O mestre seria ressarcido das faltas do aprendiz à razão de 200 réis diários, exceptuando motivos maiores, como a chamada para cumprimento de serviço militar e doença incapacitante. As faltas por doença implicavam, em princípio, a reposição dos dias de trabalho perdidos. Apenas uma escritura de aprendizagem de serralheiro rejeita liminarmente qualquer compensação em caso de abandono se for comprovado mau tratamento. Já o mestre seria obrigado a indemnizar o aprendiz ou seus representantes com idêntica quantia de 200 réis diários, em caso de resolução unilateral do contrato ou se, ao termo do mesmo, o aprendiz não estivesse apto para a profissão. Este valor pecuniário só deixaria de ser pago quando o aprendiz cumprisse todos os requisitos para se tornar num oficial autónomo.
Em cerca de um terço dos contratos analisados o mestre recebia uma determinada quantia em dinheiro como contribuição pelo seu ensino, despesas com a manutenção do aprendiz e eventuais estragos de material decorrentes da situação de aprendizagem. As importâncias auferidas variavam, provavelmente, consoante a condição económica da família do aprendiz, as exigências do mestre e o valor estimado do mester. Nos actos que não envolviam contrapartidas financeiras subentende-se que o mestre se considerava satisfeito com o trabalho que o aprendiz iria realizar a seu benefício. Como é óbvio, a duração contratual excedia a necessidade de formação do aprendiz, pelo que o mestre garantia o serviço de um oficial de facto, embora não de direito, por um período dilatado sem que este auferisse qualquer jornal.
Ao mestre incumbia dar pensão ou hospedaria ao aprendiz. Esta obrigação consistia concretamente em dar cama, alimentação e vestuário. O aprendiz vivia portanto com o mestre ao longo de todo o contrato, não se prevendo visitas à casa paterna, o que poderia ser facilmente resolvido em caso de proximidade. Este afastamento forçado aliado ao trabalho intenso e a um mestre demasiado rigoroso explica o risco anunciado de evasão do aprendiz.
Apenas em dois contratos do ofício de carpinteiro se permitia libertar os aprendizes aos Domingos e dias santificados, salvo em caso do mestre necessitar da sua mão-de-obra, correndo então a seu encargo a ”comida e bebida”. Assinale-se, contudo, que nestes dois contratos os aprendizes já são homens feitos. O costume da interdição de trabalho nos dias santificados não era respeitado pelos mestres, o que obrigava a que alguns contratos consignassem essa vontade no respectivo clausulado.
O mestre podia isentar-se do dever de alimentar, vestir e calçar concedendo ao aprendiz uma determinada parcela da soldada. Alguns contratos destacam a obrigação do mestre em dar ao aprendiz sapatos e meias, ou, numa fórmula repetida, fornecer-lhe o necessário do “joelho para baixo”, assim como dar-lhe roupa e remendá-la, chegando mesmo um contrato a precisar que o aprendiz deve trazer os remendos para o seu fato. Quando o mestre se furta a vestir o aprendiz pode, todavia, consentir que “nas horas de descanso (o aprendiz) possa trabalhar para ajuda do seu vestuário”. Compete ainda ao mestre zelar pela higiene do aprendiz cuidando que se lave, assim como mandando-o lavar a sua própria roupa.
A submissão do aprendiz à vontade do mestre é explicitada nas escrituras. Repete-se que “será sempre obediente ao mestre, cumprindo fielmente as ordens que d’elle receber com relação ao ensino e trabalho no officio”. Verificava-se, de facto, uma alienação consentida do poder paternal, mas esta transferência de tutela não se fazia, por vezes, sem registar algumas advertências e pedidos, como a de tentar acautelar o bom trato ao filho que abandonava temporariamente o lar.
Para além da atribuição primeira de formar profissionalmente o aprendiz, o mestre era incumbido de cuidar da sua educação/socialização, ampará-lo na doença, conduzindo-o ao hospital em caso de necessidade, amenizar o trabalho e os eventuais castigos com um pouco de afecto paternal.

António Valério Maduro