NASCIDO P’RA VIDA TEMPORARIAMENTE
António tem actualmente quase 2 anos e meio. Desde que nasceu p’ra vida aconteceram-lhe muitas e variadas coisas.
Até aos 9 meses de idade só coisas más. Muito más.
Com o seu pai ausente a mãe deu-lhe um colchão sujo, sem lençóis e com apenas uma coberta.
Na noite do seu quarto a luz eléctrica chegava timidamente através de uma extensão ligada na habitação de uma vizinha.
No quintal de sua casa era acesa uma fogueira que aquecia água numa panela assente em dois tijolos.
Por vezes a sua mãe deslocava-se num ciclomotor pelos caminhos térreos da aldeia. O António chorava ao seu colo.
E chorava em casa…onde raramente tinha colo.
Na sequência destes e doutros factos que chegaram ao conhecimento da Segurança Social foi levado para um Centro de Acolhimento Temporário. Faltavam-lhe uns dias para os 10 meses de idade.
A adaptação inicial do António foi difícil.
Com hábitos de sono muito alterados chorava e era alimentado com dificuldade.
Com o decorrer dos dias acalmou e um mês depois parecia já outra criança.
Continuava pequenino mas mais nutrido…e tinha agora colo.
E o tempo passou.
Começou a andar quando já tinha mais de 15 meses.
Aprendeu a falar tarde mas tornou-se uma criança muito simpática.
Hoje, com quase 2 anos e meio, já se faz entender e anda na creche com outros meninos.
Oficialmente continua em estado de abandono.
Porque os pais biológicos não aparecem no Centro de Acolhimento.
Ou melhor, a mãe telefonou uma vez e visitou duas vezes o António. Nessas raras visitas o António rejeitou o seu colo. E chorou.
Recentemente o António teve na creche um desafio difícil.
No “Dia do Pai” todos os meninos fizeram um desenho.
O António também fez .
A única figura do seu desenho identificava uma figura masculina, parecida com o psicólogo do Centro do Acolhimento Temporário!
Segundo o psicólogo Eduardo Sá não há idades ideais para adoptar ou para rejeitar.
Mas o António precisa de uma família.
Afinal continua na vida temporariamente.
António é nome fictício.
Infelizmente os dados da sua história de vida não o são.
E passaram-se a poucos quilómetros da cidade de Alcobaça...
Mas algo nos diz que o Menino da nossa história irá ter uma mudança de vida .
Pra melhor.
Temos esperança que no próximo dia do Pai desenhe também uma Mãe...
E que no ano a seguir o novo desenho já "retrate"uma sala com brinquedos.
Com balões...e com um cãozinho, pequeno e brincalhão...seguindo os seus passos.
Afinal ...é só preciso aparecer uma família de adopção!
JERO
Infelizmente, esta é uma história de entre muitas. Triste o país que não cuida dos seus velhos e das suas crianças....
ResponderEliminarMas eu vou mais longe: triste do país onde se vai parir sem saber o que significa ser mãe ou pai!
Foi este tipo de monstros que nós criámos? Onde está o amor e o sacrificio dos pais depois de terem optado por o serem?