sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

M - 465 CROMOS DA VIDA

CROMOS DA VIDA
O VALADARES também conhecido por CANTIFLAS 
(ou vice-versa)

Valadares de seu nome (ou apelido) chegou a Alcobaça no início dos anos 70. Alfacinha, e “casapiano” começou a sua vida em terras de Cister no Asilo de Mendicidade.
 Há quem o recorde como cliente assíduo na Taberna do Zé Cuco, junto ao Cine-Teatro.
 Bebia o seu copinho mas mantinha sempre uma postura bem disposta e educada. 

Mais tarde veio a fazer “as compras” da Pensão “Corações Unidos”. 
Com uma carrinha de ferro – com 2 rodas à frente e uma atrás – ia ao mercado buscar tudo o que a célebre pensão do “frango da púcara” necessitava para o seu dia a dia.
 Noutra fase da sua vida foi engraxador, com clientela fiel pois além ser bom na sua  “especialidade” toda a gente gostava de ouvir uma anedota pela boca do “Cantiflas” de Alcobaça.
 E porquê “Cantiflas ?
 Por ter algumas semelhanças físicas com o actor cómico mexicano e por nos Carnavais a partir de 1974 em Alcobaça ser normalmente figura  - ou figurante – que dava nas vistas.

 Muita gente desse tempo ainda recorda as suas originais “personagens”.
 Sempre magro mantinha uma flexibilidade invejável.
 Levantava facilmente uma perna acima da cabeça…
 Deixou-nos em meados da década de 80 mas quem o conheceu  guarda dele uma memória de pessoa bem disposta mas sempre correcta.
Que saudade do nosso “Cantiflas”, também conhecido por Valadares !?
(ou vice-versa)

JERO

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

M - 464 UM ROMANCE HISTÓRICO QUE O PAI NATAL ME DEU EM 24.DEZEMBRO.2013

CONQUISTA DE SANTAREM POR DOM AFONSO HENRIQUES

«Os 250 cavaleiros escolhidos eram quase todos monges do Templo de Salomão, liderados por Hugo de Martónio e Pedro de Gundemaro. Desse grupo fazia também parte Gualdim Pais. Chovera muito durante o dia em que todos eles se juntaram em Coimbra para preparar a expedição de assalto a Sant’Irene.»
Na preparação da expedição Afonso para incutir confiança aos seus homens, passou a descrever como toda a expedição se iria desenrolar. Teriam que percorrer quase 20 léguas entre Leiria e as-Shantariym , passando por cabeços afastados dos povoados  sarracenos localizados a norte e a oeste. Os povoados mais importantes como Thumar (Tomar), al-Fatimah (Fátima), al-Canena (Alcanena), al-Qubasha (Alcobaça) e Óppidos (Óbidos) seriam ultrapassados pelas cumeadas das serras, onde muitas vezes nem existiam caminhos.
«Seguiremos pela noite e durante o dia descansaremos sem fogueiras”.
«À medida que formos avançando irám ficando pelo caminho patrulhas de 20 homens, distadas umha légua entre elas, ó modo que de asinha nos avisem se vier perigo pelos nossos costados».
- Cuidas chegar a Sant’Irene com quantos homens? – perguntou-lhe o Espadeiro, que continuava preocupado com tão pequeno número de guerreiros.
- Um cento e meio. Geraldo andará per lá e tomará conta das muralhas…Nós entraremos pelos portões da cidade, quando os homens de IBn Qasi os abrirem. Depois se verá.Espero que nesse dia, e antes do sol se erguer, Sant’Irene volva de novo a mãos christanas.».


 Santarém era uma cidade muito rica. Já no séc. X o escritor árabe Razi escreveu: "No distrito de Santarém a terra é muito abundante e rica; e os campos podem dar duas sementeiras por ano, querendo-se, tão boa é a terra de sua natureza".
Em 1147, D. Afonso Henriques preparou-se para atacar e conquistar Santarém. Enviou Mem Ramires à cidade com o fim secreto de estudar o local e ver por onde seria mais fácil a escalada dos muros. 
Mem Ramires entrou em Santarém com o pretexto de tratar de negócios. Observou tudo cuidadosamente, tal como o rei lhe recomendara.
Quando regressou a Coimbra contou tudo ao rei. Ofereceu-se para ser o primeiro cavaleiro a trepar os muros e levantar o estandarte real no interior do castelo. 
Com um plano traçado, o rei saiu de Coimbra a uma 2ª feira, dia 10 de Março de 1147. Ia na companhia dos seus cavaleiros, entre os quais Fernando Peres, Gonçalo Gonçalves, Lourenço Viegas, Pero Pais e Gonçalo Sousa.
No segundo dia de marcha, D. Afonso Henriques ordenou a Martim Mohab que fosse com mais dois homens a Santarém. Partiram com a missão de anunciar aos mouros que as tréguas ficavam suspensas por três dias.
Na madrugada de 6ª feira a pequena hoste acampou em Pernes. O rei falou com os seus cavaleiros: "Combatei por vossos filhos e descendentes, que convosco eu próprio estarei (...) e nada haverá, na vida ou na morte, que de vós me possa apartar".
Em seguida confiou-lhes o plano para o ataque a Santarém. Quando os cavaleiros compreenderam que D. Afonso Henriques os queria acompanhar no ataque, tentaram dissuadi-lo.
O rei respondeu que preferia morrer a não tomar Santarém naquele ano. Para sossegar os ânimos, o rei lembrou que em Coimbra, os monges de Santa Cruz rezavam pela vitória. 
O rei ordenou que se escolhessem cento e vinte soldados, que se fabricassem dez escadas e que a cada dúzia de homens se confiasse uma escada. Assim, com as escadas, a escalada dos muros da cidade seria mais rápida e segura.
Ao anoitecer, puseram-se em marcha rumo a Santarém, conduzidos por Mem Ramires. Perto da cidade, seguiram por um vale entre o monte Iraz ou Motiraz e a fonte de Tamarmá. 


Junto da cidade ouviram as vozes de dois mouros, as atalaias. A hoste escondeu-se numa seara, esperando que os vigias mouros adormecessem. 
Quando os vigias adormeceram, Mem Ramires utilizou a ponta de uma lança para prender uma escada ao topo do muro. 

Esta, no entanto, caiu com estrondo sobre o telhado de uma casa. Reagindo com rapidez, Mem Ramires ordenou a Moqueime, um moço de alta estatura, que lhe trepasse para os ombros e amarrasse a escada nas ameias. 
Logo que a escada ficou presa, os cristãos subiram sem hesitar e um hasteou o pendão real.
Mas os mouros acordaram com o barulho e perguntaram: "Manhu? Manhu? (Quem é? Quem está aí?)". 
Quando perceberam que estavam a ser atacados, gritaram: "Anaçara! Anaçara! (Nazarenos! Nazarenos!)". Mem Ramires respondeu com o grito de guerra: "Santiago e rei Afonso!". 
Fora dos muros, ouvia-se a voz do rei invocando Santiago e a Virgem Maria e dando a ordem de matança: "Matai-os a todos! Que nenhum escape ao ferro!".
 Os que já tinham subido as escadas tentaram arrombar as portas, mas sem o conseguirem. Então, os que estavam do lado de fora, atiraram-lhes um malho de ferro por cima dos muros, com o qual os de dentro partiram os ferrolhos. 
Todos entraram, correndo. Logo que passou a porta, o rei ajoelhou-se por um momento, agradecendo a Deus aquela vitória. 
Muitos mouros morreram nessa noite. Outros foram feitos cativos. 
Quando se fez dia, nesse Sábado 15 de Março de 1147, já o rei D. Afonso Henriques era senhor de Santarém. Desde então, a cidade de Santarém ficou sempre na posse dos portugueses.

(pela recolha JERO)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

M - 463 MAIS UMA ESTÓRIA DA VIDA MILITAR...

 Correr por uma boa causa…

Na vida militar depois de um início bem difícil na E.P.C., de Santarém, onde fiz a recruta no Verão de 1962, fui “cair" no Hospital Militar de Lisboa.

Levei o meu 2º. Ciclo do “meu” C.S.M. a sério e passados uns meses eis-me Chefe da Enfermaria de Dermato-Sifiligrafia.
Um cargo ao tempo com alguma importância para um cabo-miliciano, remunerado com 90 escudos por mês!
Um dia fui procurado ao fim da tarde por um Soldado-Miliciano que, com acentuada pronúncia madeirense, me pediu uma conversa a sós.
Tinha um problema complicado e pedia a minha ajuda para nessa noite correr uma hora e meia no corredor que ficava entre a enfermaria e o meu gabinete.
 Os “porquês” deste pedido insólito tinham a ver com uma ida à Junta Médica no dia seguinte.
E explicou-me a necessidade da corrida nocturna.
Durante a recruta quando fazia “trabalhos de estrada” horas depois começava a urinar “sangue”.
 Como já estava há mais de um mês internado (e sem fazer os esforços normais de uma recruta) já não tinha os sintomas que o tinham levado ao internamento no HMP (um cálculo renal). Convém esclarecer que nesta Enfermaria de “Siflis” –como era conhecida na gíria hospitalar - “residiam” doentes de outras especialidades (no caso de falta de camas em Medicina ou Cirurgia).
Voltando ao jovem madeirense… precisava portanto de uma corrida nocturna para "mijar sangue" no dia seguinte.
Confesso que hesitei um pouco por o Director do HMP da altura (Dr. Ricardo Horta Junior) ser tudo menos compreensivo. E quem fosse apanhado a “mijar fora do penico” comia pela medida grande...
Mas o nosso soldado-recruta estava tão aflito que… eu alinhei.
Voltei ao Hospital após o jantar (estava “desarranchado” )  e, depois de informar o “vela”(que era da Nazaré) que ia haver uma actividade física do “cama 30”, consegui reunir condições para o rapaz do “cálculo” começar a correr.
 Parece-me que ainda hoje ouço a sua respiração ofegante e vejo o seu olhar angustiado…
Foram voltas e mais voltas no corredor até o jovem “sentir” que tinha conseguido atingir um  “cálculo” semelhante aos esforços que era obrigado a fazer  na sua recruta .
  No dia seguinte, à tarde, arranjei maneira de estar no corredor das Juntas Médicas.
Quando o "recruta" madeirense me viu e correu para mim para me dar um abraço percebi que tudo tinha corrido bem.
Meses depois visitou-me em Alcobaça e foi coberto de “mimos” da minha mãe.
 Boas comidas e dormidas… sem necessidade de corridas prévias …
Escreve-mo-nos alguns tempos mas depois…o tempo afastou-nos. Mas quase meio século depois sabe-me muito bem recordar esta estória pouco vulgar. Por vezes na vida há que arriscar um pouco por causas justas.
 E este jovem madeirense mereceu bem a corrida “fora de horas” que lhe consegui arranjar no HMP. 
Foi o que se chama “correr por uma boa causa” !!!

JERO



quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

M - 462 OS MEUS POSTAIS DO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA


Os meus postais

Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, também conhecido como Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça ou mais simplesmente como Mosteiro de Alcobaça, é a primeira obra plenamente gótica erguida em solo português.
 Foi começado em 1178 pelos monges de Cister.
 Está classificado como Património da Humanidade pela UNESCO e como Monumento Nacional, desde 1910, IPPAR.
Em 7 de Julho de 2007 foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal



quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

M - 461 CHINEL VERSUS CHANEL (nº.s. 5)

CHINEL Nº.5
Uma recente brincadeira no “facebook” fez-me recordar o que muito chinelei nos meus tempos de comissão no Norte da Guiné (Binta-Farim) já lá vão muitos anos (1964-66).
  Não há nada como ter vinte e poucos anos e ter a arte de desenrascanço que nasce connosco- portugueses - .
Quem era então mobilizado para a Guerra do Ultramar já tinha feito recruta, especialidade e vivido alguns meses de vida militar em quartéis. Nesses tempos calçavam-se “botas da tropa” que tinham que se manter impecavelmente engraxadas. Não só “intramuros” mas principalmente quando se vinha para a rua e se podia ter um “mau encontro” com uns camaradas de que ninguém gostava: os polícias militares.
Feito este introito ,comum a todos que foram para África entre 1961 e 1974, tivemos que nos adaptar a viver dois longos anos em clima tropical.
 Quem estava no “mato” não andava sempre em operações militares e no quartel (pomposo nome que se dava ,normalmente, a um conjunto de barracões circundado por arame farpado) vestia –quando não estava de serviço – uns calções e pouco mais. Neste “pouco mais” é que entrava o “chinel nº.5”…
E passadas umas semanas toda a gente chinelava “à maneira”, como sempre o tivesse feito durante toda a vida.

E o “chinel nº.5” fazia correr alguns riscos aos utilizadores, como bem alertavam os médicos e enfermeiros.
Com efeito podia-se  contrair a dracunculíase (infecção pelo Verme da Guiné) ou a elefantíase. Como, infelizmente, se podia constatar em muitos elementos da população africana.
Mas está claro que “isso” só poderia acontecer aos outros…e vá de usar o “chinel nº.5”, sendo certo que a maioria escapou a problemas de saúde.
E quanto ao verdadeiro, ao autêntico “Chanel nº. 5” quem o usaria ?
A partir daqui o que se deixa escrito é meramente especulativo. 

Se este “produto” bem cheiroso andou na guerra só poderia ter acontecido em Estados-Maiores ou…lá perto, ou seja, em cidades afastadas do “mato”, onde decorriam jantares e festas com a presença de Senhoras de Oficiais.

Sinceramente veio-me à ideia a Cilinha ( Cecília Supico Pinto)  mas se o usou bem o mereceu pois visitou no mato muitos militares.
 Aí Chanel nº. 5 “terá convivido” perfeitamente com o Chinel nº. 5 !!!
JERO (ex-chineleiro nº.5).








domingo, 8 de dezembro de 2013

M - 460 A GUERRA DA GUINÉ E AS COMPANHIAS AFRICANAS

 A Guerra da Guiné e as Companhias Africanas

Embora já tudo possa ter sido dito sobre a guerra da Guiné o papel das
Companhias Africanas não terá tido, talvez, a referência que efectivamente merece.
Em passado recente assisti a uma tertúlia em Leiria e tomei nota do testemunho de Joaquim Mexia Alves, que julgo merecer mais ampla divulgação.(Na fotografia ao centro).
Aqui fica – à minha maneira – o seu testemunho.
Começou por referir a sua chegada à Guerra, a um mundo diferente, a uma realidade que nada tinha a ver com o que até então todos tinham vivido. Mas África exerce um fascínio que sentiu de imediato. Estava-se em 1971. Tinha 22 anos, o posto de Alferes Mil. Op. Especiais e ia comandar o 1º Pelotão da CART 3492, a que se seguiram o Pelotão de Caçadores Nativos 52, e depois ainda a C. Caç. 15.
Sentiu especialmente essa responsabilidade de comando no primeiro ataque que sofreu à Ponte dos Fulas. Depois sentiu necessidade de “mostrar” aos seus homens que estava ali para o que desse e viesse, e assim resolveu levantar uma mina, numa segurança a uma coluna de abastecimento, correndo um risco desnecessário. Enquanto o suor lhe corria pela cara abaixo os minutos pareceram-lhe horas. E, mais tarde, veio a saber que tinha “lá estado” apenas 10 minutos…
Referiu ainda o mito da “guerra ganha”, justificando o ser um mito com o tamanho da Guiné, (talvez próximo do tamanho do Alentejo), e assim possibilitar os ataques e consequente fuga pelas fronteiras.
Isto para além do facto de que, os ataques mais mediáticos consistiam num esforço total junto dos aquartelamentos de fronteira, deixando o resto da Guiné com ataques esporádicos.

Os primeiros contactos com os homens das Companhias africanas foram muito estranhos. Realmente ao comandar o Pel Caç Nat 52, com soldados de várias etnias diferentes, apercebeu-se das enormes diferenças entre eles, o que tornava bem mais difícil uma unidade e integração.
Mas bem depressa percebeu que lidava com bons combatentes, leais e amigos. A ligação com os seus homens tornou-se profunda. O seu regresso em 1973 foi uma “página” inesquecível da sua passagem pela Guiné. Não esquece abraços nem o brilho dos homens que deixou.
E que poucos meses depois, quando aconteceu o 25 de Abril de 74, foram abandonados pelo País cuja bandeira tinham defendido sob juramento.
 Abandonados, perseguidos e mortos por fuzilamento.

No entanto apesar da guerra e por causa da guerra muita coisa positiva aconteceu, junto das populações, que deve ser recordada. As populações tiveram assistência médica, com profilaxia para doenças como as do sono e paludismo, acompanhada da distribuição de alimentos. Conseguiram-se, através de furos e de tratamento adequados, uma riqueza única para as populações:- água potável. Construíram-se estradas e pontes. E também muitos militares regressaram da guerra com diplomas escolares, depois de nos seus quartéis terem feito exames da 4ª.classe, para além do facto de que muitos militares se disponibilizavam para alfabetizar as populações jovens de guineenses. Ninguém de boa fé pode acusar o Exército Português de ter feito a guerra só pela guerra.
Subscrevo.
JERO


M - 459 QUASE MEIO SÉCULO DEPOIS - DE BINTA-NORTE DA GUINÉ (1964) A ALCOBAÇA (2013)

MENSAGEM DE NATAL *

Natal do Soldado
Natal diferente…

“La fora não se ouvem os sinos
Repicando numa harmonia jubilosa…»

Na noite escura,
O sentinela está alerta no seu posto.
Vigia atento…
Na noite de reunião, de comunhão
 Perpectuada através dos séculos 
Ele está só…


“La fora não se ouvem os sinos
Repicando numa harmonia jubilosa…»

Natal em campanha
 Natal diferente…

Mas nem tudo é silêncio no acampamento, 
 Há luz, há bulício na caserna
 Em volta duma mesa improvisada, 
Oficiais e soldados estão reunidos na “sua” Ceia de Natal. 
 Há no rosto das pessoas e das coisas 
Uma alegria, uma ternura eufórica. 
 Apesar da distância, da saudade 
 Há uma chama de ventura em cada coração.

É noite de Natal,
 Chega até nós uma auréola de ternura transcendente

“La fora não se ouvem os sinos
Repicando numa harmonia jubilosa…»

Mas debaixo do “camuflado”,
 No coração de cada soldado 
 Rejubila uma alma nova.
 No seu subconsciente 
 Ouvem-se numa limpidez que é deleite e euforia
 Os sinos da terra mãe.

Noite de Natal 
 Noite de sonho e de esperança
Sem amarguras nem agravos, 
 Noite de evocação, de saudade.

Natal da selva 
 Natal diferente…

Na noite escura
 O sentinela está alerta no seu posto. 
Vigia atento…
 Na noite de reunião, de comunhão 
 Perpectuada através dos séculos 
 Ele está só

“La fora não se ouvem os sinos
Repicando numa harmonia jubilosa…»

Mas flutua no ar 
Nesta noite diferente 
Uma mensagem de amor, paz e esperança.



(in “Dois Anos de Guiné-Diário da CCaç.675" 
– Pelo Furriel Mil.Enf. José Eduardo Reis de Oliveira)

*
 AMIGOS DAS LETRAS
 no 4ª.Salão Literário de Alcobaça / 
Auditório da Biblioteca Municipal de Alcobaça
dia 7
Dezembro
ano de 2013.

sábado, 7 de dezembro de 2013

M - 458 CANTOS E RECANTOS DO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA (à minha maneira)

MOSTEIRO DE ALCOBAÇA

O mosteiro é constituído por uma igreja ao lado da sacristia e, a norte, por três claustros seguidos, sendo cada um circundado, na sua totalidade, por dois andares, assim como também por uma ala a sul.

 Os claustros, inclusive o mais antigo, possuem, igualmente, dois andares. Os edifícios à volta dos claustros mais recentes possuem três andares. Entre 1998 e 2000 foi descoberto um presumível quarto claustro no lado sul da igreja. Este claustro foi, provavelmente, aplanado na sequência da destruição causada pelo terramoto de 1755 e da grande inundação de 1772. Também é possível que os vestígios dos habitantes da ala sul tenham sido eliminados em 1834.

 O edifício completo ainda hoje possui uma área de construção de 27.000 m² e uma área total de pisos de 40.000 m². A área construída, juntamente com o claustro sul, terá tido a dimensão de 33.500 m².

 A fachada principal do mosteiro, da igreja e da ala norte e sul tem uma largura de 221 metros, tendo o lado norte cerca de 250 metros.

Entre 1178 e 1240, a igreja e o primeiro claustro foram construídos no estilo pré-gótico, da passagem do românico, tendo a Igreja sido inaugurada em 1252 -é a primeira obra plenamente gótica erguida em solo português.

 Os edifícios do lado sul foram provavelmente construídos no século XIV.

 No último terço do século XVI, iniciou-se a construção do Claustro da Levada que se ligava ao claustro medieval norte. 

Por último, entre o século XVII e a metade do século XVIII construiu-se o Claustro da Biblioteca (ou do Rachadoiro).
WIKIPÉDIA










M - 457 STRESSES...

Stresses

"O stress de guerra é contagioso e crónico", como afirmam especialistas.
A quarenta e tal anos da minha passagem pela guerra alguns dos meus stresses de paz sobrepõem-se ainda aos de guerra…
Vivi em tempo de guerra uma experiência comunitária tão intensa e tão próxima de uma sociedade perfeita que nunca mais encontrei nada parecido.
Refiro-me, obviamente, à sociedade dita normal, em que tive de me integrar depois do regresso da guerra em 1966.
A minha experiência comunitária foi ainda muito marcado por um chefe. Também não voltei a encontrar ninguém do seu gabarito nos quarenta e tal anos seguintes…

No Norte da Guiné, em Binta e sua região, criámos uma comunidade «ancorada» numa unidade militar que (re)fez uma aldeia, onde chegaram a viver cerca de mil pessoas. E…mais importante que tudo, ajudámos as populações. Assegurámos-lhes condições de vida que, talvez, nunca tivessem tido anteriormente. E que, na actualidade estão infelizmente longe de ter.
Quando saímos de Binta tivemos direito a lágrimas de saudade dos que ficaram.
Tínhamos sido importantes para eles e para nós próprios.
O último ano em Binta aconteceu n’outro mundo! Quase que tínhamos esquecido o mundo para onde regressámos em Maio de 1966!

Quando regressámos à Metrópole e à vida civil chocámos com um mundo onde a nossa importância anterior rapidamente se esbateu.
Já estava tudo feito - éramos apenas um pequeno parafuso de uma máquina gigantesca que girava sem cessar – e à nossa volta já não tínhamos a malta da Companhia. Todos tinham partido para as suas vidas. Para longe.
O tempo…o passar dos anos… atenuou as memórias daquele tempo excepcional.
Mais tarde, muito mais tarde…na idade do condor, maduros pela passagem dos anos e com netos por perto…percebemos que…afinal a guerra, a nossa guerra foi uma experiência única quando conseguimos construir a paz.
Se calhar fomos uns privilegiados. Nós conseguimos com as mãos que fizemos a guerra fazer também a paz!
Essa experiência única nas nossas vidas perdura ainda.
Não foi fácil ultrapassar o streess da paz…mas conseguimos.

Por alguma razão o emblema da Companhia referia que a 675 nunca cederá.
Não cedeu.
Em Binta….no Norte da Guiné…vivemos alguns dos melhores tempos da nossa vida. Lá longe…junto ao Cacheu… nos idos de 60!

Passou quase meio século. E ainda “volto lá”…vezes sem conta!!!
JERO

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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

M - 456 "MEMÓRIAS DE QUARENTA"

APRESENTAÇÃO

No passado dia 16 de Novembro decorreu numa sala do Hotel Santa Maria, em Alcobaça, a apresentação de “MEMÓRIAS DE QUARENTA”, o novo livro do nosso camarigo José Eduardo Reis de Oliveira, o JERO, um alcobacense de gema que nesta nova obra volta a homenagear a terra que o viu nascer.
Um bom número de amigos e admiradores do autor esteva presente na sala.

 Na mesa de honra sentaram-se o JERO, o apresentador da obra, Vasco da Gama (outro nosso camarigo), um alcobacence amigo de longa data, Rui Rasquilho, e Madalena Tavares, alcobacense do coração e igualmente amiga do JERO.
Começou esta última por referir que este é o tipo de obra em que se pretende dar a conhecer o que é a história local de uma região e das pessoas que habitualmente se encontram nas pequenas localidades, realçando o papel importante que desempenharam na história local.
 Sendo o JERO um óptimo contador de histórias, estas são neste caso memórias do próprio escritor mas também de outras pessoas que muitos conheceram.
 E aproveitou para lançar um desafio ao autor, o de publicar um livro só de histórias de outro alcobacense bem conhecido, o Engº. Costa e Sousa, hoje com 92 anos e com muitas histórias interessantes para divulgar. 

Como exemplo foram narrados alguns episódios que justificariam o aparecimento de um livro sobre esta típica personagem deste Concelho, muitas delas ocorridas no decorrer da sua actividade profissional na Câmara de Alcobaça.
A mulher Maria Helena teve uma intervenção inesperada para o JERO, fazendo um relacionamento entre os eventos referidos no livro e as suas marcas pessoais no relacionamento entre os dois ao longo de todos estes anos – o namoro, o casamento, o nascimento dos filhos, o aparecimento dos netos.Duas” estrelas” que iluminam a vida de seus avós, como fez questão de salientar.Sendo  certo que ninguém faz pelos netos o que fazem os avós. Que no seu dia a dia têm o “retorno” de uma espécie de pó de estrelas sobre as suas vidas. 
O nosso camarigo Vasco da Gama fez então a apresentação do novo livro. Pelo seu interesse resolvemos publicar na íntegra o texto que ele tinha preparado para o efeito:
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Quando o nosso Amigo JERO, num dos encontros da nossa Tabanca do Centro, ( Local encontro de ex - Combatentes da Guiné em Monte Real) me disse : “Vasco, vais apresentar o meu novo livro”, não dei parte de fraco e logo lhe disse que sim.
Embora prefira o recato dos bastidores à luz da ribalta, aqui me encontro perante esta plateia, tentando não desmerecer a confiança que um grande amigo em mim depositou.
Se eu sou “periquito” ( militar recém-chegado da Metrópole à Guiné, portanto sem qualquer experiência) nestas andanças de apresentador de uma obra literária, o JERO é um “ velhinho”( militar cheio de experiência e perto do final da sua comissão de serviço na Guiné) no que à autoria de livros diz respeito. Este, que aqui nos reúne – Memórias de Quarenta -  vem juntar-se ao “ Diário da Companhia de Caçadores 675”, ao “ Golpes de Mão’s”  e ao “ Alcobaça é Comigo”!
Eu, que não trago no meu curriculum qualquer prova de apresentação de uma obra, creio no entanto que deve ser necessária a existência de uma evidente COINCIDÊNCIA ENTRE O PROCESSO DE  ESCRITA DO AUTOR E ESTA MINHA EXPOSIÇAO. Daí que tenha iniciado este encontro utilizando uma linguagem coloquial e descontraída, tendo também em devida conta que a APRESENTAÇÃO não é nem deve pretender ser a peça principal deste acontecimento que aqui nos junta.
MEMÓRIAS DE QUARENTA – ALGUMAS NOTAS SOBRE O MUNDO, PORTUGAL E ALCOBAÇA,  à minha maneira!, assim se chama o livro com que o JERO nos presenteia.
Este MEMÓRIAS DE QUARENTA  abre com uma das mais bonitas dedicatórias que eu tenho lido: “À MINHA MÃE QUE, EM PEQUENINO, ME ABRIU A PORTA DA MEMÓRIA”.
Quero enfatizar a beleza  e o quanto de ternura estas palavras contêm : “À MINHA MÃE QUE, EM PEQUENINO, ME ABRIU A PORTA DA MEMÓRIA”!
E é a sua Mãe que o acorda no dia oito de Maio de 1945, tinha ele cinco anos, para lhe anunciar que a segunda guerra mundial havia terminado. É a sua primeira memória e também o ponto de partida para outras memórias de infância e de idade adulta entrelaçadas com vivências e acontecimentos marcantes da nossa história e de outros horizontes.
Por vezes torna-se difícil transmitir o que nesta obra nos fascina, tanta é a diversidade de registos.
Estamos pois em presença de um texto memorialista, diarístico e simultaneamente de carácter jornalístico de um Homem atento ao que se passa à sua volta.
Salazar, Marcelo Caetano, Humberto Delgado, Fidel Castro, a sua amada Alcobaça, Guerra Colonial, Guiné, Ditadura, o Glorioso Benfica a quem o alcobacense Lourenço pregou uma grande partida ao marcar quatro golos com a camisola do nosso eterno rival, Maio de 1968 liderado por Daniel Cohn-Bendit que pôs Paris a ferro e fogo e fez tremer o governo de De Gaulle e serviu de rastilho para a crise académica de Coimbra de 1969, Fernando Pessoa, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Lobo Antunes, Cardoso Pires, Stau Monteiro, Saramago, Democracia, 25 de Abril, PREC , … são alguns dos léxicos presentes no desenrolar de quarenta anos de “Memórias” que nos obrigam a mergulhar na leitura desta obra  e de seguida a querer investigar e estudar de uma forma mais profunda todas as pistas que o autor, com inteligência e sagacidade, seleccionou.
Esta é pois também uma narrativa  de teor pedagógico, capaz de incentivar o estudo e evitar que a nossa sociedade, e em particular alguma da nossa juventude, demonstre uma ignorância crassa e assustadora de momentos marcantes da nossa história e até do nosso passado recente. Há dias, assisti a um vídeo realizado por uma estação de televisão intitulado “A ignorância dos filhos da luta” do qual respiguei algumas passagens: O locutor interrogava os passantes com questões que eu julgava ninguém desconhecer como, por exemplo,:  “Quem fez o 25 de Abril?” entre outras disparatadas respostas, recordo “Foi o Salazar”, “Já foi há muito tempo”, “Não sei responder” “E Otelo Saraiva de Carvalho, sabe quem foi?” “Não conheço diz um cavalheiro, acho que é um hotel de 5 estrelas” respondeu outra pessoa “Pertenceu ao governo de Salazar, mas já morreu”. “Como morreu Salazar”? “Não sei, não estou a par dessas coisas”.
QUE  LEIAM O LIVRO DO JERO!!!
Duas palavras sobre o Homem, o Amigo, o Camarada, o Camarigo, na feliz junção das palavras Camarada e Amigo, da autoria do Mexia Alves, que como nós também foi combatente na Guiné.
O JERO é um Homem que vive plenamente e que tem a capacidade de dar mais vida e saber aos anos que vão passando, não se limitando a amontoar anos à vida.
A palavra nostalgia não faz parte da sua vivência .
Consegue reunir todos os contributos que o passar dos anos nele vai depositando: a sabedoria, o comedimento, a modéstia e a solidariedade.
O JERO é o melhor exemplo que eu conheço do que deve ser o comprometimento com a vida ao mostrar-nos todos os dias a sua jovialidade e a sua actividade física e mental.
O JERO controla a vida!
Muitos de nós, que nesta etapa da vida nos deixamos invadir por uma certa passividade, somos diariamente “acordados” pelo JERO através das suas publicações no Facebook  onde ele semeia sempre uma palavra carinhosa, um chiste que nos faz sorrir, uma fotografia da sua amada Alcobaça e um qualquer memorial sempre a preceito com o dia.
Se comecei esta modesta apresentação com a dedicatória que faz a sua mãe : “ À MINHA MÃE, QUE EM PEQUENINO ME ABRIU A PORTA DA MEMÓRIA” termino com as palavras dos seus netos que o definem assim: O meu avô, escreve livros, diz o Pedro! A Mariana diz “ O meu Avô está  apaixonado pelo computador!
Que por muitos e bons anos o nosso JERO escreva livros e continue a sua paixão pelo computador!
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Na sua intervenção, Rui Rasquilho realçou a beleza da capa do novo livro, com a imagem da mãe e do filho e dos respectivos olhares – o da Mãe atento ao fotógrafo, o do JERO olhando bem mais além. Referiu que o autor observou o mundo da janela alcobacense e trouxe-o para dentro de si e da sua cidade, salientando o seu estilo fácil e coloquial, uma escrita simples e natural para que todos o entendam, orientando-se mais pelos afectos presentes do que pela importância global da história.
“As pessoas são fundamentais na sua obra – as paisagens são as pessoas; a casa, o jardim, são o pano de fundo da história”, referiu Rui Rasquilho, que acrescentou – tendo em conta a nova paixão do autor, a fotografia -  esperar no futuro a publicação de “um livro de imagens e algumas palavras em próxima obra”.
Aproximávamos-nos do fim da sessão e o JERO dirigiu aos presentes algumas palavras de satisfação e de agradecimento pelo apoio prestado.
Falou igualmente da grande fotografia da capa, dizendo que na memória de cada um há um menino com a sua Mãe e que essa imagem só desaparecerá quando a memória desaparecer.

Nas palavras finais o autor quis prestar homenagem a diversos grupos:
Aos escritores e às frequentes desilusões e frustrações por não conseguirem ver a sua obra publicada. Aos jornalistas e ao trabalho que desenvolvem para informarem o público Aos camarigos da Tabanca do Centro e à troca de afectos que os seus convívios têm proporcionado. Aos militares no activo, de que realçou os princípios de ética e de deontologia que os orientam. Aos amigos – os presentes, que o apoiaram nesta nova etapa, e os ausentes, muitos que não podendo estar presentes fisicamente, o estiveram em espírito.
E assim terminou esta interessante sessão, em que realçamos a presença de vários camarigos da Tabanca do Centro – a Maria Arminda Santos, Giselda Pessoa, Vasco da Gama, Manuel Joaquim, Miguel Pessoa, Vitor Caseiro, Agostinho Gaspar a Cláudio Moreira – que quiseram apoiar o seu camarada JERO. 
Outros, como o nosso Joaquim Mexia Alves, presos a outros compromissos, não quiseram deixar de lhe deixar em devido tempo uma palavra amiga de apoio e desejar-lhe os maiores êxitos no futuro. E venham mais livros!
Miguel Pessoa