Uma triste figura
Veio-me à dias a lembrança de uma “triste figura” que me
calhou fazer durante a minha vida militar.
Em 4 anos de tropa milhentas coisas me aconteceram.
É só escolher os temas – caricatos, ridículos,
dramáticos, cómicos, trágicos, comoventes, burlescos – que tenho para todos os
gostos.
Seleccionei – para partilhar com quem me lê –um do tipo
caricato.
Fui “sargento-dia” na véspera do 1º. de Maio de 1964 no Regimento
de Infantaria 16, em Évora.
E o que é que isso pode ter de especial?
Nada, a não ser o facto de nunca o ter feito
anteriormente, porque nos dois anos anteriores tinha prestado serviço no
Hospital Militar Principal, em Lisboa.
Apresentei-me no R.I 16 ao “Oficial-Dia” e já não sei bem
em que tempo e circunstâncias, passei a estar equipado com um “pistolão” e com
uma espada à cintura…
Senti-me tão ridículo e tão pouco à vontade com a espada
que me lembro ainda da dificuldade em andar com “aquilo”…Cada passo que dava a
espada ia-me ter entre as pernas!
Habituado ao HMP, de Lisboa, em que andava normalmente
fardado de “bata branca”(pertencia ao Serviço de Saúde), nada sabia em relação
às “turbulências” que eram usuais num
quartel de Infantaria…
E entrei de serviço logo num dia complicado para o tempo
(véspera do “dia do trabalhador” em pleno Alentejo…pró-comunista). Em Évora já
tinham havido anteriormente algumas tentativas de assalto a quartéis por civis.
Pelo menos foi o que me contaram alguns “amigos de fresca data” no início da
longa noite de serviço como “sargento-dia”…
E , de facto, depois da meia-noite “passaram” algumas
pedras e garrafas por cima da “porta de armas”.Mas depois mais nada de especial
aconteceu.
O “serviço” chegou ao fim e lá fui entregar a espada e o
“pistolão” a quem de direito, seguindo-se um tempo de descanso e, nos dias
seguintes voltei ao que sabia e estava habituado, ou seja, a desempenhar as
funções de Furriel Enfermeiro. Sem espada…nem pistola à cintura !
Uma semana depois rumámos a Lisboa para embarcar no
“Uíge” a caminho de Bissau (8 de Maio de 1964) e não voltei a ter que
“mascarar” de Sargento –Dia armado até “aos dentes”…
Ainda hoje me interrogo como consegui desempenhar aquele
“papel”…sem me escangalhar a rir !!!
Mas “tropa é tropa” e há que estra preparado para todo o
serviço …
Bons velhos tempos !
JERO
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