quinta-feira, 4 de outubro de 2012

M - 433 INTERVENÇÕES NO MOSTEIRO DE alcobaça


INTERVENÇÕES
O Claustro da Hospedaria, que foi prisão em rudes tempos patrimoniais, esteve longos anos ao abandono.
No ano 2000, intervenções arqueológicas levaram, entre outras descobertas, ao aparecimento do portal gótico que até ao sec. XVI servia de ligação entre o Claustro de D.Dinis e o terreiro, servido nessa altura por uma escadaria que atenuava o desnível entre um e outro.
Curiosamente as autoridades patrimoniais continuam lamentavelmente a ignorar que o Claustro do Palácio não é de “D.Afonso VI” e o da Hospedaria não se denomina de “Cadeia”.
 Um dia o bom senso científico prevalecerá sobre os lapsos.
O Claustro da Hospedaria foi recuperado (1º.piso) em 2005 no que respeita a janelas, paredes exteriores, tectos de madeira e paredes interiores.
No piso térreo, os paramentos, devido a saída da cadeia continuavam picados e não havia revestimento de piso. Alguém terá pintado as cantarias de amarelo.
Por volta de 2005 a AMA-Associação de Amigos do Mosteiro de Alcobaça apresentou um projecto de recuperação deste espaço pois considerava que o Claustro da Alta Renascença do Palácio Abacial, construído no tempo do Abade Comendatário D.Henrique, e a Portaria muito alterada e o Claustro da Hospedaria, construído no sec. XVII, deviam integrar o circuito de  visita ao Monumento.
A Sala de Conclusões foi então limpa (aí funcionou a Repartição de Finanças até 1986)  e pensou-se poder aí instalar a nova loja, ligada directamente à Praça 25 de Abril.
 Bem que o actual director desejava cumprir este projecto. Mas…
Acontece que em dado momento, creio que haverá cerca de um ano, o IGESPAR resolveu seguir as recomendações dos Amigos do Mosteiro e rebocar paredes e tetos à base de cal e lajear o solo.
Tudo bem, mas houve um desastre, o vão, da tal ligação medieval do Claustro do Silêncio ao Terreiro.
 Com a decisão de construir “um desenho sóbrio e contemporâneo”, cobriram o que estava à vista do vão gótico e os silhares de pedra do arranque da porta medieval.
Não entendeu o decisor que poderia ter conciliado o vão mais antigo e o vão menos antigo e vai daí tirou tudo com o argumento usado na arqueologia horizontal – tapa-se. E assim conserva-se.
Alexandra Gesta disse um dia: transformar não implica destruir nem reproduzir. Foi o que se fez em 1980 na Casa dos Bicos, em Lisboa. Afirma a citado arquitecta(*) que é necessário produzir novos valores a partir dos existentes.
O novo “valor” da ligação citada, foi o apagamento da memória, considerando-se esta “requalificação” uma intervenção moderna do vão.
Tenho pena que hoje em dia ninguém oiça ninguém quando intervém no terreno que mal conhece e amputa a leitura histórica, mesmo tendo tido à disposição imagens e relatórios que deveriam ter impedido o gesto de diluição, continuando afinal o erro que se fez no terreiro destruindo a escada no eixo do portal medieval com o desenho do novo terreiro.
Rui Rasquilho
Membro fundador do ICOMOS-Portugal.

(*)- Por lapso está referido que Alexandra Gesta é “arquitecta”, quando na verdade é uma especialista da área de salvaguarda do património com trabalhos feitos na cidade de Guimarães, onde foi responsável pela reabilitação do Centro Histórico.





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