Guiné /Blogopoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu...
(Manuel Maia)
Mensagem de Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 4 de Julho de 2010, postada no blog “Luís Graça e Camaradas da Guiné”.
«Aqui seguem algumas sextilhas que sintetizam as saudades que tantos de nós, senão todos evidenciam...
Abraço manuelmaia»
QUISERA EU...
Quisera eu ter na volta os tempos idos
P`ra ver terra à partida "ganha em sortes"
Bissum, no norte, tida de "buraco"...
Mais "vozes do que nozes", felizmente,
O grau de risco dado àquela frente,
Perigosa sim por "venerarmos baco"...
Quisera eu lá voltar antes do fim
Da areia da ampulheta que de mim
Se escoa em movimento acelerado.
Sentar no baga-baga, protector,
Sentir da terra o cheiro e o calor,
Fruir tempo de paz agora achado...
Quisera um periquito a vir à mão,
Depenicar na fruta, comer grão,
E passeá-lo ao ombro, sem atilho.
Quisera ao Cumbidjã lançar granada,
Pescar o que der jeito à caldeirada,
Sem medo de hipotético sarilho...
Falar-vos do Morés, do Cantanhez,
Correr de lés a lés, tudo outra vez,
Por verdes matos, terra ocre/amarela...
Cruzar o Cumbidjã, o Armada em botes,
Palpar bajuda sã, fruir seus dotes,
De um corpo escultural de moça bela...
Quisera eu ter de volta os tempos idos,
Calcorrear espaços percorridos,
Bolanha, lama, lodo pestilento...
Quisera os vinte anos da loucura
Perdidos nesses matos da lonjura,
Que evoco de memória, em pensamento...
Quisera ser de novo o furriel,
Anti, mas cumpridor do seu papel,
E firme na vontade e no querer...
No palco desta vida atribulada,
Tão prenhe de ilusões, cheia de nada,
Os anos pesam muito, podem crer...
Descer o Cumbidjã rumo a Cufar,
Bem cedo p`la manhã e experimentar,
Satisfação, prazer, risco, aventura.
Sentir a brisa fresca ante o "voar",
Do barco em lençol d´agua, a chapinar,
Num ziguezaguear toda a largura...
Comer um peixe frito com casqueiro,
Jogar um king a seco ou a dinheiro,
Marcar um golo em jogo de emoção...
Ganhar "subbuteo" em rifa terminal,
Testemunhar "fanado", algo "irreal",
E choro/ronco, mesmo ali à mão...
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Manuel da Maia
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