domingo, 31 de outubro de 2010

M 309 - HISTÓRIAS DE VIDA


HISTÓRIAS DOS NOSSOS NETOS

Mariana caminha rapidamente para os 4 anos. Graças a Deus.
Nasceu em Fevereiro de 2007 e é uma menina invulgar. Alia à irreverência, que possui em doses bem “servidas”, uma ternura e uma sensibilidade especiais.
A história de vida que vamos contar passou-se em dois tempos. Dois tempos separados por cerca de um ano!
Mariana vive perto da casa do seu Avô materno e longe (mais de 100 kms.) da terra dos seus Avós paternos, que a visitam com a frequência possível.
Depois de uma dessas visitas a Mariana, depois de uma noite inquieta, questionou a Mãe quando , no dia seguinte, esta a levava para a sua escolinha.
- Onde está a tua Mãe?
Tinha então cerca de dois anos e meio.
Nas suas “contas” de menina pequenita, mas "esperta que nem um alho", tinha percebido que no jantar de família do dia anterior faltava alguém.
A sua Mãe, depois de uma pequena hesitação, explicou-lhe com o devido cuidado, que a Mãe da Mãe já não vivia cá. Ainda ela não era nascida… tinha ido para o Céu!

- Onde é o Céu ?
A Mãe explicou-lhe com palavras simples e, com uma mão, indicou-lhe umas nuvens no céu, no horizonte, lá muito longe.
A Mariana pareceu aceitar bem a explicação e não fez mais perguntas.
Passaram-se semanas e meses...


Quase um ano depois ...em tempo de  Outono e num fim de tarde, a caminho de casa, depois de mais um dia de “escola” a Mariana largou a mão da Mãe antes de entrar em casa. O sol dourado desse final do dia tornava ainda mais bonito o céu que espreitava por cima dos telhados das casas circundantes.
A Mariana, um pouco afastada da Mãe, começou a acenar com a mão. Parecia dizer adeus a alguém que estava ao longe. Muito longe…
Surpreendida a Mãe perguntou-lhe: - O que estás a fazer?
- Estou a dizer adeus à tua Mãe.
De lágrimas nos olhos e sem palavras a Mãe da Mariana pegou-lhe de novo na mão e foram para casa.
A Mariana, se Deus quiser, fará em breve , quatro anos.
É uma miúda invulgar que alia à irreverência uma ternura e uma sensibilidade…invulgares.

Digo eu, que sou suspeito.
Avô JERO

30.Outubro.2010






sexta-feira, 29 de outubro de 2010

M 308 - RONCO NA TABANCA DO CENTRO EM OUTUBRO VINTE SETE

6º Encontro da Tabanca do Centro, em Monte Real, claro.
Apresentaram-se na Pensão Montanha às 13H30.
Poucos mas bons e… cá com um fastio!!!
Agostinho Gaspar, Armando Cristóvão, Belarmino Sardinha e Antonieta, Carlos Cruz, Joaquim Mexia Alves, JERO, Luís Rainha e Dulce, Miguel Pessoa e Giselda disseram “presente” ao encontro de 27 de Outubro. Tantos quantos uma equipa de futebol mas sem “banco”…
Disseram “presente” mas não conseguiram comer todo o “cozido à Monte Real” que a Dª. Preciosa lhes pôs na mesa. É verdade que faltaram alguns bons garfos (José Dinis, Vasco da Gama, António Graça de Abreu, Juvenal Amado, etc.) mas perdemos (sem apelo nem agravo) o “desafio”: Dª. Preciosa 1 travessa e meia de retorno / malta do 6º.encontro- quase “zero”. Instalou-se algum desânimo do “grupo dos 11” de tal maneira que se está a pensar num leitão à moda da “Boavista” (Leiria) para no mesmo local (Monte Real) recuperarmos algum do prestígio perdido…Foi difícil encarar os vizinhos das mesas circundantes quando a travessa e meia do cozido foi recolhida à cozinha!

Mas vamos ao relato das conversas tidas e ouvidas. O Joaquim Mexia Alves esteve no seu melhor. E o Belarmino Sardinha não lhe ficou atrás. Pelo meio – o fotógrafo de serviço Miguel Pessoa – teve alguns apartes de grande nível. Isto passou-se do lado direito da mesa. Na parte da esquerda - não duvidamos do nível das conversas - mas não “chegámos” lá acusticamente falando.Vamos portanto ao relato resumido do que ouvimos.
Marcelo Rebelo de Sousa, que JMA tratava por tu, foi protagonista de um “desaguisado” na marginal de Lisboa para Cascais. Foi há um bom “par de anos”, (durante um período de férias da Guiné em que JMA esteve por Lisboa), e Marcelo falava “de cátedra” da “guerra da Guiné”. Na curva frente ao Mónaco o Joaquim mandou parar o carro e saiu para apanhar o comboio e assim evitar males maiores.
Como não podia deixar de ser a Guiné, Gadamael, Spinola e Almeida Bruno foram tema de conversas cruzadas mas consensuais.
O tema “política” também veio à baila com muitos e variados comentários em relação a Sócrates (não publicáveis), Presidente Cavaco e outros candidatos à Presidência. Manuel Alegre ocupou algum tempo da discussão mas as conclusões também não são publicáveis. Depois falou-se do “voto útil” e de Fernando Nobre, um candidato credível para alguns, mas a quem as sondagens atribuem pouco mais de 5%.
Antes do regresso “às origens” falou-se dos Doces Conventuais em Alcobaça (de 18 a 21 de Novembro) e do leitão da Boavista que poderá “aterrar” em Monte Real em 24 (4ª.feira) ou 26 de Novembro (6ª.feira).
Será uma data a combinar em futuro próximo.
No regresso a Alcobaça ouvi na rádio e depois da televisão que as negociações sobre o orçamento de 2011 - entre Governo e PSD - tinham dado em nada…
Já no meu maple preferido – preparado para descansar um pouco das “emoções” do 6º. Encontro – lembrou-me do José Marcelino Martins, especialista de Santos e Padroeiros. A quem é que nós devemos “pedir” para esta malta que nos governa (ou desgoverna) ganhar “juízo”? Isto é pôr os interesses do País acima dos interesses eleitorais e/ou partidários!
Até lá…haja saúde…e coza o forno!

JERO



quarta-feira, 20 de outubro de 2010

M 307 - UMA VEZ POETA...

REENCONTROS
Algures no estuário do Tejo,
a montante,
em enseada perdida na vasa,
ouvem-se madeiras ranger,
bater de cordames,
espaldanar de velas.

Algures no estuário do Tejo há vozes abafadas,
ordens secas,
passadas fortes em invisível convés.

Sombras furtivas vigiam da gávea......
Algures no estuário do Tejo,
a montante,
entre bancos de névoa há uma nau ancorada!


Algures no estuário do Tejo marinheiros de outrora.....
aguardam!
Sol poente sobre a barra.


Ventos de limo e sal.


Silenciosa armada em regresso......


Naus, Caravelas, Galeões, vapores e até modernos Paquetes,
voltam de mares longínquos,
de naufrágios esquecidos,
de viagens de pesadelo............


Os mortos das descobertas,
das guarnicões de Marrocos,
do Forte da Mina,
de Ormuz,de Malaca,
de Goa,
da China,
das Capitanias,
dos bandeirantes da Amazónia,
de Marracuene,
Chaimite,
das trincheiras da Flandres,
dos desterrados em Angola e na ilha maldita do Sal,
das picadas dos Dembos,
do Rovuma,
de Gamdenbel e Madina do Boé..............


Algures no estuário do Tejo,
a montante,
os raios vermelhos do poente reflectem-se em bandeiras esfarrapadas,
armaduras amolgadas,
 espadas quebradas,
elmos sangrentos de Alcácer Quibir,
nos corpos macilentos dos exilados,
em camuflados empastados em sangue e lama,
em camisolas de pescadores desbotadas pelos ventos gelados da Groenlândia,
em fatos de macaco rotos e remendados
dos emigrantes perdidos na solidão de todos os atalhos do Mundo...................


Algures no estuário do Tejo,
a montante,
em enseada perdida na vasa,
cobertos de neblinas estão os que.........ficaram!

Os que desesperando...esperaram!
Mães, noivas, filhos, irmãos, amigos.
ALGURES NO ESTUÁRIO DO TEJO ARDE UMA NAU ANCORADA!

Abisko/2010/J.Belo.

José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia.

Um homem de cultura, de fino trato, "mais valia" nos seus escritos, nos seus poemas, nos seus comentários nos blogues de ex-combatentes.
Aqui fica o testemunho no nosso apreço e estima pessoal.
JERO
Outubro/2010.




quinta-feira, 14 de outubro de 2010

M 306 - INESQUECÍVEL TREZE DE OUTUBRO DE DOIS MIL E DEZ

Viagem ao centro da Terra
O resgate dos mineiros de San Juan, no Chile,em 13 de Outubro de 2010 é uma história que já faz parte da História.
 Já ouvimos dizer que no mundo inteiro mil milhões de pessoas assistiram pela televisão ao resgate dos 33 mineiros, que viveram nas trevas 69 dias. Quase dez semanas confinados a um buraco de 25 m2(!?) a 700 metros de profundidade! Numa primeira fase sem conseguirem contactar com o mundo exterior, alimentando-se de 48 em 48 horas, de uma colher de atum em conserva, de um gole de leite e bebendo água dos reservatórios das máquinas que ficaram por perto!
Depois conseguiram fazer passar para uma exterior uma pequena mensagem a dizer que se encontravam no “refúgio” da mina e passaram a ter informação e fornecimento de alimentos líquidos e medicamentos.
No dia 13 de Outubro – dois meses e nove dias depois de ficarem presos no fundo da mina –conseguiram sair numa cápsula denominada “Fenix”! Chegaram à superfície um a um com diversas manifestações e formas de agradecimento. Foram recebidos com palmas, com lágrimas, com abraços e com beijos dos seus familiares. Estava presente o Presidente da República do Chile e os Engenheiros responsáveis pela cápsula de salvamento. Alguns mineiros ajoelharam e rezaram, outros trouxeram do fundo da mina pedras para oferecer aos seus salvadores, outros tiveram extraordinárias manifestações de alegria, outros disseram “olá”, outros foram serenos, outros foram emotivos. Outros disseram palavras sábias: «Estive entre Deus e o Diabo. Agarrei-me à melhor mão. À mão de Deus.» E depois o último a chegar. O chefe de turno Luis Urzúa. O “capitão”.Que grande exemplo de um bom chefe.«Missão cumprida».
O “treze” nunca mais será associado a um dia de azar. E há que reter na memória que o acampamento montado à saída da mina de San Juan para salvar os 33 mineiros se chamava “Esperanza” !
Que bonito (e diferente) é o Mundo quando é solidário e uno!
JERO
PS 1-Laurence Golborne, ministro das Minas, o 34º herói
O ministro das Minas do Chile, Laurence Golborne, estava no Equador quando soube do desastre na mina centenária de San José, no deserto de Atacama. A princípio hesitou se deveria viajar para o local.
Inesperadamente, este engenheiro civil industrial de 49 anos, pai de seis filhos, agnóstico, que nunca teve militância política e que chegou ao Governo depois de uma carreira de gestor e empresário, deu por si a liderar o processo de resgate. Pediu poderes ao Presidente e obteve carta branca. Inteirou-se da complexidade técnica da operação, reuniu especialistas e maquinaria, aceitou responder pessoalmente pelo processo. Nas suas aparições soube gerir as expectativas, fazendo claros pontos de situação, falando com prudência, seriedade e optimismo.
PS 2 -A operação de resgate começou dia 13 pela meia-noite em Lisboa.
Nessa altura, o ministro das Minas, Laurence Golborne, anunciou que a cápsula desceria pela primeira vez dentro de duas horas. À entrada da mina foi colocada uma enorme bandeira do Chile, primeiro a cápsula desceu até aos 60 metros de profundidade, uma curta viajem de teste, e depois até aos 478 metros, já a menos de 200 metros dos mineiros. O socorrista Manuel Gonzáles, da Codelco, a companhia nacional de cobre chilena, foi o primeiro a descer para ir buscar Florêncio Ávalos. “Abracem-se. Sorriam. Aplaudam. Florêncio está a chegar”, pediu o ministro das Minas.
PS 3 - Tecnologia utilizada no resgate dos mineiros no Chile
Uma cápsula de aço, projectada pela Marinha chilena, foi a responsável pelo transporte dos trabalhadores. A cápsula tem 4 metros de altura, 450 quilos, possui tubos de oxigénio, equipamento de comunicação e um sistema de aferição dos sinais vitais de alta tecnologia.
Também foi decidido que apenas o primeiro trecho do túnel teria revestimento metálico.
Os trabalhadores receberam alimentação especial trazida dos Estados Unidos e seguiram as indicações da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) para a operação de resgate.
Ainda como parte da acção de retirada, os mineiros receberam roupas feitas de material especial, luvas, água e óculos escuros para não sofreram danos visuais depois de tanto tempo na escuridão.
Uma equipe de especialistas da Agência Espacial Norte-Americana chegou e manteve-se no local acompanhada de um médico, um nutricionista, um engenheiro e um psicólogo.
Além de comida e roupa, os trabalhadores também receberam consoles PSP para aliviar a frequente tensão em que viviam.
PS 4 - Técnica originária da Alemanha
Os profissionais alemães reagiram com alegria ao resgate de seus companheiros chilenos. "Estamos simplesmente muito felizes por nossos colegas e por suas famílias no Chile", declarou Ludwig Ladzinski, director do conselho geral de empresa da mineira de carvão RAG.
 Nestes dias, vieram à tona lembranças "de situações igualmente dramáticas na mineração alemã". Assim, "ao lado de toda a alegria", fica patente "sob que condições duras os mineiros de todo o mundo realizam o seu trabalho".
 Também Michael Vassiliadis, presidente do sindicato dos mineiros IG BCE, felicitou os companheiros do Chile: "É fantástico que eles voltem à luz do dia após mais de dois meses". Os mineiros alemães também estão orgulhosos pelo fato de, na espectacular operação de resgate, ter sido empregada uma tecnologia desenvolvida em seu país. Trata-se de uma cabeça para perfuração vertical auto controlada, conhecida como "RVD-System".
Os PS's 1,2,3 e 4 foram ,obviamente, retirados do Google.

 PARA MEMÓRIA FUTURA REGISTAMOS,COM A NATURAL MODÉSTIA DESTE BLOGUE ALCOBACENSE, ESTE  INESQUECÍVEL 13 DE OUTUBR0 DE 2010, COM UM FINAL FELIZ DEVIDO A UM EXTRAORDINÁRIO CONJUNTO DE BOAS VONTADES E DE COMPETÊNCIA.E, PORQUE NÃO DIZÊ-LO. DE SORTE. DE MUITA SORTE.
JERO


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

M 305 -NO OUTONO AS NUVENS FICAM CINZENTOS

Quando Chega o Outono

























Já chegou muito calado
E com jeito rezingão
Levantando um ar fresquinho
Anunciando a estação


Já o verão nos disse adeus
Começou a chuviscar
As árvores perdem as folhas
Nuazinhas vão ficar

Tem o Outono um pincel
e pinta as folhas de dourado
As nuvens ficam cinzentas
E o sol mais desmaiado

Quando chega o Outono
Tudo vai mudar
As andorinhas juntam-se em grupos
E partem para outro lugar

Que lindas e belas
São as andorinhas
Esperam pela Primavera
Para voltarem às suas casinhas

Já se fazem as vindimas
Apanham-se os frutos dos pomares
Também se pisam as uvas
Dentro dos lagares

As andorinhas em debandada
Voam para outro lugar
Porque têm muito frio
Cá já não podem ficar

Está na hora de pores
O casaquinho de malha
Nos pés, não esqueças, as meias
Porque já faz frio, quando calha

Olá meus meninos
O tempo vai mudar
Porque o Outono
Está a chegar

Maria Rosa Marques
Turquel
Quem é Maria Rosa Marques?

Socorremo-nos de Acácio Ribeiro, amigo que muito prezamos, correspondente de O ALCOA em Turquel.
«Esta ilustre turquelense, pessoa muito conhecida e também ela carismática localmente (curiosamente características e perfil em quase tudo idêntico ao da Áurea da Mata) é uma pessoa amiga e de bem. É actualmente auxiliar de acção educativa na escola básica 1 de Turquel (onde têm trabalhado durante anos estando já perto da reforma que por aquilo que me disse já foi solicitada aguardando para breve a aprovação da mesma). Colabora com as actividades da Paróquia de Turquel tanto ao nível da igreja (é ministra da comunhão e faz leituras na missa) como em festas populares em Turquel. Todas as crianças e por consequência os pais a conhecem bem. É líder do Movimento Esperança e Vida em Turquel (movimento das viúvas católicas) e nas horas vagas é ainda uma conceituada artesã (bordados...) participando ocasionalmente em exposições de artesanato locais. Gosta muito de poesia e têm inclusive um blogue engraçado que mantêm onde têm / partilha muitos dos seus trabalhos.
Quadras Soltas (blog pessoal da Dona Rosa) -


Fotos JERO

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

M 304 -AINDA A PRIMEIRA REPÚBLICA...

Nascimento e morte da 1ª República

O pensamento republicano filia-se na corrente esquerdista do vintismo, na ideologia setembrista e como matriz na tríade da liberdade, igualdade e fraternidade proclamada pela Revolução Francesa.
A monarquia, nas palavras de Fernando Rosas, tinha-se tornado um regime inadaptado face às mudanças de finais do século XIX, nomeadamente a industrialização, a urbanização e a terciarização da sociedade.
O Ultimatum Britânico constituiu um momento de vexação colectiva e a partir deste episódio a monarquia constitucional só podia agonizar.
 A bem orquestrada campanha republicana acusava a Monarquia de todos os problemas da Nação: incapacidade de assegurar a integridade colonial, essencial, no seu entender, para o ressurgimento de Portugal; da bancarrota económica e financeira; da dívida externa; da balança comercial negativa; da fragilidade das forças armadas; do despesismo clientelar; da falta de educação da população (cerca de 80% de analfabetos), em suma do subdesenvolvimento gritante do país.
O sistema político-partidário (o célebre rotativismo) encontrava-se sem soluções governativas para os graves problemas nacionais.
Os republicanos contestavam o sistema censitário (baseado na tributação) que privava o cidadão comum de direitos políticos perpetuando o liberalismo oligárquico e a própria raiz anti-democrática da monarquia ao colocar hereditariamente no trono um cidadão superior pela dignidade do nascimento e unção divina.
Como bandeiras ideológicas o republicanismo abraça a secularização, o laicismo e o anti-clericalismo.
 As primeiras medidas são exemplificativas deste ideário. A ampliação e modernização das funções do Estado de direito provocam as primeiras fontes de litígio com a Igreja.
 É o caso da lei de Dezembro de 1910 que torna o casamento civil obrigatório e o Decreto de 18 de Fevereiro de 1911 que declara a obrigatoriedade do registo civil de nascimentos, casamentos e óbitos.
 Mas o diferendo maior verifica-se com a lei de 3 de Novembro de 1910 que estabelece o direito ao divórcio e a celebérrima lei da Separação do Estado das Igrejas de 20 de Abril de 1911.

 Com esta lei, Afonso Costa, entre outras medidas, nacionalizava a propriedade da Igreja, proibia o ensino religioso, instituía comissões cultuais a quem competia organizar e fiscalizar o culto, proibia o uso de vestes talares, procissões e outras manifestações religiosas que pudessem alterar a ordem pública... O radicalismo da primeira figura do PRP acaba por lançar o regime emergente em permanentes guerras intestinas.
A promessa tão aclamada do sufrágio universal cai por terra. A explicação republicana é simples. A concessão de voto ao povo iletrado da província dependente dos caciques monárquicos e da influência clerical consubstanciava uma forma de suicídio político para a jovem República. O decreto de14 de Março de 1911 (alargado em 5 de Abril), que revoga a Lei Eleitoral de 1901 (vulgo, a "Ignóbil Porcaria”) concede o direito de voto a todos os portugueses maiores de 21 anos (não especificando o sexo) que saibam ler e escrever, ou que, não o sabendo, sejam chefes de família há mais de um ano. Apenas uma mulher conseguiu romper o cerco e votar, essa mulher foi Carolina Ângelo, militante feminista e republicana.
Para Portugal poder escapar à vertigem da decadência tinha de reformar o seu sistema educativo, alfabetizar o povo e educar as elites. A crença republicana assentava arraiais no poder da Pedagogia e nas virtudes da escola gratuita, laica e obrigatória, como projecto messiânico e civilizacional. Só assim se podia produzir o cidadão e trazer dignidade à sociedade e à Pátria. Para o efeito, criam-se as Escolas Normais para formar professores primários, o ensino técnico, as Universidades de Lisboa e Porto e os Institutos de Agronomia e Veterinária.
A vertente social, a República concede o direito à greve, decreta o descanso semanal obrigatório ao Domingo para todos os assalariados, reduz o horário de trabalho, torna obrigatório (depois de muita discussão parlamentar) o seguro de acidentes de trabalho, o seguro social obrigatório na doença, invalidez e velhice, assim como fomenta a construção de bairros sociais, cozinhas económicas, jardins-escola, asilos.
Mas cedo o PRP envolve-se em lutas fratricidas levando ao seu posterior desmembramento. A separação de águas entre radicais e conservadores coloca a tensão política ao rubro mostrando, de forma nua e crua, que o cadinho republicano é diverso; ao afastamento e marginalização dos intelectuais republicanos desiludidos com a guerrilha político partidária e a abjecta partilha de lugares fazendo do público um direito privado, junta-se o afastamento dos heróis da Rotunda, como Machado dos Santos.
Por seu turno, os apoios conquistados na província vão sofrer uma forte erosão com o polémico decreto de 4 de Maio de 1911 sobre o imposto predial, gravame para a lavoura que leva a que José Eduardo Raposo de Magalhães abandone desiludido o cargo de Governador Civil do Distrito de Leiria.
A República delapida gradualmente a base social de apoio, utilizando punhos de ferro contra a mole de operários e os homens das artes e ofícios que deram o corpo e a alma pela revolução. Aos inimigos tradicionais (monárquicos e clericais) somam-se os republicanos conservadores que pugnam pela reposição da ordem social, o povo urbano que exige melhores condições de vida... A 1ª Grande Guerra vai constituir uma hecatombe e provocar a degenerescência política do regime. Os governos sucedem-se e os problemas sociais e financeiros acumulam-se.
A falta de credibilidade do regime que leva à solução militar e ao advento do Estado Novo. Não se pode falar de II República, como sustenta Amadeu Carvalho Homem, dado que os valores e princípios republicanos estão ausentes da doutrina salazarista ao defender soluções anti-liberais, anti-democráticas e anti-parlamentares, ao impôr o monolitismo das ideias, ao fazer do aparelho de Estado uma estrutura repressiva violando todas as liberdades fundamentais. Como defende Braga da Cruz, o Salazarismo foi na sua essência uma ditadura de governo, administrativa e burocrática.
A democracia plena só foi alcançada a partir do 25 de Abril de 1974. Mas estas conquistas têm obrigatoriamente de ser consolidadas para não vivermos num simulacro de democracia ou numa democracia oligárquica. A ética e valores da República são hoje mais do que necessários, num tempo em que os escândalos públicos se avolumam, as redes clientelares partidárias gangrenam a democracia e a descrença na bondade do regime começa a tomar conta dos cidadãos.

António Valério Maduro

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

M 303- CEM ANOS E UM DIA DEPOIS DO CINCO DE OUTUBRO DE MIL NOVECENTOS E DEZ

MUNICÍPIO COMEMORA 100 ANOS DA REPUBLICA COM EXPOSIÇÃO
De 1 a 29 de Outubro, o Átrio da Biblioteca Municipal de Alcobaça recebe a exposição “Letras e Cores, Ideias e Autores da República”, no âmbito das comemorações dos 100 anos da implantação da República.
A partir de textos de autores que marcaram decisivamente a cultura humanístico-literária em Portugal no final do século XIX e início do século XX, a DGLB convidou dez ilustradores (João Vaz de Carvalho, Afonso Cruz, Bernardo Carvalho, Marta Torrão, Teresa Lima, Rachel Caiano, Jorge Miguel, Carla Nazareth, Gémeo Luís, Alex Gozblau) a tratar plasticamente dez temas representativos do contexto social, político, cívico e cultural da época: Ultimatum, Monarquia, 5 de Outubro, Igreja, Educação, Mulheres, Modernismo, Grande Guerra, Chiado e Revistas. O resultado mostra de que forma literatura e arte, passado e presente, se podem cruzar de forma coerente e harmoniosa, dando corpo a um percurso fulcral da história portuguesa contemporânea: o triunfo da ideia republicana de cidadania, a instauração do regime, a participação de Portugal na I Grande Guerra e a vida política, social, cultural e artística deste período. O design da exposição é de Luís Mendonça.
HORÁRIO:
Segunda a Sexta-Feira: 10h00 às 18h00


DOS TRABALHOS EXPOSTOS SELECCIONÁMOS GUERRA JUNQUEIRO E O (SEU) CAÇADOR SIMÃO

O Caçador Simão
(A Fialho d'Almeida)

Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente...
Corta a mudez sinistra o mar profundo...
Chora a rainha desgrenhadamente...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É o príncipe Simão que vai à caça.
Os sinos dobram pelo rei finado...
Morte tremenda, pavoroso horror!...
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d'amargura e dor...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É o príncipe Simão que vai à caça.
Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da Pátria a agonizar...
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É o príncipe Simão que vai à caça.
A Pátria é morta! a Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infâmia os sepulcros dos Heróis!
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É o príncipe Simão que vai à caça.
Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indomitamente a multidão...
Tocam clarins de guerra a Marselhesa...
Desaba um trono em súbita explosão!...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É alguém, é alguém que foi à caça.
Do caçador Simão!...

Guerra Junqueiro
Viana do Castelo, 8 de Abril de 1890

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

M 302 - O PREC TAMBÉM PASSOU POR ALCOBAÇA

Fleming de Oliveira volta aos livros e ao PREC!
Está previsto para o próximo dia 30 de Outubro(sábado), a apresentação do novo trabalho de Fleming Oliveira, “NO TEMPO DE SOARES, CUNHAL E OUTROS. O PREC TAMBÉM PASSOU POR ALCOBAÇA”.
A apresentação do novo livro deste advogado há muito anos radicado em Alcobaçaal terá lugar no Auditório da Biblioteca Municipal(15H00).
Este novo livro na sequência da que apresentou com sucesso, em passado recente, sob o título de “NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS. Alcobaça e Portugal”não pretende ser a história dos tempos do PREC em Alcobaça, muito menos em Portugal.
Para os nossos leitores mais jovens esclarecemos que esta sigla(PREC) quer dizer PROCESSO REVOLUCIONÁRIO EM CURSO” e tem a ver com o tempo conturbado que vai do 25 de Abril de 1974 a 25 de Novembro de 1975.
Segundo o autor, que em 1976 foi cabeça de lista pelo PPD(Partido Popular Democrático) nas primeiras eleições autárquicas após a “Revolução de Abril” a grande História do PREC está feita, apesar de díspares interpretações, pelo que dificilmente se poderia trazer aqui algo de factualmente novo.
Fleming de Oliveira optou por outra abordagem e neste seu novo livro irá referir factos sem preocupação de lhes conferir uma ordem cronológica e impressões de alguns protagonistas que estiveram envolvidos no processo do Percurso para a Democracia.
O autor sabe do que fala, leu muito do que se encontra disponível, pesquisou arquivos nacionais e locais, públicos e privados, entrevistou pessoas, recolheu histórias orais interessantes, ainda que eventualmente facciosas de uma experiência que, no contexto global do PREC, se caracterizou por uma peculiar intensidade.
Para Fleming Oliveira, o Estado Novo morreu, está bem e definitivamente enterrado, tal como Salazar.
O PREC representa um passado que não quer passar. Mas, para lá de ressentimentos passionais, que se têm esbatido, existem dados tão objectivos, indiscutíveis e singelos como a melhoria das condições de vida, dos salários, do trabalho e da assistência social.


domingo, 3 de outubro de 2010

M 301 - CELEBRADO COM POMPA E PAIXÃO O DIA PRIMEIRO DE OUTUBRO, DIA MUNDIAL DA MÚSICA

Dia Mundial da Música

Concerto de Professores da AMA no Mosteiro de Alcobaça


Rui Morais, como presidente da AMA(na foto) usou da palavra no final do evento e disse uma evidência:«É sempre gratificante para quem organiza um concerto ver todas as cadeiras ocupadas e muitas pessoas de pé.»
A Academia de Música de Alcobaça conseguiu esse desiderato na noite do primeiro dia de Outubro no Mosteiro de Alcobaça no “seu” Concerto de Professores .Assinalou a abertura solene do ano lectivo 2010/2011 e, simbolicamente, celebrou o Dia Mundial da Música.
O programa englobou variados estilos e instrumentos e agradou sem reservas a uma sala cheia que não regateou aplausos ao Sérgio Fernandes, à Inna Vaschilina,à Kátia Monova, à Oxana Khurdenko, à Mayya Rud, à Svitlana Portyana, à Susana Ezequiel, à Ana Catarina Sousa, ao Nuno Mendes, à Vera Santos, ao Hugo Trindade e ao Director Executivo Rui Morais que encerrou a noite com um emotivo discurso em que salientou a importância da “sua” Academia a nível nacional.
Foi de facto uma excelente oportunidade para representantes da comunidade escolar e não escolar poderem testemunhar a qualidade e dinamismo do corpo docente da Academia de Música de Alcobaça.
A AMA é uma escola de ensino especializado de música que surgiu por iniciativa da Banda de Alcobaça, sua entidade titular, dando sequência ao trabalho de formação de jovens músicos que, desde 1985, a escola de música da Banda desenvolvia.
Com um corpo docente de 80 professores, na sua maioria com as habilitações necessárias à docência, a AMA demonstra ser um estabelecimento de ensino actualizado, dinâmico e com padrões
pedagógicos e artísticos elevados.
O Concerto de Professores foi um exemplo significativo do que de melhor esta instituição tem para oferecer no domínio da formação musical.
Aconteceu na Sala do Capítulo e é, sem dúvida, mais um “capítulo” que a AMA poderá incluir com toda a legitimidade no “livro de ouro” da sua história.


JERO