sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

M 333- BOA NOITE ÁUREA

Homenagem a Áurea da Mata no Salão Paroquial


A Áurea da Mata faz anos hoje. Não está fisicamente entre nós mas seria capaz de garantir que está por perto. Julgo até que se poderá dizer que nunca nos deixou. Nos seus 60 anos de 2011 está connosco .Com os seus amigos.Com os seus familiares. A memória que nos deixou foi tão forte que quando dizemos – ou escrevemos – o seu nome “vemos” logo a sua cara sorridente, a sua imagem única e inesquecível.Vejo a Áurea como vejo os meus familiares mais queridos que já me deixaram.
A recordação mais longínqua que tenho da Áurea prende-se com um extraordinário sketch em que fez de saloia que demorou horas a estacionar um burro no Rossio de Alcobaça. Entrou no Auditório da Biblioteca, cheio até à porta, e durante minutos fez parar o tempo. Ainda me lembro da cara do então Presidente da Câmara Dr.Gonçalves Sapinho quase a sufocar de riso contido. Recordo-me como se fosse hoje. Escrevi então no meu jornal de sempre que a Áurea da Mata tinha passado ao lado de uma grande carreira de actriz.
Nos dois últimos anos da sua vida tive o privilégio de estar por perto, nomeadamente, nos encontros de poesia que promoveu na nossa região. Tive-a várias vezes em minha casa onde representou e contou histórias para os meus netos, que a ouviram fascinados.E não a esqueceram.
Guardo a sua última mensagem no meu telemóvel, que me fez dois dias antes da sua cirurgia. Depois fui eu que,já depois da operação, lhe mandei uma mensagem brincalhona pedindo-lhe boas novas e notícias da cirurgia. Que já não teve resposta.Tive então um sentimento brutal de perda que partilhei de forma particularmente emotiva com a Vanda Marques. Foi em Setembro de 2010.Por motivos de força maior não me foi possível estar no seu funeral. No meu subconsciente fiquei com uma recordação mista de constrangimento – porque não estive presente – e com um outro sentimento que tenho dificuldade em definir. Porque não vi o luto e a dor desse dia …a Áurea continua viva.
Aqui.No meu coração.
Foi em Setembro de 2010…mas para mim… não aconteceu.
Parabéns Áurea.E obrigado por tudo.
Por tudo.
Até logo.
Até já.
Até sempre.


JERO


28 de Janeiro de 2011.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

M 332 - SURPRESAS DA VIDA CITADINA...

DÁ PARA ACREDITAR !?

Madalena acabou de dar as aulas da tarde e dirigiu-se para o parque de estacionamento. Seguia desde há muito esta rotina quando vinha a Lisboa. Eram 6 da tarde e ansiava por regressar a casa para o jantar com o marido e com os dois filhos. E ainda tinha que “andar” 100 kms.
O parque, onde habitualmente arruma o seu carro, é um espaço misto, ao ar livre , “aberto” a carros ligeiros e pesados.
Os locais de parqueamento estão marcados no pavimento e Madalena sabia que tinha arrumado o carro “dentro das linhas”, logo no início do parque.
Quando chegou ao parque não viu o seu carro.
Tinha a certeza que tinha sido “ali” e o seu carro não estava lá. Com a angústia a tomar conta de si deu várias voltas ao parque.
E…nada .
Hesitava em telefonar ao marido. Ia passar-lhe o problema e…o carro não iria aparecer logo a seguir! Que fazer?
A sua angústia e desassossego não escaparam a um arrumador de carros ,que vive das “moedinhas” ,e que andava por ali.
Aproximou-se, e depois de saber porque é que aquela senhora andava por ali às “voltas”, disse-lhe que a Polícia tinha rebocado 3 ou 4 carros durante a manhã porque …onde estavam …não deixavam sair um carro pesado!

Madalena espantou-se mas…agarrou-se à informação.
E para onde é que a Polícia reboca os carros?
O arrumador disse-lhe. Não era longe. Era aí a uns 3 viadutos de distância…
Madalena agradeceu a indicação e pôs-se a caminho.
Angustiada mas… com uma “direcção” para seguir.
Chegou ao local e rapidamente teve a alegria de ver o seu carro.


Afinal não tinha sido roubado e estava nas “mãos” da Polícia.
Os diversos “porquês” que colocou a polícia de serviço não tiveram propriamente respostas muito esclarecedores. Não tinha sido com ele, não tinha sido ele. Portanto…
Madalena , embora a ferver por dentro, passou à fase seguinte. O que tinha que fazer para levantar o carro.
A multa (30 euros) , o reboque (75 euros) e o estacionamento no parque da Polícia (15 euros) ficava tudo em 120 euros.
A Madalena não queria acreditar. Mas o carro estava bem estacionado. Mas isto é um…
Um jovem, que entretanto tinha chegado para o mesmo, tocou-a levemente no braço e interrompeu-lhe o desabafo:
- Tenha calma. Não se enerve.”Eles” tem sempre razão…
O polícia começou a escrever à máquina o “auto”. Batia nas teclas com um dedo de cada mão, lenta e pausadamente. Parecia uma galinha a comer milho. Grão a grão…
Madalena exaltada e impaciente com a demora fez mais uma pergunta.
-Os senhores pela matrícula não podiam identificar e comunicar por SMS aos proprietários dos veículos que o seu carro tinha «sido rebocado»? Qualquer coisa do género: «Carro rebocado.Contacte PSP».(1)
-Estava sozinho. Não tinha tempo para isso.
-Quantos carros rebocaram hoje?
-Três carros.
A Madalena abriu os olhos de espanto e ia para dizer qual coisa quando ouviu a voz do rapaz, que aguardava a sua vez para levantar o seu carro.
- Tenha calma.Não se enerve.
Quarenta e cinco minutos depois o “auto” estava pronto.
- Posso pagar com cartão multibanco?
-Não senhora.
-O quê? Deixa-me estar aqui todo este tempo pendurada e não me disse nada sobre a forma de pagamento. Onde é que isso está escrito. Mostre-me lá.
-Tenha calma…disse mais uma vez o rapaz da cidade.
-Quero lá saber. Mostre-me lá.
O polícia de serviço foi buscar o regulamento. E mostrou-lhe. A multa podia ser paga com o cartão (30 euros) mas o reboque (75 euros) e o estacionamento( 15 euros) teriam que ser liquidados em numerário.
Madalena engoliu em seco e o rapaz da cidade (e da calma…) informou-a onde podia levantar dinheiro.
Madalena pôs-se ao caminho.
Quinze minutos para lá e quinze minutos para cá e ei-la de novo frente ao polícia de serviço. Que escrevia à máquina como uma galinha…
Este estava no final do seu turno e já tinha um colega ao seu lado.
Mas ainda recebeu o dinheiro da Madalena.
-Então e agora? O que é que eu tenho de fazer para sair com o meu carro?
-Vai até à saída, carrega no botão junto à cancela, que levanta e depois… pode seguir.
Finalmente às 8 horas da noite, depois de tudo pago volta a pegar no seu carro.
Chega à saída e carrega no botão junto da cancela .
Durante 2 minutos carrega, carrega e nada acontece.
Madalena não quer acreditar.
Faz uma marcha atrás com as rodas a chiar…
- Estão a brincar comigo?
O polícia, que escrevia à maquina devagarinho e que ia a sair, pergunta ao colega: -Eh pá ainda não arranjaram o botão?
Não tinham arranjado.
O polícia dirigiu-se à saída e levantou a cancela.
Quando Madalena saiu do parque da Polícia eram 8.10.
120 euros depois… estava finalmente a caminho de casa.
Dá pra acreditar!?
Passou-se no mês de Janeiro.
Conduziu durante uma hora…em fúria.
Enquanto encurtava kms. a caminho da casa recordou vezes sem conta a voz calma do jovem da cidade.
«Tenha calma. Não levante a voz. Eles têm sempre razão…»
Como aquele jovem era sábio…
Esqueceu-se de agradecer ao arrumador.
Logo que possa …vai regressar ao local para lhe agradecer.
O homem das “moedinhas” vai, desta vez, ter direito a uma nota.
E bem a mereceu.
Passou-se no mês de Janeiro de 2011. Em Lisboa. Capital de Portugal.


JERO


(1)-Depois de escrever esta nossa “crónica” fomos à net e descobrimos que desde 10 de Maio de 2010 se iniciou, experimentalmente , um serviço que permite que os Carros rebocados em Lisboa possam ser localizados através de SMS, mas terá que ser o condutor a enviar um SMS para o número 3838.


O serviço é gratuito e basta escrever o seguinte texto “Reboque [espaço] matrícula do carro” e imediatamente recebe um SMS contendo a informação do parque de estacionamento onde se localiza a viatura, caso a mesma tenha sido rebocada pela PSP, Polícia Municipal de Lisboa ou através da Empresa Pública Municipal de Estacionamento de Lisboa (EMEL).


Fica aqui registada esta informação útil.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

M 331 - NOITES MAL DORMIDAS

O PESADELO

Numa destas últimas noites de Inverno tive um pesadelo terrível, que me levou a acordar entre suores e espanto por volta das 3 horas da manhã.
Da garganta da Fervença ,o local mais frio dos arredores de Alcobaça, soprava um vento glacial que fazia pousar nas varandas, nos postes de iluminação, nos sinos do Mosteiro, uma finíssima camada de gelo.



Dir-se-ia que com o vento vinham vozes, como direi, algo entre o gemido e o grito.
Os sonhos são quase sempre paradoxais, por isso, com os ventos gélidos e as vozes inteligíveis apareciam pedaços de máquinas, moldes inteiros, ânforas sem asa, pratos quebrados, inúmeros pés de copos de cristal, toalhas de algodão em farrapos, latas ferrugentas de calda de pêssego, pedaços soltos de marmelada, misturados com peras e maçãs.
Tudo rodopiava no meio do vento e dos gemidos, às vezes dos gritos.
Uma luz claríssima abriu-se por entre canteiros de flores de todas as cores, de todas as formas, de todos os tamanhos. E …lembro-me de haver pássaros que não voavam. Seguiam colados às compotas, aos vidros, aos moldes na direcção de Évora, de Turquel, de Lisboa.
Um multidão irada, de vestes rasgadas corria, direi, flutuava sobre o inóspito terreiro do Rossio.
Um velho acocorado junto ao Correio ergueu-se no fim do pesadelo …repetindo:
O melhor de Alcobaça é a estrada para Leiria, ou para as Caldas, disse o turista japonês.
Que pesadelo tão estúpido.
Alcobaça é uma terra milenar, cuja origem se perde no tempo e todos os lugares feitos pelos homem têm crises ao longo da vida, tal qual os seus construtores.
O problema é que às vezes os sonhos são premonitórios.
Pois bem, talvez Alcobaça necessite de um projecto de desenvolvimento sustentável com padrão territorial. E de novos equilíbrios sócio económicos que tragam novos fôlegos económicos a médio e longo prazo , bem programados e consolidados.
Quando acordei o sol ia alto.
No rádio ao lado da cama, quase em surdina, ainda ouvi um jornalista radiofónico a dizer que era vital repensar a actividade turística no contexto socioeconómico de Alcobaça e divulgar os valores da identidade cultural.
Desliguei o rádio e fui para o duche.


Rui Rasquilho

(foto JERO
em Alcobaça
5 minutos depois das 3 da manhã...)





quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

M 330 - PAGAR E MORRER ...

PAGAR E MORRER…

Nos meus tempos de jovem (ou quase) – dos 26 aos 28 anos – tive uma breve passagem pela Banca. Trabalhei na Agência de Leiria do Banco Pinto & Sotto Mayor e na Sede do Banco de Champalimaud, em Lisboa.
Um cliente , que tinha uma exploração agrícola no concelho de Alcobaça, convidava de vez em quando os empregados da Agência de Leiria para um jantar na sua quinta. Embora novato também me calhou um ou dois jantares.
Como não há almoços (ou jantares) de”borla” perguntei a um colega mais velho os “porquês” daquelas “festas”. As ditas coincidiam com a a”aprovação” de empréstimos bancários.
Quando uma “livrança” era aprovada seguia-se uma jantarada.
Na minha ingenuidade, eu que lançava as “responsabilidades”, via o cliente em causa cada vez com mais “falta de ar”!
Porquê fazer uma festa para comemorar um empréstimo que mais tarde teria que pagar!? E com juros!?
À distância no tempo recorda-me que…de festa em festa …a exploração agrícola atingiu a falência ...final…
E acabaram-se os jantares.
Qualquer semelhança com factos actuais da venda da nossa dívida pública…é pura coincidência…
Taxa de juro ruinosa !?
Os nossos governantes mostram muita satisfação quando se endividam até as calendas gregas..
Como se não tivéssemos que pagar o que pedimos emprestado !?
De festa em festa…até à vitória final !!!???
“Vitória” que os meus netos terão que vir a pagar…
Bem gostaria de estar cá para ver mas a esperança de vida ainda não atingiu os 105 anos…
Embora concorde que pagar e morrer…
JERO

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

M 329 - UMA ALBERGARIA SIM UM HOTEL DE CHARME NÃO...

UMA COISA PEQUENA POR FAVOR



Em primeiro lugar, o Mosteiro tinha muita pedra. Pedra cortada vinda das pedreiras da Serra em carros puxados a bois pela margem esquerda do Alcoa. Perto do Baça os Monges orientavam os trabalhos de corte nos estaleiros. Fizeram-no durante quase um século ou sabe-se lá se mais. Segundo os planos da Ordem. Adaptando-os ao terreno escolhido para erguer a Casa Cisterciense.Os homens morriam sofridos na pedra, morriam os mestres que marcavam a pedra por ser a deles, morriam os monges que desejavam a pedra para construir o paraíso terrestre. Mas havia sempre nos mortos, os vivos, e a obra ia avançando. Os camponeses amanhavam. Desbravavam mais e mais para continuar a amanhar. E procriavam e desbravavam e amanhavam e recebiam do Mosteiro terras e vilas que não eram bem as suas. Os camponeses e os Reis gostavam do Mosteiro. Uns e outros sabiam que os monges eram o caminho da salvação.


Em segundo lugar o Mosteiro tem muita luz e nas janelas e rosáceas colocaram vidros sem cor. Na grande cabeceira virada a nascente a luz do Espírito Santo iluminava o altar e corria igreja além. Nas cabanas dos Coutos o vidro demorou a chegar para aligeirar as portadas, que protegiam do calor e do frio.


Em terceiro lugar o Mosteiro tem muita água a atravessar a floresta de carvalhos. Água para a rega, para a higiene, para o conforto dos enfermos. E na água dos rios havia peixes e nela os animais bebiam.


Em quarto lugar o tempo foi moendo a pedra, quebrando os vidros, secando as águas e tudo acontecia sob a luz por entre orações, preces, lágrimas e risos. De vez em quando a guerra atravessava a paz, avançava Mosteiro dentro e ofendia-o. Houve um tempo último em que os monges partiram. Reis e povo tomaram a pedra.


Em quinto lugar toda a memória se perdeu. Dir-se-ia que os monges haviam levado com eles um segredo e que nas vilas não existiam cidadãos e a verdade é que o agora chegou e cada casa é uma cela sem desígnio, sem regra, sem capacidade de reflexão. Sem memória, os herdeiros dos camponeses, opinam, opinam ,opinam e opinam. Levam um século a opinar, um Museu sim um Quartel não, um Centro de Estudos não, um Lar Residencial sim. Um Museu não, a Câmara Municipal sim. Uma Albergaria sim, um Hotel de Charme não. Um Armazém não ,uma Montra Arqueológica sim. Um órgão não, um piano sim. Qualquer coisinha pequena sim .Para grande chega o Mosteiro. Qualquer coisa maneirinha sim, um Museu de Cister não. Um Hotel nunca , outra coisa sim. Outra coisa não, outra coisa talvez sim.




Um Rossio amarelo sim!


Em sexto lugar, o Mosteiro tem muita pedra aparelhada vinda das pedreiras da Serra…


Perdão já tinha dito isto.


Rui Rasquilho.





segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

M 328 -NUNCA DEIXES QUE SEJAM OS OUTROS A DECIDIR EM TEU NOME

O cão, o homem do talho, o dono do cão e o pico do Evereste



Estava o homem do talho à espera dos fregueses quando foi surpreendido pela entrada dum cão dentro do seu estabelecimento. Enxotou-o mas o cão voltou logo de imediato. Quando tentava de novo espantá-lo, reparou que o animal trazia um bilhete na boca. Pegou no bilhete e leu:
- Quero uma dúzia de salsichas e uma perna de borrego.
O talhante só então reparou que o cão trazia, conjuntamente com o bilhete, uma nota de 50 euros, além de um saco com pão. O talhante pegou no dinheiro, preparou a carne, pegou nas salsichas, devolveu o troco e pôs tudo num outro saco que colocou na boca do cão. O homem estavas deveras impressionado a tal ponto que decidiu fechar o talho e seguir o trajecto do animal. Este começou a descer a rua e quando chegou ao cruzamento depositou os dois saco no chão, pôs-se de pé em duas patas, carregou no botão do semáforo na passadeira para peões, esperou pacientemente pelo sinal verde, atravessou a rua e, por fim, encaminhou-se para a paragem do autocarro, sempre com o homem do talho no seu encalço.

Na paragem, o cão olhou para a tabela dos horários e sentou- se no banco à espera do próximo autocarro. Quando este chegou, o cão conferiu o número e o destino do autocarro e subiu, ordeiramente para a viatura, em fila, na sua vez. Mostrou o passe ao condutor, sentou-se, fechou os olhos e repousou por uns instantes como faria qualquer dona de casa depois do stresse das compras matinais. O talhante estava cada vez mais espantado com a inteligência e o treino do animal...
Para abreviar a estória: o cão chega, finalmente, com as compras, à casa que se presume seja a casa do seu dono. Como a porta estava fechada, ele tentou atrair a atenção de quem estava lá dentro. Virou-se um pouco de lado, deu uma corrida e atirou-se contra a porta, como faria qualquer criança. Repetiu o gesto mais duas vezes, mas ninguém respondeu. Então contornou a casa, pulou um muro e começou a bater com a cabeça no vidro de uma janela. Dirigiu-se de novo para a porta de entrada, sempre com um ar compenetrado dos seus deveres. De repente, um homenzarrão salta lá de dentro e começou a desancar no pobre do bicho. O talhante correu em socorro do cão, gritando:
- Ó homem, o que é que você está a fazer? ... Ó meu Deus, mas este cão é um génio!
O homem retorquiu com maus modos:
- Um génio ???... Esta é já a segunda vez, numa só semana, que o estúpido do cão se esquece de levar a chave de casa quando vai à praça fazer compras!


Moral da estória:
Podes até subir ao pico do Evereste, que aos olhos do teu chefe o teu desempenho ficará sempre aquém do esperado!

Conselho: Nunca deixes que sejam os outros a pôr, por ti, em teu nome, a tua fasquia no pico do Evereste...


________


# posted by Luís Graça



Sociólogo do trabalho e da saúde, doutorado em saúde pública, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, em Lisboa...  Fez a guerra colonial na Guiné (CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71).


Respigado com muita amizade por um seu dedicado amigo de Alcobaça.
JERO

sábado, 1 de janeiro de 2011

M 327 - PARA MERECER O FUTURO NÃO SE DEVE ESQUECER O PASSADO

As grandes fotografias dispensam legendas...



Esta é uma das fotos-ícones da guerra da Guiné.


Tem uma tremenda força dramática!


Está lá tudo:
o homem-toupeira,
 o homem de nervos de aço de Gandembel/Balana, também tinha alma de poeta e sabia transformar a pá do trolha em viola de baladeiro, ou guitarra de fadista!







Estamos lá todos nesta fotografia de um camarada, sozinho, no palco da guerra, no cu do mundo, enrodilhado num manta, dedilhando a sua viola ou a sua guitarra e cantando para um público imaginário as suas alegrias, as suas tristezas, a sua coragem, a sua solidão, a sua saudade, as suas esperança, os seus medos, os seus sonhos...
Trata-se de Idálio Reis, na altura Alf Mil da CCAÇ 2317...
Podemos imaginá-lo no intervalo de um dos 372 ataques e flagelações a que os nossos camaradas foram submetidos, entre 8 de Abril de 1968 até 28 de Janeiro de 1969, os nove meses em que, em tempo-recorde, construiram de raíz um aquartelamento, defenderam-no galharda e heroicamente e receberam ordens para o abandonar!...
Um verdadeiro Suplício de Sísifo!...
Noutro país, esta epopeia teria dado um grande filme, um grande livro, uma grande exposição fotográfica!... Gandembel, quer se queira ou não, faz parte da nossa história, dos portugueses e dos guineenses…
É bom invocá-la para que não ouçamos amanhã a resposta dos nossos filhos e netos: Gandembel ? Não, nunca ouvi falar...
Em 1969, a música mais popular entre a nossa tropa era o Hino de Gandembel.


Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > 1968
Início da construção do aquartelamento >
Sem comentários!...


As grandes fotografias dispensam legendas.

(Respigado por JERO do blog "Luís Graça & Camaradas da Guiné")