quarta-feira, 6 de outubro de 2010

M 303- CEM ANOS E UM DIA DEPOIS DO CINCO DE OUTUBRO DE MIL NOVECENTOS E DEZ

MUNICÍPIO COMEMORA 100 ANOS DA REPUBLICA COM EXPOSIÇÃO
De 1 a 29 de Outubro, o Átrio da Biblioteca Municipal de Alcobaça recebe a exposição “Letras e Cores, Ideias e Autores da República”, no âmbito das comemorações dos 100 anos da implantação da República.
A partir de textos de autores que marcaram decisivamente a cultura humanístico-literária em Portugal no final do século XIX e início do século XX, a DGLB convidou dez ilustradores (João Vaz de Carvalho, Afonso Cruz, Bernardo Carvalho, Marta Torrão, Teresa Lima, Rachel Caiano, Jorge Miguel, Carla Nazareth, Gémeo Luís, Alex Gozblau) a tratar plasticamente dez temas representativos do contexto social, político, cívico e cultural da época: Ultimatum, Monarquia, 5 de Outubro, Igreja, Educação, Mulheres, Modernismo, Grande Guerra, Chiado e Revistas. O resultado mostra de que forma literatura e arte, passado e presente, se podem cruzar de forma coerente e harmoniosa, dando corpo a um percurso fulcral da história portuguesa contemporânea: o triunfo da ideia republicana de cidadania, a instauração do regime, a participação de Portugal na I Grande Guerra e a vida política, social, cultural e artística deste período. O design da exposição é de Luís Mendonça.
HORÁRIO:
Segunda a Sexta-Feira: 10h00 às 18h00


DOS TRABALHOS EXPOSTOS SELECCIONÁMOS GUERRA JUNQUEIRO E O (SEU) CAÇADOR SIMÃO

O Caçador Simão
(A Fialho d'Almeida)

Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente...
Corta a mudez sinistra o mar profundo...
Chora a rainha desgrenhadamente...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É o príncipe Simão que vai à caça.
Os sinos dobram pelo rei finado...
Morte tremenda, pavoroso horror!...
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d'amargura e dor...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É o príncipe Simão que vai à caça.
Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da Pátria a agonizar...
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É o príncipe Simão que vai à caça.
A Pátria é morta! a Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infâmia os sepulcros dos Heróis!
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É o príncipe Simão que vai à caça.
Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indomitamente a multidão...
Tocam clarins de guerra a Marselhesa...
Desaba um trono em súbita explosão!...
Papagaio real, diz-me, quem passa?
É alguém, é alguém que foi à caça.
Do caçador Simão!...

Guerra Junqueiro
Viana do Castelo, 8 de Abril de 1890

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