quinta-feira, 25 de novembro de 2010

M 314 - VAL VENTOS

A Granja Cisterciense de Val Ventos

Os monges cistercienses que Joaquim Vieira Natividade inteligentemente baptizou de monges agrónomos administraram com sapiência os territórios que lhes foram confiados. Para além das terras que entregavam aos povoadores a troco de um foro, criaram inúmeras granjas (a área de reserva da Abadia) que com as suas próprias mãos cuidaram e amanharam. Cada granja era um microcosmo cultural, com a sua vinha, os pomares de espinho, caroço e pevide, o olival, as terras de pão e um conjunto de meios de produção/transformação como lagares de azeite e vinho, fornos de cal, pisões, moinhos, entre outros engenhos.


A Quinta de Val Ventos (século XVIII) é uma das granjas mais modernas na longa história de vida dos coutos de Alcobaça. Nesta granja mandam os cistercienses plantar o mais extenso olival dos coutos que, segundo a avaliação dos louvados (1834), possuía 60.000 pés de árvore dispostas numa matriz geométrica, cujo compasso mandava a distância de nove metros entre árvores contra dezassete metros de fileira a fileira. Para arrecadar a produção deste magnífico olival, que em anos de safra generosa alcançava as 70 pipas, no fresco rés-do-chão do celeiro dispunha-se o armazém de azeite com as suas 23 pias (actualmente só restam 19), com a capacidade estimada de 166 pipas (assim se podia almudar o azeite proveniente do quinto da azeitona e do dízimo da maquia). Destaca-se ainda nesta Quinta, as Obras, nome porque ficaram conhecidos os gigantescos reservatórios de armazenamento das águas pluviais, a Pia da Serra que abastecia de água os pomares de limas e laranjeiras doces chantados na encosta, a extensa eira quadrangular para debulhar os milhos e leguminosas secas que se cultivavam num ciclo de três em três anos nas terras de olival e o pombal (já para não falar do complexo habitacional e Igreja).

No ano de 1765 edifica-se nesta granja o maior colmeal dos Coutos. Situado numa encosta virada a nascente, os covões de abelhas instalavam-se em patamares servidos por uma escadaria lateral. O muro apiário com 2 metros de altura cercava uma superfície com 20 metros de largura por 20 metros de comprimento. O murado abrigava os cortiços e colmeias dos ventos gélidos, servia de barreira a fogos e protegia do ataque de texugos e doninhas, entre outros animais, responsáveis por estragos consideráveis nos enxames. Para manter os enxames saudáveis durante o Inverno, depositavam junto aos cortiços tigelas com castanhas piladas cozidas. As artes da cresta realizavam-se no mês de Junho, mas quando convinha reforçar a enxameação a cresta era bienal.

Graças a esta actividade abundava o mel de tão grande utilidade no receituário de doces e também noutros pratos requintados, nas bebidas fermentadas, na arte terapêutica… O mel da Serra (mel de alecrim) era mesmo considerado o mais claro que se produzia em Portugal.

António Valério Maduro

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