segunda-feira, 14 de setembro de 2009

M 31-PESQUISA NO TEMPO-3

PESQUISA TEMPO (3)

Acontecimentos políticos marcantes no País
[1]
Os frenéticos anos que se tinham seguido à implantação da República, que marcaram a geração anterior, entram agora num “ritmo” bem diferente. Chegou a Ditadura Militar (1926-1933) e ia seguir-se a II República (1933-1974), que passou à história como Estado Novo.
A Ditadura Militar tem como vultos marcantes os 9º,10º e 11º Presidentes da República que foram, respectivamente, Mendes Cabeçadas (31.Maio a 17.Junho.1926), Gomes da Costa (17.Junho a 9 de Julho.1926) e Óscar Carmona.
O General António Óscar Fragoso Carmona inicia os seus 15 anos de presidência em 16 de Novembro 1926.
É o tempo de António de Oliveira Salazar “e dos seus princípios rígidos”.
Tomou posse em 28 de Abril de 1928 como Ministro das Finanças.O “caos financeiro” era então estimado em 700.000 contos de reis!!!.
Em 24 de Agosto de 1929 – cerca de um ano e quatro meses depois da sua posse – apresentou um superavit nas finanças de 300.000 contos.Em pouco tempo o Ministro das Finanças tornou-se o homem forte do Regime e vai-se “eternizar “como Primeiro-ministro.
Antecipando um pouco o tempo e a pensar nos mais novos que nos lêem – o fim da sua era regista-se em Setembro de 1968!
Quarenta anos bem contados depois da sua tomada de posse de 28 de Abril de 1928!


Mas como nem só de política vive o homem há outros factos desses tempos que merecem registo.

A 1ª.Travessia aérea do Atlântico-Sul
No início da década de 1920 – mais exactamente de 30 de Março a 5 de Junho de 1922- dois aviadores portugueses, Gago Coutinho e Sacadura Portugal, fizeram pela primeira vez a travessia aérea do Atlântico Sul, voando de Lisboa ao Rio de Janeiro em 62 horas e 26 minutos!
Percorreram 4527 milhas, a um a velocidade média de 72 milhas náuticas por hora, em 11 etapas.
Nos diversos voos entre as escalas estiveram um total de 36 horas e 29 minutos sem avistar terra.
Começaram em Lisboa em 30 de Março, fazendo escalas em Las Palmas, Gands, São Vicente, Praia, São Pedro, F.Noronha- Mar, Baía , Porto Seguro, Vitória e Rio de Janeiro, onde chegaram em 17 de Junho.
Sessenta e oito dias depois da data da partida!

A burla do século
Passou à história com o nome de Alves dos Reis e foi o mais famoso burlão de todos os tempos. Até hoje
Tem havido algumas “tentativas”-nomeadamente nas fugas ao fisco e no Mundo do Futebol dos nossos dias – escrevo em Dezembro de 2004 – mas nada que se pareça com o “genial” banqueiro dos anos 30.
Os jornais do tempo referiam-no como um homem de grande iniciativa. “Começou” com um falso diploma de engenheiro e trabalhou em Angola, onde fundou a Firma Alves dos Reis, Lda. Com um cheque sem cobertura comprou a maioria das acções da Companhia de Caminhos-de-ferro Transafricanos de Angola. Regressado a Lisboa forjou um contrato, em nome do Banco de Portugal, com a firma londrina onde eram impressas as notas do Banco de Portugal, e “encomendou” 200.000 notas de 500 escudos com a efígie de Vasco da Gama.Falsificou “apenas” as assinaturas do governador de Banco de Portugal e do Alto-Comissário de Angola. Com o “capital” realizado fundou o Banco de Angola e Metrópole. O Mercado financeiro foi inundado com “notas verdadeiras” encomendadas com “requisição falsa”.Foi o pânico.
Descoberta a fraude Alves dos Reis e os seus cúmplices foram submetidos a um julgamento que teve foros de sensacional.
Terminou o julgamento de Artur Virgílio Alves dos Reis em 19 de Junho de 1930.
Um homem genial ou um génio do mal que “nasceu adiantado” em relação ao seu tempo?!
Que grande Ministro das Finanças para superar as “antipáticas” e crónicas medidas extraordinárias para corrigir os défices orçamentais face à Comissão Europeia!?
Não seria de mandar à “Eurostat”um encarte com a bem sucedida história de Alves dos Reis -obviamente sem a sentença final, que não “lhe reconheceu os méritos” – 8 anos de prisão maior celular, seguida de 12 anos de degredo, na alternativa depena fixa de degredo por 25 anos!

Saltamos um pouco no tempo e estamos no último ano da década de 30.
Em 1939 – quando alguns dos “Coelhos” desta terceira geração já são homens feitos e muitos caminham já para a maioridade – O Mundo fervilhava de conflitos.
Alguns dos mais velhos da geração seguinte também já deixaram os calções e os brinquedos e começam (sem ainda o saberem) a entrar num dos períodos mais conturbados da história do Século XX.

Rugidos” do Mundo / ecos em Portugal
Em Abril de 1939 chegava ao fim a Guerra Civil de Espanha depois de três anos de lutas, com um triste balanço de horrores e destruições e com um trágico saldo (sangrento) de 600.000 mortos!
Em Maio do mesmo ano Hitler e Mussolini assinam o “Pacto do Aço” e três meses depois, após o falhanço das negociações de Daladier e Chamberlain com Hitler, a guerra está perto do que nunca.
Em Setembro a Alemanha invade a Polónia e anexa Danzigue.
A Inglaterra e a França declaram guerra à Alemanha.
No final desse trágico mês de Setembro de 1939 os alemães chegam a Varsóvia.
A 3.000 kms da capital portuguesa as tropas alemãs caminhavam de vitória em vitória e os portugueses iam tomando conhecimento da guerra pelos jornais e pelos serviços noticiosos das rádios.
Em Lisboa o Dr. Salazar recebe os Embaixadores da Alemanha e da Inglaterra e manda publicar a célebre nota oficiosa da neutralidade portuguesa:
“Felizmente os deveres da nossa aliança com a Inglaterra, que não queremos eximir-nos a confirmar em momento tão grave, não nos obrigam a abandonar nesta emergência o dever de neutralidade”.
Esta a versão oficial.
A versão “off”era mais ou menos assim:
Às 2ªs., 4ªs. e 6ªs. somos apoiantes dos avanços alemães e às 3ªs., 5ªs. e sábados “torcemos” pelos aliados; aos domingos somos neutrais.
A opinião pública era, de uma maneira geral, a favor da causa dos Aliados, que se entendia representarem na Europa a liberdade e a democracia.
Os apoiantes das forças do “Eixo”, “os germanófilos”, viam na Alemanha a única barreira contra o comunismo.
Esta “acalmia” nacional, garantida pela política de neutralidade, fazia com que fossem notícia acontecimentos bem diferente daqueles que preocupavam as outras capitais da Europa.

LISBOA preparava a grande “Exposição do Mundo Português”, sob a orientação dos Engenheiro Sá e Melo e Arquitecto Cottinelli.
O Professor Egas Moniz – futuro Prémio Nobel da Medicina – retomava a sua actividade clínica depois de ter estado alguns meses impedido de o fazer por ter sido vítima de agressão por parte de um seu doente tresloucado.
O Almirante Gago Coutinho viajou para o Brasil, a bordo do paquete “António Delfino”, para se associar a uma homenagem a Pedro Álvares Cabral.
No mundo da cultura destacavam-se Aquilino Ribeiro, Alves Redol e Fernando Lopes Graça.
Os cinéfilos portugueses aplaudiram a produção nacional “A Varanda dos Rouxinóis”, de Leitão de Barros, e os grandes filmes mundiais, que marcaram gerações:- E tudo o Vento Levou”, de Victor Fleming; A Pousada da Jamaica”, de Alfred Hitchcock; “ A Cavalgada Heróica”, de Jonh Ford; e O Monte dos Vendavais”, de W.Wyler.
Desportivamente o Sport Lisboa e Benfica dominava mas surpreendentemente perdeu a Taça de Portugal com a Académica de Coimbra, num célebre jogo de futebol realizado no Jamor e que terminou com 4-3 a favor dos estudantes.

E é a altura de chegar a Alcobaça.

Também politicamente entre os Alcobacenses em geral e “os Coelhos” em particular são conhecidas simpatias pela causa dos “Aliados” e pelas forças do “Eixo”, embora a maioria seja a favor dos primeiros”entendidos” como os defensores da liberdade e da democracia.
Obviamente que em termos de política nacional também há seguidores entusiastas das políticas do “Estado Novo” e oponentes que são alvo de perseguições. São os oposicionistas ou pessoas do “revi ralho”.
E, atrever-me-ia a dizer, que há depois os “outros”, a grande maioria, que mal informados ou desinteressados deixam-se ir na onda dos “sem opinião”.
Está claro que esta “maioria silenciosa” favorece quem está no poder!
Mas há outros factos que marcam então a vida dos alcobacenses.

A população da freguesia de Alcobaça
O gráfico da evolução da população e do número de fogos da freguesia de Alcobaça ajuda a perceber a “dimensão humana” da vila que em 1920 tinha 651 fogos e 2661 habitantes. Em 1930 já tinha 717 fogos e 2958 habitantes. Dez anos depois, em 1940, tinha 875 fogos e 3212 habitantes. Em 20 anos a população teve um crescimento de 20,70 %.

Como estávamos em termos de poder local e de administração
É Presidente da Câmara de Alcobaça Manuel da Silva Carolino, que ocupou a presidência desde o movimento de 28 de Maio de 1926 até ao final da 2ª. Grande Guerra. Teve um final de vida trágico, tendo posto fim à vida em 12 de Junho de 1945. Contava 51 anos de idade.
Dos seus quase 20 anos de poder ficaram para a história a aquisição da Quinta da Gafa em 1932 e a polémica decisão do corte das árvores do Rossio no ano de 1933. A respeito da data do corte das árvores e demolição do coreto há duas datas em discussão 13 de Fevereiro de 1930 -um arboricídio em Alcobaça – destaque de uma notícia de 1ª. Página do Diário de Notícias, acompanhada de fotografia comprovativa da “impiedosa” poda, que reduziu árvores “seculares” a pouco mais de troncos de 3 pernadas. Outra data é a de 20 de Março de 1933. O corte foi feito durante a noite e quando os alcobacenses acordaram as frondosas árvores “seculares” estavam inapelável mente derrubadas. Acerca da idade das árvores contava-se de um vereador do tempo que tranquilizava os mais exaltados com o corte que a Câmara iria fazer novas plantações e que “passada meia dúzia de anos os alcobacenses voltariam a ter de novo árvores seculares…”.


Que hábitos e que habitantes? Como se vivia?
Havia uma dificuldade enorme em adquirir artigos de primeira necessidade, a começar nos géneros alimentares. É o tempo da candonga, um mercado paralelo e clandestino, não fiscalizado pelos organismos de coordenação económica, e portanto com preços mais altos, prática que enriquece os mais “aventureiros” em pouco tempo.
A vida doméstica era feita sem frigoríficos nem esquentadores. Os grandes espaços e os supermercados eram coisas que nem dos livros de ficção ainda se falava.
As donas de casa abasteciam-se para o dia a dia e a dispensa tinha muito pouca coisa para comer.
Tomava-se banho ao sábado e a água era aquecida em cafeteiras ou panelas. A higiene era feita em bacias e o corpo era lavado “em prestações”.
No que respeita a vestuário os casacos e calças iam-se sendo emendados e “virados” de irmão para irmão, e estreava-se alguma coisa de novo em dias de festa.
Nos mercados semanais havia a deslocação das populações das zonas serranas, que se deslocavam nos seus burros e muares, que eram “arrumados”
em pátios de casa particulares e nos anos 35 os jumentos de quem vinha vender (e comprar) à vila tinha cavalariças municipais na zona da Gafa para deixar com segurança as suas montadas.
As Festas dos Santos populares eram feitas junto do Jardim-escola João de Deus, frente à ala sul do Mosteiro.
A miudagem jogava a bola na “Rua da Estrada” (Rua Miguel Bombarda) e frente ao Mosteiro. A GNR aparecia de vez em quando e a gola ficava apreendida.


Que vida social, que cultura e que distracções
Em 1928 decorrem os últimos espectáculos do Teatro instalado no Mosteiro de Alcobaça, no Refeitório dos Frades.
Em 25 de Agosto de 1935 teve lugar a representação de “A Castro”, de António Ferreira ,no Adro do Mosteiro de Alcobaça.
Em 1939 regista-se a criação do 2º. Rancho do Alcôa . No ano seguinte-em 1940 – nascem “Os Serraninhos” .Este rancho infantil e o Rancho Alcoa têm, entre os seus elementos, muitos “Coelhos” da segunda e terceira gerações

Que figuras notáveis?
João D’Oliva Monteiro
, nome de referência na história de Alcobaça, foi o principal impulsionador e o mais importante investidor do Cine Teatro de Alcobaça.

Nascido a 28 de Abril de 1903 em Alcobaça, e depois de alguns estudos em Coimbra, foi à sua terra Natal que dedicou a sua Vida.
João D’Oliva Monteiro destacou-se em diversas actividades:
-Foi o principal sócio fundador da SVENA – Sociedade de Vinhos Espumantes Naturais de Alcobaça;
Esteve ligado à indústria tipográfica(foi um dos sócios da Tipografia Alcobacense,Lda).
Introduziu a Indústria Vidreira em Alcobaça.( Fábrica de Vidros Crisal – Cristais de Alcobaça inaugurada em 1945) .
Em 1946 foi agraciado pelo governo Britânico com a “Kings medal for the service in the cause of freedom”, em reconhecimento da sua colaboração para o esforço de guerra dos aliados durante o conflito de 1939-45.
Faleceu a 28 de Dezembro de 1949, tendo deixado aos seus conterrâneos uma Alcobaça mais rica e mais moderna, com um lugar destacado no distrito de Leiria.
Pode-se afirmar sem exagero que deixou um legado importantíssimo. destacando-se do património construído o magnífico edifício do Cine Teatro de Alcobaça.
Financiada e mandada construir pela Empresa Almeida, Monteiro, e Leitão Lda.[2], esta construção, de autoria e direcção de execução do arquitecto leiriense Camilo Korrodi, foi inaugurada no dia 18 de Dezembro de 1944 com o Espectáculo de três actos “A Velha Rabugenta”, da actriz Maria de Matos de Lisboa.
Foi de tal maneira importante o seu contributo para o desenvolvimento da terra que o viu nascer que é obrigatório recordar a sua memória e manifestar mais uma vez a gratidão por tudo quanto fez por Alcobaça .
Recordar João d’Oliva Monteiro na reabertura do Cine Teatro de Alcobaça quando estão passados e cinquenta e cinco anos sobre a morte de João D’Oliva Monteiro é um acto de inteira justiça
A reabertura do Cine Teatro de Alcobaça, espaço inteiramente dedicado às Artes do Espectáculo vai, tal como no passado, possibilitar a revitalização da Vida Cultural da Cidade.
Alem de João d’Oliva Monteiro muitos mais alcobacenses foram figuras marcantes no seu tempo como foram os casos de António Vieira Natividade, D.António de Campos ,Dr. José Nascimento e Sousa e Dr. João Lameiras de Figueiredo.

O desporto da época.
No período compreendido entre 1918 e 1932 há a registar a fundação de três clubes.
Em 1918 o “Alcobaça Futebol Clube”, conhecido por causa do equipamento pelos “Amarelos”.
Em 1924 o “Alcoa Sport os Leões”, fundado por dissidentes do “Alcobaça Futebol Clube” e em que só podiam militar residentes no concelho de Alcobaça. Teve equipas de futebol ,ciclismo e atletismo.
Em 1932 o “Clube Desportivo Comércio e Indústria de Alcobaça”, que passaram à história como “Os Verdes”.
Os grandes rivais do tempo foram os “amarelos” e “os verdes” que, como rezam as crónicas do tempo “não se podiam ver”.
Contra toas as expectativas vieram a fundir-se em 1946, resultando dessa fusão o Ginásio Clube de Alcobaça, de que falaremos mais detalhadamente nos comentários relativos à Quarta Geração.
Dos três clubes vamos referir alguns nomes e feitos desportivos, que fizeram vibrar os alcobacenses nesses saudosos tempos de “baliza às costas” e amor à camisola .
O “Alcobaça Futebol Clube” foi o clube mais popular e com maior número de adeptos e simpatizantes.Teve grandes equipas e grandes jogadores e do campo atrás do Palácio Costa Veiga para as memórias do desporto alcobacense ficaram alguns nomes gloriosos:- da equipa de 1922:- Eugénio Soares, Firmo Trindade, Armando Françês e Amilcar Cesário; da equipa de 1924:-Tenente António Almada Negreiros, Manuel das Neves, Rodolfo Saraiva , Eduardo Carvalho e João Neves Vasco. Já no Campo de Jogos “Marechal Carmona(onde hoje se situa o Mercado Municipal), distinguiram-se no final da década de 30 e nos primeiros anos de 1940 jogadores que ainda hoje são recordados(obviamente pelas pessoas de mais idade) pelos seus feitos:- António “Padeiro”(o António Branco), Salvador, José “Ganau”, Luís Gavião, Manuel “Sapatinhos”, Manuel Lemos, Silvino Pedro, Quim Pedrosa e Aires.
No curso da sua vida o “Alcoa Sport os Leões” ganhou 14 medalhas no torneio distrital de “sports atléticos”; os seus ciclistas conseguiram os 1º. e 2º. Prémios nos torneios distritais de Porto de Mós e São Martinho do Porto.Em futebol em 14 desafios perderam apenas quatro.Os seus atletas derivavam da classe operária , distinguindo-se especialmente José Gambino, na modalidade de futebol.
O “Clube Desportivo Comércio e Indústria de Alcobaça deixou para a história como jogadores de referência, entre outros:- Lenine, Artur Carolino, Adelino “Padeiro”, Rogério André, José Pinho e João Morgado.

Os factos desportivos dessa época são possíveis de recordar graças a trabalhos jornalísticos publicados em “O Alcoa” por um dos Coelhos do 1º.Ramo. Estamo-nos a referir a António de Sousa Coelho(111.2) que, com o pseudónimo de “Aónio do Vale” nos deixou saborosas crónicas alusivas ao desporto, e não só, desses tempos gloriosos de Alcobaça.

Figuras populares e recordações.
O nosso familiar Augusto Coelho, o “Augusto da Violeta”, é um serralheiro civil que está no auge da sua popularidade como grande artífice do ferro, havendo referências em livros da época a trabalhos seus , que ficaram para a posteridade contam-se, entre outros, as guardas de ferro da plataforma da ala norte do Mosteiro e as grades decorativas do arco de entrada do Parque da Gafa.
Carlos Epifânio da Franca, “O Veneno”, que herdou a farmácia (ao tempo”pharmácia”) de seu pai António Epiphânio da Franca (1868-1939).
A sua irreverência, os seus ditos espirituosos, apimentados e com utilização de português vernáculo, deixaram uma memória que foi passando de geração em geração, já que foi na verdade uma figura mítica, absolutamente invulgar. Toda a gente sabe uma história a seu respeito nem sempre contáveis mas com uma graça única. À Carlos Epifânio.
Algumas das pessoas que com ele trabalharam também passaram à “história de Alcobaça”, como são os casos de Manuel Gonçalves (vulgo Manuel das Laranjadas), Mário Belo e o “Farelo”. Este último ficou associado a algumas estórias deliciosas.
Para os mais novos vamos “deixar” duas das que ouvimos em “miúdo”, embora uma delas “passe” em rodapé pois tem direito a “bolinha” (º).
A primeira ter-se-á passado num dia de mercado semanal (quando as pessoas das aldeias vizinhas se deslocavam em grande número à sede do concelho para tratar dos mais diversos assuntos). Um aldeão apresentou-se na Farmácia Epifânio para mostrar uma mão em muito mau estado. Um dedo tinha um corte profundo e a mão estava inchada e muito vermelho. Era óbvio que a ferida estava infectada.Na sua voz nasalada Carlos Epifânio perguntou-lhe como é que ele tinha “arranjado” aquele ferimento tão feio. O “paciente” respondeu que se tinha cortado com um podão e para ajudar a cicatrização fez o que era costume na sua terra:-urinou no ferimento para ajudar a cicatrização da ferida.
A resposta do farmacêutico foi imediata e “venenosa”:- Ah mijaste-lhe?! Então agora caga-lhe!!!
As cenas seguintes não passaram à história mas não acreditamos que Carlos Epifânio não tenha recomendado um medicamento adequado para a infecção do “mijão”![3]



Que comércio e que tipo de comerciantes
Em 1924 é aberto ao público O “Café Trindade”.
No Rossio, onde hoje é a “Pastelaria Alcoa”, é fundada em 1925 a latoaria de João Maria Hipólito.
Em 1926 Alberto Diogo Hipólito, Joaquim Ferro e Joaquim de Sousa Vitorino são três armazenistas importantes. Em termos comerciais merecem ainda referência sete mercearias concentradas na Praça D.Afonso Henriques.
Em 1931 “nasce” o “Café Pensão Floresta”, que havia de acolher muitas gerações de alcobacenses que iriam passar algum do seu tempo, livre entre as portas deste Café. É o ano em que na Rua Frei Fortunato Francisco Ferreira da Bernarda trespassa a sua “mercearia com taverna” a Ernesto Coelho, “O Ernesto da Crista”, que iria ser uma das figuras mais populares e carismáticas da Família Coelho e de Alcobaça até à data da sua morte.
No Rossio , a partir de 1939, funcionam a “Mercearia e Papelaria Império” e a “Relojoaria e Ourivesaria Puga”.
Anos mais tarde,em 1950, na vizinhança deste conceituados estabelecimentos abre a “Casa Bancária Raposo de Magalhães”
E a indústria
Em 1927 é fundada a Olaria de Alcobaça,Lda., que foi instalada na Rua Costa Veiga, em Alcobaça, junto ao Rio Alcoa.Estão ligados à sua fundação Silvino Ferreira da Bernarda, António Vieira Natividade e Joaquim Vieira Natividade.
Laborou até 1984.
Em 1931 inicia a sua actividade a Alimentícia,Lda., fábrica de conservas, compotas e licores.
Em 1933 , a fábrica de Manuel Ferreira da Bernarda, passou para a administração de seu filho,Raúl da Bernarda, que em 1941, assume a totalidade dos direitos da Empresa a seu favor.
Em 1938 nasce outra produtora de conservas e compotas de fruta, a Claraval.
Em 1942 foi fundada a Svena, Sociedade de Vinhos Espumantes Naturais de Alcobaça.Foi seu principal fundador João d’Oliva Monteiro.
Em 1944 a Pereira & Lopes foi fundada em Valado dos Frades, tendo-se dedicado inicialmente ao fabrico de louça regional , o que fez durante cerca de uma década.Foram seus fundadores Álvaro Marques Pereira, José Pereira e Eduardo Lopes..
O introdutor da indústria vidreira em Alcobaça (Crisal-Cristais de Alcobaça,Lda.) foi em 1945 João d’Oliva Monteiro.
Em 1945 surge na Fervença a Estatuária Artística de Alcobaça a que estiveram ligados , em várias fases da sua curta existência, Altino Couto Ribeiro, Bento Jácome de Sousa, João Trindade Ferreira, Aníbal Pedrosa, Ilídio André e António de Sousa Magalhães.
Em 1946 inicia a sua laboração Elias & Paiva, situada na chamada recta da Fervença, freguesia da Maiorga. Foram seus fundadores António Elias da Silva, Joaquim Paiva, Bernardo Matias Coelho, Manuel António Rodrigues e António Vieira. Pouco tempo depois os dois últimos abandonaram a sociedade.
Em 1947 António Branco, Joaquim Baptista Branco, Acácio Bizarro e Veríssimo Almeida fundaram a Vestal -ou Vistal-, como se denominou no primeiro da sua existência.7

A Imprensa Local
Em 1928 “Ecos de Alcobaça”, que se publica regularmente até 1945.
Em 1930 “A Voz de Alcobaça” que, nesta primeira fase da sua existência, se publica até 1934.Reatou as suas publicações em 1980.
Em 1932 deixou de se publicar o “Notícias de Alcobaça”, dirigido nos últimos anos por Guido Coelho da Silva, filho do fundador.
O “Comarca de Alcobaça” surge em 1935 e publica-se regularmente até 1951.
O primeiro número de “O Alcoa” é publicado em 27 de Dezembro de 1945. Foi seu primeiro Director João Maria de Sousa e Brito ;é Administrador e Editor António A .Ramos.

Acontecimentos marcantes:-
Socorrendo-nos dos ilustres alcobacenses Bernardo Villa Nova e Silvino Villa Nova, autores da “Breve História de Alcobaça”, encontramos registados como factos relevantes do ano de 1939 a realização de um Congresso Eucarístico e de uma Terceira Missão Estética de Férias, presidida por Varela Aldemira e onde esteve integrado, entre outros, o pintor Luciano Santos.


Efemérides de “Os Coelhos”
Na década de 30 morre o 1º. Coelho da 1ª. Geração – José Coelho em 1932 – .
Em 1945 o final da Guerra – o episódio do Manel do Ti Augusto nas Torres do Mosteiro.
Pesquisa para o livro de genealogia da Família Coelho
[1] - Diário da História de Portugal, de José Hermano Saraiva e Maria Luísa Guerra.
[2] Empresa constituída pelos Srs. Bernardo Correia de Almeida, natural de Vilar Seco (Concelho de Nelas), antigo professor na Maiorga e depois em Alcobaça, reformado em 1939;João Leitão, Natural do Cartaxo, estabelecido em Alcobaça desde 1913; e João D’ Oliva Monteiro.
[3] A “segunda” história com eventuais “cenas chocantes”.
O primeiro cliente a entrar na Farmácia às 9H00 abeirou-se de Carlos Epifânio e, em voz baixa, pediu-lhe uns comprimidos para a impotência ( estávamos ainda a décadas de distancia do Viagra!). Confidenciou ao farmacêutico que constava que ele(Carlos Epifânio) tinha uns comprimidos que faziam milagres e que lhe pedia encarecidamente que o ajudasse a resolver o problema que não sabemos se era doméstico ou para “uso externo”. Parece que com alguma renitência Carlos Epifânio satisfez o pedido. No acto do pagamento o cliente em “deficit potencial” informou que só tinha uma nota de cem escudos e que iria fazer mais algumas comprar e voltaria já com a importância certa para fazer o pagamento. Saiu porta fora e passado cerca de uma hora apareceu um comerciante que tinha uma loja de ferragens perto da farmácia (Gilberto Coutinho). Pediu para falar com Carlos Epifânio e perguntou-lhe se um indivíduo que não tinha trocos (e só tinha uma nota “grande”) já lha tinha voltado para fazer um pagamento. É que na loja de ferragens tinha feito uma compra há cerca de uma hora e nunca mais voltara. Tinha então contado que já estivera na Farmácia onde não pagara por não por haver troco para a nota de cem escudos. Perante a resposta negativa o Gilberto Coutinho foi à sua vida na expectativa que o” homem da nota de cem “aparecesse mais tarde. Cerca do meio-dia entra na Farmácia mais um comerciante da zona (o Artur Barbeiro) com uma história em tudo idêntica à do Gilberto Coutinho. Tinha cortado o cabelo a um indivíduo que na altura do pagamento contou que só tinha uma nota de cem e até já tinha ficado a dever uma conta na Farmácia Epifânio (onde tinha ido comprar uns compridos por causa da impotência) por falta de trocos. Tinha ficado de voltar uns minutos depois para fazer contas e nada. Não tinha voltado a aparecer. O que é o Sr. Carlos pensava?! Oh Artur penso que já fomos levados à certa. Eu, tu e o Gilberto. O Artur ficou um bocado a pensar e já convencido que aquele corte de cabelo “era para assentar no gelo” despediu-se e saiu. Deu umas passadas e voltou atrás:-Oh Sr. Carlos esses comprimidos que vendeu ao homem da “nota de cem” dão mesmo resultado? Endireitam o” coiso”?
A resposta não se fez esperar:- Oh Artur tens alguma dúvida! O tipo, com os comprimidos no bolso já fodeu três numa manhã! Quando os começar a tomar a mulher ,a prima, a vizinha , a gata e a cadela que se cuidem!
7 Os elementos sobre as Fábricas de Cerâmica foram retirados do livro de Jorge Pereira de Sampaio, “Faiança de Alcobaça”.

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