Leões na Guiné em 1966 !
O título pode parecer especulativo...mas tem algum fundo de verdade.
Passamos a explicar.
Em Maio de 1966 uma equipa de futebol do Sporting Clube de Portugal visitou a “portuguesíssima Província da Guiné para homenagear a sua Filial nº. 89 – Sporting Clube de Bissau”.
Os “leões de Alvalade” efectuaram alguns jogos de futebol em Bissau com equipas locais. E também “futebol de 5” contra equipas militares.
E como soubemos desta distante história de “Leões” na Guiné?
Na nossa rotina diária depois de em casa “blogar” vamos andar para a pista de um campo de futebol, que temos a sorte de ter ao pé da porta.
Um destes dias numa conversa com um parceiro “de pista”, que sabíamos ter jogado futebol no Sporting ( Lisboa), vieram à baila algumas “conhecimentos” sobre a Guiné que nos surpreenderam .
Como é que ele sabia coisas de Bissau, de Bolama e Bafatá?
Tendo em conta a nossa diferença de idades como é que o José Carlos de Jesus tinha estado na Guiné com 18 anos de idade sem ser na qualidade de militar!?
A resposta não deixou dúvidas: - Como jogador de futebol do Sporting Clube de Portugal.
Ah, tá bem!
A conversa continuou no dia seguinte e o Zé Carlos trouxe-nos uma carta do S.C.P. datada de 7 de Junho de 1966.
A carta refª. 4521/66, Minº.ML, Dactº. AC. atribui um “Voto de Louvor” a todos os jogadores que fizeram parte do grupo de futebol…pela forma valorosa como desportivamente se aplicaram no decorrer dos três jogos realizados. Acompanhou a comitiva leonina o Vice-Presidente para as Relações Externas Dr. António Alexandre Pereira da Silva. Assinava a carta o Secretário-Geral da Comissão Directiva Romeu Adrião da Silva Branco.
Colhemos entretanto a informação adicional que era Presidente do Clube
Guilherme Braga Brás Medeiros (1965-1973).
Alem da carta trouxe-nos também uma fotografia de uma equipa do tempo (1964-65) do Sporting Clube de Portugal.
E o que recorda o Zé Carlos da sua passagem de Guiné 40 e tal anos depois?
Recorda várias coisas.
A longa viagem do SuperConstelation de Lisboa a Bissau – cerca de 9 horas – e o “choque” com o calor e humidade quando saíram do avião a caminho da cidade.
De fato inteiro, camisa e gravata bufavam que nem …leões.
Quando chegaram ao Palácio do Governador para cumprimentarem o “General” Shultz ficaram de boca ainda mais aberta por o Governador os receber de calções e camisa.
Depois recorda as Avenidas de Bissau, o mercado e militares por todo o lado. Gente, cor, bulício e…ausência de sinais de guerra.
Em relação aos jogos no Estádio de Bissau recorda muita gente, muito entusiasmo e no final algumas cenas de pancadaria entre militares da marinha e do exército.
Na equipa do Sporting não jogaram então alguns dos grandes jogadores da época por estarem já seleccionados para e equipa de Portugal que iria, dentro de poucos meses, disputar o Campeonato do Mundo de 1966, (onde viríamos a obter o melhor resultado de sempre - um 3º.lugar).
Os jogadores em causa ainda hoje são históricos e recordados pelas gentes do futebol: Carvalho, Hilário, Morais, Zé Carlos, Alexandre Baptista e Lourenço.
O Zé Carlos recorda que em Bissau, sob a orientação do treinador Juca jogaram: Damas, Caló, Carlitos, Lino, Pedro Gomes, Dani, Colorado, Figueiredo,João Barnabé, Barão e outros atletas cujo nome já não recorda.
Fora do que se passou nos rectângulos de jogo o José Carlos de Jesus (também conhecido nos “futebois” por Zé Carlos II) lembra com particular saudade as viagens a Mansoa e a Bafatá.
Para Mansoa viajaram em viaturas descapotáveis (Renault Caravell) sem escolta militar.
Para Bafatá viajaram de avião (Dakota).
Lembra-se de aterrar num pequeno campo de aviação e de viajar para a cidade num carro de “caixa aberta”.
Seguiu-se um almoço memorável à base de ostras grelhadas, como nunca mais comeu até hoje.
Deixamos para o fim a invulgar e, no que nos diz respeito, nunca ouvida história do crocodilo amestrado de Mansoa.
A comitiva do Sporting foi avisada de que ia ver uma “cena” única: um crocodilo amestrado que ,à voz de um domador da “casa” (leia-se de Mansoa) iria sair do seu charco privativo para vir até terra firme “confraternizar” com a malta. Daria até para se tirar uma fotografia com um pé em cima das costas do crocodilo sorrindo para a objectiva.
Foi com esta expectativa elevada que os “leões” de Lisboa se aproximaram do charco das terras de Mansoa.
O “domador”, empunhado um comprido pau com um pedaço de carne na ponta, pediu silêncio e aproximou-se do “poiso da fera”.
O charco, de água esverdeada e viscosa, permanecia calmo …
O “domador” arriscou mais uns passos e, de repente, o crocodilo apareceu e saltou (ou pareceu saltar).
Foi um cagaço monumental.
Domador e seus convidados fugiram a sete pés (ou mesmo mais…).
A malta da bola não deixou os seus créditos por pés alheios e sprintou rapidamente para bem longe do charco.
O crocodilo ouviu das boas e a sua mãe não escapou de algumas graves ofensas verbais à sua honra !
As viagens de regresso a Bissau e mais tarde a Lisboa decorreram dentro da normalidade.
À distância no tempo o Zé Carlos II recorda com saudade os seus 18 anos e a viagem à Guiné.
Mas o crocodilo “amestrado” de Mansoa e o cagaço colectivo da comitiva dos “leões de Alvalade” ocupam, nas suas memórias africanas , os “flashes” mais nítidos das recordações de há quarenta e tal anos atrás.
Devemos ao Zé Carlos II a evocação dos “Leões na Guiné” em 1966.
Alguém da grande família de ex-combatentes se lembra destes futebois longínquos?
E do crocodilo de Mansoa?
JERO
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