domingo, 31 de janeiro de 2010

M173-FORNOS DE CAL DE PATAIAS


O Conjunto de Fornos de Cal de Pataias

A indústria artesanal da cal nos antigos Coutos de Alcobaça concentrava-se na beirada da Serra dos Candeeiros. É neste espaço que, no século XVIII, encontramos a maioria das referências aos fornos do Mosteiro.

Por meados do século XIX, a falta de matos utilizados como combustível na cozedura da pedra, levou ao encerramento dos fornos de cal parda ou magra da charneca serrana, propiciando a transferência desta actividade para Pataias.

A colonização do espaço, incentivado pela plantação de vastas áreas de olival nas faldas desta Serra, ao longo do século XVIII, conduziu a arroteias extensivas da mata primitiva. Também a vaga de tomadias populares verificadas nas terras da encosta, durante o século XIX e a primeira metade do século XX, estacando tanchoeiras entre as penas e fragas, contribuíram para a supressão do coberto vegetal de carvalhos, carrascos e medronheiros... De facto, a acção combinada da pastorícia e do corte de matos para a arte agrícola e combustível condenaram a sobrevivência deste ofício neste espaço geográfico.

Segundo os registos de contribuição industrial de 1881, Pataias era o único centro de produção de cal do Concelho, com treze fornos em funcionamento. Esta localidade possui veios de pedra de excelente qualidade, matos em abundância nas terras de pinhal, factores que não só justificam a instalação da indústria, como explicam o seu desenvolvimento ao longo das primeiras três décadas do século XX. A passagem do caminho-de-ferro em Pataias, no ano de 1888, e a posterior construção do apeadeiro contribuíram para a expansão desta actividade. Era este transporte que assegurava o abastecimento de cal à Siderurgia Nacional, indispensável na produção do aço.

Em 1933 estão arrolados 33 fornos em actividade. O número de fornos em laboração veio gradualmente diminuir. Em 1942 encontramos 25 fornos, oito anos volvidos apenas 17 mantêm este ofício tradicional. Já no ano de 1982 só 5 fornos ainda trabalham, chegando o seu ocaso no ano de 1995, quando o senhor António Grilo coze a última fornada. As famílias que ao longo de mais de um século tomaram nas suas mãos este ofício sazonal foram forçadas, paulatinamente, a largar este mester.

Muitas são as explicações para o abandono desta arte milenar. Em primeiro lugar, o carácter artesanal deste ofício que pouco ou nada se modernizou. Por outro lado, a falta de mão-de-obra motivada pela instalação das indústrias cimenteiras, vidreiras e cerâmicas na região, que permitiram um pleno emprego e estimularam a deslocação de activos da agricultura para a indústria. A dureza das condições de trabalho (18 horas seguidas a alimentar o forno com 6 magras horas de descanso num canto do barracão) não constituía aliciante para os mais novos. As exigências de jornas mais elevadas vieram a tornar-se verdadeiramente incompatíveis com a capacidade produtiva e a rentabilidade das fornadas. Por outro lado, as empresas que adquiriam grandes proporções de cal, passaram a instalar fornos eléctricos destinados à sua produção.

Com o encerramento dos fornos, a regular limpeza dos pinhais deixou de ser feita, pelo que o culminar desta actividade teve um impacto negativo nas culturas florestais e sua exploração pela mais fácil propagação de fogos.

A tecnologia de produção da cal não terá conhecido grandes modificações do período romano aos nossos dias.

Estes fornos de estrutura barriloíde arvoravam as suas paredes com tijolos ligados por um barro areento. O seu topo aberto apresenta-se ligeiramente estrangulado em relação à base afundada no terreno. A altura destes fornos situa-se entre os 4,5 m e os 6m, a largura da base entre os 3,70 m e os 4,60 m e o topo entre 3,15m e 4,10 m. Para resistir à pressão da cozedura os fornos apresentam-se parcialmente aterrados. Com esta mesma finalidade a parede é travada por cima do portal com três troncos de pinheiro.

A laboração destes fornos é de tipo descontínuo ou intermitente, necessitando de um abastecimento regular de mato à caldeira até finalizar a cozedura, ao contrário do que sucede nos fornos de laboração contínua ou permanente em que as camadas de lenha ou carvão alternam com as camadas de pedra. Como combustível utilizava-se preferencialmente o mato, daí denominarem estes fornos de fornos “de cal a mato”. Para uma fornada eram necessários entre 80 a 100 carradas de mato. Com a adaptação aos carros de bois de eixos de ferro e rodados de camioneta, por volta dos anos 50, reduziram-se os fretes a 50 ou 60 carradas. Os carros podiam agora vir mais carregados sem o risco de se atolarem nas areias do pinhal. Com a substituição da tracção animal pela tracção mecânica, apenas 10 fretes de camioneta eram suficientes.

A partir da década de 40 recorre-se, igualmente, ao “motano” (molhos de braça de pinho). Graças ao “motano” os fornos começaram a laborar durante o Inverno. Cada fornada consumia entre 150 a 200 talhas de “motano”, equivalendo 1 talha a 60 molhos. A temperatura em que se processava a cozedura da pedra é denominada de rubro cerejo, situando-se entre os 800º e os 1000º.

O “empedre” do forno consumia aproximadamente 150 carradas de pedra, extraída pelos cabouqueiros. Os fornos, por uma questão de economia, localizam-se nas imediações das áreas de extracção. Cada fornada levava em média três semanas. Uma para enfornar (levantar o “empedre”), outra para cozer a pedra e outra para a retirar.

Principiava-se pelo “empedre”, assentando as “armadeiras” sobre o peal que rodeava a caldeira. Quando o “empedre” atingia a altura do portal as pedras começavam a ser descarregadas pela abertura superior. Sobre as “armadeiras” (pedras que chegavam a atingir 1 m de comprimento) destinadas a estruturar a abóbada, depositavam-se as “carregadouras” (pedra miúda). O “capelo”, final do “empedre”, excedia em cerca de 1,50 m o topo do forno.

No final da cozedura, o “capelo” do “empedre” baixava cerca de meio-metro em relação ao topo do forno. Como nos refere o mestre Joaquim Ribeiro bastava olhar para a pedra para saber se ela estava convenientemente cozida. Era então chegada a altura de desenfornar a pedra, tarefa árdua dada a temperatura que o forno mantinha. Em média cada fornada rendia entre 50 a 55 toneladas de cal. Sabemos que antes da utilização do “motano” como combustível e do recurso ao transporte mecanizado das paveias de mato e da pedra das caboucas, os fornos não coziam mais do que três a quatro fornadas por ano, passando, posteriormente, a poder realizar mais de dez fornadas.

A cal era comercializada à boca do forno. Caso os compradores tardassem a pedra consumia-se, pois não existia nenhum espaço destinado ao armazenamento. Só a partir da década de 50 é que se edificam armazéns para guardar a cal, acondicionando-se esta em tulhas de tijolo, com uma capacidade de cerca três toneladas. Inicialmente em galeras, nos seirões e cangalhas dos burros e, mais tarde, nas camionetas escoava-se a cal em pedra e em pó.

Nas feiras e nos mercados a vendedeira da cal marcava sempre presença. No tempo da Páscoa o costume de caiar a habitação e alguns cómodos (adega, casa das tulhas e pias, cisterna...) antes da visita do pároco, levava a um aumento da procura e logo à subida do preço deste produto. Este uso não tinha apenas um objectivo estético, cabendo à cal assegurar a impermeabilização dos imóveis, assim como os resguardar dos calores estivais. Ao matar a cal na pia acrescentava-se um fio de azeite, o que impedia não só que a cal sujasse os fatos domingueiros, como ajudava a conservar melhor as paredes.

A cal gorda de Pataias era procurada para o fabrico de argamassas, estuques, cal de caiar e para uma ampla utilização nas terras de cultura.

António Valério Maduro

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

M172-ADEUS A TOJU

ADEUS A TOJU
(N. 03 Junho de 1955-F. 28 Janeiro de 2010)
Constituíu uma grande manifestação de pesar o funeral de António Joel Sineiro Rosa.
Estimamos em 300 as pessoas que se deslocaram ao Cemitério de Alcobaça numa tarde fria e chuvosa.
Há muito tempo que não assistiamos em Alcobaça a tão grande manifestação de dôr e solidariedade.
Pelo Toju .
E pela sua Família.
Os mais novos terão que ajudar os mais velhos.
E vão fazê-lo com certeza.
Estamos a pensar nos Pais do Toju.A Dona Lúcia e o Senhor António Rosa.
O golpe foi muito grande.
Os amigos também estarão por perto e vão ajudar.
A jovem filha do Toju - que se reconhece à esquerda na fotografia - vai ter um papel muito importante na preservação da imagem e memória do seu Pai.
Logo que possa dê continuidade ao blog do seu Pai.
Ele haveria de gostar.
Não me conhece mas estou à sua disposição.
Um beijinho grande.
JERO
Posted by Picasa

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

M171-O TOJU DEIXOU-NOS


In memoriam António Joel Sineiro Rosa


O TOJU deixou-nos hoje. Inesperadamente. Contava 54 anos.

O dia 28 de Janeiro de 2010 é um dia muito triste.

Para a família e amigos do TOJU.

Tinha um blog .TOJU://TEMPO @ LIVRE.De bom gosto.Com qualidade.Com carácter.Digno do seu autor.

Descobri o seu blog muito recentemente. Habituei-me a visitá-lo.Era seu “seguidor”.A última postagem do TOJU foi a 3 de Dezembro. Chamou-lhe “Publicidade Alcobacense de 1950”.É uma página (bem documentada) da história recente do comércio de Alcobaça.

Hoje o meu blog “fecha” em memória deste amigo.

As minhas sentidas condolências aos seus familiares mais próximos.

Um abraço muito especial à sua Mãe Lúcia.

E ao Pai António Rosa.

Não tive coragem de os visitar hoje.

Conto abraçá-los amanhã.

Quanto ao TOJU até sempre.

JERO

Reproduzo seguidamente o “perfil”do TOJU. No blog da sua autoria

Toju

· Idade: 54

· Sexo: Masculino

· Signo astrológico: Gémeos

· Ano do Zodíaco: Cabra

· Ocupação: Compras

· Local: Alcobaça : Leiria : Portugal

Acerca de mim

Gosto imenso de caminhar e de fotografar no campo.

Interesses

Filmes Favoritos

Música Favorita

· Jazz

· Blues

· etc.

Livros Favoritos

Os meus blogues

toju://tempo@liv...











terça-feira, 26 de janeiro de 2010

M170-EXPEDIÇÃO À AMAZÓNIA


ALCOBACENSE MARCO CORREIA JÁ REGRESSOU DA EXPEDIÇÃO À AMAZÓNIA

A expedição em que esteve integrado este nosso “destemido” conterrâneo (nado e criado no Bárrio-Alcobaça) já regressou da Amazónia.

A “Expedição à Amazónia teve lugar entre 26 de Dezembro de 2009 e 10 de Janeiro de 2010.

Marco Correia integrou a equipa “Expedição Amazónia 2010” , composta por 22 elementos, chefiada pelo conhecido biólogo Professor Pedro Salgado, que foi também o mentor do Projecto.

Nos restantes elementos estiveram ilustradores científicos ,escultores, pintores, arquitectos, artistas plásticos, fotógrafos, dois médicos e um médico veterinário.

No Brasil, juntaram-se à equipa mais duas ilustradoras científicas americanas: Jenny Keller e a Cleo.

Segundo o Marco os objectivos da EXPEDIÇÃO AMAZÓNIA 2010 foram cumpridos e agora é tempo de balanço e de trabalho. Estão na forja um Diário de Bordo, a edição de um livro, uma exposição itinerante e um projecto multimédia.

Iremos distribuir por diversas postagens as impressões do Marco Correia.

Hoje para abrir o apetite de quem visita o nosso blogue seguem alguns aperitivos .Só a foto com o jacaré dará um "capítulo".É esperar para ver!

Diz o Marco Correia:

«Podemos já adiantar que a viagem excedeu todas as expectativas!

Conseguimos ver animais que eu achava que só com muita sorte os veríamos. Como é o caso dos Botos (golfinhos nativos da Amazónia) ou as Lontras-gigantes.

Por outro lado a informação visual e auditiva é tanta que temos dificuldade em nos focalizarmos. Pelo que muitos registos de desenho não passam de esboços rápidos, complementados com fotografias que servirão para, nos próximos dias, terminar esses mesmos esboços. É claro que isto é precisamente o contrário do que eu tinha traçado como objectivo pessoal (trazer a maioria dos desenhos terminados).

Em termos de espaço percorrido, graças ao esforço da nossa tripulação, sob o comando do Capitão Moacir Fortes, conseguimos percorrer mais do dobro da área prevista. Ou seja, de uma viagem que estava prevista iniciar em Manaus, subindo cerca de 200 Km pelo rio Negro até ao Rio Unini, na realidade começámos (no dia 27 de Dezembro) por subir o Rio Solimões (Amazonas) ao longo de 250 Km até ao Rio Badajós (dia 2 de Janeiro). Dia 3 de Janeiro às 7h da manhã já estávamos novamente em Manaus. Após uma visita à cidade, para algumas compras e almoçar, começámos a nossa subida do Rio Negro até perto do Rio Branco, cerca de 230 Km a montante de Manaus.

Percorremos cerca de 900Km pela bacia do Rio Solimões e Rio Negro. Isto só foi possível devido ao facto de nos deslocarmos de uns locais para os outros durante a noite. O que obrigava os homens do leme (4) a fazer turnos.»

A foto aérea mostra o arquipélago das Anavilhanas, no Rio Negro, composto por cerca de 400 pequenas ilhas.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

M169-O VALE DA RIBEIRA DO MOGO







O Vale da Ribeira do Mogo

Mais uma das candidaturas de Alcobaça às 7 Maravilhas Naturais de Portugal

O Vale da Ribeira do Mogo afunilado e sinuoso revela a graça das formações calcárias e de uma natureza vegetal que com elas se consocia. Este vale aprazível relativamente intocado é visitável a partir das localidades de Chiqueda ou do Carvalhal de Aljubarrota.

As vertentes e o corpo do vale enfeitam-se de alguns carvalhos, zambujeiros, pinheiros mansos e silvestres. O medronheiro e o carrasco dominam nos altos e nas ribanceiras revelando a depreciação da antiga mata de carvalhos tão dizimada pelas artes e labores dos homens (derrotes para construções e lenhas, corte de matos para as terras e pastorícia, o que tanto facilitou e potenciou a erosão). Nas terras férteis do vale ou em socalcos rasgados e sustentados por muros de pedra insonsa o homem chanta oliveiras e semeia cereais e leguminosas.

A ocupação humana do vale conduz-nos à pré-história. Foi nesta área que Manuel Vieira Natividade, em finais do século XIX, realizou várias campanhas arqueológicas, nomeadamente nas três grutas das Calatras, levantando um espólio lítico e cerâmico significativo do período neolítico que se encontra até hoje à espera de conhecer a luz do dia.

Cister também se interessou por este espaço. Junto à nascente do Alcoa e em plena Granja de Chiqueda (baptizada significativamente de Jardim), os “monges agrónomos” edificaram um complexo industrial com moinho de rodízio de quatro pedras e um lagar de azeite com seis varas, três caldeiras e engenho hidráulico. Um pouco a montante, nas imediações do Poço Suão, foi levantado, na década de trinta do século XVIII, um grande forno de cal que custou ao Mosteiro mais de 80.000 réis, cuja cal parda era utilizada como argamassa para dar solidez às edificações monásticas. Realce-se ainda o reservatório conhecido por mãe-de-água que por um prodígio de engenharia hidráulica abastecia de água potável o Mosteiro.

A espiritualidade não está arredada deste espaço. O Poço Suão, boca de uma eventual teia de algares e sumidouros que troando jorra abruptamente água nos Invernos mais rigorosos alagando o vale, testemunha a oferta cíclica do ramo da espiga que bem pode ser interpretada como uma súplica aos elementos maternos (terra e água) para que assistam a frutificação.

Por toda esta sorte de enunciados o Vale da Ribeira do Mogo merece ser conhecido e protegido. Na esteira de Carlos Mendonça que tanto se tem batido para qualificar este vale e dotá-lo de um centro de interpretação podemos afirmar o seu espaço como uma maravilha.

António Valério Maduro

domingo, 24 de janeiro de 2010

M168-MEMÓRIAS DA GUERRA


BAPTISMO DE FOGO

Quarenta e alguns anos depois...

O «baptismo de fogo» é um dos momentos mais marcantes da vida de um militar.Ninguém sabe como irá reagir.Alguns «heróis» das paradas dos quartéis agarram-se ao chão que nem lapas e outros, até ali mais discretos, conseguem dominar o medo e portam-se como Homens.Há um momento decisivo.Ou fazemos o que é o nosso dever ou perdemos o respeito dos outros.E passamos a (con)viver mal com nós próprios...Na operação Lenquetó, no norte da Guiné nos primeiros dias de Julhode 1964, fomos emboscados e tivemos vários feridos. O mais grave foi o 1º. Cabo Marques, que foi atingido no baixo ventre.Quem já levou uma bolada no local em causa sabe como dói.E um tiro! Que dores terríveis provocará !?Aguentou as dores que nem um valente.Nos seus poucos queixumes julgo que só lhe ouvi dizer...«Meu furriel, estou feito.Não vou voltar ser um homem normal...»!«Está claro que vais, Marques. Aguenta só mais um bocado.»Quando o helicóptero chegou para o evacuar estávamos cercados e debaixo de fogo.O Alferes Tavares aproximou-se para levar ao colo o Marques.Antecipei-me. Era eu o Enfermeiro.Era eu que o tinha de levar até ao helicóptero. O Capitão Tomé Pinto e o Alferes Tavares deram-me protecção.Os metros que percorri com o Marques ao colo, até ao helicóptero, foram bem compridos.Só me recordo de ouvir as pás do helicóptero e... as batidas do meu coração.Não mais esquecerei aqueles minutos. Foram 5 minutos muito coooompriiidoos!Mais de 20 anos depois... conheci numa reunião de ex-combatentes... as filhas do Marques.A maneira como me abraçaram deu para entender que sabiam alguma coisa do papel que eu teria tido em relação ao seu nascimento...Foram minutos de intensa emoção.A expressão do seu afecto foi uma «medalha»...para toda a vida. Uma recompensa... eterna.E já estive com o Marques e uma sua neta em 2008 !

JERO

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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

M167-O PIOR ALUNO DO MUNDO NÃO É PORTUGUES


O PIOR ALUNO DO MUNDO









"Em 1969, o indiano Shiv Pappu Charan fez uma promessa à namorada: assim que ele conseguisse formar-se numa escola para adultos já poderiam casar-se. Na última semana, aos 74 anos, foi ver as pautas das notas e descobriu que tinha chumbado pela 38ª vez!


Apelidado já de "o pior aluno do mundo", o melhor que conseguiu, de um a dez, foi um 3,4 a hindu... E a matemática já conseguiu chegar a 0,5!!! "Vou estudar até passar de ano, pois a minha motivação é poder casar-me", diz o voluntarioso estudante. E acrescenta esta atracção turística: "Quando vou fazer uma prova, as pessoas vêm de vários lugares da Índia para me ver", conta."



Eu tenho pena do homem e vou mandar-lhe a seguinte carta através do jornal que relata esta história:

Exmo sr. Shiv Pappu Charan,

Fiquei muito comovido com a sua história e a sua persistência. Decidi fazer uma colecta para que possa estudar em Portugal. E esqueça isso do curso básico para adultos, porque você merece um curso superior. De resto, já inscrevi uma vaga em seu nome na Universidade Independente (se reabrir!), reputadíssima a nível internacional e com um excelente leque de professores. Se não reabrir temos também as Novas Oportunidades. Vai ver que não só casa como ainda chega a administrador de um banco ou mesmo a primeiro-ministro...

Um português qualquer


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

M166- A MATA DO VIMEIRO



A Mata do Vimeiro

Mais uma das candidaturas de Alcobaça às 7 Maravilhas Naturais de Portugal

O maior espaço de mata de folhosas dos Coutos de Alcobaça no século XVIII localizava-se em torno do lugar do Gaio (Vimeiro), com uma circunferência calculada que ultrapassava a légua e meia.

Estas matas estavam adstritas à Granja/Quinta do Vimeiro. Como nos elucida o Corregedor de Alcobaça, no seu relatório sobre as matas do Mosteiro, estas confinam umas com as outras, dividindo-se “naturalmente pela sua configuração em talhões”. Temos então quatro matas que se abraçam. A mata do Gaio, a da Roda, a da Ribeira e a das Mestras ou Mestas. A sua área total compreende 366,71 hectares, ocupando destes a mata do Gaio 109,45 hectares, a da Roda 103,40, a do Canto e da Ribeira 57,49 e a das Mestras 96,37.

O relatório do corregedor dá-nos preciosas indicações sobre a natureza e qualidade deste coberto florestal. Diz-nos que as matas são “quasi todas de madeira de carvalho e tem muito pouco sobro”. A excepção vai para a mata das Mestras (Santa Catarina), em que o carvalho português surge consociado com o sobreiro em proporção equivalente.

Com a saída da Ordem cisterciense em 1833 a integridade das matas deixa de ser garantida tornando-se um alvo fácil dos barões do liberalismo. A gestão capitalista do solo ao procurar o lucro imediato rompe com o antigo ordenamento senhorial.

As matas sofrem duras intervenções com os cortes para o arsenal da marinha, a actividade dolosa dos carvoeiros, a extracção da casca para a indústria de curtumes, a procura de lenhas pelos povos, as clareiras abertas na mata que os camponeses aproveitam para amanho, uma política predatória que começa a inviabilizar a recuperação natural da mata.

Nas décadas de 40 e 50 do século XIX esta floresta conhece uma das maiores sangrias deixando à mata do Gaio apenas 366 carvalhos. Esta hecatombe ecológica dita a mudança do regime de exploração. Do alto fuste passa-se ao sistema de talhadio. A monocultura, outrora sustentável, ameaça, agora, exaurir o solo. As revoluções (cortes) de 20 em 20 anos esgotam os nutrientes, a esmoita e as raspas da camada superficial também contribuem para a atrofia do carvalhal, o oídio dá uma ajuda a este cenário de decrepitude, as toiças morrem e as feridas na mata avolumam-se irremediavelmente. As suas madeiras vão ainda sentir os graves derrotes decorrentes da conjuntura económica da primeira guerra mundial (que de igual forma vai castigar o olival monástico das faldas da Serra dos Candeeiros), a concorrência de novas espécies como o pinheiro-bravo, o pinheiro manso, o castanheiro, o eucalipto e, por último, a pressão da pomicultura.

O que resta das antigas matas do Vimeiro tem de ser preservado, usufruído e animado. Estes espaços têm de ser cuidados não só para serem rentáveis economicamente, mas para se disponibilizarem como zonas de recreio numa aproximação salutar entre o homem e a natureza. O património florestal é também um património da humanidade e a pequenez do homem é evidente face à majestade de um carvalho secular.

António Maduro