segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

M185-MNEMÓNICAS ORNITOLÓGICAS


Mnemónicas Ornitológicas

…Era um final de tarde de Verão.

A avó descansava, sentada num saco cheio de batatas.

O dia tinha sido longo. Desde manhã cedo que ela e os seus três netos apanhavam as batatas que o pai e o avô arrancaram da terra com a enxada.

Agora era altura de carregar os sacos para o reboque do tractor que o pai e o avô tinham ido buscar a casa. Por isso, restava esperar que eles chegassem, aproveitando para algumas brincadeiras e zaragatas que o momento proporcionava.

De repente a avó exclamou:

– Olhem! Lá está o paspalhão!

– Paspalhão!? Aquilo é uma codorniz! Diz o neto mais novo.

– Não é nada! Responde a avó.

– Então não percebes o que ele diz?

– "Eu-eu, eu-eu, eu-eu! Paspalhão! Paspalhão! Paspalhão!" Oh tomem lá atenção!

Espantados, os netos deliciaram-se com as palavras da avó, reproduzindo o canto da codorniz, enquanto esta continuava a cantar espaçadamente, em intervalos regulares, à espera de atrair uma fêmea…

Este é apenas um exemplo das mnemónicas populares que reproduzem os cantos de algumas aves e da forma como têm passado de pais para filhos… ou de avós para netos... ao longo dos tempos.

Obviamente provenientes dos meios rurais, contextualizam quase sempre temáticas agrícolas e/ou religiosas. Estas expressões assentam na fonética auditiva das palavras e nem sempre é fácil reconhecer a associação, entre as palavras e o canto, que estas pretendem reproduzir.

A grande variedade de cantos que uma espécie é capaz de emitir, poderá confundir-nos e dificultar a identificação do(s) canto(s) que a mnemónica pretende reproduzir. Como é o caso do Chapim-real(Parus major).

Além disso é necessário dar a entoação correcta às frases. Tarefa que será mais fácil para aqueles que, sendo conhecedores dos cantos das aves, tenham também alguns dotes musicais!

Codorniz (Coturnix coturnix)

"...Eu-eu, eu-eu, eu-eu,

Paspalhão! Paspalhão! Paspalhão!…"

No caso da codorniz, a maioria das vezes não é possível aperceber-mo-nos da primeira parte do canto, pois é menos audível que a segunda. No entanto, com as novas tecnologias, hoje é fácil termos acesso a várias gravações de som e imagem, disponíveis on-line(1), onde será possível aperceber-mo-nos destas duas vocalizações distintas.

Há inclusive indivíduos que vocalizam apenas sons correspondentes à primeira parte do canto ("...eu-eu, eu-eu, eu-eu..."). Talvez este facto esteja directamente relacionado com indivíduos imaturos.

Outros reproduzem uma única vez o som dissílabo da primeira parte, antes de entoarem a segunda. Ou seja, é necessário ter em conta que o número de vocalizações, do mesmo som, que compõem um canto varia de indivíduo para indivíduo.

1 comentário:

  1. Adorei a história...

    Quantas vezes a minha avó e a minha mãe me diziam a mesma coisa.
    Eu ficava bem`a escuta, para perceber se era mesmo "paspalhão"
    Tal como perguntar ao cuco da ribeira, quantos anos me dás solteira.O cuco começava a cantar e nós faziamos a pergunta, as vezes que o cuco cantasse, até parar, eram os anos que estariamos solteras.
    Todas essas, e outras memórias guardo com muito carinho.
    Gostei mesmo...
    BJO
    Áurea

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