Por iniciativa da Sociedade de Propaganda Nacional realizou-se em Lisboa a 4ª edição do Congresso de Turismo no mês de Maio de 1911, iniciativa que recebeu 1500 congressistas. O poder republicano desejoso de reconhecimento e de visibilidade internacional e ciente da necessidade de atracção de divisas vai, finalmente, dotar o país de estruturas orgânicas para o fomento turístico, instituindo um Conselho e uma Repartição do Turismo.
O turismo passa a ser entendido como uma indústria em que se depositam grandes esperanças. A Sociedade de Propaganda Nacional realça as potencialidades turísticas de Portugal, criticando, todavia, a falta de visão e de iniciativa na exploração de um filão intacto e inesgotável:
“a apregoada situação geográfica do Cais da Europa…; as prodigiosas e tantas vezes enaltecidas condições climatéricas que nos podem converter na estação de inverno e no sanatório da Europa e da América; as belezas naturais que são toda uma paisagem orquestral de luz, de colorido, de fecundidade e de encanto; as termas e praias, as cidades e as vilas, os montes e os rios e até o carácter bondosamente hospitaleiro duma população diligente, afectuosa e simples, tudo isso, que constitui um património valiosíssimo que uma rudimentar noção de economia ensina hoje a valorizar, é como se fosse res nulius para nós, é, como uma campa da nossa inércia…. É tudo isso, enquanto as outras nações senhoras de um património bem menos valioso do que o nosso tratam, por todas as formas, de o fazer render pelo turismo, explorando afinal essas duas singelas necessidades humanas e universais de distracção e de descanso…” (Diário da Câmara dos Deputados, 8/01/1912).
O Congresso de Turismo numa missão de propaganda sobre as mais-valias do território patrocinou itinerários de visita. No periódico Leiria Ilustrada faz-se referência à visitação de uma embaixada de cem congressistas às terras de Alcobaça, Batalha, Leiria e Caldas da Rainha.
Na chegada a Alcobaça a ampla comitiva era efusivamente aguardada por centenas de pessoas na praça do município. A fanfarra que abrilhantava a recepção tocava no coreto os hinos de França, de Espanha, de Inglaterra, da Bélgica e de Portugal.
A visita ao Mosteiro foi seguida de um almoço na Sala do Capítulo. A fanfarra que acompanhou o repasto permitiu que, entre os pratos, os convivas pudessem dançar com as senhoras alcobacenses. A notícia destaca os vinhos ofertados pelo lavrador e governador civil José Eduardo Raposo de Magalhães, assim como os doces, mencionando as queijadas do Bárrio, o pão-de-ló de Alfeizerão e o arroz doce de Alcobaça (doce, aliás comum nas refeições monásticas). A generosidade dos congressistas materializou-se numa colecta endereçada ao Hospital da vila.
António Valério Maduro
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