AS FESTAS FAMILIARES E OS CONVÍVIOS D'OUTROS TEMPOS
Recorrendo
e memórias pessoais recordo 3 tempos distintos.
1-A
memória mais distante tem a ver com deslocações aos Capuchos, com obrigatório
“passeio pedonal” dado que as distâncias a percorrer eram curtas: cerca de 2
Kms. para cada lado. Deveria ter os meus 8 ou 9 anos e o que tenho mais
presente na minha cabeça era “o frete” de ter que ir …Ninguém me perguntava se
gostava ou não. A família ia e eu tinha que alinhar. (ponto final). Recorda-me
de uma das vezes, na viagem de retorno, me ter adiantado ao “pelotão” e ter feito
o percurso à frente de toda a gente aí uns bons 30 metros ! Foi a maneira de
demonstrar o meu desagrado, sem abusar muito da paciência dos meus pais… Birras
de miúdo. Em relação à festa e aos Capuchos o que me lembra ? Muito pouco.
Socorrendo-me de alguma documentação do tempo realço o seguinte:-
«… Por trás do Parque de Merendas, fica o antigo Convento que deu nome ao lugar e
que foi fundado pelo cardeal D.
Henrique em 1566. Perto do convento havia instalações agrícolas que
provavelmente datam do séc. XIII e estavam ligadas a uma quinta que o Mosteiro
explorou nessa época.
Capela da Senhora dos Aflitos -Das construções religiosas, só resta
esta Capela, que
tem sobre a porta um brasão bipartido com estrelas em aspa e um leão
rompante. Por timbre tem um leão virado á esquerda. Conservava restos de
azulejos da fábrica do juncal, que infelizmente com o passar dos tempos
desapareceram. Actualmente só resta na capela, o átrio forrado de azulejos.»
2- Da
memória do meio tenho bem presente os piqueniques em Chiqueda, em dia de Espiga.
Já andava no Colégio do Dr.Cabrita e recordo com nitidez – reforçada por
algumas fotografias do tempo – os belos fins de tarde que davam direito a
excelentes merendas na pedrosa encosta perto dos “Olhos de Água” do rio Alcoa.
Havia muitas famílias de Alcobaça e uma figura “única”: o “Ti Gavião”,
fotógrafo “à la minuta”.
A apanha da espiga, era feita a
caminho de Chiqueda e
fazia-se um ramo de papoilas, espigas de trigo, oliveira e um malmequer.
Juntavam-se vários grupos
que iam a pé levando um farnel para comerem quando chegassem. Chiqueda era assim o local do
grande encontro.
O ramo era guardado e uma
vez chegados a casa punha-se a secar atrás da porta, sendo renovado todos os
anos para que não faltasse pão (espigas de trigo), azeite (oliveira), alegria
(papoilas), e sorte (malmequer).
3- Senhora dos Enfermos
Aqui as minhas recordações passam
obrigatoriamente pelo mestre Arnesto (ERNESTO JOAQUIM COELHO ) , “maestro vitalício” da Banda da
Festa da Senhora dos Enfermos. Era um dia especial, de grande paródia, em que
toda a gente confraternizava e trocava iguarias de bem recheados farnéis, sem
prescindir do consumo de muito e bom vinho tinto. Nas últimas actuações do dia
a banda do mestre Arnesto trocava algumas notas mas a “Marcha do Vapor” chegava
sempre à margem…Nem que fosse a cambalear !!!
Socorrendo-me também de alguma documentação do
tempo, nomeadamente de Manuel Vieira Natividade relembro que «…a Romaria da Senhora dos Enfermos era uma
verdadeira festa das colheitas, uma celebração agrícola com origens
pré-cristãs.Era uma festa alegre, com direito a estrear novas roupas e que
servia para marcar o tempo.
Celebrada no Domingo de Pentecostes,
cinquenta dias depois da Páscoa, não era exactamente um festejo mariano. Antes,
pentecostal, com rituais que a aproximavam das festas do Espírito Santo. De
notável, por comparação com as festas das demais aldeias da região, tinha o
círio, abundância de fogaças e os favores da pequena burguesia alcobacence que
nesse dia ia ver de perto os serranos, fazer pic-nics nos arvoredos que
circundavam o arraial e, talvez, comprar no leilão alguma fogaça.
Este costume, manteve-se, aliás, por
muito tempo e, durante anos, a Banda do Mestre Ernesto era animador
imprescindível do arraial.
A grande quantidade de gente, alguns
divertimentos que, como o jogo do frango, hoje seriam, simplesmente, proibidos
pela sua barbaridade, o vinho que corria em abundância e os bailes, propiciavam
frequentes desacatos. Por isso, a festa de Nossa Senhora dos Enfermos era,
naquele tempo, a única com policiamento permanente.
Além de M. Vieira Natividade, também
José Diogo Ribeiro, in Turquel Folclórico (1928), dedicou atenção a esta
romaria, registando, designadamente, os seguintes versos que o círio dedicava à
santa:
Ó Senhora dos Enfermos
Aqui vimos, aqui estemos
Pro ano, se formos vivos,
Ainda cá tornaremos.
Ó Senhora dos enfermos
Cá vos vimos visitar.
Pro ano, se formos vivos,
Havemos de cá tornar.
Relativamente à festa de Nossa Senhora dos Enfermos grande parte do texto reproduzido é da autoria de José Quitério e foi publicado em 29 de Maio de 2012 no seu blog "Ataíja de Cima".
Relativamente à festa de Nossa Senhora dos Enfermos grande parte do texto reproduzido é da autoria de José Quitério e foi publicado em 29 de Maio de 2012 no seu blog "Ataíja de Cima".
Pela recolha JERO
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