domingo, 6 de junho de 2010

M 261 - TESOUROS DE ALCOBAÇA


Edifício da Biblioteca da Ordem de Cister
O edifício da Biblioteca da Ordem de Cister ,concluído entre as Invasões Francesas e a Guerra Civil, estava ao serviço do Cenóbio em Agosto de 1830 quando o Rei Absoluto D.Miguel fez uma importante visita de “Estado” à região do Oeste.
«Demorou-se na Livraria e no Cartório do Convento mostrando particular interesse pelos Manuscritos, Bíblias e Pergaminhos das Doações».
Em 1786, no mês de Outubro,D. Maria I ainda visita a Biblioteca instalada no antigo Dormitório Medieval.
No início do sec. XIX, nos anos 20, o Marquês de Fronteira e Alorna refere-se à “grandeza do edifício” da Biblioteca.
Nestas circunstâncias o edifício terá sido erguido entre 1813 e 1820 no período brasileiro de D.João VI.
Hoje, 750 mil euros vão suster a degradação do edifício e das suas coberturas esperando-se que nessa sequência de encontre finalmente uma solução no âmbito da conservação integrada.
Há cem anos o estuque do tecto da grande sala da Livraria começou a cair e do seu esplendor só existem hoje os florões dos cantos que “sobraram” do arranjo feito pelo Lar Residencial nos anos 60.
A correspondência da época testemunha o desinteresse da capital pelo socorro possível ao interior do edifício, situação que agora foi revertida graças ao dinheiro do QREN e aos relatórios elaborados há cinco anos, que provocaram sucessivas preocupações à Direcção do IGESPAR e às suas equipas técnicas.

Em Março de 1984 publiquei na Revista “HISTÓRIA” do mês de Outubro um artigo “Livraria de Alcobaça e as suas andanças”, de onde respiguei alguns parágrafos que me pareceram interessantes como informação histórica.
Há uma descrição de 1589 feita por Hieronimo Roman, monge Agostinho espanhol que relata o seguinte:
Ao longo do antigo dormitório, do lado esquerdo, encontra-se uma sala grande espaçosa onde está a biblioteca(…) dos poucos livros que aí se encontram pode-se concluir que foi uma grande biblioteca.
Encontram-se aí unicamente manuscritos e alguns livros impressos.
Mais de duzentos anos depois, Frei Manoel dos Santos descreve o mesmo mosteiro, e fala-nos: acerca da Livraria que havia na casa do fogo, ou calefatório(…) Essa casa de fogo era aonde agora está a casa da livraria. Tudo indica que onde hoje se ergue a cozinha setecentista, o mosteiro de Alcobaça alojou a livraria de Alcobaça o calefatório (local onde na idade média trabalharam os copistas do mosteiro) o primeiro lugar que albergou a biblioteca da ordem.
Estava esta livraria em huma casa pública, e comua, que ainda, conserva o nome de livraria velha o que foi ocasião de se desencaminharem muitos volumes dos mais perciosos(…) mudaram a livraria no ano de 1702 para esta casa onde agora está (…) Tem quinhentos e tantos corpos, ou volumes; (…) O arquivo Real do mosteiro de Alcobaça huma casa grande repartida em três salas. Está situada no primeiro lanço dos dormitórios da parte esquerda.
A livraria terá nascido e crescido no calafatório, mantendo-se aí até ao século XVI, altura em que se transfere para o dormitório medieval provisoriamente dividido; no século XVII volta ao calafetório para que se possam fazer obras definitivas no antigo dormitório, finalmente no início do século XVIII três novas salas albergam o arquivo, a livraria manuscrita e a livraria comum, dando-se a última mudança «deste Património Cultural de inegável riqueza» depois de 1755.
Ainda hoje é possível apreciar, este notável edifício, cuja dimensão cultural se perdeu a partir de 1834 quando da extinção das ordens.
Efectuou-se então o empacotamento de todo o espólio e o seu envio para a Vila de S.Martinho do Porto e posteriormente embarque para Lisboa, num veleiro da marinha real com destino ao arquivo nacional da Torre do Tombo e à Biblioteca Nacional.
Felizmente um documento fotográfico do século passado permite avaliar, ainda que palidamente, o que foi o tecto do do salão da biblioteca, em baixo relevo.
Ao centro , um enorme medalhão oval representando S.Bernardo emoldurado por uma banda geométrica e folhas estilizadas. Flores, folhas, traços geométricos molduras preenchiam completamente o resto da decoração que vinha morrer ao nível dos óculos de iluminação.

Rui Rasquilho

1 comentário:

  1. Parabéns por este blog
    P´rá cultura bem virado
    Ensina e não deixa esquecer
    O que queremos defender
    Raízes do nosso passado

    Este é mais um belo texto
    Em que muito aprendi
    É por isso que me fascina
    A curiosidade me donina
    Gosto de entrar aqui...

    Grande beijo
    Áurea

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