Uma “chamada” com que ninguém contava…
Saber lidar com a morte é algo difícil
para a maioria das pessoas. Nessas horas o sentimento de dor e desespero pela
perda é muito difícil de ultrapassar pelos familiares e amigos próximos.
Mas depois há as profissões que convivem
de perto com a morte.
Uma
das profissões em que isso acontece – quase sempre em condições dramáticas - é a
do perito legista. Trabalhando no
Instituto Médico Legal esses profissionais, na maioria das vezes, realizam
perícias de mortes trágicas, que envolvem acidentes ou assassinatos.
Há ainda o caso dos coveiros que precisam trabalhar perante o sofrimento e a dor dos
familiares do ente querido que vai a enterrar.
Mas ainda antes do acto de sepultar os
mortos, existe o serviço das funerárias , onde os seus funcionários,
normalmente conhecido por cangalheiros,
preparam o corpo para a última viagem. Vestem,
fazem maquiagem, cortam o cabelo, fazem a barba, colocam flores no caixão, para
que fique uma boa impressão do falecido durante o velório. Para que um corpo
fique pronto gastam-se largos minutos. Quando não são horas.
Feito o contexto do tema que hoje abordamos
vamos ficar por “estórias” que constam acerca de alguns velórios.
Desde a daquele
homem do campo, cujo caixão foi transportado durante alguns quilómetros em cima
de um burro até à Igreja, e que caiu tantas vezes durante o percurso que,
durante o velório, abriu os olhos e voltou (momentaneamente) à vida...assustando toda a
gente.
Ou a de um pescador já idoso, que no
velório na capela da sua naturalidade, “acordou” e se levantou por momentos do
caixão onde repousava, sujeitando-se de imediato a um ralhete da sua (assumida)
viúva, que rapidamente o aconselhou a deitar-se de novo pois as despesas do
funeral já estavam feitas…
A última é dos nossos dias e aconteceu
durante o velório numa capela duma igreja duma aldeia do Litoral Oeste.
Na preparação do corpo para o funeral o
cangalheiro, que trabalhava sozinho, reparou que o casaco do morto era do mesmo
padrão e cor do que trazia vestido, mas com uma diferença. Era novo e o seu
…nem por isso. E quanto a tamanho? Eram iguais. O cangalheiro pensou em voz
alta (ou teria sido em voz baixa…) que o morto não se ia importar e fez a
troca.
Seguiu-se o velório. As horas foram
passando e, como é habitual, com o decorrer do tempo as condolências foram
escasseando e na capela mortuária ficaram os familiares mais próximos e dois ou
três amigos indefectíveis. E o cangalheiro.
Perto da meia-noite tocou um telemóvel.
Uma, duas, três, quatro vezes e mais vezes. Ninguém atendia. Os presentes
olhavam uns para os outros mas o som do telemóvel parecia cada vez mais
estridente no silêncio da noite que já ia longa.
Mas o mais estranho de tudo era que o
som do telemóvel parecia vir de dentro do caixão…
O longo minuto terminou quando o
cangalheiro bateu com a mão na própria cabeça e foi “ajeitar o corpo” no
caixão. O som do telemóvel deixou se ouvir.
Vá se lá saber porquê!!!
Quem é que ia esperar uma “chamada” a horas mortas…
JERO
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