NINGUEM FICA PARA TRÁS
“Ninguém fica para trás” é um tema e um título que diz muito aos ex-combatentes .
De vez em quando as televisões e jornais do País pegam nele.
No que nos diz respeito confessamos que nem sempre os “compramos”. Se é jornal damos uma vista de olhos…Se é televisão dou-lhe uns segundos e se não me agrada passo à frente!
Desta vez fiz uma excepção e não me arrependi.
Está de chuva e estava em casa na tarde de 4ª. Feira, 21 de Outubro.
Por volta das 16H00 “passei” pela SIC e vi a Fátima Lopes (jornalista que aprecio particularmente pela sua componente humanista) que entrevistava e “deixava falar” uma senhora de quarenta e poucos anos, que tratava por Conceição.
Rapidamente percebi que se falava da recuperação dos corpos (das ossadas!) dos três paraquedistas de Guidage mortos em combate em Maio de 1973.
A Conceição é arqueóloga e nessa qualidade integrou a operação de resgate que teve lugar no Verão de 2008.
A dignidade e coragem com que falava da identificação das ossadas do seu irmão deixaram-me pregado à cadeira …e extremamente comovido.
«Estavam 45 graus de temperatura.Trabalhava perto de uma colega antropóloga. Nunca senti calor, sede ou fome. Sentia-me tranquila e calma. Esperava um “sinal” e aconteceu. Numa comunidade científica eu não podia confessar que esperava “um sinal dó meu irmão”…»
As campas já tinham descobertas graças a um velho mapa, e ao equipamento do geofísico, que tinha detectado sinais no subsolo.À medida que as escavações avançaram, confirmou-se a presença dos esqueletos daqueles soldados e…mais alguns.
Afinal eram 10 campas.
«Ao escavar a quarta campa encontrei uma pequena pedra vermelha muita suja de terra. Limpei-a como arqueóloga mas quando percebi que tinha o feitio de um coração…agarrei-a com mais força. Ali estava “o sinal” do meu irmão! Sem confessar o meu palpite dei a pedra à colega antropóloga e disse-lhe que ,depois de identificado o ocupante daquela campa ,esse “coração” devia ser entregue à família.
Em Guidage estavam quatro antropólogos, uma arqueóloga, um geofísico, e quatro militares que tinham combatido naquela região, há 35 anos, durante a guerra colonial.Em 23 de Maio de 1973 tombaram em combate, alem dos três paraquedistas outros cincos militares portugueses e três guineenses».[1]
“Ninguém fica para trás” é um tema e um título que diz muito aos ex-combatentes .
De vez em quando as televisões e jornais do País pegam nele.
No que nos diz respeito confessamos que nem sempre os “compramos”. Se é jornal damos uma vista de olhos…Se é televisão dou-lhe uns segundos e se não me agrada passo à frente!
Desta vez fiz uma excepção e não me arrependi.
Está de chuva e estava em casa na tarde de 4ª. Feira, 21 de Outubro.
Por volta das 16H00 “passei” pela SIC e vi a Fátima Lopes (jornalista que aprecio particularmente pela sua componente humanista) que entrevistava e “deixava falar” uma senhora de quarenta e poucos anos, que tratava por Conceição.
Rapidamente percebi que se falava da recuperação dos corpos (das ossadas!) dos três paraquedistas de Guidage mortos em combate em Maio de 1973.
A Conceição é arqueóloga e nessa qualidade integrou a operação de resgate que teve lugar no Verão de 2008.
A dignidade e coragem com que falava da identificação das ossadas do seu irmão deixaram-me pregado à cadeira …e extremamente comovido.
«Estavam 45 graus de temperatura.Trabalhava perto de uma colega antropóloga. Nunca senti calor, sede ou fome. Sentia-me tranquila e calma. Esperava um “sinal” e aconteceu. Numa comunidade científica eu não podia confessar que esperava “um sinal dó meu irmão”…»
As campas já tinham descobertas graças a um velho mapa, e ao equipamento do geofísico, que tinha detectado sinais no subsolo.À medida que as escavações avançaram, confirmou-se a presença dos esqueletos daqueles soldados e…mais alguns.
Afinal eram 10 campas.
«Ao escavar a quarta campa encontrei uma pequena pedra vermelha muita suja de terra. Limpei-a como arqueóloga mas quando percebi que tinha o feitio de um coração…agarrei-a com mais força. Ali estava “o sinal” do meu irmão! Sem confessar o meu palpite dei a pedra à colega antropóloga e disse-lhe que ,depois de identificado o ocupante daquela campa ,esse “coração” devia ser entregue à família.
Em Guidage estavam quatro antropólogos, uma arqueóloga, um geofísico, e quatro militares que tinham combatido naquela região, há 35 anos, durante a guerra colonial.Em 23 de Maio de 1973 tombaram em combate, alem dos três paraquedistas outros cincos militares portugueses e três guineenses».[1]
«Veio-se o confirmar que as ossadas do meu irmão eram mesmo as da quarta campa, a que tinha o “coração” de pedra, de cor vermelha.
E tive direito a trazê-lo comigo. E hoje uso-o, pendurado num fio de ouro, ao peito. Junto do meu coração».
Não era só a entrevistadora que estava comovida. De vez em quando as câmaras focavam a assistência e parecia que as pessoas nem respiravam Os 3 paraquedistas que morreram em Maio de 1973 regressaram às suas terras natais um mês depois da Conceição ter voltado da Guiné. No Verão de 2008. Eles e as ossadas dos outros sete militares.
«Não iríamos deixar ninguém para trás», disse convictamente a Conceição.
Finalmente tiveram eles – e as suas famílias - direito a um funeral. Com honras militares e com o preito e homenagem de antigos combatentes.«As cerimónias fúnebres, com salvas de tiros de canhão impressionaram-nos muito. A minha mãe, hoje com 83 anos , sofreu muito. Mas conseguimos finalmente fechar um capítulo que tinha de ser escrito.
O meu irmão repousa junto de nós»
E Conceição termina o seu depoimento dizendo:
«Quero participar em mais missões de resgate. Tem que haver vontade de fazer regressar às suas terras natais os militares que morreram na guerra colonial.»
E tive direito a trazê-lo comigo. E hoje uso-o, pendurado num fio de ouro, ao peito. Junto do meu coração».
Não era só a entrevistadora que estava comovida. De vez em quando as câmaras focavam a assistência e parecia que as pessoas nem respiravam Os 3 paraquedistas que morreram em Maio de 1973 regressaram às suas terras natais um mês depois da Conceição ter voltado da Guiné. No Verão de 2008. Eles e as ossadas dos outros sete militares.
«Não iríamos deixar ninguém para trás», disse convictamente a Conceição.
Finalmente tiveram eles – e as suas famílias - direito a um funeral. Com honras militares e com o preito e homenagem de antigos combatentes.«As cerimónias fúnebres, com salvas de tiros de canhão impressionaram-nos muito. A minha mãe, hoje com 83 anos , sofreu muito. Mas conseguimos finalmente fechar um capítulo que tinha de ser escrito.
O meu irmão repousa junto de nós»
E Conceição termina o seu depoimento dizendo:
«Quero participar em mais missões de resgate. Tem que haver vontade de fazer regressar às suas terras natais os militares que morreram na guerra colonial.»
E agora dizemos nós:
Ninguém fica para trás!?Infelizmente alguns ficaram.A saga dos paraquedistas de Guidage poderia – e deveria – ser o mote para os representantes do Estado Português tratarem com os governos da CPLP(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) da transladação condigna dos restos mortais dos militares que “caíram” em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.Custará dinheiro? Obviamente.O nosso Ministério da Defesa não terá disponibilidades para tal!? Sabemos a resposta antecipadamente…Mau grado o interesse …por constrangimentos orçamentais…etc., etc.Deixamos uma sugestão.
A recente Lei nº. 3/2009, a tal que passou o CEP para SEP, não terá criado algum reforço e/ou disponibilidade orçamental!? …A nossa sugestão é a seguinte. Já que estão com “a mão na massa” apliquem os valores disponíveis para pagar uma “divida de honra” que têm com os antigos combatentes . Há mais de 30 anos que muitas famílias portuguesas esperam o regresso dos seus soldados, da guerra colonial. O Estado português enviou-os para a frente de combate, mas não resgatou os corpos de quem morreu na guerra.Providenciem pelo seu regresso.Para que um dia... possamos dizer...finalmente:
Ninguém fica para trás!?Infelizmente alguns ficaram.A saga dos paraquedistas de Guidage poderia – e deveria – ser o mote para os representantes do Estado Português tratarem com os governos da CPLP(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) da transladação condigna dos restos mortais dos militares que “caíram” em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.Custará dinheiro? Obviamente.O nosso Ministério da Defesa não terá disponibilidades para tal!? Sabemos a resposta antecipadamente…Mau grado o interesse …por constrangimentos orçamentais…etc., etc.Deixamos uma sugestão.
A recente Lei nº. 3/2009, a tal que passou o CEP para SEP, não terá criado algum reforço e/ou disponibilidade orçamental!? …A nossa sugestão é a seguinte. Já que estão com “a mão na massa” apliquem os valores disponíveis para pagar uma “divida de honra” que têm com os antigos combatentes . Há mais de 30 anos que muitas famílias portuguesas esperam o regresso dos seus soldados, da guerra colonial. O Estado português enviou-os para a frente de combate, mas não resgatou os corpos de quem morreu na guerra.Providenciem pelo seu regresso.Para que um dia... possamos dizer...finalmente:
Ninguém ficou para trás.
JERO
[1] O Início do ataque do PAIGC ao quartel de Guidage, no Norte da Guiné deu-se em 8 de Maio de 1973.Na operação de auxílio, reabastecimento e contra-ofensiva, que durou de 8 de Maio a 8 de Junho de 1973, as forças portuguesas tiveram 39 mortos e 122 feridos. Pelo menos seis viaturas militares de vários tipos foram destruídas e foram abatidos três aviões (um T6 e dois DO27). Só a unidade de Guidage contabilizou sete mortos e 30 feridos, todos militares. Nos cerca de 20 dias que ficou cercada, Guidage esteve sujeita a 43 ataques com foguetões de 122m/m, artilharia e morteiros. Todos os edifícios do quartel foram danificados. A unidade, que, no conjunto, teve mais mortos foi o Batalhão de Comandos: dez. Sofreu ainda 22 feridos, quase todos graves, e três desaparecidos".
[1] O Início do ataque do PAIGC ao quartel de Guidage, no Norte da Guiné deu-se em 8 de Maio de 1973.Na operação de auxílio, reabastecimento e contra-ofensiva, que durou de 8 de Maio a 8 de Junho de 1973, as forças portuguesas tiveram 39 mortos e 122 feridos. Pelo menos seis viaturas militares de vários tipos foram destruídas e foram abatidos três aviões (um T6 e dois DO27). Só a unidade de Guidage contabilizou sete mortos e 30 feridos, todos militares. Nos cerca de 20 dias que ficou cercada, Guidage esteve sujeita a 43 ataques com foguetões de 122m/m, artilharia e morteiros. Todos os edifícios do quartel foram danificados. A unidade, que, no conjunto, teve mais mortos foi o Batalhão de Comandos: dez. Sofreu ainda 22 feridos, quase todos graves, e três desaparecidos".
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