Levem-no com cuidadinho…
O casal vivia da agricultura e habitava numa freguesia do concelho de Alcobaça numa zona por onde já tinha bordejado a Lagoa da Pederneira uns bons séculos antes desta nossa estória que aconteceu há uns bons setenta anos!
O local onde tudo se passou era um bocado longe de tudo mas o mau feitio do velho agricultor , cujo nome não interessa para a nossa estória, era conhecido dos vizinhos mais próximos e tinha chegado mesmo à sede da freguesia.
Com o passar do tempo a sua resmunguice natural refinou e contava-se entre os mais próximos do casal que uma mulher capaz de aturar tal criatura só podia ser mesmo uma santa. Não tugia nem mugia e lá ia aguentando a sorte que Deus lhe dera quando uniu os seus destinos com o jovem que, já no tempo do namoro , não era muito dado a carinhos e bons modos. Trabalhador sim –de sol a sol -mas sorrisos ninguém se lembrava de lhos ter visto .
Meses seguidos deixou de ser visto na freguesia e constou que estava doente.
Numa rara visita de um dos seus familiares o velhote estava tão mal que o seu parente foi procurar ajuda.
Quando esta chegou… era tarde.
O velhote da nossa estória parecia ter dado o último suspiro.
Chamado o cangalheiro lá apareceu no dia seguinte com o caixão às costas do seu burro Como referimos no princípio da nossa estória o local era ermo e caminhos só chegariam muitos anos mais tarde.
A viagem do finado às costas do burro do cangalheiro foi acidentada e por diversas vezes o caixão veio ao chão .
Os poucos acompanhantes diziam mal da sua vida mas a cada queda … lá voltavam a equilibrar o caixão nas costas do jumento .Estamos convencidos que este …só não desistiu porque os burros (naquele tempo) não tinham opinião…
Chegado o funéreo cortejo à igreja preparou-se o velório e..deu-se o milagre!!!
O velho agricultou começou a mexer-se dentro do caixão e passado o pasmo inicial alguém reparou …e gritou (para espantar o susto) que o “morto” estava vivo.
E era efectivamente verdade.
Muito debilitado o velho agricultor foi, horas mais tarde, levado ao seu longínquo casal onde a “ex-viuva” o recebeu de olhos arregalados …
Boa mulher não se esqueceu de agradecer aos vizinhos todos os trabalhos que tinham tido.
O acontecimento deu brado na freguesia pois não era todos os dias que um “morto” ressuscitava.
Alguns até diziam por piada que o “velhote” tinha arribado a caminho da igreja devido aos solavancos do transporte.
Porque “fazer de morto” no burro do cangalheiro não era propriamente “pêra doce”…nem o melhor meio para se fazer “a última viagem”.
Não tinha chegado a sua hora, diziam outros.
Alguns haviam , que não morriam de amores pelo “velhote”e que diziam à boca pequena que ele era tão mau que nem a morte o tinha querido levar.
Más línguas sempre houve, dizemos nós.
O velhote sobreviveu àquele dia aziago mas nunca mais foi o mesmo.
Passava os dias cismado… sentado à porta da quintarola ou no muro da eira vendo a sua velhota fazer a lida a casa e a dar de comer às galinhas. Cismava …cismava …e já nem com a mulher implicava.
Caiu à cama e não mais se levantou.
Um dia de manhã a mulher deslocou-se com dificuldade até ao vizinho que morava mais perto para pedir ajuda.
Chegado a casa o vizinho viu o idoso na cama e confirmou o que a velhota já suspeitava. Estava morto.
Horas depois o ritual de há dois anos atrás repetiu-se.
Chegou o cangalheiro com o caixão em cima do burro e, depois de vestido e barbeado, o velhote foi colocado no caixão.
O segundo da sua vida.
Com dificuldade o caixão foi posto em cima do burro e atado à sua albarda o melhor possível.
Antes de o cortejo se pôr em marcha a velhota recomendou com uma voz sumida:
Desta vez …levem-no com cuidadinho!
E…levaram!
Uma recomendação na hora certa …pode evitar muitas complicações!
JERO
O casal vivia da agricultura e habitava numa freguesia do concelho de Alcobaça numa zona por onde já tinha bordejado a Lagoa da Pederneira uns bons séculos antes desta nossa estória que aconteceu há uns bons setenta anos!
O local onde tudo se passou era um bocado longe de tudo mas o mau feitio do velho agricultor , cujo nome não interessa para a nossa estória, era conhecido dos vizinhos mais próximos e tinha chegado mesmo à sede da freguesia.
Com o passar do tempo a sua resmunguice natural refinou e contava-se entre os mais próximos do casal que uma mulher capaz de aturar tal criatura só podia ser mesmo uma santa. Não tugia nem mugia e lá ia aguentando a sorte que Deus lhe dera quando uniu os seus destinos com o jovem que, já no tempo do namoro , não era muito dado a carinhos e bons modos. Trabalhador sim –de sol a sol -mas sorrisos ninguém se lembrava de lhos ter visto .
Meses seguidos deixou de ser visto na freguesia e constou que estava doente.
Numa rara visita de um dos seus familiares o velhote estava tão mal que o seu parente foi procurar ajuda.
Quando esta chegou… era tarde.
O velhote da nossa estória parecia ter dado o último suspiro.
Chamado o cangalheiro lá apareceu no dia seguinte com o caixão às costas do seu burro Como referimos no princípio da nossa estória o local era ermo e caminhos só chegariam muitos anos mais tarde.
A viagem do finado às costas do burro do cangalheiro foi acidentada e por diversas vezes o caixão veio ao chão .
Os poucos acompanhantes diziam mal da sua vida mas a cada queda … lá voltavam a equilibrar o caixão nas costas do jumento .Estamos convencidos que este …só não desistiu porque os burros (naquele tempo) não tinham opinião…
Chegado o funéreo cortejo à igreja preparou-se o velório e..deu-se o milagre!!!
O velho agricultou começou a mexer-se dentro do caixão e passado o pasmo inicial alguém reparou …e gritou (para espantar o susto) que o “morto” estava vivo.
E era efectivamente verdade.
Muito debilitado o velho agricultor foi, horas mais tarde, levado ao seu longínquo casal onde a “ex-viuva” o recebeu de olhos arregalados …
Boa mulher não se esqueceu de agradecer aos vizinhos todos os trabalhos que tinham tido.
O acontecimento deu brado na freguesia pois não era todos os dias que um “morto” ressuscitava.
Alguns até diziam por piada que o “velhote” tinha arribado a caminho da igreja devido aos solavancos do transporte.
Porque “fazer de morto” no burro do cangalheiro não era propriamente “pêra doce”…nem o melhor meio para se fazer “a última viagem”.
Não tinha chegado a sua hora, diziam outros.
Alguns haviam , que não morriam de amores pelo “velhote”e que diziam à boca pequena que ele era tão mau que nem a morte o tinha querido levar.
Más línguas sempre houve, dizemos nós.
O velhote sobreviveu àquele dia aziago mas nunca mais foi o mesmo.
Passava os dias cismado… sentado à porta da quintarola ou no muro da eira vendo a sua velhota fazer a lida a casa e a dar de comer às galinhas. Cismava …cismava …e já nem com a mulher implicava.
Caiu à cama e não mais se levantou.
Um dia de manhã a mulher deslocou-se com dificuldade até ao vizinho que morava mais perto para pedir ajuda.
Chegado a casa o vizinho viu o idoso na cama e confirmou o que a velhota já suspeitava. Estava morto.
Horas depois o ritual de há dois anos atrás repetiu-se.
Chegou o cangalheiro com o caixão em cima do burro e, depois de vestido e barbeado, o velhote foi colocado no caixão.
O segundo da sua vida.
Com dificuldade o caixão foi posto em cima do burro e atado à sua albarda o melhor possível.
Antes de o cortejo se pôr em marcha a velhota recomendou com uma voz sumida:
Desta vez …levem-no com cuidadinho!
E…levaram!
Uma recomendação na hora certa …pode evitar muitas complicações!
JERO
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