domingo, 7 de outubro de 2012

M - 434 INSTANTES QUE PASSAM...


ESQUINAS DA VIDA

Se existe uma idade para a gente ser feliz, uma época na vida em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-las a despeito de todas as dificuldades e obstáculos…é quando se anda por volta dos 20 , 20 e poucos anos.
Nessa idade de encanto com a vida desfruta-se tudo com toda intensidade sem medo, nem culpa de sentir prazer. 
É a fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida, à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores. 
É o tempo de entusiasmo e coragem em que todo o desafio é mais um convite à luta 
que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo de novo, quantas vezes for preciso. 
Essa idade tão fugaz na vida chama-se presente e pode ter a duração do instante que passa.
Aconteceu recentemente com o João Pedro Dinis que, depois de um almoço em família, se sentiu mal e teve uma paragem cardíaca.
Socorrido de imediato chegou sem vida ao hospital da sua terra. Tinha festejado 24 anos na semana anterior. Concluíra pouco tempo atrás o curso de engenheiro agrónomo e iria partir dentro em breve para um estágio de 2 meses na Universidade de Berlim.
 Tinha jogado futebol no clube da sua terra e parecia vender saúde. Mantinha uma actividade física regular na sua Universidade e era vice-presidente da Associação de estudantes do Instituto Superior de Agronomia.
Durante um instante que passa… deixou a vida.
 E uma imensa saudade aos seus familiares e amigos. Que quiseram estar por perto no seu funeral, que constituiu uma enorme manifestação de pesar.
 Na igreja da sua freguesia nunca se tinha visto tanta gente.
 Uma colega, depois da homilia, fez-lhe um emocionado testemunho de despedida, que a todos fez chorar.

O seu caixão, quando saiu da igreja, foi transportado por 6 jovens amigos. Seguido pelos seus familiares mais próximos, passou por cima das capas negras do seus colegas de Agronomia.
 Os pais seguiam-no.
 E logo a seguir o avô, que parecendo atingido por raio, caminhava com dificuldade e olhava para o céu perguntando, sem palavras, o porquê do seu neto partir e ele…ficar.
A multidão ,que saía da Igreja parou momentaneamente, e só prosseguiu depois de as capas negras terem sido retiradas do pavimento pelos colegas do João Pedro Dinis.
Seguiu-se um longo cortejo a caminho do cemitério. Onde ficou o João. A poucas centenas de metros casa dos seus familiares.
Regressámos a casa. 
Passámos pela florista para pagar um ramo de flores que tinha ficado nas mãos de um tio do João, devido à dificuldade em chegar até à campa.
 A florista que ,além de nossa vizinha é pessoa amiga, confidenciou-nos que durante horas e horas tinha feito arranjos de flores para o funeral do jovem. Tinha parado à pouco. Quando se preparava para ir beber um café apareceu mais um cliente.
Queria um bouquet de flores bonito e bem colorido para uma senhora de idade. Quantos anos faz perguntou, por curiosidade a florista.
-Faz hoje 100 anos.
Fiquei sem palavras.
 E voltei a (re)ver a imagem terrível do avô do João Dinis a caminhar tropegamente atrás do caixão do seu neto.
 A questionar,
 mudo,
 o céu.
 Nas esquinas da vida presente que pode ter a duração do instante que passa.
Mas a vida continua.
Momentos antes alguém tinha levado um bouquet de flores bonito e bem colorido para uma senhora de idade.
Que fazia nesse dia 100 anos.

São as esquinas da vida.
Insondáveis.Inacessíveis.
Inexplicáveis.


JERO



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