quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

M 339 - BONS VELHOS TEMPOS ou BONS VELHOS DENTES !?

IDA AO DENTISTA A FARIM

Salvo as devidas distâncias e com o devido respeito recordei-me desta minha história por ter lido num blog nacional de ex-combatentes(Luís Graça e Camaradas da Guiné) que também o General Spínola, a quando da sua passagem pela Guiné, tinha necessitado de cuidados de um estomatologista. Aconteceu no HM 241, em Bissau, e o seu monóculo foi confiado a um Médico durante o tempo da consulta dentária. Foi aliás graças e esse médico, Mário Bravo de seu nome, que essa ida do Governador da Guiné ao estomatologista não se perdeu na voragem do tempo…
« É evidente que quem o tratou foi o Chefe, mas havia necessidade que alguém tomasse conta do monóculo e logo me tocou a mim. É engraçado que senti aquele receio de ser o fiel depositário de tão solene objecto. Mas consegui não o deixar cair !!!» (Mário Bravo)
 (Post. 7697, de 30.Janeiro.2011)
Posto isto vamos à minha história, que se passa durante o cumprimento do serviço militar no Norte da Guiné, na Companhia de Caçadores 675.
Por volta de Novembro ou Dezembro de 1965, quando já contávamos cerca de 18 meses de comissão, chegaram ordens via rádio a Binta, vindas da sede do Batalhão em Farim, para uma ida ao dentista.


                                        Militares da“675” aguardam o início da Operação “TIRA-DENTE”


Num dia de manhã a coluna dos militares com dentes “estragados” arrancou para Farim. Sentados nos Unimogs, com a G-3 entre as pernas e com o lenço na boca. Era naqueles dias que quem seguia atrás da primeira viatura comia pó que se fartava.
Chegámos a Farim sem problemas de maior e como Furriel Enfermeiro recebi instruções para orientar a consulta .Ao ar livre, está claro. Duas cadeiras e duas filas, frente a um Alferes Médico e a um 1º.Cabo auxiliar de enfermagem.
Cada “cliente” abria a boca, dizia qual era o dente ou os dentes estragados, levava uma injecção (anestesia) e vinha para o fim da fila. Passado uns minutos avançava para a extracção. Abre a boca, respira fundo e…alicate. Já está.
Meia dúzia de minutos depois das primeiras extracções, e como é comum na vida militar, alguém segredou ao parceiro do lado que o Cabo é que era “bom”.
A fila que destinava ao médico ficou reduzida ao mínimo. Tentei perceber o que se passava e refazer a “fila” pró Alferes, mas não consegui grande coisa.
A fila do Cabo engrossava e deve ter “facturado” o triplo das extracções em relação ao seu superior.
Foram recomendados alguns cuidados de higiene aos” desdentado” e com a malta toda a cuspinhar sangue lá regressámos a Binta. O lenço verde deu um jeitão.

O pó avermelhado da “estrada” é que foi difícil de suportar…mas a meio da tarde estávamos em “casa”.Sem problemas de maior. Além das dores na boca, está bem de ver.

Termino o registo desta operação “tira-dente” com um testemunho pessoal.
Também então precisava de ter ido ao dentista…mas não fui.

Quando em Maio de 1966 regressei da Guiné andei cerca de 2 anos a tratar dos dentes. E tiveram que me extrair 13 (treze) dentes. Uma das extracções correu mal e tive uma alveolite. Como o próprio nome indica é uma infecção no alvéolo. Regressei ao dentista e ele mandou-me abrir a boca. Enquanto o diabo esfrega um olho fez-me uma raspagem. A frio, sem anestesia. Mais tarde explicou-me porquê. Mas naquele momento dei um berro que se deve ter ouvido dois andares acima do consultório. Dei um berro e um salto na cadeira.

Na “descida” …lembrei-me do Cabo. O de Farim. Porque é que não fui pra fila dele?

Não me tinha doído tanto e tinha sido à borla…

Acabei por contar a história do Cabo-dentista de Farim ao Médico-dentista de Alcobaça.
E consegui, mais tarde, um desconto na esquelética. Que é uma das minhas recordações da Guiné. Treze dentes postiços. Seis em baixo e sete em cima.
E mais cinco “chumbados”…
Bons velhos dentes, digo, tempos.
De Binta .Da Guiné.
E quanto partir…até posso cá deixar a esquelética.
Pró museu da minha Companhia.
 Da seis, sete, cinco.

Mas não tenho pressa nenhuma…

JERO



sábado, 19 de fevereiro de 2011

M 338 - ONDE NASCEM AS REVOLUÇÕES

O MEDITERRÂNEO

Durante dezoito dias na Praça Tahrir, no centro do Cairo, junto ao Museu do Egipto, que guarda milénios de História Regional, milhares de cidadãos fizeram cair trinta anos de poder pessoal do Presidente Mubarak.
Hoje, de uma maneira geral, as revoluções nascem nas grandes cidades e concentram-se nas grandes praças.

Os egípcios recuperaram a Ágora grega, a praça do centro da cidade onde os cidadãos se reuniam em manifestações cívicas e religiosas, em assembleia decisória do governo local ou regional.


A Ágora era também local de encontro, e espaço para a realização do mercado.
As cidades estado do Peloponeso discutiam na grande praça central, a política e a economia, a paz ou a guerra da urbe onde viviam.
Os egípcios no Cairo, os tunisinos em Tunes, acantonaram-se em praças e nas ruas que as servem. Os cidadãos instalaram-se e daí ouviam e faziam-se ouvir através do facebook e do wikileaks ,dois elementos tecnológicos servidos pela internet.
A palavra e a imagem do Presidente agora demitido projectava-se em grandes ecrãs.
40 milhões de jovens com menos de 25 anos, metade da população, muitos milhões de desempregados, líderes partidários sem prática política, comerciantes, muçulmanos e cristãos, homens e mulheres, provavelmente os mais instruídos, juntaram-se sob a bandeira negra, branca e vermelha da República Egípcia e conseguiram, com o apoio do mais importante exército do mundo árabe, reencontrar o caminho para a democracia, que se espera laica, que haviam fugazmente conhecido nos anos 50 do sec. XX.
Não houve um único ataque contra Israel ou os EUA, habituais “culpados” dos protestos. No fim da primeira semana os bancos reabriram e os restaurantes das cadeias americanas voltaram às pizas e aos hamburguers. Houve problemas com jornalistas estrangeiros, mas embora graves foram pontuais como acontece em ajuntamentos semelhantes.
A voz gutural do Ministro da Defesa Mohamed Tantawi, líder do Conselho Militar, logo após a demissão de Mubarak garantia a liberdade e a manutenção dos acordos internacionais. Israel poderá sossegar por agora e o influente Egipto tentará apaziguar os países Árabes e conter, por agora, os sonhos iranianos.
Na margem sul do Mediterrâneo povos jovens procuram equilibrar o futuro e a democracia, apesar das cargas policiais na Argélia e na Líbia os jovens perderam o medo pelo amanhã redentor.
Na margem norte, povos envelhecidos, vão pouco a pouco desequilibrando o futuro e preparando o condicionamento das liberdades para sobreviver.
Não há bola de cristal que nos mostre o futuro mas os jovens atravessarão o Mediterrâneo.


Rui Rasquilho





segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

M 337 - ÁGUA UM PATRIMÓNIO INESTIMÁVEL

Património da Água na Serra dos Candeeiros



As características cársicas do Maciço Calcário em que a Serra dos Candeeiros se inclui, fazem com que a água se escoe pelas inúmeras “arregoas”, “sumidouros” (fendas) e algares. A ausência de águas de nascente e a natureza pobre da terra, salpicada por afloramentos calcários, condicionou a actividade agrícola e inibiu a vida material destas populações. A adaptação a este espaço físico urdiu um mapa cultural que diferencia os povoados serranos dos seus vizinhos, em que a terra é mais generosa e a água brota copiosamente.
A colonização da área serrana confrontou o homem com a necessidade de constituir reservas de água indispensáveis à sobrevivência quotidiana. A cooperação dos vizinhos na construção de cisternas e poços constitui uma realidade que vem da formação dos povoados e que entra nas primeiras décadas do século XX. No entanto, com o advento do século XIX, as cisternas e os poços começam a ganhar foro privado implantando-se de portas meias com as “casas” das famílias mais desafogadas.
Os poços, sem nascente, teciam as suas paredes de pedra “insonsa” (sem argamassa). Por este motivo são conhecidos por “poços rotos”, facilitando a textura das suas paredes a recepção das águas que penetram o solo nas suas imediações. Alguns poços são rodeados por uma vala servida por regueiras, o que facilita uma maior captura e infiltração das águas pluviais (veja-se o poço laranja da Ataíja de Baixo).
As cisternas diferenciam-se dos poços pelo sistema de cobertura e isolamento do depósito. A cisterna de “eira de poço” constitui um processo singular e engenhoso de aprovisionamento de água. O reservatório da cisterna nasce de uma concavidade natural da massa calcária cujas fendas são vedadas com barro. A superfície atapetada do lajedo propícia o declive que conduz as águas à boca da cisterna (insere-se nesta tipologia a cisterna cisterciense da Quinta de Val Ventos – Pia da Serra). Em alguns casos, as eiras de cereais potenciam a área de captação das águas das “eiras de poço”. Tanto as cisternas como os poços beneficiam da recepção das águas dos telhados das “casas” circunvizinhas (habitação e cómodos). Caleiras de pedra, de telha de canudo, de madeira aparelhada ou de folha, conduzem a água para o tanque da cisterna .
A água das cisternas e poços destinava-se, essencialmente, ao consumo do agregado familiar. Contudo, vemos algumas cisternas e poços nas fazendas (choisas) ao serviço das minúsculas manchas de regadio, na rega do milho quando o tempo não se mostrava azado e nos cercados em que se abriga o gado com a finalidade de o dessedentar, assim como nas imediações dos lagares de varas, quando estes estão distantes das lagoas e barreiros, para o caldeamento da massa da azeitona.
A profusão de contratos orais de fornecimento de água e a inclusão do acesso por parte da parentela ao velho poço ou cisterna familiar nos testamentos, constituem outros indicadores do valor crucial da água para estas comunidades.
Esta realidade vai se transformar com a difusão dos furos na década de oitenta e, finalmente, com o acesso à rede de água canalizada nos anos noventa.
Hoje temos a plena consciência que a água potável é um bem escasso e um dos problemas mais sérios que se colocam à manutenção dos hábitos civilizacionais alcançados no século XX. O património da água merece ser preservado e inserido em rotas turísticas (à semelhança do que podia ser lançado para o azeite com as visitas aos antigos lagares dos coutos, olivais monásticos; aos fornos de cal, entre tantos outros exemplos...).


António Valério Maduro


domingo, 13 de fevereiro de 2011

M 336 - CADERNETA DAS MEMÓRIAS

VELHAS GLÓRIAS DE ALCOBAÇA


Uma fotografia com história no dia do “Marquês”.O do livro.

Datada de 12 de Fevereiro de 2011, dia do lançamento de "Histórias de um Percurso - Fotobiografia- António Marques "MARQUÊS".
Antigo jogador do Ginásio de Alcobaça e da Académica de Coimbra.


Lourenço, de óculos escuros , e Artur Soares (a encolher a barriga) foram na década de 60 “bons de bola”. Jogaram no Ginásio de Alcobaça e foram dos melhores do seu tempo.

 E até foram campeões de futebol de salão.
A fotografia da entrega da taça foi feita em 1961.
Passaram 50 anos !
O Lourenço é o segundo da direita, logo seguido pelo Artur Soares.

(Os “Azuis” ganharam na final ao “Jabacuara” por 3-2).*


Depois…seguiram percursos diferentes.

O Lourenço (João de Matos Moura Lourenço) seguiu por alguns anos vida de futebolista profissional. E foi longe. Foi jogador da Selecção Nacional, no tempo dos “Magriços”. Vestiu a camisola do Sporting Clube de Portugal. E marcou muitos golos. Para o meu gostou marcou no entanto quatro a mais.
Aqueles no Estádio da Luz a um guarda-redes” anão”.
O Melo, que encaixou 4 golos do nosso conterrâneo Lourenço. .


O Artur(Artur do Rosário Soares) com uma finta “à Cristiano Ronaldo”, de que não registou a “patente” , chegou a ir treinar ao SCP, onde o Lourenço jogou durante 8 anos.
Mas terminou cedo a sua carreira de futebolista fixando-se em Alcobaça, onde é cidadão aposentado e estimado .
Tem “tertúlia” permanente numa das esplanadas do Rossio, onde é ouvido com admiração quando o Sporting ganha…
E temos que reconhecer que não é para menos!

Há muito que deixarem as lides futebolísticas mas continuam a ser olhados pelas gentes da sua terra como “cromos da bola”. Dos” difíceis”.

Daqueles que os “miúdos “do seu tempo colaram nas cadernetas da vida.

A das memórias.

JERO

*A equipa dos "AZUIS", que venceu o I Torneio Popular de Futebol de Salão, realizado no mês de Setembro de 1961, alinhou na final com M.Isaac(g.redes), Moura Lourenço, Artur Soares, Manuel Virgílio (já falecido), Zé Eduardo, Nelito (já falecido) e Manuel Alberto, conforme a ordem da fotografia.
Entrega a taça ao "capitão" M.Alberto a patinadora Jesida Varela, do S.L.Benfica. Este torneio realizou-se em benefício do Ginásio Clube de Alcobaça e das vítimas do terrorismo em Angola.
(Notícia do Jornal O ALCOA de 18 de Setembro de 1961).



sábado, 5 de fevereiro de 2011

M 335 - A TRAGICOMÉDIA DO ENSINO

Querem que eu dê aulas!?...





Retrato fiel da tragicomédia do ensino

Faço projectos, planos, planificações;
Sou membro de assembleias, conselhos, reuniões;
Escrevo actas, relatórios e relações;
Faço inventários, requerimentos e requisições;
Escrevo actas, faço contactos e comunicações;
Consulto ordens de serviço, circulares, normativos e legislações;
Preencho impressos, grelhas, fichas e observações;
Faço regimentos, regulamentos, projectos, planos, planificações;
Faço cópias de tudo, dossiers, arquivos e encadernações;
Participo em actividades, eventos, festividades e acções;
Faço balanços, balancetes e tiro conclusões;
Apresento, relato, critico e envolvo-me em auto-avaliações;
Defino estratégias, critérios, objectivos e consecuções;
Leio, corrijo, aprovo, releio múltiplas redacções;
Informo-me, investigo, estudo, frequento formações;
Redijo ordens, participações e autorizações;
Lavro actas, escrevo, participo em reuniões;
E mais actas, planos, projectos e avaliações;
E reuniões e reuniões e mais reuniões!...


E depois ouço, alunos, pais, coordenadores, directores, inspectores, observadores, secretários de estado, a ministra e, como se não bastasse, outros professores, e a ministra!...


Elaboro, verifico, analiso, avalio, aprovo;
Assino, rubrico, sumario, sintetizo, informo;
Averiguo, estudo, consulto, concluo,
Coisas curriculares, disciplinares, departamentais,
Educativas, pedagógicas, comportamentais,
De comunidade, de grupo, de turma, individuais,
Particulares, sigilosas, públicas, gerais,
Internas, externas, locais, nacionais,
Anuais, mensais, semanais, diárias e ainda querem mais?


Que eu dê aulas!?...

Helena Damião

Respigado do blog "De Rerum Natura"
(com um agradecimento especial ao meu camarigo Vasco da Gama,
Homem Grande de Buarcos e do Mundo)

JERO


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

M 334 - PONTES DO PASSADO...

PONTE PARA O REGRESSO”
As memórias fotográficas são várias e têm 40 e tal anos.
Mas...a "fotografia" foi tirada em finais de 1964 no Rio Cacheu- Guiné, numa povoação à beira rio chamada Binta. A viagem não tinha sido de recreio e o “Alexandre da Silva”, que tinha navegado de Bissau até aquele local – mais ou menos a oitenta quilómetros acima da foz do Cacheu - levava tropas e não turistas.

O navio era de carga e tinham sido precisas cerca de 17 horas de navegação para acostar ao pontão da fotografia, pomposamente apelidado de cais...


Dá para perceber pela fotografia que o rio era bastante largo frente a Binta, povoação com alguns grandes armazéns de telhados de zinco .


Para lá desta zona “urbana” haviam ainda 4 ou 5 habitações de pedra e cal de madeireiros e um perímetro delimitado por arame farpado “apelidado “ de quartel.Com uma forma mais menos rectangular.


Vivemos neste local – cerca de 170 militares da Companhia de Caçadores 675 – durante dois anos. Dois longos anos!...


Vezes sem conta nos sentámos nas tábuas deste pontão, habitualmente frequentado por pescadores indígenas, que remendavam as suas redes, enquanto fumavam cachimbo e mascavam “cola”.


Vezes sem conta olhávamos “para lá” do pontão ...sonhando com o regresso, curtindo saudades, relendo cartas dos familiares e das namoradas, chorando lágrimas furtivas, lambendo feridas do corpo e da alma, quando regressávamos das patrulhas das matas do Norte da Guiné.


Deste pontão descobrimos amanheceres cinzentos, carregados de neblina que anunciavam um novo dia a descontar na “conta-corrente” dos dois anos de comissão.


E ao fim da tarde - quando nos conseguíamos abstrair da “guerra” desse dia ou da que estava marcada para o dia seguinte – descobríamos o pôr do sol avermelhado de África , quente, sufocante, agressivo, misterioso, mas com um cheiro único, envolvente, pesado que nos esmagava os sentidos, entranhando-se na pele e na memória dos olfactos.


Havia dias em que este pontão fervilhava de agitação no desembarque de géneros de pequenos barcos a motor que subiam o rio até Farim, onde se situava a sede do Batalhão 490, cerca de 20 kms. mais acima. Devido à guerra o rio era uma via mais segura para as populações se deslocarem e as LDM (lanchas de desembarque das do tipo daquelas que se celebrizaram no desembarque da Normandia) partiam apinhadas dos  mandingas e fulas da região, que em cada viagem transportavam quase todos os seus haveres – galinhas, cabritos, máquinas de costura, bicicletas e crianças, muitas crianças.


De vez quando chegava um navio patrulha o que animava o nosso dia a dia. A” guerra” da Marinha sempre foi melhor do que a dos “caçadores” - leia-se “guerra do ar condicionado” , da cerveja fresca para os praças e de alguma garrafa de “whisky” para as patentes mais elevadas. Há que referir que a chegada da Marinha também resultava para nós ,"caçadores"na "mais valia" duma sessão de cinema com energia fornecida pelos geradores do navio.


Deste pontão arriscava-se de vez em quando uma viagem em piroga para apanhar uns peixes para melhorar o rancho ou, para alguns mais aventureiros, dar um “tirinho” nalgum crocodilo sonolento que estivesse a apanhar sol nas margens. Para trazer uma pele para uma mala ou para uns sapatos para a namorada tinha que ser com a “Mauser” porque as balas da” G3” não furavam a pele dos crocodilos .Quando havia crocodilo para esfolar havia também “chatisse” com os habitantes de Binta que eram protegidos pela tropa mas que não davam “baldas” no que respeita aos crocodilos do “seu” rio. Queres levar a pele para Lisboa pagas ....
Ali chegámos em meados de 1964 meninos, de vinte e poucos anos, miudos e dali partimos homens de traços vincados e almas marcadas pela dureza de uma guerra. Vimos este pontão pela última vez em Maio de 1966.


O simbolismo da sua imagem, desta fotografia com alma está “pendurada” na sala de estar da minha casa, em Alcobaça. A maioria das pessoas que me visita quase não dará por ela.


Para mim, no capital do meu património de recordações, ela diz muito. Sem palavras recorda-me os afectos, a minha juventude, a minha generosidade e o meu gosto pela fotografia. Apetecia-me dizer, para terminar, que continuo fotógrafo. Mas seria pretencioso . Para mim e mais 170 irmãos esta fotografia do pontão do Cacheu representa a magia de uma época .






Contrariando a opinião dos Mestres que defendem que “uma fotografia não tem que ter título”esta minha fotografia tem nome.


"Ponte para o regresso."



Pontes do passado ...na memória do presente ..até sempe!
JERO