a montante,
em enseada perdida na vasa,
ouvem-se madeiras ranger,
bater de cordames,
Algures no estuário do Tejo há vozes abafadas,
ordens secas,
passadas fortes em invisível convés.
Algures no estuário do Tejo,
a montante,
entre bancos de névoa há uma nau ancorada!
Algures no estuário do Tejo marinheiros de outrora.....
aguardam!
Sol poente sobre a barra.
Ventos de limo e sal.
Silenciosa armada em regresso......
Naus, Caravelas, Galeões, vapores e até modernos Paquetes,
voltam de mares longínquos,de naufrágios esquecidos,
de viagens de pesadelo............
Os mortos das descobertas,
do Forte da Mina,
de Goa,
da China,
das Capitanias,
dos bandeirantes da Amazónia,
de Marracuene,Chaimite,
das trincheiras da Flandres,
dos desterrados em Angola e na ilha maldita do Sal,
das picadas dos Dembos,do Rovuma,
de Gamdenbel e Madina do Boé..............Algures no estuário do Tejo,
a montante,
os raios vermelhos do poente reflectem-se em bandeiras esfarrapadas,
armaduras amolgadas, espadas quebradas,
nos corpos macilentos dos exilados,
em camuflados empastados em sangue e lama,
em camisolas de pescadores desbotadas pelos ventos gelados da Groenlândia,
em fatos de macaco rotos e remendados
dos emigrantes perdidos na solidão de todos os atalhos do Mundo...................Algures no estuário do Tejo,
a montante,
em enseada perdida na vasa,
cobertos de neblinas estão os que.........ficaram!
Os que desesperando...esperaram!
Mães, noivas, filhos, irmãos, amigos.
ALGURES NO ESTUÁRIO DO TEJO ARDE UMA NAU ANCORADA!
Abisko/2010/J.Belo.
José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia.
Um homem de cultura, de fino trato, "mais valia" nos seus escritos, nos seus poemas, nos seus comentários nos blogues de ex-combatentes.Aqui fica o testemunho no nosso apreço e estima pessoal.
JERO
Outubro/2010.
Sem falsas humildades,confesso-me surpreendido por encontrar o meu "escrito" no blogue.Foi "sentido" ao regressar á Lapónia Sueca,vindo da minha primeira visita ao meu querido Portugal depois de 34(!)anos de ausência,para encontrar Amigos e Camaradas da Guiné da "Tabanca do Centro". As palavras AMIGAS fazem aquecer esta imensidäo gelada,onde as temperaturas diárias já estäo bem abaixo dos zero graus! Um grande abraco do J.Belo.
ResponderEliminar