O VENDEDOR DA PROVÍNCIA
Num serão caseiro vi recentemente no canal “Hollywood”
um filme que tinha como protagonista um vendedor de facas e artigos congéneres.
Os seus métodos de trabalho fizeram-me recordar um
vendedor com quem tive o privilégio de trabalhar no início da minha carreira
comercial, onde comecei “miúdo” assustado e acabei, 32 anos depois, como sénior
experimentado.
O tal vendedor que hoje vou recordar era o “agente da
Província”. Tinha a responsabilidade de todo o território de Portugal
continental, com excepção das zonas de grande Lisboa e Porto.
Nos anos 70 não existiam as auto-estradas que hoje
atravessam o “solo pátrio” por todo o lado e uma viagem para visitar clientes
do norte ou do sul do País obrigava a uma estadia de uma ou duas semanas. O
viajante da Província vinha a casa – na região de Setúbal - ver a família duas
vezes por mês.
Era um trabalhador infantigável e tinha a confiança
total dos seus clientes. Quase se pode dizer que, em termos comerciais,
”mandava” em casa do cliente.
O que recomendava como “novidade” era o que o cliente
encomendava.
Acompanhei-o n’algumas viagens e ficava espantado como
ele era recebido em casa dos clientes. Era uma festa.
Se houvesse estômago para 2 almoços e 3 jantares
diários era o que o F.M.Antunes e o “miúdo” da Fábrica tinham que consumir.
Cada um, está bem de ver!
Numa viagem de trabalho ao Algarve – no intervalo das
visitas aos clientes – o Antunes conduzia-me às pastelarias onde era bem
conhecido e encomendava: um café e dois bolos. Para cada um!
Foi por essa e por outras que em poucos anos passei de
80 quilos para um número que não confesso, mas que esteve muito perto dos 3
dígitos…
E tive que arrepiar caminho.
Mas não esqueço as visitas de norte a sul de Portugal
com o vendedor da Província.
Os anos passaram.
O vendedor
F.M.Antunes, que fazia longas viagens sozinho, fumava que nem uma chaminé. Não
gastava fósforos. Acendia os cigarros uns nos outros…
Um dia sentiu-se mal e resolveu ir ao médico na cidade
onde estava, que era Coimbra.
Depois de auscultado respondeu ao inquérito do médico.
- Você fuma muito, não?
-Uns 4 ou 5. Por dia.
-Vá lá. Pensei que era mais.
- 4 ou 5 maços por dia, senhor doutor!
- Oh sua besta. Ou você muda de vida ou escusa de me
voltar a entrar pelo consultório dentro.
Não tenho a certeza mas julgo que o Antunes quando me
contou esta história de vida me falou num Doutor Bruto da Costa.
O F.M.Antunes que tinha resposta na ponta da língua
para tudo confessou-me que daquela vez ficou mudo e quedo…
E veio de novo para a vida e para a estrada.
Mas deixou de fumar cigarros…
Passou a fumar cachimbo e…cigarrilhas!
Já não o vejo há bastante tempo.
Aposentou-se e continua a viver na região de Setúbal.
A vida dos vendedores mudou muito.
Com as modernices que entretanto se instalaram na vida
–desde telemóveis a e.mails - já não há tempo nem necessidade para muitos e
repetidos almoços comercias.
São os novos tempos.
Ainda hoje me dá vontade rir a ida ao médico em Coimbra
(- 4 ou 5 maços por dia!-
Oh sua besta não me volto a entrar por aquela porta).
Mas as recordações dos velhos tempos ficaram.
E, como os menos jovens sabem, não há nada tão bom como
…os velhos tempos.
JERO
Hoje ainda não é madrugada, passa pouco da meia noite, por isso boa noite.
ResponderEliminarEu gostei muito deste tema relacionado com a vida de outrora.
Achei imensa graça (é comum rirmo-nos do mal feito, ou do mau dito.)
Embora resida na Figueira sou de Montemor-o-Velho,lá vivi até casar e ia periódicamente a Coimbra,lembro-me bem do Dr. Bruto da Costa, não por o conhecer pessoalmente,mas por ser um médico com consultório na cidade.
"O que eu desconhecia era que o nome afinal lhe assentava na perfeição..."
Saudações.
Dilia Maria.
Boa noite Dilita. Agradeço o seu comentário que só hoje vi e que acrescenta credibilidade à história.Melhores cumprimentos,JERO
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