segunda-feira, 21 de março de 2011

M 343 - RUI RASQUILHO OPINA

Seis relatos, seis espelhos

1-Votar, votar, votar, votar sempre mesmo que seja em branco. Os centenas de milhar de cidadãos que vieram protestar nas praças das cidades no dia 12 de Março não podem ficar pelo desespero individual feito em colectivo. Não gosto do adjectivo da congregação – à rasca – preferia que tivessem escolhido algo mais dinâmico – em luta - mas isto é o que menos interessa. Fundamental para a sobrevivência do protesto vai ser o voto. É este exercício cívico que mantém a democracia mesmo que o resultado seja frustrante. Todos os que participaram na acção de rua têm de juntar o seu voto ao dos outros cidadãos para não se tornarem egoístas ao virarem as costas ao mais importante acto cidadão de cada um de nós. É a razão do refrescar da administração democrática. Reflectir em conjunto via novas tecnologias será também um bom futuro, mais sólido e mais interventivo. Tive pena de não ver bandeiras da Europa e não vou agora elaborar qualquer tese sobre esta ausência de um projecto que transcendeu as fronteiras de um Estado membro da União Europeia, que tem de concertar com muitos outros os problemas da governança.


2-Brutal foi a natureza no Japão. Milhares de mortos e desaparecidos. Radiações nucleares à solta. Cidades tragadas pelo tsunami. Casas , aviões, navios, automóveis destruídos. Prejuízos humanos e materiais ainda por determinar. A maior economia da Ásia atacada ainda em escala desconhecida. Teve grau nove o abalo como dizem ter sido o de Lisboa em 1755. Comparar as imagens do Japão com as gravuras do de Lisboa deixa entender o que terá acontecido nas costas de Portugal, Marrocos e Galiza devido ao tsunami. No século XVIII assustador é um pequeno adjectivo para o perigo nuclear cujas consequências se desconhecem.


3- Numa tenda adequada ao terreiro que construíram frente ao Mosteiro os cidadãos brincaram ao Carnaval. Os forasteiros foram muitos. O concelho voltou a Alcobaça e foi um gosto ver dezenas e dezenas de crianças a divertirem-se na Praça 25 de Abril. A vocação do terreiro é ser um lugar de festa.


4-Parece que finalmente vem aí o Museu do Vinho. O Município vai poder criar um novo núcleo de turismo cultural em Alcobaça.


5-Quando ao Hotel no Mosteiro e todos os outros equipamentos que se desejam há qualquer coisa indefinida no Ministério da Cultura que se está nas tintas para o futuro da cidade. Os pequenos poderes dos burocratas de Lisboa ,delfins do estado centralizado, estão-se nas tintas para Alcobaça e o seu futuro.


6-Na Irlanda e na Grécia houve eleições em plena crise . Talvez não fosse mau que durante a apresentação do orçamento para 2012 considerássemos uma mudança de Governo. E se for antes cá estamos para votar, isto se o sr. Presidente da República passar à prática a teoria crítica do seu discurso de posse pouco apaziguador. Ressalve-se contudo que nos parece que o actual Governo pouco mais poderá fazer com as condicionantes europeias, mas…se seriamente a despesa diminuísse, os Institutos fossem reformados seria preciso acabar aos poucos com a situação dos reformados que auferem esmola estatal, não lhe posso chamar outra coisa.


Já com o texto pronto eis que o alcunhado PEC 4 emaranha a política. O Governo vai a Bruxelas com um cabaz de fruta mas não previne os sócios do pomar. Todos continuam a dizer o mesmo, só o dono da várzea quer terminar com o regadio, mas não o fará porque o presidente do conselho de administração não o deixa levar a sua avante. O grande centro comercial europeu quer a fruta e nós a continuação do pomar em produção. O gerente garante voltar se os sócios o despedirem e aí os trabalhadores terão uma palavra a dizer para salvar a produção num País, Portugal, cujo futuro passa pelo entendimento entre partidos, sindicatos e organizações patronais se não queremos voltar ao descalabro advindo da Guerra Peninsular no sec. XIX ,tendo em consideração naturalmente que as circunstâncias políticas e sociais não são as mesmas. Teremos que nos unir, de exigir que quem governa em nosso nome o faça sem rodeias.


Rui Rasquilho





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