segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
M - 397 RECORDANDO ÁUREA DA MATA
Quer se quer não n'esta época do ano a memória dos que nos deixaram e deixaram saudade surge mais viva no mais fundo de nós.
Áurea da Mata foi uma dessa pessoas especiais.
Que não esquecemos.
Nós e todos que ,ao longo da vida, tiveram o privilégio de a conhecer.
Em sua memória respigámos de "O ALCOA" uma LENDA contada à sua maneira.Com paixão.
JERO
"Lenda dos Dois Rios de Alcobaça"
Eu vou contar uma lenda
Com um pouco de verdade
A do Rio Alcoa e Baça
Que passam por Alcobaça
Bem no centro da cidade
Há muitos anos atrás
Dois namorados se amavam
Um amor profundo e forte
Separá-los! Só por morte
Um e outro namoravam
Eram os dois "pobrezitos"
Sem vintém para gastar
Ele era ganancioso
E muito ambicioso
Vivia p´ra trabalhar
Por ali passou um homem
A procurar trabalhadores
Ao rapaz ofereceu dinheiro
P´ra trabalhar o dia inteiro
Não esquecendo seus amores
Mas os homens são assim
E ela sentiu-se abandonada
Chorou tanto, tanto, tanto
Sempre lavadinha em pranto
Mas não valia de nada
As lágrimas eram tantas
Mesmo no tempo de estio
Que chorava noite e dia
"Tristinha" e com arrelia
Acabou formando um rio
Mais tarde o rapaz voltou
E a chorar foi para ela
"Que me perdoes te peço
Mas eu sei que não mereço
Ó minha linda donzela"
Como ela o amava muito
E mulher é mesmo assim
Ela lhe disse a chorar
"Contigo quero casar
Não te separes de mim"
E os dois tanto choraram
Num abraço longo e sentido
Que dois rios se formaram
Das lágrimas que brotaram
P´ra lembrar o sucedido
No baptismo desses rios
Ouve dois nomes com graça
Venha aí quem me desdiga
Que o rapaz e a rapariga
Se chamavam Alcoa e Baça
Histórias que não esquecem
P´ra contar a quem lá passa
Que estes dois rios deram
Logo assim que nasceram
O nome a Alcobaça
E "quem passa por Alcobaça
Não passa sem lá voltar"
Foi por isso que o Alcoa
Saiu p´ra ganhar "coroa"
Mas um dia quis voltar
Se uma lenda tem verdade
O afirmo de coração
Talvez seja bem por isso
Não quebrando o feitiço
Ainda é "Terra de Paixão"
Áurea da Mata (05/01/2010)
in jornal O ALCOA nº 2228 de 25 de Fevereiro de 2010 pág. 15
Fotos JERO
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
M - 395 NESTE NATAL QUERO VOAR
Neste Natal quero voar
e como não sei versejar
mas apenas fotografar
prometo não voltar
...
JERO
...
«nunca mais voltar»...
Elas voam as aves...Voam no lindo aul do céu
Elas vão e vêem,aqui,além,acolá
Onde chegarão?Onde irão?Talvez...
Talvez...quem sabe se lhes pedisse
me levariam...
Mas como lhes pedir?Como falar com elas?
Não me entenderiam...
Quero ser uma uma ave
Voar para além do infinito
Fazer meu ninho,no refúgio
de meu coração e...
Voar até às estrelas voar para a liberdade!!!
E ai ficar,nunca mais voltar...
efeneto
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
M 315 -UM POETA PINTOR HOMEM DE BEM
Sosseguei na lonjura dos dias parados
dos ventos passados.
Deixei para trás memórias dos cheiros
esquecidos,entorpecidos, mergulhados,
rasteiros,
de vez em quando acesos
em lúgubres cinzeiros
Do teu e do meu acordar,
soube-nos agora enfim deles ilesos,
não presos,
mas a planar,
em lindos prados.
num voo de eternos namorados
Ao de leve,
nos raios púrpura
raiando o céu,
breve esqueci os olhares molhados
e o tanto breu
e nasci
para mim, em ti
de um útero por inventar,
chamado nosso lar.
Num imenso sentir
cheirando a mar
e assim adormeci
e no meu olhar
renascido,
por ti e em ti, reconstruido
me deitei e deixei ficar
num sussurro infinito
leve e bem preciso
num caminho chamado sorriso!"
Rasguei então, em teu ventre,
o retrato inacabado
de uma terra, emergente,
imaginária
e na crista de uma onda solidária,
o matutino sonho transparente
correu, urgente,
sem semeado ser,
numa viajem sem fim
até ao renascer
do centro de ti, em mim
e fui mar e fui segredo
acordando em sossego
e limpei a alma
na rocha escarpada,
na calma
do feliz desapego,
de nada precisar
por te ter agora
e te poder e saber amar.
ó minha fada,
nesta e futura hora
e nunca, nunca mais
aquele nada,
por saber seres tu e finalmente,
meu desejado,
mais belo e transparente,
porto de chegada .
António Sales
quarta-feira, 14 de julho de 2010
M - 278 - DEPOIS DA GUERRA...AS MEMÓRIAS E OS AFECTOS...
Guiné /Blogopoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu...
(Manuel Maia)
Mensagem de Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 4 de Julho de 2010, postada no blog “Luís Graça e Camaradas da Guiné”.
manuelmaia»
QUISERA EU...
Quisera eu ter na volta os tempos idos
P`ra ver terra à partida "ganha em sortes"
Bissum, no norte, tida de "buraco"...
Mais "vozes do que nozes", felizmente,
O grau de risco dado àquela frente,
Perigosa sim por "venerarmos baco"...
Quisera eu lá voltar antes do fim
Da areia da ampulheta que de mim
Se escoa em movimento acelerado.
Sentar no baga-baga, protector,
Sentir da terra o cheiro e o calor,
Fruir tempo de paz agora achado...
Quisera um periquito a vir à mão,
Depenicar na fruta, comer grão,
E passeá-lo ao ombro, sem atilho.
Quisera ao Cumbidjã lançar granada,
Pescar o que der jeito à caldeirada,
Sem medo de hipotético sarilho...
Falar-vos do Morés, do Cantanhez,
Correr de lés a lés, tudo outra vez,
Por verdes matos, terra ocre/amarela...
Cruzar o Cumbidjã, o Armada em botes,
Palpar bajuda sã, fruir seus dotes,
De um corpo escultural de moça bela...
Quisera eu ter de volta os tempos idos,
Calcorrear espaços percorridos,
Bolanha, lama, lodo pestilento...
Quisera os vinte anos da loucura
Perdidos nesses matos da lonjura,
Que evoco de memória, em pensamento...
Quisera ser de novo o furriel,
Anti, mas cumpridor do seu papel,
E firme na vontade e no querer...
No palco desta vida atribulada,
Tão prenhe de ilusões, cheia de nada,
Os anos pesam muito, podem crer...
Descer o Cumbidjã rumo a Cufar,
Bem cedo p`la manhã e experimentar,
Satisfação, prazer, risco, aventura.
Sentir a brisa fresca ante o "voar",
Do barco em lençol d´agua, a chapinar,
Num ziguezaguear toda a largura...
Comer um peixe frito com casqueiro,
Jogar um king a seco ou a dinheiro,
Marcar um golo em jogo de emoção...
Ganhar "subbuteo" em rifa terminal,
Testemunhar "fanado", algo "irreal",
E choro/ronco, mesmo ali à mão...
__________
Manuel da Maia
domingo, 18 de abril de 2010
M 233 - TERTÚLIA DE POESIA EM ALCOBAÇA

Um Grupo de Amigos da Poesia levou a efeito um evento cultural intitulado “Tertúlia de Poesia”, que teve lugar numa das salas do Armazém das Artes, em Alcobaça.
Vários convidados aceitaram o convite de Áurea da Mata e Pedro Luís, que foram as “almas danadas” deste serão de Poesia.
A “estreia mundial” aconteceu na noite no passado 17 de Abril com Leonor Lourenço, Pedro Guerra, Lúcia Serralheiro, Sofia da Mata, Palma Rodrigues, Augusto Luís, Alice Pires, António Sales, e …outros.
Numa tarde/noite –com tempo de Inverno - três eventos culturais chocaram-se inevitavelmente.
A tertúlia de poesia , com fundo musical ao vivo de José António, ultrapassou ,apesar de tudo, a meia centena de “tertulianos”.
Veio quem gosta de poesia e não deve ter dado o tempo por mal entregue.
Muitas palmas premiaram grandes nomes da poesia portuguesa. Também alguns autores presentes (não tão grandes como Luís de Camões, Fernando Pessoa e Mário Cesariny) leram os seus trabalhos.E foram aplaudidos.
As últimas palmas foram, merecidamente, para Áurea da Mata e Pedro Luís.
A Tertúlia da Poesia voltará à cena no próximo mês de Maio em data a anunciar.
Repetir-se-á em Turquel no dia 15 ou 22 de Maio ,às 21h30m, em princípio na Casa da Música .
E mais tarde na Benedita na sede da Associação “Terra Mágica das Lendas”.
Os jornais locais darão com certeza o devido relevo às próximas tertúlias.
JERO

domingo, 11 de abril de 2010
M 231- À DISTÂNCIA NO TEMPO

Página de um Diário de Guerra
(Memória)
À distância…no tempo…recordo sons!
numa selva de imagens
recordo militares agitados…
Lembro a floresta, o caminho estreito
.
À distância do tempo…os ruídos esbateram-se!
Ficaram imagens…
Deitado na viatura da «Breda» está ferido o capitão
Pálido, de camuflado rasgado…. mas comandando
Ordens e gritos…Militares disparando…Correndo,
Lutando à voz …do seu capitão exangue …
Saindo da floresta …
que para trás ficava de novo silenciosa!
À distância do tempo…volto a ouvir
Algures vindo do céu… antes da vista…o ter visto
O barulho inconfundível …das pás, das hélices do helicóptero
O sangue deixou de correr
A palidez das faces atenua-se…
e aparecem os primeiros sorrisos.
Estão nítidos na minha memória
…Os companheiros
Que ficaram para a vida…para toda a vida
À distância…no tempo…Do inimigo de então
que tantas vezes ouvimos… e não vimos
Sem ódio…nem ressentimento….quase nada recordo
À distância…no tempo…recordo homens, irmãos!
JERO
quarta-feira, 7 de abril de 2010
M 227- A LIBERDADE

Deixa-me escrever-te um poema,
Que tenha por tema
A liberdade.
Porque sabes,
Eu sou livre e sou alegre,
Sou teimoso, obstinado,
Corajoso, apaixonado,
Defeituoso e sem jeito,
Mas trago dentro do peito
Esta minha liberdade.
Que é cantar, como os cantores,
Sem jamais saber cantar,
Escrever como os escritores,
Sem nunca saber escrever,
Ensinar como os Doutores,
Sem nunca ter de aprender,
Fugir e ser soldado,
Apenas porque se quer,
Olhar e ser olhado,
Sempre que a gente quiser,
Ser homem e ser mulher,
Sem nunca estar acabado,
Partir pelo mundo fora,
Sem nunca daqui ter saído,
Ter saudades de partir,
Sem nunca aqui ter chegado,
Passar uma vida a rir,
Sem ter razões para ter rido,
Olhar para o mundo
E dizer:
Esta é a minha vontade,
O meu voto mais profundo,
O meu hino
À liberdade...
Monte Real, 7 de Abril de 2010
Joaquim Mexia Alves
61 anos depois de 7 de Abril 1949
_________
segunda-feira, 22 de março de 2010
M219-ESTE DIA DE POESIA

Dia da poesia
Este dia da poesia
Também devia ser do fado
Estão os dois em harmonia
Muito, muito em sintonia
E caminham lado, a lado
O Poeta é sonhador
Passa noites sem dormir
Ele escreve com amor
Quantas vezes sua dor
Escreve o que está a sentir
Ser poeta! É ir mais longe
É sonhar com as estrelas
É trazer no coração
Bem juntinho em união
O amor de muitas elas
Quando gostamos de alguém
E esse alguém nos é querido
A vida vai mais além
Digo até! Tem mais sentido!!!
Quem viver com dignidade
Tem valiosa virtude
Se lhe juntar humildade
Tem uma nobre atitude!
Quem o seu amor perdeu
De certo não vive bem
Por algo se corrompeu
E é triste! Digo eu!
Não ter amor de ninguém
Nesta vida se andas triste
E a vives a chorar
Porque o amor não te assiste
Mas mesmo assim, não desiste
Só para te chatear...
Acaba com tudo e diz
Pára! Não quero sofrer!
Ainda és aprendiz
Tens muito para viver...
P´lo amor damos a alma
E também o coração
Tudo em nós é encanto
Anulamo-nos do pranto
Às vezes! Com ilusão
Hoje também é o dia
Em que chega a Primavera
Estação que trás magia
Muitas flores com alegria
Pois já há tempo, se espera
Viva o dia da Poesia
Viva o dia do Amor
Viva o dia da Alegria
Viva o dia da Folia
Viva o dia do Senhor…
Áurea da Mata
sexta-feira, 19 de março de 2010
M217- TRIDUO PASCAL

TRÍDUO PASCAL
Subir com decisão a Jerusalém. Com Ele.
Participar com alegria na Ceia. Com Ele.
Rezar a dor no Gestsémani. Com Ele.
Ser preso e torturado. Com Ele.
Fazer o caminho para o Calvário. Com Ele.
Morrer. Com Ele.
Ressuscitar. Com Ele.
Viver. Com Ele.
Tríduo Pascal:
o tempo e o espaço da ternura de Deus
levada até ao infinito.
Por ti,
por mim,
por nós,
por todos.
Com uma Cruz pelo meio.
E o AMOR a vencer.
Sempre!
Como no princípio…
PCJ
terça-feira, 9 de março de 2010
M210- AINDA O DIA DA MULHER...

A caixa de Pandora...
Ou um poema panteísta contra a misoginia...
No Dia Internacional da Mulher
(Para a minha mãe, Maria,
para a Alice,
para a Joana,
para todas as mulheres do nosso blogue,
para todas as mulheres de Portugal e da Guiné-Bissau,
para todas mulheres do mundo)
Os deuses criaram a primeira mulher,
e puseram-lhe o nome de Pandora.
Diziam os gregos antigos que fora por castigo,
como presente envenenado,
oferecido aos homens,
a quem Prometeu, o titã, tinha dado o fogo,
roubado aos céus.
Na sua fabricação,
à imagem e semelhança dos deuses,
trabalharam Hefesto e Atena,
sob as ordens do próprio Zeus,
e com o auxílio do resto do Olimpo.
Cada divindade se esmerou
e lhe deu uma qualidade:
a graça,
a beleza,
a meiguice,
a paciência,
a compaixão,
a persuasão,
a generosidade,
a inteligência emocional,
a sensibilidade,
a sensualidade,
o sexto sentido,
a graciosidade na dança,
a arte da sedução,
o erotismo,
o talento para a cozinha,
a destreza para os trabalhos manuais,
o amor maternal…
Porém Hermes, o pérfido,
inoculou no seu coração
o vírus da traição e da mentira.
Zeus, o colérico e vingativo pai dos deuses
e de todas as demais criaturas,
mandou então a sua obra-prima
para a terra,
qual cavalo de Tróia.
Epimeteu, irmão de Prometeu, estava por este avisado:
- Do céu nunca virá nada de bom!
Nunca aceites nenhum presente divino…
Deslumbrado com a sua beleza,
Epimeteu tomou Pandora como esposa.
Em casa, ele tinha uma misteriosa caixa
que outrora lhe enviara o céu.
Pandora fora instada a nunca a abrir,
em circunstância alguma.
Mas a curiosidade feminina foi superior às suas forças.
Outros dizem
que era o seu dote de casamento.
… Lá dentro, na caixa de Pandora,
estavam todos os males e todas as doenças,
incluindo a peste (a pior das doenças),
que haveriam de afligir a humanidade,
até ao fim dos séculos dos séculos…
Mas, no fundo da caixa, ficou ainda
um resto do recheio,
o único elemento que não se chegara a libertar,
porque Pandora, assustada,
ainda conseguira fechar a tampa,
na última fracção de segundo …
E esse elemento era… a Esperança,
disfarçada de mal !
Apesar do erro irreparável,
Pandora vai permitir aos homens,
empunhar com orgulho o archote de fogo
que lhes dera Prometeu,
manter acesa a luz ao fundo do túnel,
manter vivo esse outro fogo do conhecimento e da paixão,
dominar alguns dos piores males
que estiveram prestes a destruir a humanidade,
conquistar o direito ao futuro,
lutar contra a doença e a morte,
alimentar a esperança,
combater o fatum, a condenação ao absurdo,
levá-los, enfim, aos seres humanos
a superar as limitações da sua condição animal...
Com Pandora, não somos definitivamente criaturas divinas,
nem obras-primas da criação,
somos assumidamente seres livres,
humanos,
frágeis,
vulneráveis,
mortais,
bons e maus,
mas donos do nosso destino.
Com Pandora, tornámos irrisórios os deuses,
libertámos criadores e criaturas,
deixámos a sub urbanidade do Olimpo,
humanizámos a vida,
hospedámo-nos no sistema solar,
começámos a escrever a história,
ganhámos a terra como nossa casa,
conhecemos a vertigem e o sabor
da aventura da liberdade...
Pandora não é a fonte de todos os males,
não é o pecado original,
é afinal “a que tudo dá",
em grego.
Com Pandora somos fogo e estopa,
mas já não vem o diabo... e assopra!
Para quê o diabo,
se voltámos a ter, de volta,
a caixinha de Pandora,
agora domada e explicada às criancinhas,
e outrora mortal brinquedo dos deuses ?
Luís Graça
Luís Graça, fundador, administrador e editor do blogue “Luís Graça e Camaradas da Guiné”, que recentemente atingiu 1.500.000 de páginas visitadas em 6 anos de existência.
Natural da Lourinhã (a "capital dos dinossauros"), mora em Alfragide, é sociólogo do trabalho e da saúde, doutorado em saúde pública, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, em Lisboa... Casado, com a Alice Carneiro. Dois filhos: Joana Graça, psicóloga e ilustradora, e João Graça, médico e músico. Fez a guerra colonial na Guiné (CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71).