Uma mão rodada
A cena passou-se na tarde de hoje na barbearia dos irmãos Oliveira da Rua Miguel Bombarda, em Alcobaça.
Um jovem pai passou o filho ao Tó, um dos irmãos barbeiros, e passou-lhe também a responsabilidade do “corte”.
«Fica à tua, meu. Põe a trabalhar a tua sensibilidade. Faz um corte moderno.»
Achei piada ao estilo do pai com quem meti conversa.
Era um pai orgulhoso. O seu filho de 6 anos era um aluno brilhante.
Um dia, de manhã, estava adoentado e pediu para ficar na cama. O pai lembrou-lhe que era uma pena ele não se sentir bem…Iam dar nesse dia o “8”. O miúdo quando percebeu que ia perder o “8” arrebitou e disse que queria ir à escola.
E foi. Aprendeu até ao “10” num foguete e quando chegou ao “199” perguntou ao pai qual o número que se seguia.
Quando soube que era “200” disse logo ao pai que o seguinte era o “201” e que já sabia como era até ao 299…Quanto às vogais já as sabe todas.
O miúdo, na cadeira do Tó, olhava para o pai embevecido.
Percebia-se que o pai jogava “em casa” – era nitidamente “intimo” dos irmãos António e Paulo Jorge -e falava “por tudo quanto era sítio”.
Quando disse com bravata que estava a frequentar o 2º. Ano da Universidade pensei que brincava pois conhecia-o dos tempos em que tinha sido “securita” da Câmara de Alcobaça.
Perguntei que curso estava a frequentar. Respondeu de imediato que andava em Rio Maior num curso superior de ginástica.
E como a prática era mais importante que o estudo propriamente dito acrescentava, sem falsas humildades, que… estava “na maior”. Os professores até “abriam os olhos” com certas coisas que era capaz de fazer.
Perguntei-lhe se, em argolas, fazia o “Cristo”.
Faço pois. “Na maior”.
Um dos irmãos, o Paulo Jorge, provocou-o e o Hugo Matos - assim se chamava o pai do miúdo a quem cortavam o cabelo com “sensibilidade” e também com a tesoura – afirmou que era também capaz de apanhar uma maçã do chão com uma “mão rodada”.
Perguntei como era o tal exercício e o Hugo respondeu que apanhava com a “esquerda” ,enquanto rodava com o corpo sem tocar com a outra mão no chão.
Fui a minha vez de ser rápido. Tirei a minha máquina fotográfica da pasta e mandei a bolsa da “Lumix” para o chão.
Pus-me em posição de fotografar e desafiei-o: Então exemplifique lá como é?
Os irmãos gozaram e…o Hugo aceitou o desafio.
E fez o salto “de mão rodada” por duas vezes!!!
Fotografei o que fui capaz e voltámos a conversar.
A partir dali passei “a jogar com a bola mais baixa” e fiquei a saber que o Hugo já tinha abandonado os “securitas” há algum tempo. Tinha-se dedicado à Educação Física e nesta fase da vida era formador na Direcção Geral da P.S.P..
Contava dentro de um ano e pouco acabar o seu curso e ingressar no ensino.
A conversa continuou com outros temas, nomeadamente sobre o ingresso de um seu amigo na “Legião Estrangeira” que me deixou estupefacto. Mas essa história ficará para uma próxima oportunidade.
Quando cheguei a casa fui à Internet ver o que encontrava sobre o exercício que o Hugo tinha feito na barbearia.
Encontrei a seguinte definição de “rondada”.
Rondada ou rodante: é como uma estrela, mas tem fase de voo (um momento em que nenhuma parte do corpo toca o chão) e termina com as duas pernas juntas. Serve para dar impulsão antes de elementos que começam.
Não sei se foi exactamente “isto” que o estudante do 2º.Ano de “Rio Maior” fez mas ...naquele espaço o que eu apreciei mais foi o Hugo a falar do seu filho.
Que deixou de estar “doente” de um momento para o outro …para não perder na sua escola o dia do “8”!
Está ali uma “estrela” em formação…
Quanto ao pai já é.
Não sei bem se estrela ou cometa mas…para já é um jovem pai com "auto-estima" bastante em alta.
O que lhe fica bem.
Digo eu.
JERO
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