quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

M 326 - PARA QUANDO O MONUMENTO AO SOLDADO DESCONHECIDO DAS GUERRAS DE ÁFRICA?

Guiné 63/74 - P7503: Blogoterapia (169): Para quando um Soldado Deconhecido das últimas guerras de África? (José Belo)



Blog: «Luís Graça & Camaradas da Guiné»

1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 17 de Dezembro de 2010:

Caros Camaradas e Amigos.


Nas Festas que se aproximam, junto aos nossos familiares e amigos num calor de profundos sentimentos feito, há sempre algum doloroso minuto em que, involuntariamente, o nosso pensamento voa em recordações de camaradas que, como nós partiram, mas... não voltaram.
Ao olhar a fotografia tirada por Mário Beja Santos (publicada no blogue) da sepultura de um Soldado de Portugal, veio à memória o poema: "O menino de sua Mãe".
Jovem de vinte anos, usado e abusado em guerras não suas, decididas pelos que, com criminosa soberba subestimaram os maremotos da História.
Quem seria este jovem? Mas, e principalmente... QUEM PODERIA TER VINDO A SER? Para nós, os que sobrevivendo voltámos... a família, os amigos, o futuro....a vida!
Este jovem camarada, nem morto teve possibilidade(económica?!) de voltar. Esquecido num miserável canto de tabanca perdida é uma ferida aberta que nos deverá fazer parar e meditar.
A tão repetida frase "Do Minho a Timor" que tanto nos enche de orgulhos vários, marca uma rota semeada em todo o seu tão longo percurso por campas de soldados e marinheiros de Portugal... algures... esquecidas?
A participação Nacional na primeira Guerra Mundial não foi aceite por todos os grupos políticos de então. As divisões foram longas e profundas. Mas um Soldado desconhecido caído na Flandres, e outro em África, estão hoje sepultados no Mosteiro da Batalha.






Quando haverá coragem política, (ou não será antes PATRIOTISMO sem mais adjectivos), para, no mesmo Mosteiro, lado a lado com os Camaradas de então, dar sepultura a um Soldado Desconhecido das últimas guerras de África?






Controversial para alguns vivos? Mas não será antes honrar os mortos do que se trata?
Um abraço amigo.
J.Belo
Kíruna/Dez.2010.


O Menino de Sua Mãe


No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.


Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.


Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»


Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.


De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.


Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe

Fernando Pessoa
__________


Publicado no mesmo blogue ”Luís Graça e Camaradas da Guiné”


1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66), enviou-nos mais uma das suas histórias (a 26ª), com data de 20 de Dezembro de 2009:


Camaradas,
O autor desta história é desconhecido e o meu "mérito" terá sido encontrá-la num jornal da minha região, jornal esse que foi publicado já lá vão 45 anos.
O texto - posso dizê-lo porque não é meu - é muito bem escrito.


UM EPISÓDIO DE GUERRA NA GUINÉ PORTUGUESA
O “regresso” do Soldado Manuel)
Na parede de adobe, mal caiada, e onde esverdeadas manchas de humidade alastravam, o calendário (Ano de 1963) marcava uma data: 24 de Dezembro.
Com a janela aberta, por onde apenas entrava, na abafada, sufocante noite tropical, uma suspeita de frescura, o jovem oficial miliciano, à luz de uma vela, escrevia: «… Minha Querida Mãe, são 21 horas e 40…
À luz de uma vela, porque a chama do petromax é alvo demasiado visível para qualquer atirador especial terrorista, alcandorado, ao longe, no cimo de alguma árvore. Mas ouve-se um estampido. Podia bem ser a rolha de uma garrafa de champanhe a saltar…
Ao estampido segue-se, porém o assobio quase imperceptível de uma bala que vai cravar-se na húmida parede de adobe, coisa de um metro acima da cabeça do oficial. Este apaga logo a vela. Depois, às apalpadelas, no escuro, procura o capacete e a pistola.
Quando finalmente sai já o duelo – a tiros de espingarda e rajadas de metralhadora - está a travar-se entre os terroristas (ocultos na floresta) e os seus soldados abrigados por detrás da muralha – só aparentemente frágil – de velhos bidões de gasolina cheios de areia. Entre uns e outros a cerca de arame farpado.
Está isolada a pequena força do destacamento de Caçadores.
O posto mais próximo é a muitos quilómetros de distância. Antes que amanheça, nenhum auxílio podem esperar estes homens. Mas será que os terroristas se aprestam para um ataque frontal? Horas iguais de uma noite abafada e húmida.
Aos soldados e ao oficial também, o que sobretudo os irrita é que aquele inoportuno tiroteio aconteça em noite de Natal, já com a mesa posta para a consoada.
E havia broas, uma galinha assada, algumas garrafas de bom vinho.
A noite, entretanto, povoa-se de clarões – as armas de fogo que disparam incessantemente, assinalando cada segundo com um tiro. E as horas passam.
Mas o jovem oficial nem tempo tem para ver as horas no pequeno mostrador luminoso do seu relógio de pulso. E nem sequer pensa no perigo – ali entrincheirado e tendo pela frente um inimigo bem armado, que a palmos conhece o terreno e vê de noite, como o jaguar.
Agora só pensa naquela carta que teve de interromper: «… são 21 horas e 40…».
Mas quando é que isso foi?
Era noite de Natal. Ele escreveu à luz discreta de uma vela de estearina, algures no mundo , nesse mundo onde não há clarões de armas de fogo, nem assobios de balas, ardiam círios nos altares, centenas de círios, milhares de círios, que não era preciso apagar à pressa no princípio de uma carta…
E agora? Sim. A meia-noite deve estar próxima. Talvez o padre, algures, já esteja a encaminhar-se para o altar. Mas o jovem oficial não o sabe de certeza – e não pode ter um olhar para o mostrador luminoso do seu relógio de pulso. A pistola-metralhadora palpita-lhe nas mãos como se fosse dotada de vida própria e chispas de fogo, desdobradas em leque, correm, segundo a segundo, em direcção à negra cortina de arvoredo.
No mundo em que não há guerra já decerto agora o sacerdote acabou de celebrar a Missa do Galo.
Aqui, o fogo começa, enfim, a esmorecer.
Naturalmente, os terroristas principiam a retirar, para que os aviões ao amanhecer, se viessem bombardear a floresta, já não os encontrem…
Uma a uma, calam-se as armas automáticas do inimigo. Uma a uma, a intervalos certos, como se houvesse, algures no mato, a batuta de um maestro.
Mas será de facto a retirada? Não será antes o silêncio de mau agoiro que sempre antecede a gritaria de um assalto frontal?
Não. É efectivamente a retirada. E devagar, como se lhe custasse a acordar de um pesadelo, o jovem oficial recolhe ao seu quarto, risca um fósforo, acende a vela, atira para um canto o capacete, que está a queimar-lhe a testa, e suado, exausto, com os nervos num feixe, senta-se, de novo, à mesa para escrever: «… pois agora, minha querida mãe, são 3 horas e 20.Eu e os meus soldados tivemos uma noite de Natal muito divertida .Nem imagina… As broas que nos mandou souberam a pouco. E das garrafas mandadas pelo pai diga-lhe que não ficou nem uma gota».
21 horas e 40. 3 horas e 20.






Menos de seis horas na vida de um homem. Mas deitado numa padiola, com uma bala na cabeça, o Manuel, o seu impedido, é um corpo que rapidamente arrefece, como no verso de Fernando Pessoa.







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Agora, no hotel, em Bissau, sentado ao meu lado, almoça. Está no porto o barco que o vai levar de regresso a Lisboa. Trouxe este barco 800 homens. Vai partir com outros tantos, aproximadamente. Os que chegam passam, em camiões, a cantar.
Também cantam os que partem. Entretanto, o jovem oficial diz-me, com simplicidade:
- À minha mãe é que nunca hei-de contar o que foi aquela noite…
Mas logo acrescentando:
- «Agora uns meses à boa vida e depois a África outra vez, como empregado em qualquer empresa de Angola ou de Moçambique: este veneno de África entrou-me para sempre no sangue».


__________


Artigo não assinado. Publicado em «O ALCOA» em 8 de Fevereiro de 1964 (Ano XVII-Nº.876)


NÃO ESTARÁ AQUI A PROVA PROVADA QUE OS “SOLDADOS DESCONHECIDOS” DAS GUERRAS DE ÁFRICA TÊM DIREITO AO SEU MONUMENTO?


Para memória futura junto aqui a minha voz à do ex-Capitão de Infantaria Reformado José Belo.
JERO

M 325 -CARPINTEIROS, SAPATEIROS, PEDREIROS,FUNILEIROS, TABERNEIRA E UM MENDIGO

A génese das Associações Filarmónicas do concelho de Alcobaça



Entre as décadas de 60 a 90 do século XIX verifica-se a constituição formal e legal de várias sociedades filarmónicas nas vilas dos antigos coutos de Alcobaça.
A primeira a ser criada é a Sociedade Filarmónica Alcobacense a 17 de Fevereiro de 1861; seguem-se a Sociedade Filarmónica Pataiense a 15 de Julho de 1877; a Sociedade Filarmónica de Valado dos Frades a 28 de Abril de 1878; a Sociedade Filarmónica da Pederneira a 22 de Outubro de 1879; a Sociedade Filarmónica Fraternidade de Alcobaça a 4 de Março de 1880; a Sociedade Filarmónica da Maiorga a 10 de Novembro de 1890, tendo-se o tabelião deslocado a casa do proprietário da Quinta do Pinheiro João Pereira da Conceição para redação e assinatura da escritura; a Sociedade Filarmónica de Alfeizerão a 24 de Novembro de 1890.
Os contratos de constituição são distintos.
 Enquanto na Sociedade Filarmónica Alcobacense e na Filarmónica Fraternidade de Alcobaça os sócios avançam com capital (de dez mil e dezoito mil réis, respectivamente) ou apresentam fiança, as outras sociedades contam com um sócio capitalista (nomeadamente um lavrador abastado, ou até um padre no caso da Filarmónica de Pataias) que empresta as verbas necessárias aos outros associados para a aquisição dos “instrumentos músicos”, mediante o pagamento de juros.
A estrutura social das sociedades urbanas revela uma forte componente de profissões artesanais e industriais.
 Entre os 32 sócios da Filarmónica Fraternidade de Alcobaça encontramos 4 carpinteiros, 4 sapateiros, 6 pedreiros e serventes, 3 papeleiros, 3 aprendizes (de funileiro, sapateiro e carpinteiro), 1 alfaiate, 1 fabricante de tecidos e outro de fósforos.
 Curiosamente esta sociedade admite uma mulher com a profissão de taberneira e um mendigo.
Estas sociedades são formadas por um prazo de três a quatro anos comprometendo-se os associados a não participar em mais nenhuma sociedade filarmónica.
 A sua direcção é, normalmente, constituída por um director e um mestre eleitos anualmente entre os sócios (não podendo nenhum associado recusar-se a desempenhar as funções para as quais tivesse sido eleito). Compete ao director celebrar os ajustes das festividades e dar contas aos sócios do valor acordado e demais condições, decidir as músicas que se hão-de tocar ou ensaiar, abrir a casa dos ensaios (as escrituras determinam o horário dos ensaios ao longo dos meses do ano, assinalando o seu cancelamento em dias santificados), satisfazer as despesas inerentes à sociedade...
Já o mestre tem como funções ensaiar as músicas, ensinar os aprendizes (desde que o número não exceda os três elementos) e até encarregar-se da composição ou correcção de partituras.
As sociedades filarmónicas necessitavam às vezes de contratar músicos pagando-lhes um ordenado mensal.
 È o que vemos numa escritura de prestação de serviços (1881) estabelecida entre José M;aria Gomes na qualidade de director da Filarmónica Fraternidade e Manuel Vitorino da Rosa (1º clarinete), António Maria da Silva (2º corneteiro) e Agostinho dos Santos Brilhante (fliscorne). Estes músicos obrigavam-se a um ensaio semanal com duração nunca inferior a três horas e em caso de falta eram multados em 2000 réis.
O objectivo primeiro destas sociedades era gerar receitas, daí proibir-se nos estatutos que se realizem festas gratuitamente. É evidente que a finalidade destas sociedades não se esgotava nas eventuais receitas a auferir pelos associados, revelando uma forte componente de socialização e cultura.
Quem não cumpria as regras faltando ou atrasando-se aos ensaios ordinários (duas vezes por semana) e extraordinários (antes das festividades) sofria sanções pecuniárias (caso os transgressores fossem os corpos dirigentes as penas dobravam de valor), perdendo ainda o direito sobre os réditos que lhe caberiam em partilha (as faltas eram apenas justificadas em caso de doença comprovada). Estas penalizações abrangiam também aqueles que não estudavam convenientemente as músicas que se iriam ouvir nas tocatas, que revelavam desleixo nas funções ou se levantavam sem autorização no período dos ensaios.
Nos regulamentos da Filarmónica Alcobacense e da Filarmónica Fraternidade considera-se o problema da embriaguez, incorrendo os autores em multas. No caso de reincidência considerava-se a expulsão da sociedade perdendo, então, os sócios visados a totalidade do capital.

António Valério Maduro

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

M 324 - UM CONTO DE NATAL

NATAL 2010



Deitada no sofá em posição fetal, aninhava-se, fechando-se sobre si própria, envolvendo-se cada vez mais na sua tristeza, no seu desespero, na incrível solidão que naquele momento vivia.

 Dia 24 de Dezembro, véspera de Natal!

Naquela manhã tinha-se levantado decidida a de uma vez por todas confirmar ou não, aquilo que o seu coração há muito lhe dizia, mas ela não queria acreditar.
Feito o teste, a resposta era inequívoca: Estava grávida!
Naquele momento, sozinha na casa de banho, tinham passado pela sua cabeça e pelo seu coração, os mais incríveis pensamentos, os mais inexplicáveis sentimentos!
Por um lado pensara que não podia ser, não era possível, e de maneira nenhuma podia aceitar aquele facto, pelo que tinha de lhe pôr fim muito rapidamente.
Por outro lado, sentira um amor que se desprendia do seu coração e a levara a acariciar a barriga como se alguma coisa já lá se sentisse.
Saiu da casa de banho e dirigiu-se para o quarto, com o “coração aos saltos” de nervosismo, mas também com uma sensação de medo.
Como iria o seu namorado reagir aquela notícia?
Ao vê-la, ele logo percebeu que alguma coisa se passava, pelo que de imediato lhe perguntou o que a preocupava.
Numa voz sentida e baixa, repassada de ternura e medo, ela respondeu-lhe dizendo que estava grávida.
Não precisava da resposta dele, pois o olhar incrédulo e ao mesmo tempo furioso, revelou sem margem para dúvidas o que ele pensava.
Nem se queria lembrar da discussão, das incríveis coisas que ele disse, do ar ofendido e revoltado com que se lhe dirigiu, e sobretudo da tomada de posição ao dizer-lhe que ela tinha de imediatamente pôr fim à gravidez.
Lembrava-se de não saber o que lhe responder, pois nela havia um misto de decisões e indecisões, que iam desde o aceitar o que ele propunha, até ao sentimento maternal que falava mais alto, e lhe dizia ao coração que ela não podia terminar aquela gravidez.
Ainda estavam nos seus ouvidos a “explosão” do bater da porta da rua e as últimas palavras duríssimas que dele ouviu: Nunca mais me pões a vista em cima!
Tinha ficado ali, sem reacção, prostrada, imóvel, sem perceber o que tinha acontecido.
Tinham passado uma óptima noite, as promessas de amor eterno, o casamento a marcar e, de repente … o mundo desabava-lhe em cima!
Percebeu que no estado em que estava não podia passar a noite de Natal em casa dos seus pais. Eles perceberiam de imediato que alguma coisa de grave se passava, e ela não queria dar explicações nenhumas, nem queria ouvir fosse o que fosse naquele dia!
Muito a custo telefonou-lhes tentando fazer uma voz normal, e arranjou uma desculpa mais ou menos verosímil para não estar com a família nesse dia.
Agora estava sozinha!
Há horas que estava naquela posição. A noite tinha chegado e ela nada tinha comido durante todo o dia. Apetecia-lhe morrer e ao mesmo tempo apetecia-lhe viver.
Falava com a sua barriga como se alguém a escutasse, fazendo juras que sozinhos os dois, mãe e filho, haviam de conseguir. Percebeu então que uma decisão estava tomada: Aquele filho ia nascer, contra tudo e contra todos!
Ficou um pouco mais animada com a consciência da decisão tomada, mas logo a perspectiva do futuro lhe caiu em cima com uma tal força, que se sentiu fechada numa gruta funda, sem luz, sem ânimo e sem esperança.
Olhou para o pequeno presépio que tinha na sala, e lembrou-se da Missa do Galo!
Não faltava a essa Missa desde que se lembrava de si própria, e por isso mesmo, decidiu com grande esforço que iria participar nela, mas a uma igreja diferente da habitual, claro, pois não queria encontrar a sua família.
Saiu para o frio da rua, o que lhe deu um pouco de alento, tendo-a despertado do torpor em que se tinha deixado envolver.
Procurou um lugar na igreja onde ficasse só, pois não queria sorrir a ninguém, não queria cumprimentar ninguém, não queria falar a ninguém.
A Missa passou sem ela dar conta e apercebeu-se então que já tinha chegado o momento da Comunhão.
Lembrou-se com alguma mágoa que, de acordo com o que tinha aprendido na família e na catequese, não poderia comungar a hóstia consagrada, dada a vida que vivia.
Mas também se lembrou ter aprendido que Jesus nunca abandonava aqueles que a Ele se dirigiam de coração aberto.
Ajoelhou-se e entrando dentro de si, falou com Aquele Menino que há tantos anos “via nascer” no presépio de casa dos seus pais.
“Jesus, eu não sei o que acreditar, mas sinto que de alguma maneira estás aqui comigo e me fazes companhia. E agora, Jesus, o que hei-de eu fazer?
Eu só quero sentir amor, sentir que não estou só, e que tomei a decisão correcta.
Sabes, Jesus, ele ofendeu-me muito, mas não lhe desejo mal. Olha lembro-me das Tuas palavras na Cruz e apetece-me dizer o mesmo: Perdoa-lhe que ele não sabe o que faz.”
Sentiu uma mão no ombro, que suavemente lhe chamava a atenção, e uma voz terna que lhe dizia:
- Desculpe mas tem que sair. A Missa já acabou e temos de fechar a igreja.
Não se tinha apercebido do tempo passar!
Balbuciou uma qualquer desculpa e saiu rapidamente para a rua.
Um sorriso aflorou os seus lábios. Não sabia o que se passava, mas uma paz, uma tranquilidade, uma alegria, invadiam o seu coração. Pela primeira vez nesse dia não teve medo da decisão tomada e teve a certeza inexplicável de que tudo iria correr bem, mesmo com as provações normais que uma situação como aquela acarretava, e que ela tinha decidido viver.
Quase ao chegar a casa, reparou num vulto que estava sentado nos degraus da entrada do prédio, todo dobrado sobre si próprio, por causa do frio, claro.
Não teve medo, mas apenas pena daquele pobre desgraçado que não devia ter onde ficar, e pediu a Jesus que o ajudasse também.
Ao subir os degraus da entrada, o vulto levantou-se, e prostrou-se de joelhos diante de si, dizendo apenas:
- Perdoa-me! Perdoa-me que eu nem sei as asneiras que disse, o mal que te fiz! Perdoa-me!
Olhou para a cara dele. As lágrimas corriam-lhe pela face, mas ele não se importava. Apenas não conseguia olhá-la nos olhos, de tão envergonhado que estava.
Puxou-o para cima, pegou-lhe na cara com as duas mãos, e deu-lhe um terno beijo nos lábios.
Numa voz entrecortada pelo choro, ele apenas dizia:
- Eu amo-te, eu amo-te, e a melhor expressão do meu amor, do nosso amor, é este filho nosso que trazes em ti e que eu quero viver contigo! Como pude ser tão cego, tão desumano, tão desprezível! Casamos amanhã, casamos mal seja possível! Eu quero estar contigo e viver todos esses momentos da tua gravidez, e do nascimento do nosso filho!
E não se calava, até que ela suavemente lhe colocou a mão nos lábios e o empurrou para dentro de casa.
Olhou para ele, fixamente nos olhos, e disse com a voz cheia de amor e ternura:
- O amor tudo vence! O passado já passou e não volta mais! Vivamos agora o presente e o futuro!
Ele aquietou-se e ficaram abraçados por um longo período de tempo, apenas gozando e sentindo a companhia um do outro.
Ela afastou-se então um pouco e disse-lhe:
- Hoje ainda tens que fazer mais uma coisa comigo, por mim e por ti.
Ele anuiu, baixando a cabeça.
Aproximaram-se então de mão dada do pequeno presépio, e ela ajoelhou-se com ele, dizendo:
- Agradece comigo a Jesus, o Amor que nasce no coração dos homens e que hoje renasceu nos nossos corações!
Lá fora ouviam-se vozes de jovens que cantavam:
“Noite feliz, noite feliz!
O Senhor, Deus de Amor,
Pobrezinho, nasceu em Belém
Eis na lapa Jesus, nosso Bem
Dorme em paz, ó Jesus!
Dorme em paz, ó Jesus! ”

ou então … eram os ouvidos dos seus corações unidos que assim ouviam.



Escrito por Joaquim Mexia Alves em 22.Dez.2010
e aqui reproduzido, com a devida vénia e com muita
amizade por JERO.


sábado, 18 de dezembro de 2010

M 323 - ESCAPATÓRIAS...

Maneiras "distraídas" de viver a vida…


O Fernando foi um homem de valor. Trabalhou e subiu na vida graças aos seus méritos. E era bom em tudo que se metia.
Tinha um sentido de humor muito especial e uma maneira um “bocado distraída” de viver a vida que “era mesmo”…só dele.
Conseguiu virar um Volkswagen (de cor verde alface) numa curva a caminho do seu local de trabalho e andou 100 metros – até à porta da Fábrica – de lado…
Sem sofrer uma beliscadura.
Quem se assustou mais foi o porteiro da Fábrica quando viu o carro aproximar-se em… apoio lateral!
Os responsáveis da Volkswagen diziam que este carro era impossível de capotar ou virar-se.
O Fernando conseguiu essa proeza!

Mas não se ficou por aí…



Na encosta de um vale lindíssimo , no sopé da Serra dos Candeeiros perto do local onde terá passado o exército de D.Afonso Henriques quando em 1147* conquistou Santarém aos Mouros, havia (e ainda há) o Restaurante do Carrascal .
O prato forte da casa era um prato de bacalhau.
Quando serviam o seu célebre “bacalhau à Maria Matos”o restaurante enchia até à porta.
E quase sempre havia que esperar um bom bocado para conquistar um lugar sentado frente a “um” Maria Matos…
O Fernando (primeiro nome do protagonista desta história Fernando da Cruz Santos) aguardava esfomeado que chegasse à mesa o “seu” bacalhau.
Em mesa próxima alguém insistia com o Fernando que ele conhecia diversas pessoas da sua família.
O Fernando ia dando o”troco” possível à conversa …sem muito entusiasmo.
Queria mesmo era comer o bacalhau “à Maria Matos”. E o vizinho da mesa insistia. O senhor até conhece e minha mulher! O Fernando conseguiu comer a primeira garfada e respondeu.
Então o senhor é casado com…?
Com a minha mulher !
Ah pois!


E…finalmente o Fernando conseguiu comer descansado.


O vizinho falador da mesa mais próxima ficou embatocado.
Com a sua maneira um“bocado distraída” de viver a vida o Fernando desarmava o mais “pintado”… e o mais chato.


Esta história verídica terá cerca de vinte anos.
Ainda esta manhã quando falava com um vizinho “chato” ,que me tentava explicar quem era uma pessoa de quem eu não me lembrava …que era filha de “beltrano” e casada com “cicrano” eu me safei contando a história do Fernando.
Portanto o tipo era casado com…a mulher!!!
E escapei-me.
Não tem nada que enganar. Resulta sempre.


JERO


* Em 1147, a moura renegada Zuleiman apresentou-se nos paços de Coimbra na presença de D. Pedro Afonso, irmão do primeiro rei de Portugal, surpreendendo o infante com a revelação que aquela seria a melhor altura para conquistar Santarém. Zuleiman despeitada por ter sido abandonada por Muhamed, o alcaide de Santarém, queria vingar-se dando aos cristãos as informações que tinha sobre a defesa do castelo. Entretanto, D. Afonso Henriques já tinha enviado o seu cavaleiro Mem Ramires a Santarém para estudar o inimigo e a astúcia e a cautela do cavaleiro foram fulcrais para a decisão do ataque.


Conta a lenda que foi na serra dos Albardos(ou dos Candeeiros) que o primeiro rei de Portugal fez a promessa de construir um mosteiro se Deus lhe desse a vitória. Mem Ramires segurou a escada contra as muralhas por onde entraram os soldados e Santarém amanheceu cristã. O mosteiro de Alcobaça foi construído em cumprimento de um voto do primeiro rei de Portugal.







sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

M 322 - AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ ...

AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ!!!





EM 1949
 - A MAIORIA DOS INTELECTUAIS ACREDITAVA QUE O COMUNISMO SALVARIA A CHINA.








EM 1969
- OS MESMOS INTELECTUAIS ACREDITAVAM QUE A CHINA (COM SUA REVOLUÇÃO CULTURAL) SALVARIA O COMUNISMO (QUE, APÓS ESTALINE E A PRIMAVERA DE PRAGA, FINALMENTE COMEÇOU A SER DESACREDITADO COMO IDEOLOGIA).


EM 1979
 - DENG XIAO PING PERCEBEU QUE SOMENTE O CAPITALISMO SALVARIA A CHINA.



EM 2009
 - O MUNDO INTEIRO ACREDITA QUE SOMENTE A CHINA PODE SALVAR O CAPITALISMO.*

 * Piada que circula nos meios financeiros de Hong Kong

E não será... que... já deixou de ser piada,
 perguntamos nós!?

JERO


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

M 321 - EM TEMPO DE NATAL...UM PADRE ESPECIAL

ENTREVISTA
Por onde passa o Padre Carlos Jorge Vicente não deixa ninguém indiferente.
É, por muitas e variadas razões, um padre diferente.Um padre “novo” que não o é só na idade…
Aproxima-se o segundo Natal que vai passar como Pároco de Alcobaça. No ano anterior já cá estava mas acumulava mais 2 paróquias: Maiorga e Cós. Independentemente das perguntas espectáveis, gostaríamos de lhe colocar algumas outras questões. Do que lhe conhecemos não o vão embaraçar.

Seguem-se as perguntas espectáveis.

1) Que balanço faz dos seus primeiros tempos em Alcobaça?
A primeira impressão que me surge tem sinal positivo. Não pelo que FIZ, mas pelo que FIZEMOS até agora e estamos a delinear para o futuro. Um pároco não age sozinho, mas em comunhão com os paroquianos (particularmente os que constituem o Secretariado Permanente do Conselho Pastoral), que partilham com ele o desafio de construir uma comunidade, da qual ele é o pastor, em nome do Senhor Patriarca. Do que aconteceu ao longo deste tempo destaco, não o que já concretizámos, e que nos enchem de satisfação, mas a vontade e o empenho de muitos que oferecem o seu tempo e disponibilidade para serem ‘pedras vivas’ de um outro ‘Mosteiro invisível’ que também existe em Alcobaça. É um prazer ser pároco no meio de gente assim. Sejam crentes ou não crentes.
2) E das outras paróquias por onde passou (Maiorga e Cós)?
O pouco tempo que estive com os paroquianos da Maiorga e de Cós não foi suficiente para realizarmos muitas acções, nem programarmos um plano pastoral para as comunidades. Da minha parte ficou, por um lado, uma grande tristeza por não conseguir continuar (acumulei as duas paróquias pelo facto do ex-pároco, Padre José, ter adoecido), por outro, alegria por ter encontrado gente boa, dinâmica e com amor a Jesus, gratidão pela simpatia com que fui tratado, e ligações de amizade que nasceram entre muitos de nós (e que eu desejo que continuem). Gostei muito de ter ‘passado’ por Maiorga e Cós.
3) O que mais gosta na sua paróquia?
O que mais gosto na paróquia são os paroquianos e as paroquianas. Que o Mosteiro e os doces me perdoem…
4) O que gostaria de mudar?
Tudo o que impede as pessoas de serem felizes e livres. O primeiro mundo a mudar é o nosso coração. Há muitos ‘ambientes’, ‘poses’, e ‘ritmos’ que necessitam de ser transformados.
5) Que balanço faz de Alcobaça cultural?
Estou agradavelmente surpreendido com as várias propostas culturais que foram apresentadas em Alcobaça (Concelho), ao longo do tempo em estou por aqui. Destaco, como não podia deixar de ser, o Cistermúsica. Como não conheço a programação de anos anteriores não posso responder mais do isto.


E agora as outras.


6) Em termos históricos qual a época mais marcante?
A que vivemos hoje. Todas as épocas foram importantes. Aconteceram. Com os seus vários tons. É fundamental conhecer e aprender com os que viverem antes de nós, e foram os construtores do nosso passado, que demarcaram eras e nos legaram a sua heranças, mas é muito mais apaixonante sentirmo-nos protagonistas do momento presente e daquilo que vamos oferecer aos que vêm depois de nós. Ou seja, para mim, a época mais marcante em termos históricos é esta que estamos a construir. O futuro começa agora.
7) Que livro e que o autor preferido?
Já perdi a conta aos livros que li. Não consigo destacar nenhum. O mesmo para os autores. Cada obra que leio é especial. É um diálogo entre mim e o(a) escritor(a). Claro que se fosse ‘obrigado’ a escolher apenas um livro então não teria qualquer hesitação: a Bíblia. Não apenas por motivos religiosos (como é de compreender no meu caso) mas também por motivos culturais e estéticos. Na Bíblia estão todas as respostas às grandes questões da humanidade. Respostas de Deus. A Bíblia é o Livro dos livros.
8) Gosta de cinema? Qual o filme da sua vida?
Sou um grande apreciador de cinema (e também de teatro). Não consigo eleger nenhum filme em particular. Todos os que vejo me interpelam. Já presenciei filmes relativamente fracos em termos de mensagem ou de qualidade artística, mas que, mesmo assim, fizeram-me reflectir.
9) Música ou intérprete preferidos?
Sou um apaixonado por música e ouço quase de tudo. Claro que dentro deste ‘tudo’ selecciono e faço escolhas. Com o tempo vamos apurando os nossos conhecimentos, sensibilidade e critérios. Não consigo dizer qual a música ou intérprete preferido. Se me perguntasse quais eram as 1000 músicas e intérpretes preferidos poderia responder-lhe.
10) Qual o espectáculo que não vai esquecer nunca?
O próximo que for presenciar.
11) Um vício?
Sou um leitor compulsivo. Deve haver um nome para este ‘drama’…
12) Um defeito?
Ainda bem que me pede que lhe confidencie apenas um defeito. Se me desse mais liberdade penso que não haveria espaço no jornal para a lista que eu podia elaborar. Resposta: tenho a mania de desinstalar e acordar toda a gente. É grave, sim, reconheço. E, às vezes, o meu ritmo para o andamento dos acontecimentos não é o mesmo de Deus; e, por isso, surge-me alguma impaciência interior. Mas também tenho uma ou duas qualidades…
13) Um passatempo?
Digo-lhe três: ler (o mais que puder), ouvir música (a toda a hora, se tal fosse possível) e tocar guitarra (e se tiver outros músicos ao lado, melhor ainda). Mas há mais…
14) Alguém especialmente marcante na sua vida?
Para além do meu pai e mãe (que estão, claramente, em primeiro lugar) e das minhas irmãs, cunhados e sobrinhos (que, curiosamente, também estão em primeiro lugar), o Papa João Paulo II.
15) Tem algum sonho por realizar? E dos realizados qual o mais importante?
Sonho por realizar: o próximo que Deus vai colocar dentro de mim. Dos sonhos concretizados destaco o facto de ser padre, ou seja, ter tornado realidade o sonho que Deus tinha para mim.
16) Um lema de vida?
Viver no dia-a-dia, com coerência, o maior dom que me foi oferecido: o baptismo. Ou seja: tentar amar os outros como Jesus me ama. É uma fórmula mais fácil de decorar…
E finalmente uma mensagem aos leitores de O ALCOA.
O que apetece dizer em primeiro lugar é um imenso OBRIGADO a todos os que, ao longo destes anos de vida d’ O Alcoa’, o construíram e o leram. Um jornal vive desta cumplicidade.
Conhecem, melhor que eu, o trajecto que ‘O Alcoa’ realizou até hoje. Já ouvi muitas histórias. Umas bonitas; outras nem tanto. Deixemos para trás o que pertence ao passado e enfrentemos o futuro. Vamos continuar a remodelar o jornal. Para que ele seja cada vez melhor. Para que seja mais de todos. Os principais responsáveis pela elaboração de ‘O Alcoa’, com quem já tenho uma agradável relação de amizade, estão com vontade e disponibilidade para avançar. E, porque é um jornal da Paróquia de Alcobaça, deve constituir um motivo de desafio para uma colaboração de paroquianos. Pode ser a do amigo ou amiga que está agora a acabar de ler esta linha?
Agradeço a paciência que manifestaram para conseguirem chegar até aqui. Ou seja: ao fim.

Em tempo de Natal…Pe.Carlos Jorge um entrevistado especial!

JERO

Respigado do quinzenário O ALCOA de 16 de Dezembro de 2010 (nº.2248)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

M 320 - OS "PEQUENOS NADA" DA VIDA

SABEDORIA POPULAR

OS”PEQUENAS NADAS” DA VIDA…
O Pedro, um jovem de 13 anos, acompanhava habitualmente o pai nas idas à taberna da aldeia.
Vivia numa zona rural e depois da “escola” ajudava nas tarefas caseiras.
Na fazenda, que circundava a casa dos seus pais e avós , pegava na sachola ou no ancinho dia sim, dia sim e ia aprendendo o que a vida custa.
Os trabalhos agrícolas eram duros e as idas à taberna com o seu pai eram sempre momentos bem-vindos.
Fascinavam-no as conversas do seu pai com os mais velhos, nomeadamente, quando essas conversas evocavam recordações da guerra do Ultramar..
Se tentava meter a sua “colherada” não lhe davam grande atenção. Era ouvir e calar.
Quando o seu pai bebia o seu copo de vinho soltava um “ah” de satisfação, que parecia ficar a pairar algum tempo no ambiente acolhedor da taberna.Quase que se podia “ouvir” o silêncio entre as conversas dos amigos de seu pai.


Aqueles “aaahh” de satisfação eram momentos “únicos”…Pareciam fazer parte de um ritual monástico, salvaguardadas as devidas proporções. Quando o pai esvaziava o copo e batia com ele, já vazio, no balcão o “aaahh”, já tantas vezes ouvido, surpreendia sempre o Pedro que seguia com olhar o momento de prazer do seu pai. Que bom devia ser beber um copo. Quando é que ele teria direito a fazer um “aaahh”!?

O tempo ia passando e o Pedro um dia atreveu-se a pedir ao pai: - “Quando é que eu posso fazer um “aaahh”?”
O olhar que o seu pai lhe deitou antecipou a resposta que bem lhe custou a ouvir: «Ainda és muito novo para fazer um “aaahh”.»
Passou o Verão, chegou o Outono e o Pedro pensou que já tinha acumulado “créditos” para mais um pedido. E num dia em que tudo tinha corrido especialmente bem nos trabalhos da escola e da fazenda arriscou: “Oh pai, quando é que eu posso fazer um “aaahh”?”
Teve direito a mais resposta negativa mas, desta vez, pareceu-lhe que o Pai tinha feito um compasso de espera antes de proferir o “não”. Saiu chateado da taberna e voltou sozinho para casa.
No dia seguinte o Pedro fez mais uma tentativa. “Oh Pai quando é que eu…”.
Para sua surpresa o pai disse para o taberneiro. “Oh Grazina, dá lá um copo ao rapaz”.
Pareceu-lhe que tinha havido um piscar de olhos entre ambos mas…o seu copo finalmente “aterrou” no balcão.
O Pedro pegou-lhe com o coração a palpitar e com os olhos a brilhar preparou-se para soltar o seu primeiro “aaahh”.
Bebeu o primeiro golo e arrepiou-se todo .Soltou um “iiiihh” prolongado… Tentou um segundo golo e o seu “iiiiiiihhh” foi ainda mais prolongado. Olhou para o copo com asco … e sentiu a mão do pai nas suas costas.
- “Como vês ainda não tens idade para fazer um “aaahh”.
O Pedro teve que reconhecer que sim e saiu para a rua para apanhar ar. O pai ficou um pouco trás e, bem disposto ,disse ao Grazina:- “Eh pá não poupaste no vinagre. Fico-te a dever uma”.
Só muito mais tarde o Pedro soube da “marosca” e ..percebeu como o seu Pai tinha sido sábio.
De facto o vinho não deve ser bebido por gente nova…e que há idade para tudo…
Esta história é verdadeira e passou-se numa freguesia perto de Alcobaça.

Infelizmente os pais dos miúdos da cidade nem sempre têm tempo para estar tão presentes nas vidas dos seus filhos. Nomeadamente nas suas saídas nocturnas, quando consomem e fazem“aaahh’s” antes de tempo…

Os tais “pequenos nadas” da vida que podem vir a fazer toda a diferença!
Eh ou não “eeehh” !?
JEROOO…





quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

M 319 - O ÓSCAR

Estou ligado ao CEERIA desde há uma boa dúzia de anos.
Como elemento de uma das Direcções sob a Presidência de João Teodósio colaborei na edição de um boletim a que então chamámos "CEERIA ACONTECE".Aconteceu em Dezembro de 1999.
A história que hoje reproduzo é, na minha opinião, uma das mais bonitas da história da Instituição, que recentemente festejou 34 anos.
JERO

O ÓSCAR
Esta história ainda não tem fim, ainda está longe disso, mas pode começar desde já a ser contada.
É uma história sobre uma "viagem", muito especial, que envolve  muitos sentimentos, muitas emoções.
A "viagem" começou no dia 12 de Novembro de 1991 e ainda não parou desde aí. Cheguei ao CEERIA, cheia de medos e hesitações. No entanto, nesse mesmo dia conheci um conjunto de pessoas, oS protagonistas desta "peça", que me conquistaram e me encorajaram a seguir em frente.
Uma dessas pessoas era o Óscar, rapaz simpático, bastante carinhoso, embora ocioso. Sempre adorou ouvir música, passando na época bastante tempo abstraído no seu mundo.
 A sua mãe, tinha na altura um sonho, que o Óscar soubesse escrever o nome.
Sempre se concentraram esforços no sentido de realizar esse desejo.
Então o Óscar passava o tempo a copiar o nome, a picotar o nome, a pintar o nome, etc.
No entanto ele continuava sem saber escrever o nome.
Um dia, em conversa com esta mãe dedicada e atenciosa, refletimos em conjunto, que talvez houvessem muitas outras coisas que o Óscar pudesse realizar e pelas quais se interessasse mais, e que acima de tudo o realizasse , e o fizesse sentir bem consigo próprio.
Alguns anos se passaram, e nesta etapa desta "viagem" o Óscar escreve o nome, mas para além disso o Óscar participa activamente numa oficina de carácter produtivo do Centro de Actividades Ocupacionais, o Óscar utiliza os transportes públicos autonomamente, o Óscar trata do seu próprio passe, o Óscar pratica com eficácia canoagem, o Óscar...
Anabela Bento


Estive com o Õscar e sua Mãe há poucos dias no CEERIA.
Como ele cresceu e está ligado à  sua Mãe!
 É um gosto vê-los abraçados.
Mas hoje queria homenagear o CEERIA na pessoa da Anabela Bento, que trabalha na Instituição desde 1991.
Foi graças a si que o Óscar aprendeu a escrever o nome e a crescer num mundo que lhe foi tão adverso quando a ele chegou.

Obrigada ANABELA.
Obrigado CEERIA.

Maria Helena Guerra , que desde 1999, faz parte dos Orgãos Sociais do CEERIA escreveu então uma mnsagem em que dizia que só faz sentido haver  o Centro se a comunidade estiver presente.
A solidariedade deve começar pelos que estão mais perto.
As portas estão abertas...
A TODOS OS VOTOS DE BOAS FESTAS E UM NOVO ANO MUITO FELIZ.

Subscrevo e renovo os meus agradecimentos a todos que continuam a manter acesa a "chama" de esperança do nosso CEERIA.
JERO

domingo, 5 de dezembro de 2010

M 318 - CEERIA FEZ TRINTA E QUATRO ANOS

34º. ANIVERSÁRIO DO CEERIA

Aprende-se sempre alguma coisa quando se vai ao CEERIA…
No passado dia 3 de Dezembro a Instituição celebrou o 34º. Aniversário da sua fundação.
Houve direito a bolo de anos, com as respectivas velas, e cantou-se “os parabéns a você”.
Antes e depois do “bolo” registaram-se alguns testemunhos que valerá a pena recordar.
Estiveram no palacete “cor de rosa” ao cimo da Rua do Castelo, em Alcobaça, representantes da Câmara Municipal. A vereadora Mónica Batista, e o seu assessor Júlio Moura, distribuíram simpatia e levaram prendas para o CEERIA.
Tiveram agradecimentos e alguns pedidos. Que ficaram em “pendentes”…
José Ferreira Belo, Presidente da Direcção do CEERIA, tem o verbo fácil e acertado (ou não fosse na “vida civil” advogado e professor…) e não deixou passar a oportunidade sem dizer algumas verdades. Que não podem ser ignoradas.
«Ser pessoa com deficiência já não é um anátema mas…está muita coisa por fazer. Nos últimos tempos constroem-se vilas e cidades para os automóveis e não para as pessoas. Todas as garagens têm os passeios rebaixados para facilitar a entrada e saída das viaturas. Mas o mesmo já não acontece nas passadeiras para peões. Quem tiver que se deslocar em cadeira de rodas não tem a vida facilitada. Quando em Alcobaça se chega à zona histórica, frente ao Mosteiro, as barreiras arquitectónicas existentes são ainda mais difíceis de ultrapassar.»
José Ferreira Belo “não dá ponto sem nó” e teve consigo, para reforçar o seu discurso, dois jovens universitários (de 19 anos) que, quando ainda frequentavam o 12º. Ano, fizeram um trabalho na área de projecto exactamente sobre “Acessibilidades & Deficiência Motora”.
Carlos Filipe e Fábio Monteiro contaram a sua experiência que incluiu até deslocações em cadeiras de rodas! Não foi só teoria mas também prática. O grupo do 12º. LHA (de que ainda faziam parte Bernardo Moura, Emanuel Boarqueiro e Pedro Oliveira) comprovou a necessidade de sensibilização da sociedade para o tipo de problemas que pessoas, como os utentes do CEERIA, deparam no seu dia a dia.

«As maiores barreiras não são as arquitectónicas mas sim a falta de informação e os preconceitos que ainda existem relativamente a este assunto»
A Vereadora Mónica Batista ouviu atentamente e reconheceu que as diferenças vão continuar. Admitiu ainda que quanto às acessibilidades haverá que mudar quase tudo.
Quando? Não disse.«Não se pode fazer num ano o que não se fez em muitos anos..».
Mas falou com esperança e entusiasmo num protocolo (ALCOBAÇA COMIGO) que poderá alterar alguma coisa…
Haverá que sensibilizar a sociedade e começar por algum lado, dizemos nós.
Porque não começar por melhorar as passadeiras para os peões?
O CEERIA merece. E Alcobaça e o seu Concelho também.

Aprende-se sempre alguma coisa quando se vai ao CEERIA…


JERO

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

M 317 - HINO À VIDA

Era um vez uma princesa que nasceu no Outono.
Depois de dias e dias de chuva e vento, o sol surgiu num céu azul celeste para celebrar aquele nascimento.
Seus pais deram-lhe o nome de Maria porque nenhum outro lhes pareceu encaixar tão bem naquele rosto sereno.
Conta a lenda que em vez de chorar,Maria sorriu e ao mundo pareceu dizer: - vim dar sentido a todos aqueles que vão partilhar comigo a minha vida.
Seus pais embevecidos mandaram notas pro universo dando conta daquele nascimento, que deu alento às suas existências.
Hoje são tão mais ricos do que algum dia acalentaram ser e para sempre os três começaram a escrever a sua história:
Era uma vez uma princesa..

Nota: Fui um dos contemplados com uma das "notas" das que foram para o universo em forma de SMS.
Foi uma das mensagens mais bonitas que até hoje recebi por telemóvel.
Um autêntico Hino à Vida.
Parabéns MARIA pelos maravilhosos PAIS que escolhestes.
De Alcobaça com muita amizade,
JERO


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

M 316 - ANTÓNIO SALES EM DOIS TEMPOS

 ANTÓNIO SALES

Direi de mim que pinto desde os meus doze anos,participei em numerosas exposições, pertenço ao Núcleo de Pintura Paço de Artes, onde tenho exposto colectivamente, participei na penúltima Bienal de Beja, e por todo o País tenho vendido e exposto a minha arte.
Comecei a vender retratos em 1975 depois de regressar da Guerra do Ultramar, Moçambique onde fui Combatente.
Regressado a Portugal Continental, reforçava o meu baixo ordenado com a venda de quadros e retratos.
Mais tarde trabalhei também em desenho publicitário sobretudo em rotulagens de vinhos.
Durante vários anos e por causa do meu trabalho, deixei de pintar tendo regressado a esta actividade ácerca de dez anos.
Dedico-me á poesia há bem pouco tempo, cerca de doze anos, tendo concorrido a vários eventos.
Quiz o destino que Aurea da Mata tivesse tido conhecimento de alguns poemas meus e me tivesse permitido participar nas suas, poucas infelizmente, Tertúlias de Poesia. Pertenço aínda ao Café Literário que se reune mensalmente no CCB na Benedita e que se dedica á analise de textos literários dos mais variados escritores.
Este é, resumidamente o meu percurso por estes Mundos de que ambos gostamos.
Cabe aqui dizer que foi graças à saudosa Àurea da Mata que nos conhecemos e nos tornámos amigos.JERO
Estou a escrever um romance, tenho uma história infantil pronta para publicação .
Pois que cheguem bem depressa.JERO

António (Homem de Bem)
Sales (Pintor)