A
primeira vida das porcelanas SPAL
A ideia inicial, que viria a dar origem à Fábrica de
porcelanas SPAL, nasce em 1965 de um conjunto de boas vontades de responsáveis
de três fábricas de faiança da região de Alcobaça: Raul da Bernarda, Lda., que
tem poder financeiro, Olaria de Alcobaça, Lda., que tem sócios com influência
política, e Elias e Paiva, a Fábrica da “Pouca Sorte”, que detém um alvará para
o fabrico de porcelanas.
A Vista Alegre, de Aveiro, tinha então o monopólio da
produção de porcelana em Portugal e o alvará da “Pouca Sorte” é um documento
essencial para ser autorizado o arranque duma nova fábrica.
O que viria
acontecer depois de algumas lutas judiciais. Um parecer do Professor de Direito
Marcelo Caetano – que mais tarde viria a ser Primeiro-Ministro de Portugal -
tornar-se-ia decisivo para o nascimento da SPAL, cuja construção chegou a ser
iniciada à Ponte de Jardim, num terreno da Família Navalhão, local onde hoje
funcionam armazéns da Cooperfrutas.
Há 2 nomes da primeira Administração da SPAL –Joaquim
da Bernarda e Mário Tanqueiro – que têm um papel fundamental na contratação de
pessoal especializado do ramo das porcelanas da região de Aveiro e Coimbra. O
primeiro Diretor de Fabrico, Corte de Real de seu nome, vem da SP-Coimbra, e é
um importante “trunfo” na aproximação dos principais armazenistas portuguesas à
nova Fábrica, que cometia o “sacrilégio” de afrontar a “sagrada” e conceituada Vista
Alegre. Mais tarde junta-se à Administração da SPAL Oliva Monteiro, vindo de
Moçambique, que veio a ser a trave-mestra na gestão da nova Fábrica construída
em Ponte da Torre-Valado dos Frades.
O primeiro grande cliente é a Lever Portuguesa que
compra 6 milhões de peças de um modelo, de nome “Girassol”, e que terá ajudado
- e muito - a pagar o investimento inicial da nova fábrica.
Pouco anos depois do seu arranque a SPAL
foi a primeira Empresa de cerâmica a lançar um concurso de design (1970), que
teve no júri uma figura pública com a craveira de José Augusto França.
Concorreram 16 designers tendo o primeiro lugar sido atribuído a Daciano Costa,
então quase um ilustre desconhecido, e que anos mais tarde foi Professor
convidado do departamento de arquitectura da Escola Superior de Belas Artes de
Lisboa.
O 2º.prémio foi atribuído à finlandesa Miria Toivola. Como curiosidade
referimos que o último classificado foi um par de presidiários da Colónia Penal
de Alcoentre, que conseguiram duas ou 3 viagens à Fábrica, com a respetiva
escolta, para arejar e também para apresentarem os seus desenhos de um serviço de
mesa que tinha uma decoração que parecia vista através de um buraco de uma
fechadura…
A Administração não descura o bem estar e a segurança dos
seus operários e cria um Fundo de Pensões e a COOPSPAL -Cooperativa de Consumo.
Seguiram-se anos de ouro com uma procura superior à
produção da Fábrica, que chegou a produzir 100.000 peças dia. Conquistado o
mercado local seguiu-se a exportação. Um agente na Suécia – Bo Brandt – e outro
no mercado americano – Block China – projectam a SPAL para outros mundos.
A crise da década da 80, que levou à primeira passagem
do FMI por terras lusitanas, passa ao lado da Fábrica da Ponte da Torre.
Foi um ciclo de vida dourado
da SPAL no seu primeiro tempo de vida.Em 2010 com novos proprietários a SPAL inicia uma segunda vida, que – entre várias mais-valias - mantém 470 postos de trabalho.
JERO