Memória dos efeitos do Terramoto em Alcobaça
Voltamos ao tema ,mais uma vez, em 1 de Novembro de 2009.
Quem é que não é sensível a esta grande catástrofe do dia 1 de Novembro de 1755!?
Grandes jornais nacionais fizeram “cadernos” notáveis sobre os 250 anos do terramoto de 1755.
Confesso que impressionado pela sua leitura, nomeadamente pelos trabalhos do “Expresso” de 22 de Outubro e da “Visão” de 27 de Outubro de 2005, resolvi à minha dimensão, pesquisar alguma coisa sobre os efeitos que o terramoto teria causado ao tempo em Alcobaça.
É dessa pesquisa documental e de algumas conversas com alcobacenses ilustres que apurei o que o leitor pode ler seguidamente.
“Estragos profundos no castelo e em casas”[1]
“Um violento terramoto sacudiu Alcobaça e a sua periferia destruindo a Sacristia e o Refeitório do Mosteiro e derrubando as estátuas de D.João III, D.Henrique e D.João IV em falta na Sala dos reis, do Mosteiro. As nascentes do Rio Alcoa haviam secado completamente, só voltando a brotar a água aos 6-11-1775” [2]
“O castelo de Alcobaça serviu durante muito tempo de forte prisão até que foi arruinado pelo terramoto de 1755”[3]
De uma conversa com o Dr. Rui Rasquilho, especialmente em relação aos danos que o terramoto de 1755 teria causado no Mosteiro de Alcobaça, referiu-me algumas precisões em relação aos dados que entretanto eu já tinha pesquisado.
A abóbada da sacristia que caiu não foi a da parte de fora, pelo que os danos resultantes do terramoto nesta área do Mosteiro não foram tão catastróficos como é geralmente admitido. No entanto a Porta das Sacristia que chegou aos nossos dias não é da época.
O Colégio de Nossa Senhora da Conceição , que se situava por de trás do que é hoje a Ala Sul, foi gravemente afectado pelo sismo.
[4]
Também as abóbadas da Hospedaria , na Ala Norte, abriram grandes fendas.
Caiu dos seu pedestal a estátua de D.Afonso Henriques, a mesma que veio a ser atingido por um raio em 1957.
Está por fazer uma investigação mais detalhada sobre este tema que eventualmente se poderia centrar nos arquivos nacionais que referirão através das relações de obras, outros danos nomeadamente em zonas do Mosteiro onde mais tarde esteve instalado o “Lar Residencial”.
O Engº. José Pedro Duarte Tavares no seu trabalho “Hidráulica –Linhas Gerais do Sistema Hidráulico Cisterciense em Alcobaça”, publicado no “Roteiro Cultural da Região de Alcobaça-A Oeste da Serra dos Candeeiros”[5] refere que no “Conjunto Edificado Monumental do Mosteiro de Alcobaça os efeitos da grande cheia de 11 de Novembro de 1772 causaram maiores prejuízos que o Terramoto do dia de Todos os Santos de 1755”.
Ainda em relação à Sacristia Manuelina escreveu Dom Maur Cocheril no seu livro “Alcobaça Abadia Cisterciense de Alcobaça” “que foi destruída pelo terramoto de 1755.Dela nada mais restam que o átrio da abóbada manuelina , verosimilmente análoga à da sacristia desaparecida , a porta de entrada e, do lado exterior, os contrafortes”.[6]
O mesmo autor sustenta na mesma obra [7] que “as estátuas dos reis de Portugal … da sala dos Reis…assentes em mísulas… a meia altura das paredes… no terceiro quartel do século XVIII …constava de vinte e três estátuas. Actualmente (Edição de 1981) consta (a colecção)só de dezanove estátuas e acaba na de D.José I. As que faltam foram partidas”.
E deixámos propositadamente para o final o registo do Vigário José de Almeida Brandão, que na sua obra “Memória Paroquial” refere os grandes estragos em Alcobaça com a minúcia que se segue:
“… no rossio, fronteiro ao Mosteiro, a maior parte das casas ruiu e, nas oito ruas , nos becos e cantos sem saída que então havia em Alcobaça ,as que o megacismo não derribou, ficaram abaladas e desaprumadas, e rendida quase toda a cantaria das janelas.O Real Mosteiro…igualmente padeceu ruína…com muito mais avolumada perda com respeito ao primor, valentia e custo das suas arruinadas partes. As abóbadas da sua grande e sumptuosa Igreja se abalaram e raxinaram com medonhas aberturas; o mesmo sucedeu ao seu grande refeitório… As abóbadas da sua sacristia se abateram e caíram por terra com considerável perda…Todas as mais abóbadas dos seus principais dormitórios e da noviciaria e enfermaria se arruinaram… Todas as mais partes de que se constitue o grande corpo do dito Mosteiro experimentaram gravíssima ruína caindo muitas paredes, e a capa de cantaria, que ornava a parte exterior da sua Igreja para a parte sul; e da mesma sorte alguns dos fortes arcos que fortificavam a capela-mor na sua circunferência pela parte exterior, e assim mesmo muitas colunatas do regular sobre claustro, que ornavam e firmavam seus primorosos arcos. O mesmo sucedeu ao claustro da Real Hospedaria e esta nas sua paredes e abóbadas recebeu tal ruína que a faz inabitável…Por efeito do formidável abalo de terra, o abundante manancial da Chaqueda, que abastecia o Mosteiro e a povoação criada à sua sombra,estancou, ficando sem água os frades e os outros moradores de Alcobaça.
Por isso, logo a 5 daquele fatal mês de Novembro a Comunidade acompanhada de infinito povo foi em procissão ao mesmo sítio onde a água nascia…e ali fez uma breve prática o Revº.Pe. Fr. Luís de S.Bento, Dom Abade que então era do Colégio da Conceição de Alcobaça… e todos tiveram a consolação de ver a fonte restituída ao seu curso natural prodigalizando com dantes a sua copiosa corrente”.
Por aqui nos ficamos com a sensação… que haverá ainda muito mais para pesquisar.
Mas quem dá o que tem…
JERO
[1] “VISÃO”Edição Especial – 27 de Outubro de 2005
[2]“Espaços ADEPA 1”,a pgs. 33” Alcobaça na panorâmica dos Sismos do continente português “.Texto de Domingos José Soares Rebelo.
[3] “Breve História de Alcobaça”a pgs.20, de Bernardo Villa Nova e Silvino Villa Nova.
[4] Imagem de “Alcobaciana”-Colectânea Histórica, Arqueológica, Etnográfica e Artística da Região de Alcobaça, por Aires Augusto Nascimento.
[5] Edição da C.M.Alcobaça com direcção e organização da ADEPA
[6] Pgs. 53 de “ Alcobaça Abadia Cisterciense de Alcobaça” .
[7] Pgs..97 de“Alcobaça Abadia Cisterciense de Alcobaça”
Voltamos ao tema ,mais uma vez, em 1 de Novembro de 2009.
Quem é que não é sensível a esta grande catástrofe do dia 1 de Novembro de 1755!?
Grandes jornais nacionais fizeram “cadernos” notáveis sobre os 250 anos do terramoto de 1755.
Confesso que impressionado pela sua leitura, nomeadamente pelos trabalhos do “Expresso” de 22 de Outubro e da “Visão” de 27 de Outubro de 2005, resolvi à minha dimensão, pesquisar alguma coisa sobre os efeitos que o terramoto teria causado ao tempo em Alcobaça.
É dessa pesquisa documental e de algumas conversas com alcobacenses ilustres que apurei o que o leitor pode ler seguidamente.
“Estragos profundos no castelo e em casas”[1]
“Um violento terramoto sacudiu Alcobaça e a sua periferia destruindo a Sacristia e o Refeitório do Mosteiro e derrubando as estátuas de D.João III, D.Henrique e D.João IV em falta na Sala dos reis, do Mosteiro. As nascentes do Rio Alcoa haviam secado completamente, só voltando a brotar a água aos 6-11-1775” [2]
“O castelo de Alcobaça serviu durante muito tempo de forte prisão até que foi arruinado pelo terramoto de 1755”[3]
De uma conversa com o Dr. Rui Rasquilho, especialmente em relação aos danos que o terramoto de 1755 teria causado no Mosteiro de Alcobaça, referiu-me algumas precisões em relação aos dados que entretanto eu já tinha pesquisado.
A abóbada da sacristia que caiu não foi a da parte de fora, pelo que os danos resultantes do terramoto nesta área do Mosteiro não foram tão catastróficos como é geralmente admitido. No entanto a Porta das Sacristia que chegou aos nossos dias não é da época.
O Colégio de Nossa Senhora da Conceição , que se situava por de trás do que é hoje a Ala Sul, foi gravemente afectado pelo sismo.
[4]
Também as abóbadas da Hospedaria , na Ala Norte, abriram grandes fendas.
Caiu dos seu pedestal a estátua de D.Afonso Henriques, a mesma que veio a ser atingido por um raio em 1957.
Está por fazer uma investigação mais detalhada sobre este tema que eventualmente se poderia centrar nos arquivos nacionais que referirão através das relações de obras, outros danos nomeadamente em zonas do Mosteiro onde mais tarde esteve instalado o “Lar Residencial”.
O Engº. José Pedro Duarte Tavares no seu trabalho “Hidráulica –Linhas Gerais do Sistema Hidráulico Cisterciense em Alcobaça”, publicado no “Roteiro Cultural da Região de Alcobaça-A Oeste da Serra dos Candeeiros”[5] refere que no “Conjunto Edificado Monumental do Mosteiro de Alcobaça os efeitos da grande cheia de 11 de Novembro de 1772 causaram maiores prejuízos que o Terramoto do dia de Todos os Santos de 1755”.
Ainda em relação à Sacristia Manuelina escreveu Dom Maur Cocheril no seu livro “Alcobaça Abadia Cisterciense de Alcobaça” “que foi destruída pelo terramoto de 1755.Dela nada mais restam que o átrio da abóbada manuelina , verosimilmente análoga à da sacristia desaparecida , a porta de entrada e, do lado exterior, os contrafortes”.[6]
O mesmo autor sustenta na mesma obra [7] que “as estátuas dos reis de Portugal … da sala dos Reis…assentes em mísulas… a meia altura das paredes… no terceiro quartel do século XVIII …constava de vinte e três estátuas. Actualmente (Edição de 1981) consta (a colecção)só de dezanove estátuas e acaba na de D.José I. As que faltam foram partidas”.
E deixámos propositadamente para o final o registo do Vigário José de Almeida Brandão, que na sua obra “Memória Paroquial” refere os grandes estragos em Alcobaça com a minúcia que se segue:
“… no rossio, fronteiro ao Mosteiro, a maior parte das casas ruiu e, nas oito ruas , nos becos e cantos sem saída que então havia em Alcobaça ,as que o megacismo não derribou, ficaram abaladas e desaprumadas, e rendida quase toda a cantaria das janelas.O Real Mosteiro…igualmente padeceu ruína…com muito mais avolumada perda com respeito ao primor, valentia e custo das suas arruinadas partes. As abóbadas da sua grande e sumptuosa Igreja se abalaram e raxinaram com medonhas aberturas; o mesmo sucedeu ao seu grande refeitório… As abóbadas da sua sacristia se abateram e caíram por terra com considerável perda…Todas as mais abóbadas dos seus principais dormitórios e da noviciaria e enfermaria se arruinaram… Todas as mais partes de que se constitue o grande corpo do dito Mosteiro experimentaram gravíssima ruína caindo muitas paredes, e a capa de cantaria, que ornava a parte exterior da sua Igreja para a parte sul; e da mesma sorte alguns dos fortes arcos que fortificavam a capela-mor na sua circunferência pela parte exterior, e assim mesmo muitas colunatas do regular sobre claustro, que ornavam e firmavam seus primorosos arcos. O mesmo sucedeu ao claustro da Real Hospedaria e esta nas sua paredes e abóbadas recebeu tal ruína que a faz inabitável…Por efeito do formidável abalo de terra, o abundante manancial da Chaqueda, que abastecia o Mosteiro e a povoação criada à sua sombra,estancou, ficando sem água os frades e os outros moradores de Alcobaça.
Por isso, logo a 5 daquele fatal mês de Novembro a Comunidade acompanhada de infinito povo foi em procissão ao mesmo sítio onde a água nascia…e ali fez uma breve prática o Revº.Pe. Fr. Luís de S.Bento, Dom Abade que então era do Colégio da Conceição de Alcobaça… e todos tiveram a consolação de ver a fonte restituída ao seu curso natural prodigalizando com dantes a sua copiosa corrente”.
Por aqui nos ficamos com a sensação… que haverá ainda muito mais para pesquisar.
Mas quem dá o que tem…
JERO
[1] “VISÃO”Edição Especial – 27 de Outubro de 2005
[2]“Espaços ADEPA 1”,a pgs. 33” Alcobaça na panorâmica dos Sismos do continente português “.Texto de Domingos José Soares Rebelo.
[3] “Breve História de Alcobaça”a pgs.20, de Bernardo Villa Nova e Silvino Villa Nova.
[4] Imagem de “Alcobaciana”-Colectânea Histórica, Arqueológica, Etnográfica e Artística da Região de Alcobaça, por Aires Augusto Nascimento.
[5] Edição da C.M.Alcobaça com direcção e organização da ADEPA
[6] Pgs. 53 de “ Alcobaça Abadia Cisterciense de Alcobaça” .
[7] Pgs..97 de“Alcobaça Abadia Cisterciense de Alcobaça”
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