domingo, 19 de agosto de 2012

M - 430 GENTE NOVA


TIPO TÁS A VER…
Uma viagem num autocarro da Rodoviária Nacional Lisboa – Alcobaça demora cerca de uma hora e cinquenta. 
Em passado recente fui passageiro num autocarro que saiu de Lisboa completamente lotado. 
Ocupei o nº. 32 e a meu lado, no lugar nº.31, viajou uma adolescente que ,à primeira vista, me pareceu poder ter uns 14 ou 15 anos de idade.
 Vestia o “uniforme” que a maioria das jovens utiliza nos tempos actuais: blusa de cor, calções curtos justos e a habitual parafernália de colares, brincos e anéis.
 O “conjunto” era complementado com um “piercing” na narina esquerda.
 Num pequena mala de mão levava um moderno telemóvel que consultou durante a viagem vezes sem conta. Em telefonemas e mensagens.
Era capaz de apostar que durante toda a viagem o telemóvel deverá ter estado em “sossego” aí uns dez minutos.
Por viajarmos em proximidade ouvi – inevitavelmente - os seus telefonemas. 
Confesso que a linguagem usada era tão estranha que nos primeiros telefonemas tive dúvidas se a jovem estaria a falar algum dialecto de alguma região do país que eu desconhecesse, tipo mirandês ou minderico.
A partir de certa altura cheguei à conclusão que era uma” espécie” de português.
“Bué” foi utilizado vezes sem conta.
 ”Tipo tás a ver” repetidas vezes .
 Cada novo telefonema começava com um “continuando”. 
Os quilómetros iam sendo percorridos e a jovem juntou a conversa alguns palavrões, que me dispenso de reproduzir, parecendo completamente esquecida que viajava junto de um adulto “tipo avô, tás a ver”!!!
As surpresas continuavam.
 Um amigo estava “bêbado” em tal dia e …ela também estava bêbada em outra ocasião. 
Isto era referido a uma amiga. 
O tal amigo, que era uma ano mais velho e tinha 15 anos, curtia uma nova namorada “bué” de feia, tipo estás a ver…
E os telefonemas não paravam.
 A excepção foi quando telefonou a uma pessoa de família (pai ou avô) para informar que estava a chegar. Este telefonema para a família deverá ter demorado uns 10 segundos !
 Pois havia que reatar a conversa telefónica com a amiga. ”Continuando…” 
Antes de sair do seu lugar ainda prometeu à amiga que telefonaria logo à noite (estávamos em cima das 21h00) e informou que tinha voltado a fumar !!!
Fiquei só com os meus pensamentos e fui-me questionando.
 Como é que estes jovens poderão ler, aprender a falar português – a tal língua de Camões – utilizando a cada passo aquele “dialecto” repleto de bués, tipo estás a ver ???
Senti-me confuso. Muito confuso.
Está claro que sou eu que estou a mais neste “estado novo” de gente jovem !
Que fazer !?
Não sei.
 Mas parece-me, sinceramente, que se não forem os pais a estarem mais atentos a esta gente jovem eles irão “crescer” mal…
Muito mal, com bué de problemas.
Digo eu.
Que sou d'outros tempos...