sábado, 7 de dezembro de 2013

M - 457 STRESSES...

Stresses

"O stress de guerra é contagioso e crónico", como afirmam especialistas.
A quarenta e tal anos da minha passagem pela guerra alguns dos meus stresses de paz sobrepõem-se ainda aos de guerra…
Vivi em tempo de guerra uma experiência comunitária tão intensa e tão próxima de uma sociedade perfeita que nunca mais encontrei nada parecido.
Refiro-me, obviamente, à sociedade dita normal, em que tive de me integrar depois do regresso da guerra em 1966.
A minha experiência comunitária foi ainda muito marcado por um chefe. Também não voltei a encontrar ninguém do seu gabarito nos quarenta e tal anos seguintes…

No Norte da Guiné, em Binta e sua região, criámos uma comunidade «ancorada» numa unidade militar que (re)fez uma aldeia, onde chegaram a viver cerca de mil pessoas. E…mais importante que tudo, ajudámos as populações. Assegurámos-lhes condições de vida que, talvez, nunca tivessem tido anteriormente. E que, na actualidade estão infelizmente longe de ter.
Quando saímos de Binta tivemos direito a lágrimas de saudade dos que ficaram.
Tínhamos sido importantes para eles e para nós próprios.
O último ano em Binta aconteceu n’outro mundo! Quase que tínhamos esquecido o mundo para onde regressámos em Maio de 1966!

Quando regressámos à Metrópole e à vida civil chocámos com um mundo onde a nossa importância anterior rapidamente se esbateu.
Já estava tudo feito - éramos apenas um pequeno parafuso de uma máquina gigantesca que girava sem cessar – e à nossa volta já não tínhamos a malta da Companhia. Todos tinham partido para as suas vidas. Para longe.
O tempo…o passar dos anos… atenuou as memórias daquele tempo excepcional.
Mais tarde, muito mais tarde…na idade do condor, maduros pela passagem dos anos e com netos por perto…percebemos que…afinal a guerra, a nossa guerra foi uma experiência única quando conseguimos construir a paz.
Se calhar fomos uns privilegiados. Nós conseguimos com as mãos que fizemos a guerra fazer também a paz!
Essa experiência única nas nossas vidas perdura ainda.
Não foi fácil ultrapassar o streess da paz…mas conseguimos.

Por alguma razão o emblema da Companhia referia que a 675 nunca cederá.
Não cedeu.
Em Binta….no Norte da Guiné…vivemos alguns dos melhores tempos da nossa vida. Lá longe…junto ao Cacheu… nos idos de 60!

Passou quase meio século. E ainda “volto lá”…vezes sem conta!!!
JERO

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2 comentários:

  1. Parabéns, JERO, por este novo fôlego que deste ao teu blogue. Não resisto a aproveitar o teu trabalho e "roubar" este texto para próxima publicação na nossa Tabanca do Centro (com a devida vénia, claro!).
    Um abraço. Miguel Pessoa

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  2. Boa tarde ,Miguel.Depois do "degelo" deu-me com força. Está tudo `às tuas ordens. Abraço de Alcobaça. JERO

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