“A INSEGURANÇA É GENERALIZADA”
O mundo do futebol é feito de contrastes , com paixão e exageros que têm ,por vezes, a vantagem de ajudarem comunidades de emigrantes a afirmarem-se e …graças às televisões e jornais… dizerem que existem “e estão lá”…
E “estar lá” ,ou seja, viver nos últimos anos na África do Sul tem sido muito difícil, adjectivo muito “delicado” para classificar o que a comunidade portuguesa tem sofrido na pele, na carne e nos ossos nos últimos anos.
Sem o futebol a dimensão trágica desta epopeia ,que se viveu na última década, não nos teria chegado com a força brutal que os números seguintes transmitem:
399 portugueses mortos na África do Sul em quatro anos
Um memorial aos portugueses mortos foi inaugurado a 3 de Junho, no Brentwood Park de Benoni, por iniciativa da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, dirigida pelo padre Carlos Gabriel, o principal impulsionador da "marcha contra o crime"no ano 2.000, manifestação que englobou 15.000 portugueses e que “dividiu” a nossa comunidade e provocou a indignação do governo sul-africano do Presidente Thabo Mbeki, que a conotou com grupos minoritários pró-apartheid.
O monumento, que recentemente foi descerrado no âmbito das comemorações do Dia de Portugal, incluía então a fotografia dos 388 portugueses mortos nos últimos quatro anos na África do Sul. Infelizmente este número em poucos dias, já subiu para 399 mortos.
Apesar da dureza das estatísticas, não confirmadas oficialmente, figuras destacadas da comunidade portuguesa ressalvam que a comunidade portuguesa não tem sido discriminada nem é vítima de qualquer sentimento racista.
"A insegurança é generalizada", reconhecem.
Estimada em 450 mil indivíduos, na sua maioria provenientes da ilha da Madeira, a comunidade portuguesa dedica-se sobretudo ao comércio. E devido à localização dos seus estabelecimentos em zonas mais isoladas e difíceis de controlar, estes emigrantes têm ficado mais expostos aos delinquentes que, concentrados nesses bairros habitados exclusivamente por negros de menores recursos económicos, se envolvem em violentas actividades ,tendo o furto como objectivo principal.
A onda de violência tem provocado o êxodo sobretudo de muitos jovens luso descendentes que "procuram um futuro mais seguro" na Inglaterra, Canadá e Austrália, deixando os seus progenitores ainda mais apreensivos com a continuidade dos seus negócios,de cada vez mais difícil transacção.
As novas gerações "não acreditam na África do Sul" e, com deficiente domínio do idioma de Camões, "não querem ir para a Madeira porque a terra natal de seus pais não lhes proporciona melhores condições", lamentam dirigentes associativos da comunidade.
Estas notícias chegaram-nos agora – com esta crueza e clareza -graças aos jornalistas portugueses que foram à África do Sul cobrir os jogos da Selecção Nacional, nomeadamente numa reportagem de Vitor Serpa, do jornal “A Bola”, na sua edição de 20 de Junho de 2010.
E não consigo evitar algum mal estar quando recordo imagens televisivas que mostraram nossos compatriotas, que aguardaram horas para verem passar “os nossos heróis da bola”, que por vezes nem se dignavam cumprimentar, quanto mais agradecer, o seu apoio e entusiasmo…
Terminamos como começámos: o tal “mundo cão” da bola que é feito de contrastes , com paixão e exageros que tem ,por vezes, a vantagem de dar a conhecer os graves problemas das comunidades de emigrantes . Que existem “e estão lá”…rodeados de cônsules e diplomatas que não os defendem como devem…
Fez mais o padre Carlos Gabriel, o principal impulsionador da tal "marcha contra o crime",do que uma dúzia de membros da nossa Embaixada, que assobiou para o lado enquanto não apareceu o actual Presidente da República Jacob Zuma…que melhorou mas não erradicou a violência..
Pois se algum mérito teve – e está a ter – o Campeonato do Mundo do Futebol na África do Sul foi o de nos dar a conhecer como custa a ganhar aos nossos emigrantes o pão que o Diabo amassou…
JERO
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