sábado, 22 de maio de 2010

M 254 - SUBMARINO AO FUNDO...



O SUBMARINO U-963

Uma história lendária que aconteceu há 65 anos nos mares da Nazaré…
Tinha 5 anos quando acabou a 2ª. Grande Guerra (1939-1945). A recordação mais longínqua que recordo dos meus tempos de miúdo tem a ver com um mar de gente no Rossio de Alcobaça, que reuniu milhares de pessoas para festejar a vitória dos Aliados e o fim da guerra . Foi a minha mãe que me levou pela mão até ao Rossio e me repetiu vezes sem conta para eu não esquecer aquele dia : “Acabou a Guerra ! Acabou a Guerra!” .
E, de facto nunca mais esqueci.

Uns anos mais tarde, já como adolescente, comecei a ir , a banhos, com os meus pais para a praia da Nazaré. Julgo que terá sido então ,quando tinha uns 12 ou 13 anos, que comecei a ouvir falar do submarino alemão que o comandante tinha afundado frente à Nazaré, num dos locais profundos da costa portuguesa. Confesso que sempre admirei esse gesto, que guardei nas minhas memórias envolto numa” nuvem confusa” misto de tragédia, derrota, mas também de coragem e romantismo”.
Quando atingi os meus 18/20 anos consumi montes de livros sobre a 2ª. Grande Guerra (Hans Helmut Kirst, Sven Hassel e outros).
Quando a narrativa metia submarinos alemães vinha-me sempre à cabeça o submarino que fora afundado pelos “seus” frente à Nazaré, para não cair nas mãos dos vencedores da guerra.
E essa memória ficou até hoje.
É portanto com alguma emoção que recordo essa “estória” , que povoou a minha infância, e que veio agora - “ à superfície” - 65 anos depois de Maio de 1945.
No entanto o “mistério”,o submarino U-963, continua nas profundezas sem nunca ter sido avistado pelos vencedores…

O que ficou para os registos da história foi que o submarino “U -963” teve como último comandante o oficial alemão Rolf-Werner Wentz…

JERO

Nota última - Ao longo dos anos , depois do consumo de muitos livros sobre a guerra de 39-45 e da minha passagem pela vida militar (1962 a 1966), sempre distingui no exército alemão militares com valores e seres desprezíveis, adeptos do regime nazi, que praticaram ou foram responsáveis pelos maiores atrocidades de que a humanidade teve conhecimento ao longo de todos os tempos.
JERO


O submarino U-963

O submarino U-963 foi afundado pela própria tripulação após ordem de cessação de hostilidades a 20 de Maio de 1945 emanada pelo Estado Maior Alemão e encontra-se no denominado canhão da Nazaré (39.36N, 09.05W).
Teve como último comandante o Oblt. Rolf-Werner Wentz.
Trata-se de uma das duas unidades VIIC auto afundadas em águas territoriais portuguesas, está a uma profundidade e em local que tem impedido o seu reconhecimento arqueológico.
O comandante alemão, Rolf Wentz escreveu uma carta à equipa de investigação, pedindo expressamente que se não perturbasse o U-963:
"Não o acordem por favor, deixem-no dormir no berço".

Isto levanta uma tempestade de questões tendo em conta múltiplas contradições detectadas entre as declarações prestadas durante o documentário e alguns factos expressos na carta de Wentz. Os investigadores querem por exemplo saber (e para isso precisam de um contacto visual com o navio) qual é o verdadeiro estado do casco. Se todas as testemunhas visuais declaram que o navio foi afundado pela simples abertura das escotilhas de ventilação em conjunto com o enchimento dos tanques de lastro (versão corroborada pelo Engº Harry Forster -estranho nome para um oficial germânico) porque razão isso ocupou quatro homens da tripulação quando é comum encontrar relatos de que um único homem o poderia fazer a partir da sala das máquinas? Porque razão o U-963 depois de terminada a sua missão principal, a de lançamento de minas a Oeste da Rota das Ilhas Hébridas e quando se dirigia para a quadrícula de patrulha que lhe tinha sido destinada, invoca uma avaria de comunicações (que não o impede contudo de receber a indicação de que a guerra tinha terminado) para derivar para um ponto (impossível de confirmar) no Golfo da Biscaia?.Segundo o Comandante Wentz explicita na sua carta, "Foi no Golfo da Biscaia que descartámos os detonadores dos torpedos". Apesar de ser normal esta medida (o Estado Maior alemão indicara aos seus comandantes navais que deveriam entregar-se em porto neutral - na sua maioria portos da América do Sul, dos quais Lisboa não consta - ou proceder ao afundamento dos navios), para mim é absolutamente improvável que o U-963 tenha estado no Golfo da Biscaia, ponto perigosíssimo porque já varrido pelas ondas de radar instalados em barcos e aviões bombardeiros e um autêntico cemitério de U-Boats regressados das patrulhas do Atlântico Sul. Herbert Werner, o único comandante alemão que conseguiu sobreviver a todo o período da Segunda Guerra Mundial, tem sobre este tema uma passagem no seu livro "Caixões de ferro", uma frase deveras esclarecedora quando diz (e cito de memória): "Do norte da costa portuguesa até sair da Biscaia, ninguém dorme. Nenhum homem quer morrer na cama e só descansa verdadeiramente sobre o betão de Brest". Wentz notificou as autoridades portuguesas da rendição da sua tripulação (veio a terra à Capitania da Nazaré) e foi por elas informado que viriam de Lisboa os meios necessários à revista do submarino. Facto não aceite e que terá precipitado o afundamento imediato? Haveria mais gente a bordo? (Rumores, impossíveis de confirmar sem uma visita ao interior do navio, falam de um transporte de prisioneiros, facto que ocorreu com frequência nos últimos meses da guerra). Pode Wentz estar preocupado com esse eventual facto? O comandante afirma no documentário da SIC e na carta que nada de pessoal veio de bordo. Nenhum Diário, nenhuma carta, apenas objectos pessoais. Facto raro, nomeadamente a ausência de menções a material de criptografia (que era nos últimos meses do conflito, um autêntico "livro aberto" para a inteligência britânica...).

Posted by Armanda Cabral at
9:58 AM
Março 30, 2007
ADENDA-“ Nota depois da última”
A componente “romântica” da minha tese do afundamento do U-963 sofreu entretanto alguns “rombos” na sua consistência.
Já depois da “Nota última” conversei com um amigo, ex-combtente de “patente” superior à minha ,que me afirmou que na última fase da guerra os submarinos(e toda a Marinha de Guerra) dependiam do Almirante Canaris, nazi convicto que sucedeu a Hitler depois da sua morte. Nos últimos meses da guerra não teria havido lugar para rendições honrosas pelo que o afundamento ao largo da Nazaré teria obedecido tão só a ordens expressas do Comandante Chefe.
Quando estava para “embarcar” nesta tese fui à net ver alguns dados sobre o Almirante Canaris que afinal morreu por ser da “oposição”.Na Wikipédia (enciclopédia livre) é referido que Canaris já se encontrava em prisão domiciliária quando ocorreu o
atentado de 20 de Julho de 1944 contra a vida de Hitler. A sua situação ilibava-o de responsabilidade directa, mas após a prisão, tortura e interrogatório de vários envolvidos, Hitler e Himmler ficaram com provas que Canaris estava pelo menos moralmente de acordo com o sucedido.
O julgamento foi sumário e a condenação à morte inevitável. Canaris foi executado por estrangulamento a
9 de Abril de 1945 no campo de concentração de Flossenbürg, poucas semanas antes do suicídio de Hitler e do final da guerra.
- Quem sucedeu a Hitler foi o Almirante Doenitz que, ao assumir a chefia da Alemanha, se dirigiu aos povo e exércitos alemães comunicando que o "fuehrer" tinha tombado (2.Maio.1945) pela sua grande fé em salvar os povos da Europa do bolchevismo.

«Eu vos peço disciplina e obediência. O caos e o colapso podem ser prevenidos pelo cumprimento sem reservas, de minhas ordens. Aquele que neste momento fugir aos seus deveres, é um covarde e um traidor porque ajudará a trazer a escravidão e a morte ao povo alemão, às nossas mulheres e crianças. O juramento de obediência que prestastes ao "fuehrer" aplica-se agora, ao sucessor do "fuehrer". Soldados alemães cumpri o vosso dever. A vida de nosso povo está em perigo».

Cerca de duas semanas depois desta proclamação a Alemanha rendeu-se e…acabou a guerra.
Ainda da Wikipédia:-«Durante a Segunda Guerra Mundial os submarinos alemães tiveram um papel muito importante na
batalha do Atlântico, que durou até à invasão da Europa. Durante as fases iniciais da guerra os submarinos alemães foram extremamente eficazes a destruir navios de carga aliados, aproximando-se da costa atlântica dos EUA e até mesmo do Golfo do México.Graças principalmente às forças americanas os progressos nas tácticas dos comboios navais, radar, sonar, cargas de profundidade, a descodificação dos códigos da Enigma e a introdução da escolta aérea diminuíram a eficácia dos submarinos alemães. No final da guerra, a frota alemã tinha sofrido grandes baixas, perdendo 743 embarcações e cerca de 30,000 marinheiros.»
Perante estes últimos dados quem sabe o que teria passado pela cabeça do Comandante do U-963 nas duas últimas semanas da guerra ?
JERO
.

1 comentário:

  1. Amigo Jero.
    Também eu tive conhecimento através de relatos do meu pai, que se deslocou à Nazaré, e assistiu ao vivo à entrega e rendição dos alemães.
    Fundamentalmente o que me ficou, foi o ter-me referido o aprumo da formatura na praia dos marinheiros alemães e da oferta dum estetoscópio muito moderno para a época ao Dr. José Laborinho Marques da Silveira (irmão dos Drs. Joaquim e Hermínio - Farmácia e Labotatório Bello Marques), médico na Nazaré.
    Um abraço.
    Hélio Matias

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