Os monges cistercienses que Joaquim Vieira Natividade inteligentemente baptizou de monges agrónomos administraram com sapiência os territórios que lhes foram confiados. Para além das terras que entregavam aos povoadores a troco de um foro, criaram inúmeras granjas (a área de reserva da Abadia) que com as suas próprias mãos cuidaram e amanharam. Cada granja era um microcosmo cultural, com a sua vinha, os pomares de espinho, caroço e pevide, o olival, as terras de pão e um conjunto de meios de produção/transformação como lagares de azeite e vinho, fornos de cal, pisões, moinhos, entre outros engenhos.
A Quinta de Val Ventos (século XVIII) é uma das granjas mais modernas na longa história de vida dos coutos de Alcobaça. Nesta granja mandam os cistercienses plantar o mais extenso olival dos coutos que, segundo a avaliação dos louvados (1834), possuía 60.000 pés de árvore dispostas numa matriz geométrica, cujo compasso mandava a distância de nove metros entre árvores contra dezassete metros de fileira a fileira. Para arrecadar a produção deste magnífico olival, que em anos de safra generosa alcançava as 70 pipas, no fresco rés-do-chão do celeiro dispunha-se o armazém de azeite com as suas 23 pias (actualmente só restam 19), com a capacidade estimada de 166 pipas (assim se podia almudar o azeite proveniente do quinto da azeitona e do dízimo da maquia). Destaca-se ainda nesta Quinta, as Obras, nome porque ficaram conhecidos os gigantescos reservatórios de armazenamento das águas pluviais, a Pia da Serra que abastecia de água os pomares de limas e laranjeiras doces chantados na encosta, a extensa eira quadrangular para debulhar os milhos e leguminosas secas que se cultivavam num ciclo de três em três anos nas terras de olival e o pombal (já para não falar do complexo habitacional e Igreja).
No ano de 1765 edifica-se nesta granja o maior colmeal dos Coutos. Situado numa encosta virada a nascente, os covões de abelhas instalavam-se em patamares servidos por uma escadaria lateral. O muro apiário com 2 metros de altura cercava uma superfície com 20 metros de largura por 20 metros de comprimento. O murado abrigava os cortiços e colmeias dos ventos gélidos, servia de barreira a fogos e protegia do ataque de texugos e doninhas, entre outros animais, responsáveis por estragos consideráveis nos enxames. Para manter os enxames saudáveis durante o Inverno, depositavam junto aos cortiços tigelas com castanhas piladas cozidas. As artes da cresta realizavam-se no mês de Junho, mas quando convinha reforçar a enxameação a cresta era bienal.
Graças a esta actividade abundava o mel de tão grande utilidade no receituário de doces e também noutros pratos requintados, nas bebidas fermentadas, na arte terapêutica… O mel da Serra (mel de alecrim) era mesmo considerado o mais claro que se produzia em Portugal.
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