IN MEMORIAM
OLEGÁRIO JOSÉ DO NASCIMENTO
1933-2009
Quando nos encontrávamos nas ruas da nossa Alcobaça …“Fadistas chorai, chorai” era a minha saudação brincalhona para o meu amigo “Galhito”, diminutivo porque era tratado pelos familiares e “aliados” mais íntimos(“Galhito” corruptela de Olegário, que passou por Olegarito e acabou em “Galhito”…).
Esta minha saudação “provocatória” tinha, obviamente, a ver com a veia fadista do Olegário do Nascimento que, em “estado novo” e mesmo mais velho cantou o fado como poucos. Na sua terra e …não só!
Estivemos com ele junto ao Centro Comercial da Gafa dois dias antes do trágico acidente que o vitimou.
Quando soubemos da triste notícia - pelo telefonema de um amigo - que o Olegário tinha morrido ficámos alguns momentos sem palavras.
Mas foi mesmo o “Galhito” !?
Tinha sido efectivamente o “Galhito” num acidente de viação próximo de Mendalvo, a pouca distância de Valbom, local onde vivia nos últimos tempos .
Recordámos de imediato a nossa última conversa e como o tínhamos gabado pelo seu excelente aspecto.
- Eh pá, estás bestial. Vais entrar no Campeonato dos “oitenta” em grande forma!
Ele riu-se, no seu jeito habitual e queixou-se um bocado da “máquina”. Terminámos a nossa breve conversa com uns comentários um bocado cáusticos em relação à política local e seus candidatos.
Foi a nossa última conversa e o nosso último encontro numa “esquina da vida”!
Quem é que iria adivinhar que era a último?
Na manhã do dia do seu funeral recordámos com amigos comuns algumas “notas” da vida do Olegário.
Os bons velhos tempos de solista da Orquestra Típica de Alcobaça(juntamente com o seu irmão Valdemar, na regência do Maestro António Gavino) e ,depois, a sua fase “ fadista”, que lhe proporcionou muitos êxitos pessoais mas ,segundo pensamos, reduzidas compensações materiais!
Faltou-lhe então um “golpe de asa” e uma mão amiga para lhe abrir as”portas certas” do mundo do fado.
Como seu modo desprendido e pouco “interesseiro” que o caracterizava o “Galhito” também não lutou o que devia ( nem, com certeza; bajulou os “donos” do meio fadista) e terá passado ao lado de uma grande carreira artística.
Depois imigrou uns longos anos para a Alemanha, onde trabalhou duramente e…não fez fortuna.
Quando regressou “às origens” montou ,com a sua mulher, um pequeno negócio de pastelaria caseira.
Recordam os seus vizinhos , que estiveram em peso no seu funeral, que o “Galhito” tinha uma grande paixão por animais. Tinha no seu quintal da sua casa da Rua “Nova” (Rua Cândido dos Reis, em Alcobaça) cães, pombos e outras espécies de passarada, que tratava desveladamente.
Podia faltar dinheiro para tudo mas nada faltava para os seus animais de estimação.
No que respeita ao seu feitio tinha uma maneira muito especial de ser.Era frontal e crítico sem medo das palavras, o que, obviamente, não agradava a toda a gente.
Não as mandava dizer por ninguém …
Era um homem integro, amigo do seu amigo, que não nasceu para ser rico. Contentava-se com pouco e…vivia à sua maneira.
Quando ficou viúvo, depois de prolongada doença de sua mulher, foi-se bastante abaixo. Forte de carácter aguentou-se no “mau bocado” e viveu as suas dificuldades sem lamúrias. Não era mesmo homem de se queixar.
Manteve o seu pequeno negócio de bolos caseiros e ,por vezes, respondia a convites para algumas fadistices. E quando actuava era normalmente o “maior”. Nascera para cantar o fado!
Alguns anos depois casou de novo, tendo o cuidado de avisar toda a família da sua primeira mulher, que aprovou e incentivou a sua nova relação, nunca deixando de o tratar com amizade e carinho que, aliás, o “Galhito” bem merecia.
Acabou os seus dias ,de maneira inesperada e brutal, vítima de um acidente de viação de que não teve a mínima culpa.
No dia 15 de Agosto de 2009 estivemos no cemitério de Alcobaça. Na sua despedida estiveram muitos amigos e familiares.
O seu caixão teria merecido ,em nossa opinião, ter sido coberto pela bandeira da Orquestra Típica de Alcobaça.
Mas se bem conhecemos o Olegário José do Nascimento esse eventual esquecimento não o deve ter importado muito…
Fadistas chorai, chorai.
Adeus “Galhito”.
olá Zé, bom recordar este homem que nos brindava com um fado sempre que dele se necessitava
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