sábado, 5 de dezembro de 2009





AMIZADE NUNCA CEDERÁ
O dia 2 de Dezembro, 4ª.feira, tinha sido longo.
Desde as 6 e meia da manhã que estávamos de pé. Tínhamos percorrido já uns centos de quilómetros e a noite tinha entretanto chegado.
O nosso último “destino” desse dia de peregrinação às campas de camaradas de guerra dos velhos tempos da Guiné(1964-66) estava à vista.
Passámos a “placa” de Famalicão e entrámos na cidade à procura de estacionamento.
Com o Moreira ao volante desde Irijó (Rocas do Vouga)já tínhamos visitado ao longo do dia cinco cemitérios: Caldelas, São Martinho do Campo, Maia, Fanzeres e Mindelo.
Faltava o Álvaro Vilhena Mesquita, o Furriel de Famalicão que tinha morrido em combate em 28 de Dezembro de 1964.
Nas horas anteriores já tínhamos deposto placas da “C.Caç, 675” nas campas de Antóno Silva Lopes –Soldado Condutor, Serafim Silva Santos-1ºCabo Rádio Telegrafista ,Jerónimo Justo - Soldado Atirador e José Miranda Pereira- 1º. Cabo R.T.Condutor Auto. Não tínhamos conseguido localizar a campa de Adriano Almeida-Soldado Atirador no Cemitério de S.Martinho do Campo mas entregámos a lápide a um vizinho do lugar, por sinal também antigo militar da “675”.
Cabe aqui dizer que chefiava esta equipa de “romagem” o antigo Alferes Belmiro Tavares, cérebro e guardião dos nomes e direcções de todos os antigos militares que tinham estado dois anos em Binta-Norte da Guiné
nos idos de 60. O 3º. Mosqueteiro era o cronista da Companhia, autor destas linhas, agora também investido nas funções de fotografo.
Mais uns minutos e voltaríamos a estar junto do nosso amigo e camarada Mesquita.
Quarenta e cinco anos depois eis nos chegados ao local do encontro com a sua irmã Teresa Mesquita. Na praça de estacionamento frente ao Restaurante “O Tanoeiro” deu-se ao encontro. Abraçámos longamente a irmã do Álvaro. Tinham passados tantos anos e minutos depois, a caminho do cemitério, parecia que sempre tínhamos estado por perto.
O Belmiro Tavares e o autor desta linhas tinham estado naquele cemitério no 7 de Abril de 1967.A data não nos esqueceu jamais. Tínhamos vindo de longe – um de Lisboa e outro de Alcobaça – para ir ao casamento do Figueiredo ,de Monção e pernoitámos em V.N. de Famalicão para visitar a campa do Mesquita e conhecer seus Pais.
Ali estávamos de novo.
O local parecia-me outro pois naturalmente o cemitério estava bastante maior.
Belmiro Tavares,Teresa Mesquita e Luís Moreira(Foto JERO)
A Teresa conduziu-nos até à campa do seu irmão. A sua dor ouvia-se… nos soluços que não conseguia evitar. Também nós chorámos mais uma vez o Mesquita.
Colocámos a lápide.
Registámos o momento.
Falando por mim senti-me invadido por uma paz imensa.
Dei um braço à Teresinha, como a passei a tratar desde então, e seguimos até ao jazigo de seus Pais, que também quisemos homenagear naquela visita ao cemitério de Famalicão.
Seguiu-se um convite para visitar as instalações do “Jornal de Famalicão, fundado pelo seu Pai , Rebelo Mesquita, local onde tivemos o prazer de conhecer seu filho Francisco José. Estivemos alguns momentos em salas diferentes e a Teresinha contou-me a mim e ao Moreira uma recordação do dia morte do seu irmão, que nos abalou bastante. Inexplicavelmente a Teresa, então com 18 anos de idade, teve um ataque de choro em casa de uma amiga na tarde do dia 28 de Dezembro de 1964. Também à mesma hora, em local diferente, seu Pai sentiu-se mal e teve que ter assistência hospitalar. Tiveram ambos um pressentimento. Tinha acontecido alguma coisa de muito grave ao Álvaro. Três dias depois, no dia 31 de Dezembro, tiveram a confirmação oficial da sua morte.
Desanuviou este momento dramático a entrada na sala de seu filho Francisco (de nome completo Francisco José Vilhena Mesquita Moreira de Azevedo), que era portador de dois álbuns de fotografias de seu Tio “Varinho”, como era e é conhecido na família o “nosso” Álvaro Mesquita”. Revimos nessas fotos o “nosso” jovem Furriel.
Fur.Mesquita,Sargento Marques e Fur.Enfº.Oliveira
(Foto da Família Mesquita)

Uma das fotografias confirmou o que eu pensava: o Álvaro tinha sido um dos feridos na Operação Lenquetó,(6 de Julho de 1964) onde tivemos o “baptismo de fogo”.
Na foto que reproduzimos o Álvaro teve o cuidado de pedir ao fotógrafo que não apanhasse o seu ombro e braço direito.
Os nossos anfitriões convidaram-nos depois para jantar.Fomos ao “Tanoeiro”, onde as recordações continuaram.
O Álvaro esteve sempre presente nas nossas conversas.
Chegou a hora das despedidas com a promessa de nos voltarmos a encontrar em breve.
Afinal já éramos todos da família. Da Família “675”.

A noite ia longa. Chovia e tínhamos ainda muitos quilómetros para chegar à Irijó, que me lembrava nomes de outrora. À distância no tempo recordava Lenquetó, Canicó, Genicó. Guiné 1964.
Que bem me fez chorar alguns momentos abraçado à irmã do Mesquita.
Não mais esquecerei este longo dia de 2 de Dezembro de 2009.
A Teresa Mesquita é Directora do “Jornal de Famalicão”.
Termino reproduzindo o título do “Editorial”(e depois o texto) do seu jornal nº 4.114, Ano LX, de 4 de Dezembro de 2009
.
Amizade nunca cederá.
JERO

1 comentário:

  1. Boas tarde
    Encontrei este site porque andava com esperanças de encontrar informaçoes sobre o Soldado Atirador Jerónimo Justo(1964-66)
    Ele faleceu mês passado..
    E nao contou muito sobre esses 2 anos..
    E Eu gostaria de saber mais sobre esses 2 anos..
    Eu sou o neto dele!
    Agradeço muito pela atenção!
    E respondam o Quanto antes!
    Obrigado

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