Ao 25 de Abril de 1974 era Presidente da Câmara Tarcísio Trindade, que cumpria o seu quinto ano de mandato.
(tinha tomado posse em 1969).
Com “os novos ventos revolucionários a soprar fortemente” foi vítima de enxovalhos pessoais, nomeadamente ,no assalto aos Paços do Concelho “pelos representantes do povo e das novas forças democráticas”, que o expulsaram da cadeira do poder.
No período conturbado que se seguiu (1974-75) Tarcísio Trindade foi durante algum tempo o alvo preferido dos “pintores de parede”, uma nova “classe de artistas” que despontaram depois do 25 de Abril de 1974. “Tarcísio Fascista” apareceu inscrito em paredes de diversas ruas da vila.
Com a postura calma, que lhe era geralmente reconhecida , Tarcísio Trindade, levando o seu filho mais velho pela mão, passeava então pela vila de pincel na mão e, em plena luz do dia, ia apagando as pinturas com que o “homenageavam”. Foi então acusado de “só” ter essa coragem por levar o seu “filho de calções” como escudo humano!
Mas há ainda uma outra história.
Uma noite o ex-Presidente da Câmara estacionou o seu carro frente ao Café Portugal, na Rua “das Lojas”.
A viatura foi reconhecida por alguns “revolucionários” que manobraram os seus carros de maneira a que o carro de Tarcísio ficasse“emparedado” .
Quando saiu Tarcísio percebeu “a piada” e viu no passeio do lado contrário ao “Café Portugal” alguns mirones prontos “a gozar o prato”. Tarcísio entrou no seu carro e à custa de múltiplas manobras e de pequenos toques dos carros da frente e de trás conseguiu tirar o seu carro. Deu uma volta ao quarteirão e voltou ao “Café Portugal”. Alguns dos mirones ,que tinham preparado “a armadilha”, ainda por lá estavam. Pois Tarcísio, novamente à custa de múltiplas manobras voltou a estacionar o seu carro no local onde estava anteriormente. Estacionou, saiu do carro e foi para casa… a pé!
E estes factos passaram-se à noite e sem o filho “de calções” pela mão!
Estes “terríveis actos provocatórios”valeram-lhe depois algum tempo de prisão em Caxias.
Esta “memória” é para ficar por aqui.*
Mas já com as “artes finais” do nosso livro concluídas fomos surpreendidos com a notícia do falecimento de Tarcísio Trindade. Em 15 de Março de 2011.
Complementámos a memória a seu respeito com mais algumas notas, que como alcobacense lhe devemos.
Um percurso de vida notável
Nascido em Alcobaça, em 11 de Setembro de 1931 – estava a poucos meses de completar 80 anos – era filho de comerciantes. Aqui fez o seu percurso escolar até entrar para a Faculdade de Direito, em Lisboa.
Interrompeu os estudos para cumprir o serviço militar obrigatório. Não reatou os seus estudos. Seguiu o negócio da família e foi antiquário em Alcobaça. Mais tarde foi também livreiro, bibliófilo e avaliador.
O Tratado de Confissom, impresso em Chaves em Agosto de 1489, foi descoberto em 1965 por Tarcísio Trindade. Pina Martins publicou-o em edição diplomática em 1973 com um estudo introdutório. Em 2003 foi objecto de uma edição semi-diplomática e de um estudo linguístico, a cargo de José Barbosa Machado.
O Tratado de Confissom, um dos primeiros livros impressos em língua portuguesa, é uma obra de cariz pastoral.
Escreveu entretanto um livro de poesia.”Os Meninos e as Quatro Estações”.
«O velho do realejo chamou os meninos
E tocou só para eles na despedida
O Largo do Inverno de António Vivaldi
Os meninos pararam na corida
E ficaram à espera
Da Primavera
Sempre meninos.»
Em Alcobaça, foi Vereador da Câmara Municipal e Presidente Comissão de Turismo no mandato de Horácio Junqueiro, e depois Presidente de Câmara de 7 de Fevereiro de 1969 a 18 de Julho de 1974. Foi Presidente de Direcção do Ginásio de Alcobaça (durante sete épocas) e dos Bombeiros .Pertenceu também aos corpos directivos da ADEPA (1980).
Foi Director e Editor do jornal O ALCOA de 29 de Fevereiro de 1964 a 26 de Dezembro de 1970 .Teve ainda o seu próprio jornal.Com o título de “Jornal de Alcobaça” editou 112 números, durante 4 anos e 2 meses.
Nas primeiras eleições depois de Abril de 74 foi eleito para presidente da Assembleia Municipal, com os votos da Aliança Democrática (AD).
Assumiu anos mais tarde funções de Provedor da Misericórdia em 1987, mantendo-se nesse cargo até 2010, ou seja, durante cerca de 23 anos. Foi Condecorado em 2003 pelo Presidente da República Jorge Sampaio.
Era casado com Ana Mafalda Oriol Pena de Campos e Trindade e pai de 4 filhos: Tarcísio, António, Bernardo e Sancha.
Ao seu lado teve na vida uma grande mulher. Morreu-lhe nos braços. Em paz.
JERO
* É uma das 30 hitórias do meu novo livro "ALCOBAÇA É COMIGO" em fase de impressão.
Em nome de toda a família agradecemos com carinho o artigo. Agradecíamos que retirasse a nossa fotografia de família no cemitério deste post e que a mesma não voltasse a ser publicada. Alguém teve a infelicidade de tirar num momento tão intímo de família e que chegou até a sair num jornal. Eu pessoalmente fiquei fortemente incomodada com a invasão de privacidade, num momento tão delicado para a nossa família.
ResponderEliminarObrigada Sancha Trindade
Boa tarde Sancha Trindade
ResponderEliminarEm relação à foto a intenção foi a melhor mas compreendo perfeitamente o que exprime no seu comentário. Acabei de a retirar do post.
Melhores cumprimentos.
JERO