terça-feira, 14 de dezembro de 2010

M 320 - OS "PEQUENOS NADA" DA VIDA

SABEDORIA POPULAR

OS”PEQUENAS NADAS” DA VIDA…
O Pedro, um jovem de 13 anos, acompanhava habitualmente o pai nas idas à taberna da aldeia.
Vivia numa zona rural e depois da “escola” ajudava nas tarefas caseiras.
Na fazenda, que circundava a casa dos seus pais e avós , pegava na sachola ou no ancinho dia sim, dia sim e ia aprendendo o que a vida custa.
Os trabalhos agrícolas eram duros e as idas à taberna com o seu pai eram sempre momentos bem-vindos.
Fascinavam-no as conversas do seu pai com os mais velhos, nomeadamente, quando essas conversas evocavam recordações da guerra do Ultramar..
Se tentava meter a sua “colherada” não lhe davam grande atenção. Era ouvir e calar.
Quando o seu pai bebia o seu copo de vinho soltava um “ah” de satisfação, que parecia ficar a pairar algum tempo no ambiente acolhedor da taberna.Quase que se podia “ouvir” o silêncio entre as conversas dos amigos de seu pai.


Aqueles “aaahh” de satisfação eram momentos “únicos”…Pareciam fazer parte de um ritual monástico, salvaguardadas as devidas proporções. Quando o pai esvaziava o copo e batia com ele, já vazio, no balcão o “aaahh”, já tantas vezes ouvido, surpreendia sempre o Pedro que seguia com olhar o momento de prazer do seu pai. Que bom devia ser beber um copo. Quando é que ele teria direito a fazer um “aaahh”!?

O tempo ia passando e o Pedro um dia atreveu-se a pedir ao pai: - “Quando é que eu posso fazer um “aaahh”?”
O olhar que o seu pai lhe deitou antecipou a resposta que bem lhe custou a ouvir: «Ainda és muito novo para fazer um “aaahh”.»
Passou o Verão, chegou o Outono e o Pedro pensou que já tinha acumulado “créditos” para mais um pedido. E num dia em que tudo tinha corrido especialmente bem nos trabalhos da escola e da fazenda arriscou: “Oh pai, quando é que eu posso fazer um “aaahh”?”
Teve direito a mais resposta negativa mas, desta vez, pareceu-lhe que o Pai tinha feito um compasso de espera antes de proferir o “não”. Saiu chateado da taberna e voltou sozinho para casa.
No dia seguinte o Pedro fez mais uma tentativa. “Oh Pai quando é que eu…”.
Para sua surpresa o pai disse para o taberneiro. “Oh Grazina, dá lá um copo ao rapaz”.
Pareceu-lhe que tinha havido um piscar de olhos entre ambos mas…o seu copo finalmente “aterrou” no balcão.
O Pedro pegou-lhe com o coração a palpitar e com os olhos a brilhar preparou-se para soltar o seu primeiro “aaahh”.
Bebeu o primeiro golo e arrepiou-se todo .Soltou um “iiiihh” prolongado… Tentou um segundo golo e o seu “iiiiiiihhh” foi ainda mais prolongado. Olhou para o copo com asco … e sentiu a mão do pai nas suas costas.
- “Como vês ainda não tens idade para fazer um “aaahh”.
O Pedro teve que reconhecer que sim e saiu para a rua para apanhar ar. O pai ficou um pouco trás e, bem disposto ,disse ao Grazina:- “Eh pá não poupaste no vinagre. Fico-te a dever uma”.
Só muito mais tarde o Pedro soube da “marosca” e ..percebeu como o seu Pai tinha sido sábio.
De facto o vinho não deve ser bebido por gente nova…e que há idade para tudo…
Esta história é verdadeira e passou-se numa freguesia perto de Alcobaça.

Infelizmente os pais dos miúdos da cidade nem sempre têm tempo para estar tão presentes nas vidas dos seus filhos. Nomeadamente nas suas saídas nocturnas, quando consomem e fazem“aaahh’s” antes de tempo…

Os tais “pequenos nadas” da vida que podem vir a fazer toda a diferença!
Eh ou não “eeehh” !?
JEROOO…





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