sábado, 19 de fevereiro de 2011

M 338 - ONDE NASCEM AS REVOLUÇÕES

O MEDITERRÂNEO

Durante dezoito dias na Praça Tahrir, no centro do Cairo, junto ao Museu do Egipto, que guarda milénios de História Regional, milhares de cidadãos fizeram cair trinta anos de poder pessoal do Presidente Mubarak.
Hoje, de uma maneira geral, as revoluções nascem nas grandes cidades e concentram-se nas grandes praças.

Os egípcios recuperaram a Ágora grega, a praça do centro da cidade onde os cidadãos se reuniam em manifestações cívicas e religiosas, em assembleia decisória do governo local ou regional.


A Ágora era também local de encontro, e espaço para a realização do mercado.
As cidades estado do Peloponeso discutiam na grande praça central, a política e a economia, a paz ou a guerra da urbe onde viviam.
Os egípcios no Cairo, os tunisinos em Tunes, acantonaram-se em praças e nas ruas que as servem. Os cidadãos instalaram-se e daí ouviam e faziam-se ouvir através do facebook e do wikileaks ,dois elementos tecnológicos servidos pela internet.
A palavra e a imagem do Presidente agora demitido projectava-se em grandes ecrãs.
40 milhões de jovens com menos de 25 anos, metade da população, muitos milhões de desempregados, líderes partidários sem prática política, comerciantes, muçulmanos e cristãos, homens e mulheres, provavelmente os mais instruídos, juntaram-se sob a bandeira negra, branca e vermelha da República Egípcia e conseguiram, com o apoio do mais importante exército do mundo árabe, reencontrar o caminho para a democracia, que se espera laica, que haviam fugazmente conhecido nos anos 50 do sec. XX.
Não houve um único ataque contra Israel ou os EUA, habituais “culpados” dos protestos. No fim da primeira semana os bancos reabriram e os restaurantes das cadeias americanas voltaram às pizas e aos hamburguers. Houve problemas com jornalistas estrangeiros, mas embora graves foram pontuais como acontece em ajuntamentos semelhantes.
A voz gutural do Ministro da Defesa Mohamed Tantawi, líder do Conselho Militar, logo após a demissão de Mubarak garantia a liberdade e a manutenção dos acordos internacionais. Israel poderá sossegar por agora e o influente Egipto tentará apaziguar os países Árabes e conter, por agora, os sonhos iranianos.
Na margem sul do Mediterrâneo povos jovens procuram equilibrar o futuro e a democracia, apesar das cargas policiais na Argélia e na Líbia os jovens perderam o medo pelo amanhã redentor.
Na margem norte, povos envelhecidos, vão pouco a pouco desequilibrando o futuro e preparando o condicionamento das liberdades para sobreviver.
Não há bola de cristal que nos mostre o futuro mas os jovens atravessarão o Mediterrâneo.


Rui Rasquilho





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