Memórias … de Fátima…em dois tempos…
A próxima visita do Papa Bento XVI a Portugal, com passagem por Fátima no próximo dia 13 de Maio, fizeram-me despertar longínquas recordações que ficaram arrumadas num cantinho da minha cabeça e que, de repente, voltaram.
1-A mais longínqua tem a ver com o Encerramento do Ano Santo em 13 de Outubro de 1951.
Tinha eu então 11 anos e vivia com os meus Pais no 1º. Andar de uma casa da Rua Afonso de Albuquerque, nº. 19 B, em Alcobaça.
Lembro-me de grande agitação e de grandes limpezas a cargo da minha Mãe porque o primo Fernandinho tinha pedido para alojar na nossa casa um senhor muito importante. O Primo Fernandinho, pessoa algo exótica e autêntica "grafonola falante", chamava-se Fernando Madeira, e trabalhava então da Embaixada dos Países Baixos, em Lisboa. Falava muitas línguas estrangeiras(era tradutor) e quando estava de férias em Alcobaça falava… por tudo que era sítio. Nunca mais encontrei na vida uma pessoa como ele.
Mas voltando à história desta longínqua memória – já vão quase 60 anos …- recorda-me de ouvir dizer em casa que havia cerimónias muito importantes em Fátima, que todos os hotéis da região estavam ocupados até ao telhado e o que o Primo Fernandinho tinha pedido para ficar uma noite em nossa casa o Embaixador da Holanda ou…dos Países Baixos.
Lembro-me do enorme nervoso miudinho da minha mãe quando chegou …”o dia do Embaixador”.Vi a cena da chegada escondido atrás das cortinas de uma janela do 1º.andar . Parou uma carro imponente à nossa porta e saíram dois senhores muito bem vestidos.
Um dos senhores, obviamente o Embaixador, perguntou à entrada de casa ,num português arrastado e gutural, se a sua presença não molesta…
A minha mãe garantiu desde logo que em casa ninguém tinha nenhuma moléstia…
Nem um nem outra se devem ter percebido mas …tudo bem. Cá dormiram na noite de 12 de Outubro nas melhores camas e com os melhores lençóis(e cobertores, porque o tempo era de frio) e na manhã do dia seguinte, depois de muitos agradecimentos, seguiram para o seu destino a 40 kms.- Fátima.
Está claro que esta confusão do molesta (incomoda) do Embaixador e da moléstia (doença contagiosa) da minha mãe deu para anos de galhofa em nossa casa .
A esta distância no tempo recorda-me de,dias depois, ter chegado uma carta com o timbre da Embaixada dos Países Baixos dirigida aos meus Pais com um simpático agradecimento pela estadia de uma noite em Alcobaça …
O nome do Embaixador – Van Kleffens -que anos mais tarde(em 1954) veio a ser Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas ficou-me gravado na memória.Vá-se lá saber porquê!
Num recorte de um dos jornais da época (“Gazeta dos Caminhos de Ferro”, nº. 1532, de 6.Outubro.1951, revista quinzenal com preço de capa de 5$00) referia-se que a multidão que se reuniu então na Cova de Iria teria ultrapassado um milhão de pessoas, o que explica o porquê da “cunha” do Primo Fernandinho para o Embaixador Van Kleffens ficar na “mansão” da família Oliveira, pois os hotéis na região de Fátima/Leiria estavam sem quartos vagos.
Socorrendo-nos da obra de Joaquim Vieira, “Portugal Século XX”, no seu volume correspondente à década de 1959-1960,recordamos que «…é nos anos 50 que Fátima se projecta como “altar do mundo” em que os seus promotores a pretendem transformar. Logo em 1951 Pio XII transfere para o santuário o encerramento do Ano Santo, enviando às cerimónias o Cardeal Federico Tedeschini ».
Memórias dos anos cinquenta …sessenta anos depois.
Numa próxima postagem recordaremos uma segunda"memória" vivida na visita de Paulo VI em 13 de Maio de 1967.
JERO
Grande e boa memória
ResponderEliminarPor aí a recordar
Porque ficou na história
Já não lhe pôde escapar
Há coisas com que brincamos
Outras queremos esquecer
Mas as que nós adoramos
Queremo-las reviver!!!
Reviver com alegria
Amor e dedicação
Digo aqui sem ironia
E alguma empatia
Entre "memória" e tradição
Daqui a três semanas
Mais há para recordar!!!
Bjo
Áurea